Por Luigi
FABRI
(Trad.
J.C.M)
ADVERTÊNCIA
Como conclusão
ao relatório que se segue sobre a "a ação
individual e coletiva no movimento anarquista", apresentado ao
1º Congresso Anarquista Italiano , reunido em Roma de 16 à
20 de junho de 1907, foi proposta a seguinte moção:
O Congresso:
considerando que na luta
contra as forças organizadas do capitalismo e dos governos
é necessária a união das forças anarquistas,
aspira que tal união se determine sempre mais forte e mais
extensa, sobre a base da solidariedade e do concurso consciente de
todas as vontades individuais; conseqüentemente retém
que os anarquistas, de acordo não somente no plano das idéias,
mas também sobre os seus métodos de luta, unam suas
forças constituindo-se por grupos em toda a parte e associando
tais grupos entre si, conservando naturalmente a autonomia individual
nos grupos e a autonomia dos grupos em suas uniões; declara
que, ainda que mantendo como necessária esta associação
de energias para a ação coletiva, é igualmente
necessário que permaneça a ação individual,
nos seus desenvolvimentos mais conscientes, de cada um segundo suas
forças.
O congresso, pela unanimidade
menos um, aprovou esta moção de caráter teórico
e tomou, para a Itália, a seguinte deliberação
de ordem prática:
O congresso recomenda
aos camaradas das diferentes localidades formar rapidamente grupos
para poder proceder, no menor lapso de tempo possível, à
formação de uma Aliança socialista anarquista
italiana, sobre as bases da mais completa autonomia, encarregando
os grupos já existentes do trabalho preparatório.
Apresentando o mesmo relatório
teórico e tático ao Congresso Internacional Anarquista
de Amsterdã, eu espero que resoluções idênticas
e ainda mais precisas sejam lá tomadas e que da afirmação
doutrinária se passe rapidamente ao terreno dos fatos com a
constituição de uma Associação Internacional
Anarquista.
Viva
a Internacional Libertária!
Roma, 20 de agosto de
1907
Luigi Fabbri
CAMARADAS
Há muitos anos
que o movimento anarquista, tendo começado tão esplendidamente
no seio da Internacional, se debate em uma crise sem solução,
sobretudo por falta de boa vontade entre nós.
Nós anarquistas,
é preciso confessá-lo, se jamais fomos abatidos pelas
perseguições que chovem sobre nós, sempre tivemos
um medo maldito de um fantasma que nós mesmos criamos. Nós
nos resignamos a ser vítimas de todos os loucos, de todos os
extravagantes, de todos os exagerados que, com o pretexto da lógica,
pretenderam não apenas justificar tudo aquilo que eles consideravam
inconveniente e ignóbil nos burgueses, mas também impedir
e demolir todo o trabalho de reconstrução que outros
camaradas tentaram, lançando permanentemente o espectro da
incoerência com as idéias.
A idéia anarquista
tem, como base primeira, a liberdade individual, mas aqueles que pretendem
que a liberdade individual na anarquia seja infinita e absoluta, seriam
utopistas no sentido mais ridículo do termo, pois o infinito
e o absoluto são conceitos abstratos, configurações
mentais sem possibilidade de realização prática.
Pois bem, é sempre em nome da liberdade individual que numerosos
anarquistas, segundo lhes seja conveniente, ou proclamam o direito
de fazer seja lá o que for, inclusive atingir a liberdade e
o direito do outro, ou declaram incoerente toda a tentativa de realização
revolucionária e de organização pela propaganda.
Esperamos nos ocupar,
no presente relatório, das objeções que são
lançadas contra a idéia de organização.
Ouvimos dizer que a organização
é um método e não um fim; isto é um erro.
O princípio da organização não se propagou
somente porque organizando-nos hoje poderemos melhor preparar a revolução,
mas também porque o princípio da organização
em si é um dos postulados principais da doutrina anarquista.
Na sociedade burguesa,
que o Estado e a Igreja se encarregam de manter unida pela hierarquia
para poder explorá-la em sua vantagem, a vontade individual
é absorvida e freqüentemente anulada pelo mecanismo social,
que pretende prover a tudo e a regular a vida dos indivíduos
desde o seu nascimento até a morte. Nesta sociedade, cuja organização
é monopolizada pelo Estado e pelo capitalismo, a única
organização concebível é aquela para luta
contra a opressão e a exploração.
Mas a sociedade preconizada
pelos anarquistas, onde não haverá nem homens nem institutos
"providenciais", que se baseará sobre o concurso
de todos os indivíduos na produção e na associação,
necessitará que a organização se estenda até
o último indivíduo e que cada um concorra voluntariamente
à harmonia geral. E como a participação de cada
um deva ser espontânea, voluntária e livre, pois sem
existir coerção ninguém faltará ao dever
de solidariedade, é preciso que, em primeiro lugar, esteja
disseminada a consciência da necessidade da organização,
de maneira que esta organização signifique a satisfação
de uma necessidade verdadeira , tanto material quanto moral. Eis porque,
em nossa opinião, a propaganda da organização
deve ser feita ininterruptamente, bem como a propaganda de todos os
outros postulados do ideal anarquista.
Como criticamos as instituições
atuais do Estado, da propriedade, da família, para preconizar
o advento da anarquia, do comunismo e do amor livre, nós sentimos
igualmente a necessidade de atacar e de criticar o sistema de organização
autoritária, para propagar a idéia da organização
libertária.
