Discursos do EZLN no dia 1º de janeiro de 2003

by Emilio Gennari (tradução)

Discursos proferidos por membros do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) por ocasião do 9º aniversário da insurreição zapatista, em Chiapas, México.

Palavra da Comandanta Fidelia.

Muito boas noites irmãs.

Pela minha voz fala a voz do EZLN. Irmãs do campo e da cidade, vou dizer estas humildes palavras a vocês que me ouvem, que já faz muitos anos que nós mulheres estamos sofrendo a discriminação, a exploração e o esquecimento devido aos maus governos. O mesmo ocorre em nossas casas, mas nós também administramos isso e sabemos como vivemos. Nós não temos educação, não temos alimentação; temos menos alimentação e educação. Irmãs, nós madrugamos às três da manhã para preparar a comida de nossos filhos. Ao terminar temos que ir trabalhar na roça para ajudar nossos maridos. Temos que semear o milharal, temos que carregar o enxadão, o facão ou a picareta. Depois que dá o produto, temos que cortar o milho e tudo o que dá no campo, até também o café.

Irmãs, por estas muitas explorações e injustiças há muitas irmãs que migram para o povoado, mas que também são exploradas porque aí empregam elas como babás, lavadeiras e faxineiras. Até põem elas pra vender na rua e no mercado. Empregam-nas para levá-las às empresas de tortilhas desde às três da manhã e tiram elas de lá às oito da noite dizendo pega aí seus dez Pesos porque não há dinheiro. A situação está difícil, é isso que dizem. Também as mulheres que vão para as grandes cidades como contadoras, as secretárias vão ao banco dos ricos, vão para os hospitais, vão para os seguros, para as grandes fábricas e aí também elas são exploradas e discriminadas e até há momentos em que são violentadas.

Irmãs, não permitamos isso. Olhem, hoje mesmo o senhor das botas, o senhor Vicente Fox, com todo o seu gabinete de lagartos, vai aumentar a cesta básica. O que vamos fazer com este pouquinho, que são os trinta Pesos que nossos maridos ganham? Com este pouquinho, com o que vão subir o aumento do soldo, vão começar a enganar as mulheres do campo e da cidade dando a uma suas dez galinhas, a outra um porquinho, duas telhas de zinco tendo assim a oportunidade de enganar por toda a vida os que querem despertar.


Irmãs, eu também quero convidar as mulheres a lançar uma convocação para que se organizem, para que, juntas, nós possamos defender nosso direito e nós também tenhamos igualdade. Irmãs, não permitamos que o governo e o presidente da república continuem nos enganando porque há muitas coisas que estão vindo sobre nós que somos mulheres.

Das montanhas do sudeste mexicano, o EZLN.

Muito obrigada.

Palavras do Comandante Mister

Irmãos e irmãs, pela minha voz fala a voz do EZLN.

Vou dizer algumas palavras para todos os povos do mundo que lutam por sua libertação, a todos e a todas que lutem pela justiça, pela democracia e pela liberdade no mundo inteiro. Nós, rebeldes zapatistas, lutamos com vocês e sua luta também é nossa. Por isso, dizemos que lutaremos sempre no México e no mundo até conseguirmos um lugar digno na vida da humanidade. Estes maus governos pensam que nós indígenas não pensamos no internacional. Mas nós indígenas pensamos no internacional sim e nós indígenas temos sim o direito de apoiar e decidir o que queiramos fazer.

Também estes governos racistas pensam que nós indígenas não conhecemos o mundo. Saibam que nós o conhecemos sim e sabemos dos planos de morte que se fazem contra a humanidade e também sabemos e conhecemos a luta dos povos por sua libertação. Conhecemos o mundo e conhecemos até o Japão. Porque conhecemos todos estes homens e mulheres de todos os países que têm chegado em nossos povoados e eles têm nos falado de suas lutas, de seus mundos e de tudo o que eles fazem. Temos viajado em suas palavras e temos visto e conhecido mais terras do que qualquer intelectual. Conhecemos os espanhóis, conhecemos os bascos, conhecemos italianos, franceses, catalães, estadunidenses, argentinos, austríacos, chilenos, nicaragüenses, guatemaltecos, coreanos, japoneses, peruanos, canadenses, noruegueses, gente da Bélgica, Suíça, Alemanha, Grécia, Inglaterra, Austrália, África e de outros países que agora não lembro.

Por isso, dizemos aos poderosos do mundo que se eles se unem através da globalização para globalizar a morte, estão, nós também vamos globalizar a liberdade. Dizemos a nossos irmãos do País Basco que não acreditem no que dizem os maus governos. Dizemos a eles que quando o Subcomandante Insurgente Marcos diz que apóia a luta política do povo Basco, quer dizer que todos nós zapatistas, homens, crianças, anciãos e mulheres estamos apoiando sua luta porque suas reivindicações são de justiça, de liberdade e de democracia. E não nos envergonhamos de apoiar a justa luta de um povo, o povo Basco, que luta como vocês. Muito menos nos dá medo de falar de sua luta, porque se há algo que nós zapatistas não temos é o medo. Porque somos dignos, merecemos um lugar digno no mundo.

