LibWeek2001

FAG (Brasil)

SOLIDARIEDADE URGENTE À

ASSOCIAÇÃO DOS CARROCEIROS E CATADORES DE

MATERIAL RECICLÁVEL DE GRAVATAÍ

Porque cada conquista da luta popular é uma vitória de todos!

Porque a força dos oprimidos não está nos favores que vem de cima

mas na atitude companheira dos seus iguais!

 

Queremos comunicar as organizações classistas dos trabalhadores, aos movimentos populares e a todas entidades vinculadas a luta dos oprimidos do Brasil e do mundo o fato ocorrido na metade de novembro de 2000 que atingiu a Associação dos Carroceiros e Catadores de Material Reciclável de Gravataí com o propósito de acionar a sua solidariedade a luta que tem sido sustentada com coragem e determinação por esta organização de trabalhadores da reciclagem do lixo.

No dia 15 de novembro o galpão que constitui o espaço físico de trabalho da Associação foi incendiado e teve metade de sua estrutura destruída pelo fogo. O incêndio não foi acidental. Existem testemunhas de que começou longe de instalações elétricas ou de qualquer outro material que pudesse provocá-lo involuntariamente. Não há dúvidas de que a destruição do galpão foi intencional, isto é, resultado da ação planejada de quem tem interesses contrários a atividade associativa dos trabalhadores.

 

Uma história de organização dos trabalhadores marginalizados

A Associação dos Carroceiros e Catadores de Material Reciclável de Gravataí foi fundada em 1996 num contexto de periferia urbana em que trabalhadores e trabalhadoras sobrevivem da coleta individual de lixo para sua venda a preços miseráveis a agentes que fazem lucros com o atravessamento desse material a grandes empresas privadas. A baixa renda obtida com essa atividade, cerca de R$ 5 ,00 diários, é o sustento de suas famílias, todas moradoras de favelas e vilas extremamente pobres resultado de ocupações urbanas.

Essa categoria informal de trabalho reúne cerca de 600 famílias no município de Gravataí, sendo que sua desorganização gerou uma prática individualista que favoreceu a sua exploração pela máfia que controla o negócio de sucatas, plásticos, papéis e materiais reaproveitados.

É a partir dessa realidade precária, que um grupo de trabalhadores toma a iniciativa de construir uma associação para unir e organizar a categoria, montar uma infra-estrutura própria para reciclagem que rompesse o controle das máfias que atuam no setor e aumentasse a renda para o benefício de suas famílias. Com muitas dificuldades e com o apoio de sindicatos e organizações populares foi construído o galpão de reciclagem, assim como foram adquiridos equipamentos, máquinas para o trabalho associativo que é administrado pelos próprios trabalhadores com um critério de partilha coletivista do rendimento.

Por ser uma experiência muito recente, muitos problemas estão por ser resolvidos ainda. A renda dos trabalhadores apesar de ter sido elevada consideravelmente deve melhorar, o espaço físico de trabalho é pequeno para a atividade econômica e não permite, por enquanto, o crescimento de associados que chegou a ser de 16 companheiros/as trabalhando no galpão e 32 na coleta de material nas ruas da cidade. Muitos direitos precisam ser conquistados para superar o trabalho precário e mudar a relação de forças coma as empresas capitalistas. Esses são desafios que a Associação nunca esqueceu.

A Associação de Carroceiros e Catadores de Material Reciclável de Gravataí é também fundadora de uma organização que agrupa outras associações da mesma categoria no estado do Rio Grande do Sul: a Federação das Associações de Recicladores do RS.

Exemplo de luta e compromisso de classe

Para aqueles pobres que pensam como ricos e que na primeira oportunidade querem fazer de sua organização econômica um negócio capitalista a Associação é um exemplo sincero que nunca deixou de estar presente na luta popular, de apoiar e coordenar atividades com sindicatos e movimentos populares para fortalecer os oprimidos na busca de uma vida mais digna.

O projeto que criou a Associação está ligado as idéias de independência da classe trabalhadora, de organização de uma categoria super explorada que quer se somar as demais lutas reivindicativas do povo fazendo de sua prática associativa uma ferramenta para isso. Os companheiros participaram durante sua existência de ações por melhorias das condições de vida na comunidade, instalaram em seu galpão um espaço também de atividades culturais, de assembléias, de atos que reuniram distintas organizações populares. Em dezembro estiveram dedicados a marcha por trabalho e teto com centenas de trabalhadores desempregados.

Esse espaço que funciona na comunidade onde está localizado o galpão chama-se Comitê de Resistência Popular. O comitê é o organismo popular de base que tem programado as atividades de caráter mais geral em que a Associação tem participado como membro e que tem procurado relacionar as organizações dos trabalhadores e populares em ações comuns que desenvolvam a unidade dos oprimidos.

 

Dignidade para resistir com a solidariedade das organizações populares

O incêndio do galpão da Associação dos Carroceiros e Catadores de material Reciclável de Gravataí foi um ataque a conquista dos trabalhadores da reciclagem do lixo praticado pela máfia que lucra com a sua desorganização. Não há provas contra alguma pessoa em particular, o que temos são testemunhos de ameaça que são feitas desde sua fundação. A destruição de metade do galpão deu um prejuízo na ordem de R$ 6 mil reais (cerca de U$ 3 mil dólares), recursos que estão fora das possibilidades dos companheiros em repor.

Apesar do agravamento das dificuldades todos estamos firmes o suficiente para seguir lutando, para resistir com dignidade a sabotagem do galpão e continuar o projeto. Contudo, não resta senão acionar o apoio dos trabalhadores do mundo todo, às organizações que tanto nos identificamos e seguramente sentem tanto quanto nós a covardia desse ataque. No curto prazo a única medida que pode contribuir para atividade da Associação é a reposição das perdas para recuperação do galpão. A situação dos trabalhadores no momento é das piores possíveis, um grupo continua trabalhando nas condições que sobraram para garantir o mínimo para sua alimentação. Estamos buscando uma solução de emergência de trabalho num espaço a 15 km de distância que ainda vai requerer transporte coletivo.

Companheirada, estejam certos de que a luta continua. Saúde a todos!

Dezembro de 2000

Gravataí/Rio Grande do Sul/Brasil

Comitê de Resistência Popular

TABELA DOS PREJUÍZOS COM O INCÊNDIO DA ASSOCIAÇÃO DOS CARROCEIROS

ITEM

HISTÓRICO

VALOR R$

REPOSIÇÃO DE

CAPITAL DE GIRO

  • O capital de giro que tinhamos se perdeu já que estava todo investido em materiais (15ton. Papéis, 2ton. Plásticos), já classificados no depósito que se perderam com o incêndio.

2.500,00

 

 

 

 

DIVIDAS CONTRAÍDAS

  • 6 (seis) prestações no valor de R$ 135,00 equivalentes à compra da camioneta no início de novembro de 2000.
  • Empréstimos feitos junto à CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos), para pgto de carroceria da camioneta.
  • Empréstimo feito junto ao MTD (Movimento dos trabalhadores desempregados), para manutenção dos freios da camioneta.
  • Pagamento de multa da camioneta ao despachante.

810,00

 

330,00

 

156,00

 

56,00

REFORMA DAS INSTALAÇÕES

  • Reconstrução de 120m (8m largura x 15m comprimento), equivalente à área de depósito dos materiais classificados.

2.000,00

5.852,00

 

 Para depósito de quantias em colaboração:

Centro de Solidariedade Ajuda Mútua e Auto-organização

Conta: 5.964-1 Agência: 0479-0 Banco do Brasil

 

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