Quando ouvimos alguns
camaradas dizer-nos para "acabar com esta questão ultrapassada
da organização", experimentamos a mesma impressão
que experimentaríamos se nos dissessem para acabar com a propaganda
anarquista. Infelizmente ainda estamos muito distantes de ter convencido
todos os anarquistas da necessidade da organização libertária:
eis porque não deixamos de discutir com eles e de fazer a propaganda
no sentido que nos parece corresponder à verdade.
Visto que, como se sabe,
a melhor propaganda é a que se faz pelo exemplo - a propaganda
pelo fato - nós buscamos nos organizar, constituir grupos,
federar-nos. Nossos adversários nos atacam precisamente neste
ponto, criticando o nosso trabalho e as organizações
existentes ou que já existiram. Cada um dos defeitos, dos erros
e das incoerências nelas existentes tornam-se uma arma eficaz
para combater a idéia. Eles não se apercebem que os
erros e defeitos são inevitáveis nos detalhes, pois
nada de perfeito existe no mundo, e que isto, de resto, não
destrói a utilidade geral do conjunto, da mesma forma que as
desventuras da vida não constituem razão suficiente
para negar a vida em si.
Sem a organização
a anarquia é tão inconcebível quanto o fogo sem
a matéria para fazê-lo. E nós propagamos esta
idéia não somente pelas razões que iremos enunciar,
mas também porque estamos tão persuadidos de que as
consciências modernas devam impregnar-se deste seu espírito,
sobretudo as consciências dos anarquistas. A organização
para metas gerais, com pessoas de outros partidos e outras idéias
é útil; mas para formar a consciência anarquista,
para precisá-la naqueles que já são anarquistas,
temos que adotar a organização dos próprios anarquistas,
que deve esforçar-se por ser a mais libertária possível.
É neste esforço de tornar libertária a organização
dos anarquistas, que consiste a elaboração da nova consciência
antiautoritária entre nós, cujo anarquismo é
amiúde limitado a uma convicção unicamente doutrinária.
Não sei se nós,
que somos seus partidários, conseguiremos verdadeiramente construir
esta organização que aspiramos e vencer este espírito
de reticência que existe para se fazer qualquer coisa que demande
um certo trabalho, longo e paciente. Mas nós queremos iniciar
este trabalho paciente e longo para não negligenciar este forte
meio de propaganda que é a tentativa e o exemplo. Pode ocorrer
que, apesar de todas as nossas razões, muitas coisas impeçam
o aparecimento de organizações anarquistas verdadeiras
e duráveis, na medida em que o bloqueio dos antiorganizadores
não cesse.
Pode ser que tenhamos
que continuar ainda este deprimente trabalho de Sísifo, começando
a coisa por um lado enquanto outros a destroem por outro, como é
hábito acontecer entre nós há alguns anos. Não
sei por quanto tempo poderá durar este fato de que nossas organizações
apareçam aqui ou acolá para impulsionar a nossa propaganda,
respondendo a uma necessidade premente, mas tendo um caráter
esporádico. Tais organizações aliás caem
mais freqüentemente nestes erros próprios de sua juventude,
que se repetem , pois lhes falta a continuidade de existência
e de ação... .
Que importa? Antes de
mais nada o próprio fato de que as organizações
existentes ou finadas terem existido ou terem uma tão breve
existência, as desculpa dos erros co-metidos, que apenas são
evitados através da experiência adquirida pela prática
e não somente com as noções apreendidas em brochuras
e jornais.
Nós pensamos que
a mais bela e perfeita organização estará destinada
a morrer se seus membros, por mais sábios que sejam em teoria,
permanecerem inertes. A vantagem das organizações consiste
no fato de que, em igualdade de outras condições, é
preferível que pessoas decididas à ação
estejam organizadas que não organizadas. É natural que
um indivíduo isolado atuante valha mais que mil pessoas inaptas
e não organizadas.
Quer a propaganda para
fazer surgir em curto prazo a organização anarquista
que cremos necessária frutifique ou não, isto, até
certo ponto, não é importante. Não nos agradará
não termos sucesso, pois assim não poderemos colher
todos os frutos que esperamos, mas ao menos teremos feito a propaganda
de um conceito que é inseparável da idéia de
anarquia, teremos lançado sementes que, mais dia menos dia,
germinarão. A propaganda pela organização dos
anarquistas se imporá pela necessidade das coisas; e será
mérito desta propaganda se a organização surgida
for a nossa e não uma mercadoria avariada que nos seria legada
por nossos adversários.
O ridículo com
o qual tentam nos cobrir cairá conseqüentemente no vazio.
Nós já sabemos que, enquanto existir a sociedade burguesa,
nossas tentativas não vingarão ou continuarão
imperfeitas, mas tal convicção não nos faz renunciar
à "propaganda pelo fato".
No fundo o que é
a luta revolucionária senão uma série de inumeráveis
tentativas, das quais apenas uma, a derradeira, tem sucesso? Quem
teria vencido se não houvessem os fracassos antecedentes? Da
mesma forma, no que tange à organização, tentaremos
com todas as nossas forças obter sucesso; cada derrota nos
aproximará da vitória, mas em cada vez faremos com que
nossa tentativa seja melhor e que tenha um resultado menos imperfeito.
Isto será mil vezes mais útil para formar consciências
que a predicação doutrinária somente.
