by
Emilio Gennari (tradução)
Discursos
proferidos por membros do Exército Zapatista de Libertação
Nacional (EZLN) por ocasião do 9º aniversário da
insurreição zapatista, em Chiapas, México.
Palavra
da Comandanta Fidelia.
Muito
boas noites irmãs.
Pela
minha voz fala a voz do EZLN. Irmãs do campo e da cidade, vou
dizer estas humildes palavras a vocês que me ouvem, que já
faz muitos anos que nós mulheres estamos sofrendo a discriminação,
a exploração e o esquecimento devido aos maus governos.
O mesmo ocorre em nossas casas, mas nós também administramos
isso e sabemos como vivemos. Nós não temos educação,
não temos alimentação; temos menos alimentação
e educação. Irmãs, nós madrugamos às
três da manhã para preparar a comida de nossos filhos.
Ao terminar temos que ir trabalhar na roça para ajudar nossos
maridos. Temos que semear o milharal, temos que carregar o enxadão,
o facão ou a picareta. Depois que dá o produto, temos
que cortar o milho e tudo o que dá no campo, até também
o café.
Irmãs,
por estas muitas explorações e injustiças há
muitas irmãs que migram para o povoado, mas que também
são exploradas porque aí empregam elas como babás,
lavadeiras e faxineiras. Até põem elas pra vender na rua
e no mercado. Empregam-nas para levá-las às empresas de
tortilhas desde às três da manhã e tiram elas de
lá às oito da noite dizendo pega aí seus dez Pesos
porque não há dinheiro. A situação está
difícil, é isso que dizem. Também as mulheres que
vão para as grandes cidades como contadoras, as secretárias
vão ao banco dos ricos, vão para os hospitais, vão
para os seguros, para as grandes fábricas e aí também
elas são exploradas e discriminadas e até há momentos
em que são violentadas.
Irmãs,
não permitamos isso. Olhem, hoje mesmo o senhor das botas, o
senhor Vicente Fox, com todo o seu gabinete de lagartos, vai aumentar
a cesta básica. O que vamos fazer com este pouquinho, que são
os trinta Pesos que nossos maridos ganham? Com este pouquinho, com o
que vão subir o aumento do soldo, vão começar a
enganar as mulheres do campo e da cidade dando a uma suas dez galinhas,
a outra um porquinho, duas telhas de zinco tendo assim a oportunidade
de enganar por toda a vida os que querem despertar.
Irmãs, eu também quero convidar as mulheres a lançar
uma convocação para que se organizem, para que, juntas,
nós possamos defender nosso direito e nós também
tenhamos igualdade. Irmãs, não permitamos que o governo
e o presidente da república continuem nos enganando porque há
muitas coisas que estão vindo sobre nós que somos mulheres.
Das
montanhas do sudeste mexicano, o EZLN.
Muito
obrigada.
Palavras
do Comandante Mister
Irmãos
e irmãs, pela minha voz fala a voz do EZLN.
Vou
dizer algumas palavras para todos os povos do mundo que lutam por sua
libertação, a todos e a todas que lutem pela justiça,
pela democracia e pela liberdade no mundo inteiro. Nós, rebeldes
zapatistas, lutamos com vocês e sua luta também é
nossa. Por isso, dizemos que lutaremos sempre no México e no
mundo até conseguirmos um lugar digno na vida da humanidade.
Estes maus governos pensam que nós indígenas não
pensamos no internacional. Mas nós indígenas pensamos
no internacional sim e nós indígenas temos sim o direito
de apoiar e decidir o que queiramos fazer.
Também
estes governos racistas pensam que nós indígenas não
conhecemos o mundo. Saibam que nós o conhecemos sim e sabemos
dos planos de morte que se fazem contra a humanidade e também
sabemos e conhecemos a luta dos povos por sua libertação.
Conhecemos o mundo e conhecemos até o Japão. Porque conhecemos
todos estes homens e mulheres de todos os países que têm
chegado em nossos povoados e eles têm nos falado de suas lutas,
de seus mundos e de tudo o que eles fazem. Temos viajado em suas palavras
e temos visto e conhecido mais terras do que qualquer intelectual. Conhecemos
os espanhóis, conhecemos os bascos, conhecemos italianos, franceses,
catalães, estadunidenses, argentinos, austríacos, chilenos,
nicaragüenses, guatemaltecos, coreanos, japoneses, peruanos, canadenses,
noruegueses, gente da Bélgica, Suíça, Alemanha,
Grécia, Inglaterra, Austrália, África e de outros
países que agora não lembro.
Por
isso, dizemos aos poderosos do mundo que se eles se unem através
da globalização para globalizar a morte, estão,
nós também vamos globalizar a liberdade. Dizemos a nossos
irmãos do País Basco que não acreditem no que dizem
os maus governos. Dizemos a eles que quando o Subcomandante Insurgente
Marcos diz que apóia a luta política do povo Basco, quer
dizer que todos nós zapatistas, homens, crianças, anciãos
e mulheres estamos apoiando sua luta porque suas reivindicações
são de justiça, de liberdade e de democracia. E não
nos envergonhamos de apoiar a justa luta de um povo, o povo Basco, que
luta como vocês. Muito menos nos dá medo de falar de sua
luta, porque se há algo que nós zapatistas não
temos é o medo. Porque somos dignos, merecemos um lugar digno
no mundo.
