A
vida é o resultado da associação natural das forças da natureza.
Quando há miríades de séculos, os habitantes
do planeta já existentes observavam o espaço ao redor do nosso atual
Sol, eles haviam de descobrir uma pequena névoa, girando-lhe ao redor.
Com o perpassar monótono do tempo, aquela névoa foi se unindo, congregando,
solidificando, até adquirir uma forma que, com os movimentos de rotação
e revolução que lhe imprimiam as leis da gravidade e a atração solar,
tornou-se redonda e um pouco achatada nas extremidades. A Terra é, portanto,
o resultado da associação de forças e elementos diversos. A água é também
o resultado da associação de diversos gases, entre eles o oxigênio e
o hidrogênio. Os corpos sólidos, líquidos e gasosos são, portanto, o
resultado da associação de gases e forças diversas.
A vida, enfim, não existiria se a associação
não fosse uma verdade. É por isso que nenhuma razão ou lógica assiste
aos individualistas ou, mais acertadamente, aos egolatristas.
O homem, para não sofrer as sanções da natureza,
precisa estudar suas leis, para, com conhecimento de causa, delas poderem
auferir o máximo resultado possível. Contra as leis da natureza, a vida
tornar-se-ia em sofrimentos, torturas e morte.
E a natureza não perdoa nunca. A dor é o látego
com que a natureza nos chama atenção para todas as infrações de suas
leis.
Por ela nos lembramos das necessidades fisiológicas,
por ela evitamos o fogo que abreviaria nossa vida, a água que nos asfixiaria
pela falta de oxigênio livre para nossos pulmões, etc. Quantos suicídios
não tem esse latejo natural evitado que se perpetrassem?
Nenhum homem chegaria a velhice se a natureza
não estivesse sempre alerta, com a fiscalização da dor, para impedir
que o gênero humano desaparecesse. Há tantos momentos nos quais todos
os homens se sentem dispostos a desertar da vida, que, apesar dessa
sanção, alguns conseguem fazê-lo.
É que a mãe Natura quer que a vida seja bem
vivida e o mais amplamente possível.
A classe trabalhadora quer viver, precisa viver
e tem direito a viver. Para isto deve estudar as leis da natureza e
segui-las com o máximo conhecimento possível.
A lei suprema da natureza é a Harmonia.
Os trabalhadores modernos querem a harmonia,
para que a vida humana caminhe para a felicidade...
Forças diversas formam os elementos, elementos
diversos formam as nebulosas, nebulosas diversas evoluem até formar
os mundos. Estudando estas forças nos elementos, veremos que elas agem
autonomamente e que, apesar de unidas, não perdem a sua autonomia ou
sua liberdade.
O oxigênio que se uniu ao hidrogênio e hoje
formou a água, nada perdeu de sua qualidade, de sua essência a amanhã,
naturalmente deixará o seu companheiro e irá alimentar a combustão do
organismo de algum peixe, transformado pelas guelras dele, sem que por
isso tenha também perdido sua qualidades intrínsecas.
É por isso que, querendo viver de acordo com
as leis da natureza, os trabalhadores optaram pelo federalismo. Federalismo
é uma doutrina que, ao contrário do Centralismo dos políticos e dos
sotaina, congregam homens diversos em organismos ou sociedades na federação,
sem perda da autonomia societária. Congregam ainda as federações nas
confederações e, estas, nas internacionais, mantendo impoluta a autonomia
em toda sua plenitude. Nada de escravidão: internacional, confederal,
social ou individual.
Tal qual as relações existentes entre as constelações
solares, os planetas, satélites, cometas, os minerais, os vegetais,
os animais, etc. A vida enfim.
Suprema harmonia, na qual todos vivendo sua
vida própria, concorrem para a vida total...
O Centralismo, ao contrário, é a negação da
autonomia do indivíduo, colocada nas mãos do presidente ou do presidium
ou seu organismo ou partido político. Negação ainda deste partido político
ou organismo colocado nas mãos dos chefes da Internacional...
Internacional!!!? Não, só erradamente ou mistificadamente
pode-se na linguagem centralista falar em federações, confederações
e internacionais ou internações.
Em centralismo, formado o partido ou seita,
os chefes deste partido ou seita dão ordens e todos os seus adeptos
cumprem-nas sem hesitação, sem discussão.
Haja vista a Igreja Católica Apostólica Romana,
a mais formidável organização centralista que o mundo possui.
Na igreja, não há federação de católicos da
China, França, Portugal ou Brasil. Ela é a Igreja Católica Apostólica
Romana em todo o mundo porque o poder da igreja está centralizado nas
mãos do Vaticano.
Os partidos de atuação religiosa, sabendo o
quanto repugna ao povo trabalhador e aos homens pensantes o centralismo,
procuram mistificar as suas pretensões com os nomes de federações, confederações
e internacionais.
A federação e confederação presume-se a reunião
de indivíduos livres numa mesma cidade, região ou nação.
Internacional é o livre acordo estabelecido
por cima das fronteiras ou divisão política dos povos, é enfim, o auxílio
mútuo praticado entre nações.
Não, camaradas, a única doutrina compatível
com o desenvolvimento intelectual e social do século, é a negação da
escravidão, o estabelecimento da sociedade livre das peias que o obscurantismo
e a ignorância de um lado, e a desenfreada ambição do outro criaram.
Unamo-nos,
pois, ao redor do rubro pendão do federalismo anárquico, para o estabelecimento
de uma sociedade de iguais, onde os chefes, presidiuns
e presidentes sejam amargas recordações do passado.
Domingos Passos
(A Plebe, n° 257, 06/08/1927)