Por outro lado, aqueles
que se declaram inimigos da organização, o são
geral-mente porque sentem-se incapazes da solidariedade libertária
e no fundo não sabem sair deste dilema: comandar ou serem comandados.
Não possuem a consciência "libertária"
e portanto não vêem teoricamente outra garantia para
a liberdade individual senão o isolamento, a ausência
de qualquer pacto e de qualquer vínculo livremente aceitos.
Na prática são eles que querem dirigir o movimento e
à primeira tentativa de alguém para subtrair-se de suas
diretivas, ao primeiro sinal de independência daquele que obstina-se
a pensar e a agir à sua maneira, logo se verá tais indivíduos
lançarem excomunhões, gritar por incoerência e
traição e afirmar que aquele que não age e não
pensa como eles não é anarquista. Assim fizeram os padres
de todos os tempos e de todas as religiões. Alguém de
boa fé se ergueria mais contra a forma do que contra a substância.
Eles não querem
a organização mas falam de acordo, de entendimento,
de livre pacto e de associação! Não nos ocuparemos
destas questões terminológicas e nos limitaremos a relembrar,de
uma vez por todas, que organização não significa
nem autoridade, nem governo, nem vexação, mas apenas
: associação harmoniosa dos elementos do corpo social.
Como queremos que todos
os homens, um dia, estejam associados harmonicamente, preconizamos
hoje, na luta pela preparação de um tal futuro, a associação
harmoniosa dos anarquistas. A organização é um
meio para atingir este fim, e um meio mais condizente com as finalidades
sociológicas do anarquismo.
*
* *
Não perderei muito
tempo demonstrando como, em linhas gerais, a organização
libertária é uma necessidade. Já mostrei, em
outro lugar, que a organização, longe de limitar a liberdade
individual, a estende e a torna verdadeiramente possível, pois
ela oferece ao indivíduo uma soma maior de forças para
vencer obstáculos e para melhorar, forças estas que
faltariam a cada indivíduo tomado isoladamente.
"A maior satisfação
possível de seu eu - dizia eu então - o maior bem estar
material e moral , a maior liberdade são possíveis somente
quando um homem estiver ligado ao outro pelo pacto de ajuda mútua.
Um homem de acordo com a sociedade é sempre mais livre que
um homem em luta contra a sociedade. Os anarquistas combatem a organização
social atual justamente porque ela impede a existência de uma
sociedade relativamente útil a todos os indivíduos e
trabalham para que a sociedade inteira não seja mais regulada
pela luta a mais encarniçada e feroz, sobre a exploração
e sobre a violência tirânica do homem sobre o homem.
Podemos nos rebelar contra
esta má organização da sociedade, mas não
contra a sociedade em si, como pretendem alguns individualistas. A
sociedade não é um mito, nem uma idéia, nem um
órgão pré-ordenado e feito por alguém,
para que seja possível não reconhecê-la e tentar
destruí-la. Ela nem mesmo é - como nos acusam de pensar
os stirnerianos - uma coisa superior aos indivíduos e à
qual é necessário fazer o sacrifício do seu eu
como diante de um fetiche. A sociedade é simplesmente um fato
do qual nós somos os atores naturais e que existe na medida
em que lá estamos. A sociedade é o conjunto dos indivíduos
vivos e cada indivíduo é, por sua vez, tal qual as influências
externas, sem excluir as sociais, o formam.
Tudo isso é um
fato natural, ligado à vida universal do cosmos. Rebelar-se
contra este fato é rebelar-se contra a vida : morrer. Cada
indivíduo existe na medida em que ele é o fruto material,
moral e intelectual da união de outros indivíduos; ele
somente pode continuar vivo, somente pode ser livre, somente pode
desenvolver-se fisicamente com a condição de viver em
sociedade."
Muitos nos objetam que
o homem é egoísta e que sempre é o egoísmo
que impele o homem a agir, mesmo quando, aparentemente, os pensamentos
e ações são altruístas. Negando o altruísmo,
estes opositores chegam logicamente a negar o espírito de solidariedade
e de associação.
Não há nada
mais perigoso, de certo modo e especialmente para cérebros
pouco refletidos, do que se apossar da lógica e levá-la
às últimas conseqüências à partir
de um princípio dado. Isto vale especialmente quando, à
partir do mesmo princípio, pode-se chegar a conclusões
absolutamente opostas. Ocorre muitas vezes que, construindo teorias
mais ou menos justas no seu ponto de partida, ao evoluir com a lógica
cheguemos a um ponto ao qual não esperávamos ou não
queríamos chegar. Isto acontece especialmente quando tratamos
com doutrinas abstratas, abandonando completamente o campo experimental
dos fatos.
Isto acontece de fato
com muitos anarquistas individualistas de todos os matizes, desde
o individualismo stirneriano anti-socialista até o individualista
comunista anti-organizador.
Conduzidos pela lógica
abstrata, estes camaradas chegam a perder de vista o interesse da
propaganda anarquista e revolucionária. Eles isolam-se da sociedade
ao ponto de não mais poder exercer sobre ela influência
alguma e isso equivale a condenar nossa idéia a permanecer
perpetuamente no estágio de utopia. Se, ao pretender para cada
ato de propaganda ou de ação revolucionária a
coerência absoluta com o princípio abstrato da anarquia
ou de sua própria interpretação deste princípio,
se (e esta talvez seja a razão mais verossímil) diante
da inegável dificuldade de se agir libertariamente, afastarmos
toda a forma de ação na qual tal dificuldade seja a
mais forte, acabaríamos por fazer muito pouco ou nada - exatamente
como Orígenes que, para se manter puro (ou antes porque não
possuía forças para assim se manter) decepou seus órgãos
sexuais.Toda a ação anarquista assim concebida acaba
por se limitar à parte crítica da obra de outrem , à
propaganda teórica - muitas vezes caótica e cheia de
contradições - e a algum ato isolado de rebelião
que, na melhor das hipóteses contém justamente o êrro
de exigir um esforço muito grande para poder ocorrer e assim
exercer alguma influência visível sobre os acontecimentos.