Não
importa que as ameaças venham de onde venham. Falar a verdade
é nosso dever e saberemos dizer que não nos dá
medo falar das lutas políticas e sociais do mundo como falamos
da luta do povo rebelde da Argentina. E aqui enviamos uma saudação
especial por parte de nós zapatistas. Assim, também aos
desobedientes italianos e a todos os irmãos e irmãs zapatistas
da Europa e do mundo.
Levantamos
também nossa voz indígena para pedir respeito à
soberania do país que se chama Venezuela. E que os venezuelanos
decidam o que quiserem sem que outros países intervenham. No
México, mandamos uma saudação especial aos irmãos
e irmãs do município autônomo de Atenco. Também
aos companheiros e companheiras da FZLN, a todos os professores rebeldes
e aos camponeses, nossos irmãos de luta pela terra, aos operários
e empregados.
Também
dizemos a vocês, irmãos e irmãs do mundo, que não
temos ninguém a quem pedir permissão porque não
precisamos disso, porque, na verdade, para fazer o bem não é
necessária a permissão de ninguém. Por isso, irmãos
e irmãs rebeldes do mundo, apoiamos a luta do povo e estamos
lutando por um lugar digno. Lutamos pela democracia, a liberdade e a
justiça para todos os povos e nações do mundo.
Porque a vida da humanidade é sagrada, e como tal, merecemos
ter uma vida mais justa, mais digna e mais humana em qualquer lugar
do mundo onde nos encontremos. Porque, em qualquer lugar deste mundo,
a resistência tem nos demonstrado que temos conseguido sobreviver
organizando-nos da forma que nos pareça melhor e jamais temos
pedido permissão a ninguém pelo que temos que fazer e
muito menos pelo que vamos dizer.
Irmãos
lutadores do mundo todo, não têm sido poucos os insultos
dos maus governos do mundo. Dizem que lutam pelos direitos humanos,
mas isso não está certo porque estes maus governos lutam
pela morte e pelo desaparecimento, pela fome e a miséria, com
doenças criadas por eles mesmos. Assim querem nos matar, assim
querem fazer-nos desaparecer da vida da humanidade. A estes maus governos
e seus sucessores dizemos que jamais vão conseguir acabar conosco
nem pela fome, nem pela doença e muito menos com seus projetos
e tratados.
A
rebeldia tem existido durante toda a existência da humanidade.
Está demonstrado. Quanto aos zapatistas, nosso dever é
lutar pela humanidade contra os planos e tratados do neoliberalismo
pelo mundo, assim como as injustiças dos poderosos do mundo que
não conhecem e nem respeitam fronteiras. Então é
assim que tem que ser nossa luta pela justiça e a liberdade.
Por
isso, vamos lutar pela vida e a humanidade e contra a morte. Vamos lutar
por nossos direitos realmente humanos contra o esquecimento. Vamos lutar
pela nossa existência contra o extermínio. Assim vamos
continuar lutando com a palavra verdadeira. Assim continuaremos até
que todos juntos conseguirmos e conquistarmos um lugar para todos na
vida da humanidade.
Por
isso, irmãos e irmãs do mundo todo, pedimos a vocês
que mantenham sua luta e continuem lutando por todo o tempo que for
necessário. Porque nós zapatistas não vamos trair
todos os lutadores políticos e sociais do mundo inteiro e para
lutar no mundo não pediremos permissão a ninguém,
muito menos vamos aceitar que os governos nos digam o que devemos fazer
ou o que vamos decidir. Mas é fato que apoiamos todos os lutadores
sociais e políticos do mundo inteiro porque temos esperança
em todas as lutas do mundo. Vamos ganhar porque nossas reivindicações
são justas.
Viva
a Argentina Rebelde!
Viva
a luta política do povo Basco!
Vivam
os rebeldes do mundo!
Viva
o EZLN!
Das
montanhas do sudeste mexicano.
CCRI-CG
EZLN, México, 1º de janeiro de 2003.
Muito
obrigado.
Palavras
do Comandante Omar.
Pela
minha voz fala a voz do EZLN.
Irmãos
e irmãs, vou dizer algumas palavras para os jovens do México
e do mundo. Mais uma vez viemos dizer a vocês que estamos vivos
e continuamos aqui, não nos rendemos e nem temos nos vendido,
ao contrário, estamos mais fortes e mais firmes, viemos até
aqui, na praça de San Cristóbal, para dizer a verdade
sobre o que está acontecendo em nosso país e no mundo.
Também viemos demonstrar-lhes que não estamos divididos
nem lutando entre nós. Para que vamos lutar entre nós
se ainda temos com quem lutar?” Vocês conhecem as mentiras
que fazem os que todos sabem que são mentirosos.
Jovens
do mundo e do México, estudantes, jovens sem emprego, jovem artista
ou desportista, jovem roqueiro, jovem pintor, jovem do bando, jovem
trabalhador, jovens de diferentes setores sociais, jovens de diferentes
países do mundo, vocês que têm lutado conosco, que
têm sabido nos respeitar e que têm trabalhado muito, continuaremos
dizendo a vocês que, onde quer que estejam, lutem e não
deixem de lutar porque nós zapatistas não vamos esquecê-los,
só porque eles nunca vão acabar conosco.
Ainda
que estejam nos matando, outros vão crescendo. Mas deixar-se
enganar isso não. Portanto estamos aqui com nossas bases, a pequena
parte dos nossos povos em resistência, para demonstrar e desmentir
tudo o que têm dito os mentirosos de todo o México e do
mundo. Jovens, não se deixem mais enganar. Já têm
nos enganados por muitíssimos anos. Que esperança vai
ter com os partidos se só te aproveitam para que vote neles e
depois te perseguem, te roubam, te matam, te prendem, ou ameaçam
você e sua família e isso só para dançar
e cantar como quiser ou por cortar o cabelo ou vestir como gosta, só
por isso suspeitam de você ou te acusam de ser terrorista ou mentiroso.
