Há
elementos que, interessados em manter afastados do proletariado organizado
do Rio de Janeiro as valorosas associações dos padeiros, marmoristas
e alfaiates, vivem a rotularem-se de secretarios perpetuos da Federação
dos Trabalhadores...Não se levante a costumada gritaria sobre o que
escrevemos! Vou demonstrar apenas verdades, verdades que não possam
levantar nem admittir explorações.
A Federação dos T. do Rio de
Janeiro, foi de facto uma força organizada, mas desde que elementos
seus começaram a "dansar de urso em corda bamba", ella foi
perdendo o prestigio inicial e hoje não é mais que um rapazoide cadaver
a pedir a creolina salvadora que a livre dos bacillos aristotelisticos
do collaboracionismo.
A primeira e séria infecção
deu-se quando dos efluvios das diminutas palmeiras, sahiu a divina inspiração
das fracassadissimas "Coligação", "Clarte", etc.
Aquelles que gritavam: "ficarei
sosinho na liça a defender os nossos principios...", foram os primeiros
a bater a linda plumagem em busca de melhores achegos e sinecuras prefeituraes,
pois como disse o grande sabio ingles Ellick Morn, "o estomago
é tudo" e o resto são farofas, como diria qualquer Sabarabussú
do alto da Urca ou de ao pé do Corcovado.
Deviam comprehender esses typos
que é chegado o momento de deixar que os trabalhadores se levantem,
unidos, cohesos e firmes, não para enviarem deputados ao parlamento,
mas para conquistarem, por suas proprias mãos a sua emancipação.
Que o trabalhador brasileiro
é avesso á politica, prova melhor não podiamos citar de que o abandono
a que chegam essas organizações.
A "Coligação" foi
um caso typico. Seus fundadores, pessoas da envergadura moral de Evaristo
de Moraes, Mauricio de Lacerda, Nicanor Nascimento, os irmãos Palmeiras,
Mancio Teixeira e tantos homens de relevo, viram claramente que o fracasso
não podia ser mais retumbante.
Competencia havia, em demasia:
porém, os trabalhadores só assitiam a uma reunião, e quando se retiravam
porque lhes fôra vedada a palavra, alguem que estava presente dissera:
"são os arruaceiros da Construção Civil. Aqui não queremos desta
gente; queremos organizadores, queremos capacidades."
As capacidades la ficavam.
E a Colligação? Descolligou-se ...por effeito de uma lei physica que
eu talvez desconheça.
Depois foi a "Clarté",
com sua directoria perpetua...depois o Partido Laborista Brasileiro,
e por fim o Partido Communista do Brasil. Os trabalhadores que se encontravam
enthusiasmado com a revolução Russa, adheriram ao novo organismo politico.
Mas a União dos Operarios da Construcção Civil desta vez ainda poude
cahir em guarda, aparar o golpe e sahir victoriosa. Hoje o partido vive
... partido. E a ex-Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro vem
recebendo vários e profundos golpes, dos quaes, exangue e exhausta,
foi cahir nos amoraveis braços da Confederação Cooperativista.
Uma das suas adherentes, porém,
a mais forte sem duvida - o Centro dos Canteiros - acaba de dar-lhe
o tiro de misericordia.
Coitadinha! Quer morrer onde
nasceu...
Que o Sabarabussú te deite
a bençam e a Mãe-Russia perdôe os teus desacertos, te deseja.
Domingos
Passos
Artigo
publicado na Secção Trabalhista
do jornal A Pátria
(Rio de Janeiro), no dia 9
de maio de 1924.