De resto, tanto a propaganda
teórica quanto a propaganda pelo fato ( não ne-go a
utilidade desta última) podem ser úteis, mas tal propaganda,
de forma unicamente individual não basta. Para que a propaganda
teórica seja mais eficaz é preciso que ela esteja coordenada;
para que o fato seja mais útil, é preciso que ele seja
meditado e razoável.
É verdade que um
gênio ou um herói fazem mais propaganda ou desenvolvem
mais energia sozinhos que muitos medíocres. Mas o mundo é
feito de medíocres e não de gênios ou heróis;
seria ótimo se um gênio ou um herói brotassem
entre nós, mas enquanto isso não ocorre nosso dever
é, se quisermos ser positivos e ter a segurança de atingir
nossa meta, contar igualmente e sobretudo com a ação
contínua e incansável da maioria. Mas a maioria é
uma força somente quando está unida; cada indivíduo
forma, completa ou afina a sua consciência na união.
Não nos esqueçamos que os gênios e os heróis
podem também se enganar, e quando isto ocorre fazem mais mal
que os outros. Existem, além disso, formas de atividade necessárias
para as quais o trabalho de um só, mesmo que seja excepcional,
não basta e que necessitam da cooperação de muitos,
atividades para as quais muitas vezes um gênio ou um herói
não sabe se dobrar. A cooperação, a organização
com base em uma idéia e um método livremente aceitos
e que não excluam os melhores mas sim que os pressuponham,
são métodos que muitos anarquistas de tendência
individualista negam. Eles os negam somente porque, ou de acordo com
os adoradores do Estado, não crêem possível organização
alguma sem autoridade, ou talvez porque não tenham a coragem
de afrontar a dificuldade de começar a ser anarquista organizando-se
em bases anarquistas, por temer as primeiras e inevitáveis
quedas.
Quando uma criança
apreende a andar, ela começa por cair, mas isso não
é razão suficiente para se sustentar que a marcha é
nociva e que tem por conseqüência quebrar a cabeça.
Os anarquistas que chegam à afirmação individualista
e à negação da organização pensam,
ao contrário, desta forma: que à partir do momento em
que nos organizamos poderemos cair e cairemos fatalmente no erro ou
na incoerência.
Negando-se a organização,
nega-se no fundo a possibilidade de vida social e também da
vida em anarquia. Dizer que a negamos somente hoje nada significa,
pois negá-la hoje implica em suprimir o meio de prepará-la
para o amanhã. De resto, neste terreno a lógica continua
a pregar-nos as suas peças. Quando se nega a organização
operária, alguém já começou a negar a
possibilidade de uma organização comunal na sociedade
futura. Simplesmente porque não se consegue perceber, dentro
deste mesmo erro de óptica, que a comuna do futuro, formada
pelo complexo de organizações livremente federadas,
seja distinta do mir patriarcal russo, que ela poderá também
possuir suas assembléias de discussão dos interesses
da comunidade, mas que não herdará necessariamente todo
o caráter autoritário, de violência impositiva
deste último, que tal comuna não será em nada
semelhante a tais comunas burocráticas de hoje, com seus impostos,
seus guardas municipais, seus guardas florestais e seu prefeito nomeado
pela monarquia.
A questão de que
o homem é egoísta e que isto basta para negar a associação
apóia-se em uma interpretação absurda de um conceito
verdadeiro. Sim, todos os homens são egoístas, mas de
modo diferente. O homem que tira o pão da boca para alimentar
o seu semelhante é um egoísta na medida em que ele interiormente
sente, sacrificando-se, uma satisfação maior do que
a de comer tudo sozinho, sem nada dar ao outro. Isso acontece igualmente
com relação aos outros sacrifícios, mesmo os
mais sublimes que a história nos lembra. Mas a satisfação
do explorador burguês, que faz com que seus operários
morram de fome, ao invés de lhes sacrificar uma única
noite de teatro, também é egoísmo.
Um e outro são
egoísmo, mas - cáspite! - ninguém negará
que são egoísmos distintos um do outro. Tal diferença
encontrou sua expressão na linguagem humana, que batizou a
forma mais nobre de egoísmo com o nome altruísmo.
Este altruísmo
é uma manifestação da solidariedade humana, que
responde à necessidade de ajuda mútua - existente entre
os homens, assim como em várias outras sociedades animais.
Existem individualistas
que não negam a solidariedade, mas negam a organização,
que é um meio de manifestar e de exercer a solidariedade. A
solidariedade é um sentimento e a organização
o fato que corresponde a este sentimento; o fato pelo qual a solidariedade
torna-se o elemento ativo da revolução nas consciências
e nos eventos.
A solidariedade é
um licor cheio de força e aroma que tem a necessidade de um
vaso para contê-lo para que não se perca, espalhando-se
inutilmente e evaporando.