Não respeitam teus costumes e nem tua cultura.
Não
se deixem levar por estes vampiros que só chupam o sangue do
povo trabalhador e não deixam nada. Lutemos para deter estes
parasitas do México do mundo, já que nós somos
maioria. Então, nós podemos escolher com vocês o
caminho do nosso futuro neste mundo onde tenhamos um lugar para todos.
Falemos e unamos nossa voz para dizer o que queremos e o que não
queremos para que assim possamos ir conhecendo nossos direitos. Ainda
que os maus governos criem obstáculos para a luta, o EZLN seguirá
adiante.
Em
qualquer luta política que serve para os nossos povos e para
a sociedade do nosso país e do mundo estaremos com vocês,
apoiando-os. Vale a pena arriscar-nos na luta já que, por si
só, estão nos matando, pois antes que deixemos de existir
vamos deixar um caminho em busca de uma vida melhor para nossos filhos,
para que tenhamos um futuro. Também para que se acabe com as
promessas não cumpridas e os saques de todo tipo de riquezas
naturais da nação.
O
que esperar dos partidos se só procuram vender a pátria
e já dizíamos que os parasitas do mundo vão de
país em país procurando quem roubar. Por isso, jovens
destas terras mexicanas e do mundo não deixemos de lutar para
desafiar os governos do mundo porque esta é a nossa esperança,
que todos juntos mudemos estes governos neoliberais. Não se importam
com nossas vidas. Não vamos nos conformar com a traição
dos políticos em relação às lutas indígenas.
A
luta continua e jamais nos renderemos. Tampouco, vamos pedir permissão
a alguém sobre o que nós zapatistas devemos ou não
devemos fazer. Nós levantamos em armas para que haja democracia,
justiça e liberdade. Enquanto não conseguirmos isso, não
haverá paz. Por isso, estamos aqui presentes debaixo de seus
narizes quando se supunha que não existíamos mais. Contudo,
estamos dispostos a lutar, e a lutar a qualquer preço.
Como
vocês sabem, como sempre, os informamos da verdade. Aos jovens
e às jovens deste planeta Terra que tenhamos esperança
e confiem na luta zapatista, com sua experiência de resistência
e esperança. Tudo isso está nos povos há mais de
500 anos e nós do EZLN saberemos cumprir. Aprendemos a dizer
a verdade porque assim aprendemos a lutar, não a enganar e a
mentir, só a dizer a verdade. Isso não é mentira.
Vocês sabem e vêem que a luta continua, e faço um
convite especial a vocês a formarem-se nesta luta e a construírem
um espaço onde podemos exercer nossas culturas, nossa livre determinação
para assim levar a término nossa autonomia onde quer que estejamos
e que sejamos mais rebeldes e dignos em sua luta. Recebam uma saudação
revolucionária do EZLN. Felicidades, divirtam-se com sua luta.
Das
montanhas do sudeste mexicano.
CCRI-CG
EZLN
México,
1º de janeiro de 2003.
Palavras
do Comandante Brus Li.
Pela
minha voz fala o EZLN. Irmãos e irmãs, vou dizer algumas
palavras para os povos indígenas deste país mexicano.
Nós zapatistas somos os que levantamos em armas no ano de 1994,
por uma causa justa e digna pela qual nos demos conta de que há
mais de 500 anos viemos vivendo na exploração e na miséria.
Nós
zapatistas lhes dizemos claramente que nossa luta não é
só para nós indígenas. É para todos e todas
as e os indígenas e não-indígenas e, sobretudo,
digo nossas palavras aos nossos povos. Fazemos um apelo a todos para
que se organizem de verdade, que não seja só de palavras
e que o demonstrem verdadeiramente nos fatos.
Já
é tempo que todos nos organizemos e que formemos nossos municípios
autônomos. Não temos que esperar até quando o governo
der a permissão. Devemos nos organizar como rebeldes de verdade
e não esperar que alguém nos dê permissão
para sermos autônomos, sem lei ou com lei. De forma tal que, assim,
devemos pôr pra funcionar nossas autoridades em rebeldia e assim
autogovernar-nos. Só assim a democracia pode funcionar de verdade
no interior de um município.
Mas
também lhes dizemos que não temos só que opor resistência,
não só ao receber migalhas, mas temos que resistir sim
a todas as gozações e as perseguições que
podem vir do inimigo que enfrentamos e que são os maus governos,
que por centenas de anos vieram manipulando na forma de governar. Hoje,
já não nos importa. Já somos uma organização
rebelde e sabemos nos governar sem necessidade de quem nos ensine. Não
esperamos uma mudança desta situação por parte
dos poderosos e de seus partidos políticos, em alerta com o que
vem ou com as grandes conseqüências contra todo o México
como o Tratado de Livre Comércio. Por sua vez, o campo é
só para o benefício dos ricos.
Querem
nos enganar. Eles são pura mentira, eles querem nos destruir
e exterminar, mas não conseguirão. Não o permitiremos.