Não importa que as ameaças venham de onde venham. Falar a verdade é nosso dever e saberemos dizer que não nos dá medo falar das lutas políticas e sociais do mundo como falamos da luta do povo rebelde da Argentina. E aqui enviamos uma saudação especial por parte de nós zapatistas. Assim, também aos desobedientes italianos e a todos os irmãos e irmãs zapatistas da Europa e do mundo.

Levantamos também nossa voz indígena para pedir respeito à soberania do país que se chama Venezuela. E que os venezuelanos decidam o que quiserem sem que outros países intervenham. No México, mandamos uma saudação especial aos irmãos e irmãs do município autônomo de Atenco. Também aos companheiros e companheiras da FZLN, a todos os professores rebeldes e aos camponeses, nossos irmãos de luta pela terra, aos operários e empregados.

Também dizemos a vocês, irmãos e irmãs do mundo, que não temos ninguém a quem pedir permissão porque não precisamos disso, porque, na verdade, para fazer o bem não é necessária a permissão de ninguém. Por isso, irmãos e irmãs rebeldes do mundo, apoiamos a luta do povo e estamos lutando por um lugar digno. Lutamos pela democracia, a liberdade e a justiça para todos os povos e nações do mundo. Porque a vida da humanidade é sagrada, e como tal, merecemos ter uma vida mais justa, mais digna e mais humana em qualquer lugar do mundo onde nos encontremos. Porque, em qualquer lugar deste mundo, a resistência tem nos demonstrado que temos conseguido sobreviver organizando-nos da forma que nos pareça melhor e jamais temos pedido permissão a ninguém pelo que temos que fazer e muito menos pelo que vamos dizer.

Irmãos lutadores do mundo todo, não têm sido poucos os insultos dos maus governos do mundo. Dizem que lutam pelos direitos humanos, mas isso não está certo porque estes maus governos lutam pela morte e pelo desaparecimento, pela fome e a miséria, com doenças criadas por eles mesmos. Assim querem nos matar, assim querem fazer-nos desaparecer da vida da humanidade. A estes maus governos e seus sucessores dizemos que jamais vão conseguir acabar conosco nem pela fome, nem pela doença e muito menos com seus projetos e tratados.

A rebeldia tem existido durante toda a existência da humanidade. Está demonstrado. Quanto aos zapatistas, nosso dever é lutar pela humanidade contra os planos e tratados do neoliberalismo pelo mundo, assim como as injustiças dos poderosos do mundo que não conhecem e nem respeitam fronteiras. Então é assim que tem que ser nossa luta pela justiça e a liberdade.

Por isso, vamos lutar pela vida e a humanidade e contra a morte. Vamos lutar por nossos direitos realmente humanos contra o esquecimento. Vamos lutar pela nossa existência contra o extermínio. Assim vamos continuar lutando com a palavra verdadeira. Assim continuaremos até que todos juntos conseguirmos e conquistarmos um lugar para todos na vida da humanidade.

Por isso, irmãos e irmãs do mundo todo, pedimos a vocês que mantenham sua luta e continuem lutando por todo o tempo que for necessário. Porque nós zapatistas não vamos trair todos os lutadores políticos e sociais do mundo inteiro e para lutar no mundo não pediremos permissão a ninguém, muito menos vamos aceitar que os governos nos digam o que devemos fazer ou o que vamos decidir. Mas é fato que apoiamos todos os lutadores sociais e políticos do mundo inteiro porque temos esperança em todas as lutas do mundo. Vamos ganhar porque nossas reivindicações são justas.

Viva a Argentina Rebelde!

Viva a luta política do povo Basco!

Vivam os rebeldes do mundo!

Viva o EZLN!

Das montanhas do sudeste mexicano.

CCRI-CG EZLN, México, 1º de janeiro de 2003.

Muito obrigado.

Palavras do Comandante Omar.

Pela minha voz fala a voz do EZLN.

Irmãos e irmãs, vou dizer algumas palavras para os jovens do México e do mundo. Mais uma vez viemos dizer a vocês que estamos vivos e continuamos aqui, não nos rendemos e nem temos nos vendido, ao contrário, estamos mais fortes e mais firmes, viemos até aqui, na praça de San Cristóbal, para dizer a verdade sobre o que está acontecendo em nosso país e no mundo. Também viemos demonstrar-lhes que não estamos divididos nem lutando entre nós. Para que vamos lutar entre nós se ainda temos com quem lutar?” Vocês conhecem as mentiras que fazem os que todos sabem que são mentirosos.

Jovens do mundo e do México, estudantes, jovens sem emprego, jovem artista ou desportista, jovem roqueiro, jovem pintor, jovem do bando, jovem trabalhador, jovens de diferentes setores sociais, jovens de diferentes países do mundo, vocês que têm lutado conosco, que têm sabido nos respeitar e que têm trabalhado muito, continuaremos dizendo a vocês que, onde quer que estejam, lutem e não deixem de lutar porque nós zapatistas não vamos esquecê-los, só porque eles nunca vão acabar conosco.

Ainda que estejam nos matando, outros vão crescendo. Mas deixar-se enganar isso não. Portanto estamos aqui com nossas bases, a pequena parte dos nossos povos em resistência, para demonstrar e desmentir tudo o que têm dito os mentirosos de todo o México e do mundo. Jovens, não se deixem mais enganar. Já têm nos enganados por muitíssimos anos. Que esperança vai ter com os partidos se só te aproveitam para que vote neles e depois te perseguem, te roubam, te matam, te prendem, ou ameaçam você e sua família e isso só para dançar e cantar como quiser ou por cortar o cabelo ou vestir como gosta, só por isso suspeitam de você ou te acusam de ser terrorista ou mentiroso. Não respeitam teus costumes e nem tua cultura.