Este vaso, esta forma,
esta explicação da solidariedade, é a organização
libertária, aonde as consciências não apenas não
se deterioram, mas sim se completam quando não são bem
formadas, ou quando o são nela se refinam. A organização
não significa - repito - uma diminuição do eu,
mas sim a possibilidade para este de atingir, com a ajuda dos outros,
o máximo de suas satisfações. Ela não
significa a compressão ou a violação do egoísmo
natural dos indivíduos, mas sim o seu contentamento, o seu
enobrecimento, de modo a provocar no indivíduo um gozo que
tenha a necessidade do bem do outro e não do mal.
Como se denomina tal forma
de egoísmo na linguagem natural de altruísmo , para
distingui-la da outra espécie brutal , hoje presente em nossa
sociedade de patrão e de escravos, de governo e súditos,
e que consiste na satisfação de si mesmo em detrimento
de todos os outros sem critério algum de proporção
e de relatividade, e sem fazer uso de tantos sofismas ou de finezas
filosóficas, concluo que o altruísmo é alguma
coisa de positivo e de concreto que é formado e que existe
no homem.
Esta divagação
doutrinária foi necessária para que eu pudesse demonstrar
como esta questão da organização, não
apenas pelo lado do método mas também por sua finalidade,
enlaça-se e conforma-se com a idéia mãe do anarquismo;
para que se compreenda que a divisão que existe neste ponto
entre os anarquistas é muito mais profunda do que o que normalmente
se acredita, e que supõe igualmente uma inconciliável
discordância teórica.
Digo isto para responder
aos meus bons amigos , favoráveis a um acordo a qualquer preço,
que afirmam: "Não criemos problemas de método!
A idéia é uma só e a meta é a mesma; permaneçamos
pois unidos sem nos rasgarmos por um pequeno desacordo sobre a tática".
Eu, ao contrário, dei-me conta há muito tempo atrás,
que nos dilaceramos justamente porque estamos muito próximos,
por que estamos artificialmente próximos. Sob o verniz aparente
da comunidade de três ou quatro idéias - abolição
do Estado, abolição da propriedade privada, revolução,
antiparlamentarismo - existe uma diferença enorme na concepção
de cada uma destas afirmações teóricas. A diferença
é de tal monta que nos impede de tomarmos o mesmo caminho sem
querelarmonos e sem neutralizar reciprocamente o nosso trabalho ou,
se assim quisermos, permanecer em paz sem renunciarmos àquilo
que acreditamos ser verdadeiro. Repito: não existe apenas uma
diferença de método, mas sim uma grande diferença
de idéias.
Muitos objetam serem apenas
adversários da organização na sociedade atual,
pois consideram tal organização impossível, no
sentido verdadeiramente libertário, antes da revolução.
Mas esquecem que a revolução não virá
por si mesma como um maná do céu, em virtude apenas
das trombetas de Jericó da propaganda teórica tão
somente e nem ao menos virá como decorrência do estampido
de uma bomba isolada. Eles esquecem que, depois da revolução,
a anarquia não brotará por si mesma como um cogumelo
após a chuva, se não encontrar organismos adaptados
para responder à necessidade da vida social e que substituam
os velhos organismos abatidos. É até mesmo possível
que, dada a ausência de organismos libertários, a necessidade
de viver sugira aos homens a necessidade de restabelecer organizações
autoritárias.
Mas os inimigos da organização
negligenciam sobretudo - como negligenciam muitas vezes os seus amigos
- de considerar a questão do ponto de vista da preparação
revolucionária.
Certamente, aqueles que
meteram na cabeça a idéia de que as revoluções
não são feitas pelos homens, mas sim que ocorrem naturalmente,como
os cataclismos e os terremotos , podem ser contrários a toda
organização e contentar-se com a propaganda verbal e
escrita ou com algum belo gesto isolado a cada dois ou três
anos. Ora, reconhece-se atualmente que as idéias avançam
com os homens e que as revoluções são geradas
pelo seu pensamento e realizadas por seus braços, mas que também
são elas provocadas por fatores sociais e econômicos
tornados inevitáveis pelo encadeamento de efeitos cujas causas
remontam às épocas bem anteriores à nossa.
Uma revolução
artificial, feita em proveito de um partido ou de uma única
classe seria inevitavelmente votada ao fiasco, se não se voltasse
para interesses mais gerais ou se não supusesse condições
favoráveis à uma reviravolta cuja necessidade fosse
sentida mais universalmente.
Sabe-se que a questão
social assume atualmente o aspecto quase exclusivo do problema operário
e a ele é preciso consagrar todas as forças para realmente
sublevar o mundo, buscando sempre não desviar pelas sendas
da política, do intelectualismo ou do esporte revolucionário
e libertário. Isto não nega o fato de que, para que
se resolva a questão operária, para que também
se resolva, conjunta e integralmente, a questão do pão
e da liberdade - sem que caiamos miseravelmente no egoísmo
de classe que é o produtor do reformismo - não se deva
considerar esta questão sobre o prisma o mais amplo possível.
É preciso demonstrar
que a emancipação do proletariado do monopólio
capitalista, depende também da resolução da liberdade
individual do homem e de todos os problemas que oprimem a consciência
contemporânea.