Nos defenderemos a qualquer preço para que assim a terra seja
de quem a trabalha e, portanto, temos a razão. Porque temos o
direito de viver, nós, nossos filhos e os filhos de nossos filhos;
porque, para nós, nossas terras são nossa mãe,
porque não iremos vender nossa mãe, muito menos vamos
permitir que algum filho da puta a tire. Antes mortos do que permitir
isso. Não vamos cair nas arapucas disfarçadas de verdade
e cuidadosamente armadas para não serem detectadas. Mas a estes
pobrezinhos tontos e a nós zapatistas não poderão
nos enganar, muito menos nos conquistar.
Viva
o EZLN!
Viva
os povos indígenas!
Viva
os camponeses!
Das
montanhas do sudeste mexicano.
CCRI-CG
EZLN. México, 1º de janeiro de 2003.
Palavras
do Comandante David.
Boas
noites a todos e a todas.
Pela
minha voz fala a voz do Exército Zapatista de Libertação
Nacional. Irmãos e irmãs, vamos dirigir algumas palavras
a todos os que estão nas escolas do EZLN.
Companheiros
e companheiras bases de apoio, representantes dos povoados das regiões
presentes nesta grande manifestação, saudamos todos e
todas por sua decisão e valentia de ter se mobilizado sem se
importar com as conseqüências.
Companheiros
e companheiras zapatistas de todos os povoados, de todas as regiões
e de onde quer que estejam, mas que não puderam vir, que por
muitas razões não puderam estar presentes nesta manifestação,
nós os saudamos. Desejamos a vocês que continuem com firmeza
nesta luta.
Aos
companheiros e companheiras combatentes, insurgentes e insurgentas,
milicianos de todas as frentes e seus respectivos comandos militares,
em nome do Comitê Clandestino Revolucionário Indígena,
Comando Geral do EZLN, os saudamos combativamente e nossas saudações
especiais por ter completado 19 anos de nascimento e agora nove anos
de guerra. Desejamos a vocês que continuem firmes em suas convicções
e em seu moral revolucionário.
Saudações
especiais a nossos companheiros e companheiras bases de apoio que têm
resistido aos golpes políticos, econômicos e ideológicos
do governo. Que têm sofrido e resistido às pressões
e agressões dos militares e paramilitares. Que têm sofrido
o desalojamento, as perseguições, as prisões e
o cair de seus familiares nesta luta.
Saudações
a todos os companheiros e companheiras zapatistas civis que se encontram
no campo, nas cidades, em qualquer estado do nosso país e em
outros países do mundo.
Companheiros
e companheiras, como todos vocês sabem, desde que os poderes executivo,
legislativo e judiciário aprovaram uma lei contra os povos indígenas
do México, nós zapatistas temos rechaçado esta
lei e por isso temos vivido uma etapa de silêncio e de resistência,
e ficamos quase dois anos em silêncio em sinal de nossa indignação
com a traição dos poderes governamentais.
E
o que estes poderes e seus aliados têm feito é aproveitar
o nosso silêncio para falar um monte de mentiras e de calúnias.
Têm
preparado estratégias políticas e econômicas contra-insurrecionais
disfarçando-as de projetos de desenvolvimento dos povos indígenas.
Mas, na realidade, estes apoios, após tudo o que falaram os governos
atuais não passam, como sempre de simples migalhas. Não
representam nenhuma solução para a miséria em que
vivemos e menos ainda são uma resposta às justas reivindicações
dos povos indígenas.
Têm
usado nosso silêncio para dizer que nós zapatistas já
estamos acabados, que estamos divididos, que os dirigentes já
se renderam ou se venderam, que o comando ficou sozinho e que os povoados
zapatistas já foram para o governo.
E
todas estas artimanhas dos governos, os partidos têm-nas usado
para confundir os povos, para debilitar a luta e a resistência
indígena. Por isso, para que nos contentemos e nos conformemos,
oferecem palavras e pequenas ajudas para alguns povoados.
Para
o novo dizer, agora sim estamos em paz porque os zapatistas já
aceitaram o apoio do governo e abandonaram as fileiras do EZLN. Então,
se for assim, quem somos nós que estamos aqui presentes? Não
são zapatistas os milhares de homens, mulheres, jovens, crianças
e anciãos que estão aqui reivindicando e as dezenas de
milhares que ficaram em seus povoados por não ter conseguido
dinheiro e transporte para chegar nesta manifestação?
Acaso,
estes milhares de homens e mulheres, jovens, anciãos e crianças
combatentes zapatistas estão dispostos a render-se? Pergunto
a vocês: Acaso estão dispostos a humilhar-se diante daqueles
que durante séculos têm nos humilhado, despojado de nossa
riqueza, têm nos discriminado, esquecido e pisoteado nossa dignidade?
Pergunto a vocês, companheiros e companheiras, estão dispostos
a render-se? (Público: “Não!!!”).
Acaso
vocês, companheiros e companheiras, estão dispostos a vender-se
por migalhas e a trair assim o sangue de nossos caídos, de nossos
heróis e mártires? Pergunto a vocês, companheiros,
estão dispostos a vender-se? Acaso estão dispostos a deixar
a luta quando não temos conseguido nada da solução
real de nossas justas reivindicações? Acaso estão
dispostos a vender sua dignidade e a deixar como herança a nossos
filhos somente fome, miséria e esquecimento? Estão dispostos?
Companheiros e companheiras, hoje, ao completar nove anos do nosso levante
armado e depois de romper o silêncio que mantivemos por quase
dois anos, chegou, mais uma vez, a hora de falar e de dizer a verdade
de que nós indígenas zapatistas não nos levantamos
em armas para pedir esmolas, para que continuem se burlando de nós,
como até agora têm feito os governos que nos oferecem mentiras
e migalhas para comprar consciências.