Não se deixem levar por estes vampiros que só chupam o sangue do povo trabalhador e não deixam nada. Lutemos para deter estes parasitas do México do mundo, já que nós somos maioria. Então, nós podemos escolher com vocês o caminho do nosso futuro neste mundo onde tenhamos um lugar para todos. Falemos e unamos nossa voz para dizer o que queremos e o que não queremos para que assim possamos ir conhecendo nossos direitos. Ainda que os maus governos criem obstáculos para a luta, o EZLN seguirá adiante.

Em qualquer luta política que serve para os nossos povos e para a sociedade do nosso país e do mundo estaremos com vocês, apoiando-os. Vale a pena arriscar-nos na luta já que, por si só, estão nos matando, pois antes que deixemos de existir vamos deixar um caminho em busca de uma vida melhor para nossos filhos, para que tenhamos um futuro. Também para que se acabe com as promessas não cumpridas e os saques de todo tipo de riquezas naturais da nação.

O que esperar dos partidos se só procuram vender a pátria e já dizíamos que os parasitas do mundo vão de país em país procurando quem roubar. Por isso, jovens destas terras mexicanas e do mundo não deixemos de lutar para desafiar os governos do mundo porque esta é a nossa esperança, que todos juntos mudemos estes governos neoliberais. Não se importam com nossas vidas. Não vamos nos conformar com a traição dos políticos em relação às lutas indígenas.

A luta continua e jamais nos renderemos. Tampouco, vamos pedir permissão a alguém sobre o que nós zapatistas devemos ou não devemos fazer. Nós levantamos em armas para que haja democracia, justiça e liberdade. Enquanto não conseguirmos isso, não haverá paz. Por isso, estamos aqui presentes debaixo de seus narizes quando se supunha que não existíamos mais. Contudo, estamos dispostos a lutar, e a lutar a qualquer preço.

Como vocês sabem, como sempre, os informamos da verdade. Aos jovens e às jovens deste planeta Terra que tenhamos esperança e confiem na luta zapatista, com sua experiência de resistência e esperança. Tudo isso está nos povos há mais de 500 anos e nós do EZLN saberemos cumprir. Aprendemos a dizer a verdade porque assim aprendemos a lutar, não a enganar e a mentir, só a dizer a verdade. Isso não é mentira. Vocês sabem e vêem que a luta continua, e faço um convite especial a vocês a formarem-se nesta luta e a construírem um espaço onde podemos exercer nossas culturas, nossa livre determinação para assim levar a término nossa autonomia onde quer que estejamos e que sejamos mais rebeldes e dignos em sua luta. Recebam uma saudação revolucionária do EZLN. Felicidades, divirtam-se com sua luta.

Das montanhas do sudeste mexicano.

CCRI-CG EZLN

México, 1º de janeiro de 2003.

Palavras do Comandante Brus Li.

Pela minha voz fala o EZLN. Irmãos e irmãs, vou dizer algumas palavras para os povos indígenas deste país mexicano. Nós zapatistas somos os que levantamos em armas no ano de 1994, por uma causa justa e digna pela qual nos demos conta de que há mais de 500 anos viemos vivendo na exploração e na miséria.

Nós zapatistas lhes dizemos claramente que nossa luta não é só para nós indígenas. É para todos e todas as e os indígenas e não-indígenas e, sobretudo, digo nossas palavras aos nossos povos. Fazemos um apelo a todos para que se organizem de verdade, que não seja só de palavras e que o demonstrem verdadeiramente nos fatos.

Já é tempo que todos nos organizemos e que formemos nossos municípios autônomos. Não temos que esperar até quando o governo der a permissão. Devemos nos organizar como rebeldes de verdade e não esperar que alguém nos dê permissão para sermos autônomos, sem lei ou com lei. De forma tal que, assim, devemos pôr pra funcionar nossas autoridades em rebeldia e assim autogovernar-nos. Só assim a democracia pode funcionar de verdade no interior de um município.

Mas também lhes dizemos que não temos só que opor resistência, não só ao receber migalhas, mas temos que resistir sim a todas as gozações e as perseguições que podem vir do inimigo que enfrentamos e que são os maus governos, que por centenas de anos vieram manipulando na forma de governar. Hoje, já não nos importa. Já somos uma organização rebelde e sabemos nos governar sem necessidade de quem nos ensine. Não esperamos uma mudança desta situação por parte dos poderosos e de seus partidos políticos, em alerta com o que vem ou com as grandes conseqüências contra todo o México como o Tratado de Livre Comércio. Por sua vez, o campo é só para o benefício dos ricos.

Querem nos enganar. Eles são pura mentira, eles querem nos destruir e exterminar, mas não conseguirão. Não o permitiremos. Nos defenderemos a qualquer preço para que assim a terra seja de quem a trabalha e, portanto, temos a razão. Porque temos o direito de viver, nós, nossos filhos e os filhos de nossos filhos; porque, para nós, nossas terras são nossa mãe, porque não iremos vender nossa mãe, muito menos vamos permitir que algum filho da puta a tire. Antes mortos do que permitir isso. Não vamos cair nas arapucas disfarçadas de verdade e cuidadosamente armadas para não serem detectadas. Mas a estes pobrezinhos tontos e a nós zapatistas não poderão nos enganar, muito menos nos conquistar.