É preciso também
que os interessados nesta sublevação, os proletários,
tornem-se conscientes de seus direitos, das necessidades e da força
que têm em suas mãos, desde que assim o queiram. Para
que se crie uma atmosfera revolucionária, é preciso
que os trabalhadores se ressintam da privação enorme
na qual vivem, que não permaneçam numa atitude de descaso
e numa resignação muçulmana. É preciso
igualmente que eles tenham uma visão relativamente clara do
remédio necessário ao mal que padecem e sobretudo é
preciso uma concepção nítida e precisa sobre
o modo de destruir e abater a atual ordem das coisas. Devemos nos
ocupar , antes de mais nada, em formar esta consciência no proletariado
e o meio mais eficaz para tanto continua sendo a propaganda, isto
é, o exercício contínuo da luta contra o capital
e o Estado.
Mas é preciso também
preparar os meios para derrubar o capital e o Estado e eis o ponto
aonde se apresenta a necessidade da organização revolucionária.O
primeiro meio, o mais importante, é a união - não
caótica, irregular, local e fragmentada - mas sim constante
e contínua no tempo e no espaço.
Aqueles que não
toleram este vínculo moral que resulta do compromisso assumido
de auxiliarmo-nos reciprocamente para um dado fim, dirão que
isto diminui a sua autonomia individual, e isto pode ocorrer. Mas
a liberdade e a autonomia absolutas são conceitos abstratos;
deveremos retornar aos fatos, àquilo que queremos realmente
e o que podemos ob-ter desta autonomia e liberdade.
A autoridade contra a
qual combatemos - a do padre, a do patrão, a do policia l-
bem merece, para que dela nos desembaraçemos, que façamos
um mínimo de sacrifício voluntário de nosso orgulho
individual, para que possamos trabalhar com os outros e nos livrarmos
da dominação burguesa e estatal, mesmo com aqueles que
não tenham a nossa força e consciência, tão
duramente formada.
Não sei se a humanidade
conseguirá ser um dia um conjunto de indivíduos tão
livres um do outro que não dependam reciprocamente por qualquer
tipo de interesses materiais ou morais. É certo entretanto
que a meta da revolução social e libertária que
se anuncia, e cujo advento desejamos, não será outra,
pelo momento, senão a emancipação do proletariado
do privilégio do monopólio capitalista e do jugo de
todos os indivíduos que detêm a autoridade coercitiva
e violenta do homem sobre o homem.
Para realizar tal tarefa,
temos que lutar contra forças formidáveis: a coalizão
dos patrões apoiada pelos padres, a burocracia, o exército,
a magistratura e a polícia. Para combater tais forças,
para destruir todas estas pavorosas engrenagens maculadas de sangue
da máquina capitalista autoritária, é bom unir
os oprimidos em um pacto mútuo e solidário, voluntariamente
aceito ( para aqueles que não toleram vínculos), por
uma disciplina moral.
Não basta que os
homens estejam conscientes de seus direitos e necessidades e que saibam
qual é o meio para reinvindicá-los; é preciso
que todos estejam em condições de adotar estes meios
de reivindicação.
A vontade dos revolucionários
toma neste ponto toda a sua importância. Uma revolução
de inconscientes seria quase inútil; mas a consciência
das necessidades e dos direitos por sua vez também permanece
quase tão inútil, tanto na coletividade quanto nos indivíduos,
se não existir a força e a vontade de agir, de colocar
em prática aquilo que se apreendeu em te-oria. Eis porque é
preciso unir-se e organizar-se: primeiro para discutir, depois para
reunir os meios para a revolução, e finalmente para
formar um todo orgânico que, armado com seus meios e fortalecido
por sua união possa, quando soar o momento histórico,
varrer do mundo todas as aberrações e todas as tiranias
da religião, do capital e do Estado.
*
* *
"A organização
que os socialistas anarquistas defendem não é naturalmente
a organização autoritária que vai da Igreja católica
à Igreja marxista, mas sim a organização libertária,
voluntária, de numerosas unidades individuais, associadas com
vistas a uma meta comum e que empregam um ou vários métodos
considerados bons e livremente aceitos por cada um dos membros. Uma
tal organização é impossível , se os indivíduos
que a compõem não estão habituados à liberdade
e não estejam desembaraçados de preconceitos autoritários.
Ë necessário, por outro lado, estar organizados , para
se tentar viver livremente associados..." , isso para se habituar
ao uso da liberdade.
Assim , a necessidade
de organização permanece. Por organização,
entendemos a união dos anarquistas em grupos e a união
federal dos grupos entre si, sobre a base de idéias comuns
e de um trabalho prático comum à realizar. Tal organização,
deixará naturalmente a autonomia dos indivíduos nos
grupos e dos grupos na federação, com plena liberdade
dos grupos e federações para se formarem segundo as
oportunidades e circunstâncias, por ofício, por bairro,
por província ou por região, por nacionalidade ou por
língua, etc.
A organização
federal assim concebida, sem órgãos centrais e sem autoridade
é útil e necessária. Útil simplesmente
porque a união faz a força; necessária porque...Nos
esforçaremos por dar outras razões, além das
já enunciadas, sem entretanto ter a pretensão de ter
enunciado a todas.
Existem tantas pessoas
que se dizem anarquistas no mundo, batiza-se de anarquia tantas idéias
nos dias de hoje, tantas opiniões e táticas diferentes,
que impõe-se a quem luta alguma escolha para saber quem são
aqueles que possuem aspirações comuns às suas,
pois alguns, embora dizendo-se anarquistas, têm idéias
totalmente opostas . Se alguns seguem uma via totalmente contrária
à nossa e utilizam meios de luta que são contraditórios,
neutralizantes e destrutores dos efeitos que obtivemos, tais diversidades
e contradições dependem dos significados e de interpretações
diferentes, muitas vezes completamente opostas, que são dadas
ao termo anarquia .