Nós,
povos indígenas zapatistas, não precisamos que o governo
nos apóie com seus camelódromos ou que nos mande alimentos
vencidos. O que nós zapatistas pedimos e exigimos é que
se reconheçam constitucionalmente os direitos, a autonomia e
a livre determinação de todos os povos indígenas
do México.
Exigimos
que nos tratem com igualdade e justiça. Por isso, não
aceitamos que se burlem de nós ou que, lastimando, nos ofereçam
suas migalhas ou seus lixos.
Nós,
indígenas zapatistas, somos empobrecidos, não pedintes
ou delinqüentes. Somos rebeldes contra as injustiças e o
esquecimento. Temos dignidade e temos a razão de lutar por nossos
guerreiros e queremos que o mundo inteiro entenda isso, que nós
indígenas não somos animais para que os ricos e os poderosos
nos joguem seus restos. Porque somos povos com uma longa história.
Por
isso, estamos dispostos a continuar a luta até ver que os povos
indígenas de toda a nossa pátria são respeitados.
E levados em consideração como povos e como cidadãos
com todos os direitos, queremos dizer a todo o México e ao mundo
que estamos atentos aos resultados da iniciativa que lançamos
dias atrás na voz do Sup Marcos. É uma iniciativa arriscada,
mas achamos que vale a pena tentá-la para o bem de todos. Porque
é ainda uma tentativa de solução pacífica
pela qual estamos tentando abrir uma porta no lugar onde os políticos
mexicanos nos fecharam.
Sobre
isso e sobre outras coisas continuaremos falando através do nosso
porta-voz que é o Subcomandante Insurgente Marcos.
Companheiros
e companheiras, queremos dizer-lhes que nossa luta apenas começou.
Por
isso, neste nosso aniversário do nosso levante viemos para este
centro de exploração que é San Cristóbal
de las Casas para manifestar-nos e dizer a verdade. Para isso, tivemos
que atravessar postos de controle e romper cercos militares para vir
dizer que estamos aqui. Estamos aqui com palavras sinceras e verdadeiras.
Reafirmamos nosso compromisso de continuar nossa luta por democracia,
liberdade e justiça para todos.
Companheiros
e companheiras, desde 1º de janeiro de 1994, guardamos pequenas
centelhas de rebeldia e de dignidade e é esta luz que os poderosos
têm desejado apagar. Mas não conseguiram e ninguém
poderá apagá-la, porque é a luz da esperança
para os povos indígenas e não indígenas do México
e do mundo.
Esta
luz simboliza hoje nossa força e nossa proteção
nesta longa luta por democracia, liberdade e justiça. Por isso,
hoje, façamos grande e forte esta luz para que os povos e as
nações vejam que mantemos viva esta luz da rebeldia zapatista.
Companheiros
e companheiras, neste momento preparem-se para acender suas luzes.
Companheiros
e companheiras, os que estão lá atrás fazendo uma
fogueira, ainda não damos a ordem para que acendam sua tocha.
Esperem companheiros e companheiras, agora vamos dar a ordem.
Companheiros
e companheiras, levantem para o alto seus facões e peguem o seu
fogo (ruído de facões).
Companheiros
e companheiras, mantenham acesa sua tocha e levantando seu facão
ou se machado, e depois vamos dar instruções do que fazer
com estes. Agora peguem apenas o seu fogo.
Companheiros
e companheiras, vamos todos gritar:
Vivam
os companheiros caídos!
Viva
o Exército Zapatista de Libertação Nacional!
Vivam
os povos indígenas do México!
Vivam
os pobres do México!
Vivam
os rebeldes do mundo inteiro!
Viva
a vida!
Morra
a morte!
Das
montanhas do sudeste mexicano.
Comitê
Clandestino Revolucionário Indígena – Comando Geral
do Exército Zapatista de Libertação Nacional, 1º
de janeiro de 2003.
Muito
obrigado, companheiros e companheiras.
Palavras
da Comandanta Esther.
Boas
noites, companheiros e companheiras da base de apoio do Exército
Zapatista de Libertação Nacional.
Irmãos
e irmãs do México e do mundo, pela minha voz fala a voz
do EZLN.
Queremos
dizer algumas palavras ao senhor Vicente Fox e ao senhor Luis H. Álvarez.
Ao
senhor Vicente Fox, só digo que o povo mexicano está decepcionado
com suas enganações.
De
início, pensavam que você ia mudar a situação,
pensavam que ia se lutar pela paz com os povos indígenas. Você
disse que ia resolver os problemas, principalmente o da luta do EZLN.
Que em 15 minutos você muda a situação dos povos
do México, mas foi mentira. Você não se importa
com os que se esforçaram para que você subisse ao poder,
o que te interessa é ficar de bem com os ricos, não com
os pobres. Você anda viajando pelos países estrangeiros
dizendo que há paz no México e que você já
tem resolvido todos os problemas.
Onde
está a paz? É paz o desalojamento que você fez nos
Montes Azuis? O que você quer é provocar uma guerra para
que os estrangeiros fiquem com a montanha.