Viva o EZLN!

Viva os povos indígenas!

Viva os camponeses!

Das montanhas do sudeste mexicano.

CCRI-CG EZLN. México, 1º de janeiro de 2003.

Palavras do Comandante David.

Boas noites a todos e a todas.

Pela minha voz fala a voz do Exército Zapatista de Libertação Nacional. Irmãos e irmãs, vamos dirigir algumas palavras a todos os que estão nas escolas do EZLN.

Companheiros e companheiras bases de apoio, representantes dos povoados das regiões presentes nesta grande manifestação, saudamos todos e todas por sua decisão e valentia de ter se mobilizado sem se importar com as conseqüências.

Companheiros e companheiras zapatistas de todos os povoados, de todas as regiões e de onde quer que estejam, mas que não puderam vir, que por muitas razões não puderam estar presentes nesta manifestação, nós os saudamos. Desejamos a vocês que continuem com firmeza nesta luta.

Aos companheiros e companheiras combatentes, insurgentes e insurgentas, milicianos de todas as frentes e seus respectivos comandos militares, em nome do Comitê Clandestino Revolucionário Indígena, Comando Geral do EZLN, os saudamos combativamente e nossas saudações especiais por ter completado 19 anos de nascimento e agora nove anos de guerra. Desejamos a vocês que continuem firmes em suas convicções e em seu moral revolucionário.

Saudações especiais a nossos companheiros e companheiras bases de apoio que têm resistido aos golpes políticos, econômicos e ideológicos do governo. Que têm sofrido e resistido às pressões e agressões dos militares e paramilitares. Que têm sofrido o desalojamento, as perseguições, as prisões e o cair de seus familiares nesta luta.

Saudações a todos os companheiros e companheiras zapatistas civis que se encontram no campo, nas cidades, em qualquer estado do nosso país e em outros países do mundo.

Companheiros e companheiras, como todos vocês sabem, desde que os poderes executivo, legislativo e judiciário aprovaram uma lei contra os povos indígenas do México, nós zapatistas temos rechaçado esta lei e por isso temos vivido uma etapa de silêncio e de resistência, e ficamos quase dois anos em silêncio em sinal de nossa indignação com a traição dos poderes governamentais.

E o que estes poderes e seus aliados têm feito é aproveitar o nosso silêncio para falar um monte de mentiras e de calúnias.

Têm preparado estratégias políticas e econômicas contra-insurrecionais disfarçando-as de projetos de desenvolvimento dos povos indígenas. Mas, na realidade, estes apoios, após tudo o que falaram os governos atuais não passam, como sempre de simples migalhas. Não representam nenhuma solução para a miséria em que vivemos e menos ainda são uma resposta às justas reivindicações dos povos indígenas.

Têm usado nosso silêncio para dizer que nós zapatistas já estamos acabados, que estamos divididos, que os dirigentes já se renderam ou se venderam, que o comando ficou sozinho e que os povoados zapatistas já foram para o governo.

E todas estas artimanhas dos governos, os partidos têm-nas usado para confundir os povos, para debilitar a luta e a resistência indígena. Por isso, para que nos contentemos e nos conformemos, oferecem palavras e pequenas ajudas para alguns povoados.

Para o novo dizer, agora sim estamos em paz porque os zapatistas já aceitaram o apoio do governo e abandonaram as fileiras do EZLN. Então, se for assim, quem somos nós que estamos aqui presentes? Não são zapatistas os milhares de homens, mulheres, jovens, crianças e anciãos que estão aqui reivindicando e as dezenas de milhares que ficaram em seus povoados por não ter conseguido dinheiro e transporte para chegar nesta manifestação?

Acaso, estes milhares de homens e mulheres, jovens, anciãos e crianças combatentes zapatistas estão dispostos a render-se? Pergunto a vocês: Acaso estão dispostos a humilhar-se diante daqueles que durante séculos têm nos humilhado, despojado de nossa riqueza, têm nos discriminado, esquecido e pisoteado nossa dignidade? Pergunto a vocês, companheiros e companheiras, estão dispostos a render-se? (Público: “Não!!!”).

Acaso vocês, companheiros e companheiras, estão dispostos a vender-se por migalhas e a trair assim o sangue de nossos caídos, de nossos heróis e mártires? Pergunto a vocês, companheiros, estão dispostos a vender-se? Acaso estão dispostos a deixar a luta quando não temos conseguido nada da solução real de nossas justas reivindicações? Acaso estão dispostos a vender sua dignidade e a deixar como herança a nossos filhos somente fome, miséria e esquecimento? Estão dispostos? Companheiros e companheiras, hoje, ao completar nove anos do nosso levante armado e depois de romper o silêncio que mantivemos por quase dois anos, chegou, mais uma vez, a hora de falar e de dizer a verdade de que nós indígenas zapatistas não nos levantamos em armas para pedir esmolas, para que continuem se burlando de nós, como até agora têm feito os governos que nos oferecem mentiras e migalhas para comprar consciências.