Ora, se tivéssemos
tratando de pura academia cientifica e filosófica, não
haveria necessidade de tanto se diferenciar nas formas e de tanto
separar grupos. Nem ao menos existiria a necessidade de agruparmo-nos.
Mas o anarquismo, em minha opinião e , segundo creio, na opinião
de muitos outros, se ele é na teoria uma tendência cientifica
e filosófica, uma doutrina especulativa, ele se quer igualmente
na prática um movimento humano de luta e de revolução.
Um movimento que possui meios definidos de ação e que
fixou como ponto de partida algumas verdades dadas em torno das quais
concordam todos aqueles que atuam neste sentido. Pois bem, como será
possível anunciar um movimento enérgico e resoluto se
nós que acreditamos estar mais que os outros na posse da verdade
e que nos parece ser nosso dever propor bons métodos revolucionários
para se avançar para a integral liberdade da anarquia, como
faríamos nós se não nos reuníssemos, não
nos organizássemos de maneira alguma de modo que a obra de
alguns não fosse contraditada e neutralizada pela de outros?
Como pode-ríamos mesmo saber quem, muito embora dizendo-se
anarquista está conosco e quem está contra nós?
Se quisermos nos mexer,
se quisermos fazer alguma coisa a mais do que aquilo que o isolamento
permite a cada um de nos deveremos saber com quais dos ditos camaradas,
podemos estar de acordo e com quais estamos em desacordo. Isto é
especialmente necessário quando falamos de ação,
de movimento, de métodos com os quais é preciso trabalhar
com muitas mãos para conseguirmos obter alguns resultados que
caminhem em nossa direção.
Visto que existem iniciativas,
movimentos e ações que não são possíveis
sem o concurso de inúmeros indivíduos, de legiões
ou de nações inteiras, eis que aparece a necessidade
da organização não apenas entre indivíduos
ou grupos de uma mesma cidade mas também entre grupos de uma
cidade e de outra e - porque não? - entre grupos de diferentes
nações.
A
necessidade de se diferenciar, organizando-se entre anarquistas que
têm formas e métodos de luta coletiva e de propaganda
em comum, impõe-se também pela clareza das idéias
diante dos adversários. Enquanto permitirmos que nos tomem
todos em bloco sob a denominação comum de anarquistas,
será sempre permissível que nos inquiram qual é
a nossa anarquia. Existem aqueles que dizem ser ela uma escola do
socialismo e outros que, ao contrário, a batizam como sua negação;
há os que nela buscam o triunfo do indivíduo contra
a humanidade e que a interpretam como uma luta contínua dentibus
et rostius entre os homens e há quem a interprete como
a solidariedade humana por excelência.
As piores extravagâncias
desenvolveram-se como a quintessência da filosofia anarquista;
alguém mesmo afirmou, recentemente, a função
social útil do delito em anarquia ...
Não
temos pretensões à infalibilidade; poderemos até
mesmo estar errados, mas cremos entretanto estar com a razão
e, enquanto pensarmos estar com a razão, buscaremos fazer com
que nossa idéia não seja tomada pelo contrário
do que ela é. Temos muita dificuldade em reunir nossos parcos
recursos para fazer a propaganda na qual acreditamos e recusamo-nos
a apoiar aquela que consideramos nociva.
Nem mesmo remotamente
queremos nos solidarizar com idéias e métodos que não
são os nossos e, conseqüentemente, desejamos evitar a
confusão que nos une indiscriminadamente e que torna a nossa
propaganda caótica, contraditória e sem resultado.
Parece que as diferentes
interpretações da anarquia reconhecem-se nos métodos
e nas vias de fato, elas também são bastante distintas
e contraditórias e algumas de tal forma anti-sociais e antilibertárias,
que fazem mais obstáculo à nossa propaganda que a mais
feroz das reações.
Vós, que sois partidários
da organização sindical, por exemplo, fareis uma conferência
para aconselhar aos operários que se organizem! Pois bem, no
mesmo local em que falastes a favor da organização,
da greve geral, da agitação revolucionária pelas
oito horas em nome da anarquia, ouvireis amanhã alguém
que virá dizer que a organização operária
é um emplastro inútil, que a greve geral é uma
utopia ou um conto da carochinha, que a conquista das oito horas é
uma reforminha indigna de ser defendida por autênticos revolucionários;
tu-do aquilo enfim, que muitas vezes li em jornais anarquistas de
tendência anti-organizativa.
Tentai escrever para exprimir
a vossa opinião ao jornal e no próximo número,
vereis um outro que a contradirá completamente e, se não
tiveres a sorte de ser o manipulador supremo do jornal, não
tereis por vezes nem mesmo a liberdade necessária para discutir.
Mas depois, mesmo que
possais discutir livremente, conseguireis apenas um bom debate acadêmico,
pois não podereis agir e nem reunir em vosso entorno para a
ação aqueles que aprovam a vossa idéia, talvez
nem consigais ver aprovada a vossa idéia pelo número
indispensável de pessoas. É preciso que vos diferencieis,
que vos associeis com aqueles com os quais estejais de acordo, dizendo:
"Pronto! Somos anarquistas que querem fazer isso e aquilo, e
que sobre tal ponto pensamos assim ou assado. Ponhamo-nos à
obra, pois".