Queremos
dizer isso a você, senhor Fox, e ao senhor Luis H. Álvarez,
na medida que é seu enviado para a paz. E é só
um enviado de Fox para provocar a divisão e enganar o povo do
México. Assim como fez Rabasa. Você envia mais projetos
do PROCAMPO e do PROGRESA aos povoados para que se calem, para que não
falem mal de você e andem dizendo que nós do EZLN estamos
aceitando projetos só porque lhe permitimos passar em nossos
territórios controlados. Você diz também que estamos
divididos, que nós comandantes já nos rendemos e que o
EZLN já se dividiu, e também junto à senhora Calderona,
que é senadora, mas não passa de uma mentirosa, dizem
que o Sub Marcos já não vale nada, e que cada zapatista
anda ao lado de qualquer um, mas te digo claramente, senhor Álvarez
e senhora Calderón, que vocês são mentirosos, que
só publicam suas mentiras nos meios de comunicação
porque acham que o povo do México e outros povos do mundo acreditam
em vocês; vocês acham que todo o povo do México se
une a vocês e está ao seu lado e que cada um se deixa influenciar
sem pensar na verdade. E é isso que querem para que lhes seja
mais fácil enganar e acabar com os povos indígenas e não-indígenas
porque o que você e Fox querem é ganhar e viver melhor
assim, com sua mulher, sem se importar com os de baixo.
Queremos
dizer a vocês que o povo mexicano já não está
dormindo, nem nós do EZLN vamos ficar dormindo e nem ficar calados
diante das loucuras que dizem. Acaso pensam que vão ganhar com
tudo o que dizem? Claro que não. Nós zapatistas estamos
aqui de novo para dizer-lhes na cara e em voz alta que nenhum povo zapatista
recebe projetos do governo, ou o lixo que o governo manda dizendo que
é ajuda. Saibam que não vendemos nossa dignidade por migalhas
porque sabemos que nossa luta é justa e é para todos.
Onde
você está escondido senhor Álvarez? Você diz
que já não há zapatistas, que somos pouquinhos,
que nós comandantes e comandantas já nos perdemos. Você
já não enxerga senhor Luis? Acaso precisa de suas lentes
para nos ver melhor? Se quiser trazemos aqui todos os zapatistas, mas
não vão caber porque somos muitos. Hoje está aqui
uma parte mínima de nós, muitos não puderam chegar
por falta de recursos. Nós somos os comandantes e comandantas,
aqui estamos. Nunca iremos nos render nem vamos pedir permissão
pelo que fazemos. Não somos ignorantes para que venham nos dizer
o que temos que fazer.
Digo
claramente a você, Luis H. Álvarez, que você pôde
escolher entre ser como Camacho ou como Rabasa e você achou melhor
ser como Rabasa que só cobra o seu dinheiro e não faz
nada de bom para a paz. Se realmente se sentem homens, venham nos dizer
cara a cara o que foi publicado de que já não somos comandantes.
Nós viemos para dizer-lhes a verdade e defender nossa palavra.
Vamos ver se vêm defender suas mentiras e as da Calderona. Digo
a você, Álvarez, que não vamos permitir que você
passe pelo território sob nosso controle. Antes te deixamos passar
porque pensamos que pelo fato de você já ser de idade pode
pensar bem e porque antes, no seu passado, você lutou pela democracia.
Antes te deixávamos passar porque pensávamos que assim
você fosse aprender dos povos indígenas e fosse aprender
a respeitar o seu contrário, mas já vimos que não
aprende, só tem suas artimanhas de político que são
as mentiras que tem na boca.
Nós
zapatistas não levantamos em armas nove anos atrás para
pedir esmolas. Levantamos em armas para exigir democracia, liberdade
e justiça e é isso que eu venho dizer a você.
Que
viva o EZLN!
Das
montanhas do Sudeste mexicano.
CCRI-CG
EZLN. México, 1º de janeiro de 2003.
Palavras
do Comandante Tacho.
Pela
minha voz fala a voz do Exército Zapatista de Libertação
Nacional.
Irmãos
e irmãs:
Temos
algumas palavras para os políticos mexicanos e para os intelectuais
de direita. Senhores e senhoras dos três principais partidos políticos
do México e aos que nos criticam por nossas palavras e nossas
iniciativas.
Primeiro
dizemos a vocês que não aceitamos obedecer a ordens de
ninguém que não sejam os nossos povos.
Parece
que estes que querem nos dar ordens querem ocupar o lugar dos grandes
latifundiários e fazendeiros. Porque estes patrões estavam
acostumados a dar ordens a seus peões. Então, queremos
dizer que nós do Exército Zapatista de Libertação
Nacional não somos seus peões e nem seus serventes. Tampouco
somos crianças para que nos digam como temos que caminhar, o
que temos que fazer ou dizer.
Na
campanha que lançam contra o Sup Marcos não lhes dizemos
nada porque ele sozinho pode com vocês e até mais, caso
se animem. Além disso, seus ataques não o deixam triste
porque está dando risadas com o que lhe mandam e me pediu que
lhes dissesse que quer mais.
O
que queremos deixar claro mesmo é que o Comitê Clandestino
Revolucionário Indígena, que é a direção
política da nossa organização, foi encarregado,
além do que já lhe cabe, do trabalho de ser nosso porta-voz
a nível nacional e internacional. Claro que se alguns dos críticos
e especialistas que agora abundam achar que podem fazer melhor este
trabalho, ou têm mais capacidade, pois nós do CCRI lhes
dizemos que venha conosco.
Não
vamos pedir a eles que agüentem tudo o que agüentou, e agüenta,
o Sup ao longo do tempo que tem estado conosco. Só vamos pedir
a eles que agüentem nem sequer a décima parte e então
aqui vamos ensinar a eles o que o Sup aprendeu de nós e por isso
agora é o Supcomandante de aço inoxidável.