Nós, povos indígenas zapatistas, não precisamos que o governo nos apóie com seus camelódromos ou que nos mande alimentos vencidos. O que nós zapatistas pedimos e exigimos é que se reconheçam constitucionalmente os direitos, a autonomia e a livre determinação de todos os povos indígenas do México.

Exigimos que nos tratem com igualdade e justiça. Por isso, não aceitamos que se burlem de nós ou que, lastimando, nos ofereçam suas migalhas ou seus lixos.

Nós, indígenas zapatistas, somos empobrecidos, não pedintes ou delinqüentes. Somos rebeldes contra as injustiças e o esquecimento. Temos dignidade e temos a razão de lutar por nossos guerreiros e queremos que o mundo inteiro entenda isso, que nós indígenas não somos animais para que os ricos e os poderosos nos joguem seus restos. Porque somos povos com uma longa história.

Por isso, estamos dispostos a continuar a luta até ver que os povos indígenas de toda a nossa pátria são respeitados. E levados em consideração como povos e como cidadãos com todos os direitos, queremos dizer a todo o México e ao mundo que estamos atentos aos resultados da iniciativa que lançamos dias atrás na voz do Sup Marcos. É uma iniciativa arriscada, mas achamos que vale a pena tentá-la para o bem de todos. Porque é ainda uma tentativa de solução pacífica pela qual estamos tentando abrir uma porta no lugar onde os políticos mexicanos nos fecharam.

Sobre isso e sobre outras coisas continuaremos falando através do nosso porta-voz que é o Subcomandante Insurgente Marcos.

Companheiros e companheiras, queremos dizer-lhes que nossa luta apenas começou.

Por isso, neste nosso aniversário do nosso levante viemos para este centro de exploração que é San Cristóbal de las Casas para manifestar-nos e dizer a verdade. Para isso, tivemos que atravessar postos de controle e romper cercos militares para vir dizer que estamos aqui. Estamos aqui com palavras sinceras e verdadeiras. Reafirmamos nosso compromisso de continuar nossa luta por democracia, liberdade e justiça para todos.

Companheiros e companheiras, desde 1º de janeiro de 1994, guardamos pequenas centelhas de rebeldia e de dignidade e é esta luz que os poderosos têm desejado apagar. Mas não conseguiram e ninguém poderá apagá-la, porque é a luz da esperança para os povos indígenas e não indígenas do México e do mundo.

Esta luz simboliza hoje nossa força e nossa proteção nesta longa luta por democracia, liberdade e justiça. Por isso, hoje, façamos grande e forte esta luz para que os povos e as nações vejam que mantemos viva esta luz da rebeldia zapatista.

Companheiros e companheiras, neste momento preparem-se para acender suas luzes.

Companheiros e companheiras, os que estão lá atrás fazendo uma fogueira, ainda não damos a ordem para que acendam sua tocha. Esperem companheiros e companheiras, agora vamos dar a ordem.

Companheiros e companheiras, levantem para o alto seus facões e peguem o seu fogo (ruído de facões).

Companheiros e companheiras, mantenham acesa sua tocha e levantando seu facão ou se machado, e depois vamos dar instruções do que fazer com estes. Agora peguem apenas o seu fogo.

Companheiros e companheiras, vamos todos gritar:

Vivam os companheiros caídos!

Viva o Exército Zapatista de Libertação Nacional!

Vivam os povos indígenas do México!

Vivam os pobres do México!

Vivam os rebeldes do mundo inteiro!

Viva a vida!

Morra a morte!

Das montanhas do sudeste mexicano.

Comitê Clandestino Revolucionário Indígena – Comando Geral do Exército Zapatista de Libertação Nacional, 1º de janeiro de 2003.

Muito obrigado, companheiros e companheiras.

Palavras da Comandanta Esther.

Boas noites, companheiros e companheiras da base de apoio do Exército Zapatista de Libertação Nacional.

Irmãos e irmãs do México e do mundo, pela minha voz fala a voz do EZLN.

Queremos dizer algumas palavras ao senhor Vicente Fox e ao senhor Luis H. Álvarez.

Ao senhor Vicente Fox, só digo que o povo mexicano está decepcionado com suas enganações.

De início, pensavam que você ia mudar a situação, pensavam que ia se lutar pela paz com os povos indígenas. Você disse que ia resolver os problemas, principalmente o da luta do EZLN. Que em 15 minutos você muda a situação dos povos do México, mas foi mentira. Você não se importa com os que se esforçaram para que você subisse ao poder, o que te interessa é ficar de bem com os ricos, não com os pobres. Você anda viajando pelos países estrangeiros dizendo que há paz no México e que você já tem resolvido todos os problemas.

Onde está a paz? É paz o desalojamento que você fez nos Montes Azuis? O que você quer é provocar uma guerra para que os estrangeiros fiquem com a montanha.

Queremos dizer isso a você, senhor Fox, e ao senhor Luis H. Álvarez, na medida que é seu enviado para a paz. E é só um enviado de Fox para provocar a divisão e enganar o povo do México. Assim como fez Rabasa. Você envia mais projetos do PROCAMPO e do PROGRESA aos povoados para que se calem, para que não falem mal de você e andem dizendo que nós do EZLN estamos aceitando projetos só porque lhe permitimos passar em nossos territórios controlados. Você diz também que estamos divididos, que nós comandantes já nos rendemos e que o EZLN já se dividiu, e também junto à senhora Calderona, que é senadora, mas não passa de uma mentirosa, dizem que o Sub Marcos já não vale nada, e que cada zapatista anda ao lado de qualquer um, mas te digo claramente, senhor Álvarez e senhora Calderón, que vocês são mentirosos, que só publicam suas mentiras nos meios de comunicação porque acham que o povo do México e outros povos do mundo acreditam em vocês; vocês acham que todo o povo do México se une a vocês e está ao seu lado e que cada um se deixa influenciar sem pensar na verdade. E é isso que querem para que lhes seja mais fácil enganar e acabar com os povos indígenas e não-indígenas porque o que você e Fox querem é ganhar e viver melhor assim, com sua mulher, sem se importar com os de baixo.

Queremos dizer a vocês que o povo mexicano já não está dormindo, nem nós do EZLN vamos ficar dormindo e nem ficar calados diante das loucuras que dizem. Acaso pensam que vão ganhar com tudo o que dizem? Claro que não. Nós zapatistas estamos aqui de novo para dizer-lhes na cara e em voz alta que nenhum povo zapatista recebe projetos do governo, ou o lixo que o governo manda dizendo que é ajuda. Saibam que não vendemos nossa dignidade por migalhas porque sabemos que nossa luta é justa e é para todos.

Onde você está escondido senhor Álvarez? Você diz que já não há zapatistas, que somos pouquinhos, que nós comandantes e comandantas já nos perdemos. Você já não enxerga senhor Luis? Acaso precisa de suas lentes para nos ver melhor? Se quiser trazemos aqui todos os zapatistas, mas não vão caber porque somos muitos. Hoje está aqui uma parte mínima de nós, muitos não puderam chegar por falta de recursos. Nós somos os comandantes e comandantas, aqui estamos. Nunca iremos nos render nem vamos pedir permissão pelo que fazemos. Não somos ignorantes para que venham nos dizer o que temos que fazer.

Digo claramente a você, Luis H. Álvarez, que você pôde escolher entre ser como Camacho ou como Rabasa e você achou melhor ser como Rabasa que só cobra o seu dinheiro e não faz nada de bom para a paz. Se realmente se sentem homens, venham nos dizer cara a cara o que foi publicado de que já não somos comandantes. Nós viemos para dizer-lhes a verdade e defender nossa palavra. Vamos ver se vêm defender suas mentiras e as da Calderona. Digo a você, Álvarez, que não vamos permitir que você passe pelo território sob nosso controle. Antes te deixamos passar porque pensamos que pelo fato de você já ser de idade pode pensar bem e porque antes, no seu passado, você lutou pela democracia. Antes te deixávamos passar porque pensávamos que assim você fosse aprender dos povos indígenas e fosse aprender a respeitar o seu contrário, mas já vimos que não aprende, só tem suas artimanhas de político que são as mentiras que tem na boca.

Nós zapatistas não levantamos em armas nove anos atrás para pedir esmolas. Levantamos em armas para exigir democracia, liberdade e justiça e é isso que eu venho dizer a você.

Que viva o EZLN!

Das montanhas do Sudeste mexicano.

CCRI-CG EZLN. México, 1º de janeiro de 2003.

Palavras do Comandante Tacho.

Pela minha voz fala a voz do Exército Zapatista de Libertação Nacional.

Irmãos e irmãs:

Temos algumas palavras para os políticos mexicanos e para os intelectuais de direita. Senhores e senhoras dos três principais partidos políticos do México e aos que nos criticam por nossas palavras e nossas iniciativas.

Primeiro dizemos a vocês que não aceitamos obedecer a ordens de ninguém que não sejam os nossos povos.

Parece que estes que querem nos dar ordens querem ocupar o lugar dos grandes latifundiários e fazendeiros. Porque estes patrões estavam acostumados a dar ordens a seus peões. Então, queremos dizer que nós do Exército Zapatista de Libertação Nacional não somos seus peões e nem seus serventes. Tampouco somos crianças para que nos digam como temos que caminhar, o que temos que fazer ou dizer.

Na campanha que lançam contra o Sup Marcos não lhes dizemos nada porque ele sozinho pode com vocês e até mais, caso se animem. Além disso, seus ataques não o deixam triste porque está dando risadas com o que lhe mandam e me pediu que lhes dissesse que quer mais.

O que queremos deixar claro mesmo é que o Comitê Clandestino Revolucionário Indígena, que é a direção política da nossa organização, foi encarregado, além do que já lhe cabe, do trabalho de ser nosso porta-voz a nível nacional e internacional. Claro que se alguns dos críticos e especialistas que agora abundam achar que podem fazer melhor este trabalho, ou têm mais capacidade, pois nós do CCRI lhes dizemos que venha conosco.

Não vamos pedir a eles que agüentem tudo o que agüentou, e agüenta, o Sup ao longo do tempo que tem estado conosco. Só vamos pedir a eles que agüentem nem sequer a décima parte e então aqui vamos ensinar a eles o que o Sup aprendeu de nós e por isso agora é o Supcomandante de aço inoxidável.