Vamos
ter paciência com eles e estamos dispostos a partilhar as torradas
estragadas, o pozol azedo, as caminhadas nas noites debaixo de chuva
com o pequeno peso de 20 quilos nas costas. Do que falta, se encarregarão
os mosquitos e as cobras.
Digo
a vocês só esta pequena palavra.
Mas,
por outro lado, nos criticam porque não estamos com os partidos
políticos. E não é que sejamos contra os partidos
políticos do mundo. Com certeza, deve haver partidos políticos
que se comprometem com os que representam e que não se corrompem.
Mas saberemos dizer a eles que no nosso México não há
um que seja bom e eles têm demonstrado isso com seus fatos.
Os
três principais partidos políticos do México, que
são o PAN, o PRI e o PRD, se burlaram de todos os povos indígenas
do México, de todo o povo que apoiou o reconhecimento dos nossos
direitos e das pessoas do mundo inteiro que também nos apoiavam.
Desta
forma, fechavam a porta à esperança de milhões
de homens e de mulheres do México e do mundo.
Porque
no México eles fecharam a porta do diálogo e querem nos
levar outra vez à beira da guerra.
E
demonstraram ao povo mexicano que não têm nenhum interesse
no povo; ou melhor, estão obedecendo aos interesses de seu patrão
e nos deram as costas. Por isso, irmãos e irmãs vamos
lhes contar o que aconteceu.
O
partido PRI está com raiva porque nós iniciamos a sua
derrota. Lembrem que, em 1993, Carlos Salinas de Gortari era o homem
mais poderoso do México e com um grande prestígio internacional,
claro que como vendedor da pátria, obviamente. Com um partido
PRI muito forte, o mais importante partido autoritário e corrupto,
como o são. O partido PRI é o único que estava
em todo o território nacional governando na maioria dos estados
e municípios.
E
a maioria baixava a cabeça e dizia que os governo são
muito fortes e não se pode fazer nada. E em 1994 a rebeldia parecia
impossível, e assim fizemos o impossível.
Lembrem-se!
Muitos baixavam a cabeça diante de Salinas e do governo do PRI
e ninguém podia dizer nada, só o que eles diziam e nada
mais. Até que houve alguém que na madrugada daquele primeiro
de janeiro de 1994 levantou a cabeça para dizer Basta!, e este
alguém tem nome e sobrenome e se chama Exército Zapatista
de Libertação Nacional.
Lembramos
disso porque naquele momento pareciam ser um único homem e um
único partido.
E
hoje, ao completar nove anos da nossa guerra, voltam a nos dizer outra
vez que não se pode fazer nada, como se os governos fossem os
únicos neste país México.
E
então, este senhor priista que se chama Manuel Bartlet fez uma
lei contra os povos indígenas para que o governo gringo lhe perdoasse
as acusações por narcotráfico que ele tem nos Estados
Unidos.
E
todos os deputados e senadores do PRI foram atrás dele.
Quanto
ao partido PAN, digo a vocês que já sabíamos que
o PAN ia votar contra os direitos dos povos indígenas porque
é um partido racista. Porque o PAN só gosta de ver os
indígenas como serventes em suas grandes casas ou pedindo esmolas.
Por isso não podem respeitar os direitos e a cultura indígenas.
Porque os panistas são os herdeiros daqueles conquistadores espanhóis
que semearam o terror e a morte nas terras indígenas do México.
E o panista Diego Fernández de Cevallos, que é advogado
de criminosos, colocou uma lei contra a lei COCOPA porque se a lei COCOPA
tivesse sido aprovada teria se chegado à paz e o governo Fox
teria ficado com um governo forte.
E
Cevallos quer que Fox fique fraco porque ele quer ser presidente do
México inclusive antes de 2006 e quer transformar todo o país
numa grande fazenda.
Do
partido PRD também dizemos a vocês, com muito pesar, que
não apoiou a lei COCOPA que é uma lei apoiada pelo povo
do México e no mundo inteiro como nenhuma outra lei. E os senadores
e a direção do PRD não votaram pela lei COCOPA
por uma razão. Porque se tivesse sido aprovada, e se a paz tivesse
chegado, então nós zapatistas teríamos saído
para fazer política abertamente. E eles não gostam disso
porque pensam que vamos tirar seus clientes e que vão ficar desocupados.
Lembro
disso porque agora o PRD anda dizendo que o problema indígena
é muito importante. Talvez, pensam que já nos esquecemos
do que fizeram. Mas acontece que nós zapatistas temos uma memória
muito boa. E lembramos que Jesus Ortega e Demétrio Sodi defenderam
esta lei que não serve pra nada, inclusive quando nem Cevallos
e nem Bartlet continuavam a defendê-la. Porque a direção
do PRD, quando viu na marcha que muita gente apoiava o EZLN, os dirigentes
entraram em acordo para fazer todo o possível para evitar que
os zapatistas pudessem se tornar uma organização política
aberta.
Assim
agiu o PRD, inclusive os deste partido que se supõe que são
mais de esquerda, votaram contra a lei COCOPA. O senhor Cárdenas
Solorzano recomendou votar com todos os senadores contra a lei COCOPA,
para que não parecessem senadores zapatistas. O prêmio
deste voto é o governo de Michoacán. E não creiam
que não nos doeu, porque até então pensávamos
que havia sim gente comprometida nos altos escalões do PRD. Pensávamos
que o senhor Cárdenas soubesse que são mais importantes
os princípios do que aquilo que os demais venham a dizer. E esperamos
não 15 dias. Esperamos mais de um ano. Porque pensávamos
que iam vir, não para pedir-nos perdão, e sim para explicar-nos
porque agiram assim. Nós teríamos entendido se as razões
fossem boas. Mas nem sequer merecemos uma explicação.