Vamos ter paciência com eles e estamos dispostos a partilhar as torradas estragadas, o pozol azedo, as caminhadas nas noites debaixo de chuva com o pequeno peso de 20 quilos nas costas. Do que falta, se encarregarão os mosquitos e as cobras.

Digo a vocês só esta pequena palavra.

Mas, por outro lado, nos criticam porque não estamos com os partidos políticos. E não é que sejamos contra os partidos políticos do mundo. Com certeza, deve haver partidos políticos que se comprometem com os que representam e que não se corrompem. Mas saberemos dizer a eles que no nosso México não há um que seja bom e eles têm demonstrado isso com seus fatos.

Os três principais partidos políticos do México, que são o PAN, o PRI e o PRD, se burlaram de todos os povos indígenas do México, de todo o povo que apoiou o reconhecimento dos nossos direitos e das pessoas do mundo inteiro que também nos apoiavam.

Desta forma, fechavam a porta à esperança de milhões de homens e de mulheres do México e do mundo.

Porque no México eles fecharam a porta do diálogo e querem nos levar outra vez à beira da guerra.

E demonstraram ao povo mexicano que não têm nenhum interesse no povo; ou melhor, estão obedecendo aos interesses de seu patrão e nos deram as costas. Por isso, irmãos e irmãs vamos lhes contar o que aconteceu.

O partido PRI está com raiva porque nós iniciamos a sua derrota. Lembrem que, em 1993, Carlos Salinas de Gortari era o homem mais poderoso do México e com um grande prestígio internacional, claro que como vendedor da pátria, obviamente. Com um partido PRI muito forte, o mais importante partido autoritário e corrupto, como o são. O partido PRI é o único que estava em todo o território nacional governando na maioria dos estados e municípios.

E a maioria baixava a cabeça e dizia que os governo são muito fortes e não se pode fazer nada. E em 1994 a rebeldia parecia impossível, e assim fizemos o impossível.

Lembrem-se! Muitos baixavam a cabeça diante de Salinas e do governo do PRI e ninguém podia dizer nada, só o que eles diziam e nada mais. Até que houve alguém que na madrugada daquele primeiro de janeiro de 1994 levantou a cabeça para dizer Basta!, e este alguém tem nome e sobrenome e se chama Exército Zapatista de Libertação Nacional.

Lembramos disso porque naquele momento pareciam ser um único homem e um único partido.

E hoje, ao completar nove anos da nossa guerra, voltam a nos dizer outra vez que não se pode fazer nada, como se os governos fossem os únicos neste país México.

E então, este senhor priista que se chama Manuel Bartlet fez uma lei contra os povos indígenas para que o governo gringo lhe perdoasse as acusações por narcotráfico que ele tem nos Estados Unidos.

E todos os deputados e senadores do PRI foram atrás dele.

Quanto ao partido PAN, digo a vocês que já sabíamos que o PAN ia votar contra os direitos dos povos indígenas porque é um partido racista. Porque o PAN só gosta de ver os indígenas como serventes em suas grandes casas ou pedindo esmolas. Por isso não podem respeitar os direitos e a cultura indígenas. Porque os panistas são os herdeiros daqueles conquistadores espanhóis que semearam o terror e a morte nas terras indígenas do México. E o panista Diego Fernández de Cevallos, que é advogado de criminosos, colocou uma lei contra a lei COCOPA porque se a lei COCOPA tivesse sido aprovada teria se chegado à paz e o governo Fox teria ficado com um governo forte.

E Cevallos quer que Fox fique fraco porque ele quer ser presidente do México inclusive antes de 2006 e quer transformar todo o país numa grande fazenda.

Do partido PRD também dizemos a vocês, com muito pesar, que não apoiou a lei COCOPA que é uma lei apoiada pelo povo do México e no mundo inteiro como nenhuma outra lei. E os senadores e a direção do PRD não votaram pela lei COCOPA por uma razão. Porque se tivesse sido aprovada, e se a paz tivesse chegado, então nós zapatistas teríamos saído para fazer política abertamente. E eles não gostam disso porque pensam que vamos tirar seus clientes e que vão ficar desocupados.

Lembro disso porque agora o PRD anda dizendo que o problema indígena é muito importante. Talvez, pensam que já nos esquecemos do que fizeram. Mas acontece que nós zapatistas temos uma memória muito boa. E lembramos que Jesus Ortega e Demétrio Sodi defenderam esta lei que não serve pra nada, inclusive quando nem Cevallos e nem Bartlet continuavam a defendê-la. Porque a direção do PRD, quando viu na marcha que muita gente apoiava o EZLN, os dirigentes entraram em acordo para fazer todo o possível para evitar que os zapatistas pudessem se tornar uma organização política aberta.

Assim agiu o PRD, inclusive os deste partido que se supõe que são mais de esquerda, votaram contra a lei COCOPA. O senhor Cárdenas Solorzano recomendou votar com todos os senadores contra a lei COCOPA, para que não parecessem senadores zapatistas. O prêmio deste voto é o governo de Michoacán. E não creiam que não nos doeu, porque até então pensávamos que havia sim gente comprometida nos altos escalões do PRD. Pensávamos que o senhor Cárdenas soubesse que são mais importantes os princípios do que aquilo que os demais venham a dizer. E esperamos não 15 dias. Esperamos mais de um ano. Porque pensávamos que iam vir, não para pedir-nos perdão, e sim para explicar-nos porque agiram assim. Nós teríamos entendido se as razões fossem boas. Mas nem sequer merecemos uma explicação.

Claro, há que se reconhecer que os deputados do PRD, os do PT os do Verde votaram contra na Câmara do Deputados, mas o estrago já estava feito. Todos sabemos que teria bastado que o PRD se opusesse no Senado, ainda que fosse minoria, para que a lei voltasse a ser discutida. Com um único senador a dizer não, teria sido arrebentada a estratégia do governo de levar-nos à beira da guerra.

Mas não, o PRD preferiu continuar com seus cargos no lugar de comprometer-se com o povo do México e especialmente com os povos indígenas.

Foi isso que aconteceu, os partidos políticos fecharam a porta da solução política no México. Fizeram isso por uma coisa que se chama mesquinharia e por outra que se chama medo.

Depois é bom que todos saibam que a lei que se chama Cevallos-Bartlet-Ortega é uma lei de guerra contra os povos indígenas.

É isso que são os partidos políticos que chamam todos os mexicanos a votar neles agora que vão eleger novos legisladores. Acaso não temos memória de suas traições?

E também foram acompanhados pela Suprema Corte de Justiça da Nação, ainda que aí houve alguns juízes que foram valentes e honestos, mas a maioria foi covarde e a covardia ganhou.

E o que dizer do senhor Fox e do seu gabinete, que fez o possível para que não se cumprisse a lei COCOPA, porque estavam assustados com o êxito da marcha da cor da terra.

Foi desta maneira que os três poderes da União, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, se negaram a uma solução política e pacífica das reivindicações dos povos indígenas do México.

Assim, irmãos e irmãs, eles ainda dizem que lutam fazendo leis a favor do povo, mas, na realidade, não é assim. Agora aprovaram uma lei para repartir mais dinheiro para suas campanhas eleitorais.

Foi isso que eles fizeram com a lei COCOPA que, como nenhuma outra lei, teve tanto apoio; e assim a traíram. E agora querem nos enganar de novo e enganar a todos. Porque ninguém entre eles se importa com o povo, o que querem é continuar em seus postos e não se importam que o país quebre em pedaços.

E eles pensaram que isso que fizeram não é importante porque o povo esquece rápido e, além do mais, não há outra coisa. Mas ele não se esquece e há outra coisa sim.

Porque toda esta história de enganações e traições não acaba com o termos derrotado.

Nós, como zapatistas, continuamos procurando caminhos para que o povo se torne soberano e para que se cumpra o de mandar obedecendo.

É assim que continuarão sabendo de nós e, sobretudo, continuarão sabendo que nós zapatistas não esquecemos, que não nos rendemos e que não nos vendemos.

Por último, queremos dizer algumas palavras aos jornalistas. Todos sabemos quanto a imprensa tem sido importante nesta luta, que é a luta pela democracia, liberdade e justiça.

Não importa que alguns falem mal do nosso EZLN, da nossa causa ou da nossa história. Todos têm contribuído para abrir um espaço de informação e discussão que antes não existia.

Se este espaço existe é graças aos trabalhadores na comunicação, à sua luta e sensibilidade, e não porque o governo e os ricos quiseram.

Por isso, desejamos a todas e a todos os trabalhadores na comunicação um feliz ano e desejamos que informem com a verdade e que seus direitos como trabalhadores sejam respeitados pelas empresas nas quais trabalham.

Há outra coisa a ser dita:

Há uns dias, uma empresa de telecomunicação conhecida como CNI-Canal 40, foi agredida por ordens do senhor Ricardo Salinas da TV Azteca.

Todos sabem que os locutores do CNI-Canal 40 se uniram às críticas injustas que recebemos porque, supostamente, apoiamos o terrorismo. Não importa, nós respeitamos o pensamento de cada um e se dizem mentiras vai por sua conta.

Mas, seja como for, não podemos ver como se impõe o autoritarismo do dinheiro e ficarmos calados.

Queremos expressar aqui nossa solidariedade com os trabalhadores na comunicação do CNI-Canal 40 e repudiar a agressão que têm sofrido.

Já dá pra ver que aqui no México a única lei que manda é a do dinheiro e vemos assim como um poderoso quer tragar uma empresa que era pequena, mas que se esforçava para informar as pessoas, assim como se esforçam todos os repórteres que, sem que importe para que empresa trabalham, andam de um lado pra outro buscando a notícia para dá-la a conhecer. Se não for publicada não é por sua culpa e sim pelos interesses dos patrões.

Se hoje permanecermos calados diante desta maldade, amanhã serão outras empresas de comunicação a serem atacadas e então só ficarão não as melhores, mas sim as que têm dinheiro.

E assim irão se apagando todas as vozes até que fique só a voz do dinheiro.

E isso, nenhuma pessoa honesta pode permiti-lo.

No mundo e no México que nós zapatistas queremos não ganhará o dinheiro e sim a razão, e a imprensa independente será respeitada.

São estas nossas palavras.

Viva o Exército Zapatista de Libertação Nacional.

Das montanhas do Sudeste mexicano.

Comitê Clandestino Revolucionário Indígena – Comando Geral do Exército Zapatista de Libertação Nacional.

México, janeiro de 2003.

 

CMI