Claro,
há que se reconhecer que os deputados do PRD, os do PT os do
Verde votaram contra na Câmara do Deputados, mas o estrago já
estava feito. Todos sabemos que teria bastado que o PRD se opusesse
no Senado, ainda que fosse minoria, para que a lei voltasse a ser discutida.
Com um único senador a dizer não, teria sido arrebentada
a estratégia do governo de levar-nos à beira da guerra.
Mas
não, o PRD preferiu continuar com seus cargos no lugar de comprometer-se
com o povo do México e especialmente com os povos indígenas.
Foi
isso que aconteceu, os partidos políticos fecharam a porta da
solução política no México. Fizeram isso
por uma coisa que se chama mesquinharia e por outra que se chama medo.
Depois
é bom que todos saibam que a lei que se chama Cevallos-Bartlet-Ortega
é uma lei de guerra contra os povos indígenas.
É
isso que são os partidos políticos que chamam todos os
mexicanos a votar neles agora que vão eleger novos legisladores.
Acaso não temos memória de suas traições?
E
também foram acompanhados pela Suprema Corte de Justiça
da Nação, ainda que aí houve alguns juízes
que foram valentes e honestos, mas a maioria foi covarde e a covardia
ganhou.
E
o que dizer do senhor Fox e do seu gabinete, que fez o possível
para que não se cumprisse a lei COCOPA, porque estavam assustados
com o êxito da marcha da cor da terra.
Foi
desta maneira que os três poderes da União, o Executivo,
o Legislativo e o Judiciário, se negaram a uma solução
política e pacífica das reivindicações dos
povos indígenas do México.
Assim,
irmãos e irmãs, eles ainda dizem que lutam fazendo leis
a favor do povo, mas, na realidade, não é assim. Agora
aprovaram uma lei para repartir mais dinheiro para suas campanhas eleitorais.
Foi
isso que eles fizeram com a lei COCOPA que, como nenhuma outra lei,
teve tanto apoio; e assim a traíram. E agora querem nos enganar
de novo e enganar a todos. Porque ninguém entre eles se importa
com o povo, o que querem é continuar em seus postos e não
se importam que o país quebre em pedaços.
E
eles pensaram que isso que fizeram não é importante porque
o povo esquece rápido e, além do mais, não há
outra coisa. Mas ele não se esquece e há outra coisa sim.
Porque
toda esta história de enganações e traições
não acaba com o termos derrotado.
Nós,
como zapatistas, continuamos procurando caminhos para que o povo se
torne soberano e para que se cumpra o de mandar obedecendo.
É
assim que continuarão sabendo de nós e, sobretudo, continuarão
sabendo que nós zapatistas não esquecemos, que não
nos rendemos e que não nos vendemos.
Por
último, queremos dizer algumas palavras aos jornalistas. Todos
sabemos quanto a imprensa tem sido importante nesta luta, que é
a luta pela democracia, liberdade e justiça.
Não
importa que alguns falem mal do nosso EZLN, da nossa causa ou da nossa
história. Todos têm contribuído para abrir um espaço
de informação e discussão que antes não
existia.
Se
este espaço existe é graças aos trabalhadores na
comunicação, à sua luta e sensibilidade, e não
porque o governo e os ricos quiseram.
Por
isso, desejamos a todas e a todos os trabalhadores na comunicação
um feliz ano e desejamos que informem com a verdade e que seus direitos
como trabalhadores sejam respeitados pelas empresas nas quais trabalham.
Há
outra coisa a ser dita:
Há
uns dias, uma empresa de telecomunicação conhecida como
CNI-Canal 40, foi agredida por ordens do senhor Ricardo Salinas da TV
Azteca.
Todos
sabem que os locutores do CNI-Canal 40 se uniram às críticas
injustas que recebemos porque, supostamente, apoiamos o terrorismo.
Não importa, nós respeitamos o pensamento de cada um e
se dizem mentiras vai por sua conta.
Mas,
seja como for, não podemos ver como se impõe o autoritarismo
do dinheiro e ficarmos calados.
Queremos
expressar aqui nossa solidariedade com os trabalhadores na comunicação
do CNI-Canal 40 e repudiar a agressão que têm sofrido.
Já
dá pra ver que aqui no México a única lei que manda
é a do dinheiro e vemos assim como um poderoso quer tragar uma
empresa que era pequena, mas que se esforçava para informar as
pessoas, assim como se esforçam todos os repórteres que,
sem que importe para que empresa trabalham, andam de um lado pra outro
buscando a notícia para dá-la a conhecer. Se não
for publicada não é por sua culpa e sim pelos interesses
dos patrões.
Se
hoje permanecermos calados diante desta maldade, amanhã serão
outras empresas de comunicação a serem atacadas e então
só ficarão não as melhores, mas sim as que têm
dinheiro.
E
assim irão se apagando todas as vozes até que fique só
a voz do dinheiro.
E
isso, nenhuma pessoa honesta pode permiti-lo.
No
mundo e no México que nós zapatistas queremos não
ganhará o dinheiro e sim a razão, e a imprensa independente
será respeitada.
São
estas nossas palavras.
Viva
o Exército Zapatista de Libertação Nacional.
Das
montanhas do Sudeste mexicano.
Comitê
Clandestino Revolucionário Indígena – Comando Geral
do Exército Zapatista de Libertação Nacional.
México,
janeiro de 2003.
CMI