É preciso não
esquecer que a organização é um meio de se diferenciar,
de se precisar um programa de idéias e de métodos estabelecidos,
um tipo de bandeira de reunião para se partir ao combate sabendo-se
com quem se pode contar e tendo-se consciência da força
que se pode dispor.
As formas desta organização
importam menos; o nome é por vezes a única diferença
que distingue a organização inconfessa daqueles que
dizem não estar organizados. Assumimos o nome porque ele precisa
a nossa idéia e as nossas proposições, porque
ele possui o valor de um programa. Dizemos , por exemplo, partido
anarquista, entendendo simplesmente por isso o conjunto de todos aqueles
que combatem pela anarquia. Quando dizemos federação
socialista-anarquista, pensamos na união preestabelecida dos
indivíduos e grupos aderentes que, em determinada localidade,
puserem-se de acordo em torno de um programa de idéias e métodos.
É curioso que seja
justamente este termo federação, mais do que o termo
genérico partido, que provoque disputas; nós o escolhemos
justamente porque ele implica (como era também a intenção
de Bakunin) o conceito de organização descentralizada,
de baixo para cima, ou melhor ( posto que não deve haver nem
baixo e nem alto) do simples ao composto. Nós dizemos precisamente
nos federar por que este termo já vem adquirindo um significado
oposto e negativo com relação à centralização.
Em um sentido muito mais relativo, por exemplo, existem republicanos
federalistas em oposição aos republicanos unitários.
Nós anarquistas
que, em alguns locais como em Roma, temos nos organizado, formulamos
um programa. Todos aqueles que o aceitam formam a organização
cujo programa foi assim auto-estabelecido, sejam eles grupos ou indivíduos;
cada grupo e cada federação decide, através de
sua correspondência, dos jornais, dos congressos, etc. a maneira
pela qual concordam para desenvolver a ação comum, as
formas de organização federal e os grupos e modalidades
internas. Um grupo ou uma federação poderão exagerar
em certos formalismos e, mesmo que alguns erros sejam cometidos, serão
tais que, mesmos aqueles contrários à organização
e que se unem somente uma vez com vistas à uma ação
, podem também cometê-los.
Achamos necessário
que nos ponhamos francamente em marcha por um caminho bem definido,
com nossos meios e assumindo a responsabilidade de nossas ações,
de modo que aquilo que façamos não seja destruído
pelos outros. São muitos aqueles que, tanto na propaganda teórica
quanto na ação dizem e fazem muitas idéias e
coisas que não nos parecem anarquistas, ou que ao menos , em
nossa opinião, não são úteis ao movimento,
antes pelo contrário.
Aqueles que não
se decidem a ficar conosco por medo de uma palavra, embora agindo
de acordo com nossa prática, e assim procedendo apenas para
não desagradar aqueles que,no fundo, são nossos adversários,
dão prova de fraqueza e perpetuam o equívoco. Eles cobrem
com sua bandeira e com sua boa intenção muita mercadoria
avariada. É então preferível que eles separem-se
de nós.
Entretanto, organizar-se
e diferenciar-se daqueles que, em algum ponto essencial, não
estão de acordo conosco na interpretação do termo
e dos métodos da anarquia, não significa que pretendamos
o monopólio do termo e do movimento anarquista ou que queiramos
excluir quem quer que seja da grande família libertária.
Mas sermos todos da mesma família, não significa que
tenhamos todos as mesmas idéias e o mesmo temperamento, nem
que queiramos fazer a mesma coisa e que estejamos de acordo sobre
tudo. Na maioria das famílias é antes o contrário
o que ocorre.
Pode ocorrer que não
apenas as idéias nos dividam na prática, mas também
que o temperamento atue um pouco e que ele determine a união
ou a desunião de alguns. Sinto-me pessoalmente bastante senhor
de mim mesmo, quer dizer indivíduo o bastante e me sinto mais
forte quando tenho atrás, diante e ao meu lado a solidariedade
de outros. Não parece-me que me diminua quando me enlace, em
torno de um pacto mútuo, com meus companheiros de jornada.
Esta questão do temperamento reforça, em lugar de enfraquecer,
a minha tese. Se existem correntes incapazes de permanecer unidas
por causa do temperamento, é melhor que cada um tome o seu
caminho e que elas se diferenciem.
Insisto em sustentar a
necessidade da organização, mesmo diante daqueles que,
embora admitindo-a de fato e na prática, a repelem na teoria
e no nome. Estou convicto - e creio não me enganar - que muitos
daqueles que se dizem em desacordo conosco, o estão mais nos
termos do que nas idéias, mais na aparência do que nos
fatos. Eles são , em parte vítimas de uma ilusão;
seu medo do termo nada mais é que um indício de uma
certa contrariedade in-consciente e inconfessa com a substância.
*
* *
Mas muitos camaradas,
que tem mais medo do termo do que da substância, sacrificam
uma à antipatia da outra. Eles dizem que não é
necessário fazer a organização, pois ela existe
já por si mesma.
É verdade, o homem
que pensa e que luta é um ser sensível, organizável
e organizado por excelência. Assim , mesmo aqueles companheiros
que se dizem opostos à organização são
, no fundo, organizados.
A diferença é
que tal organização, não tendo nome nem formas
exteriores, parece não existir e serve para que possamos dizer:
Vejam! Sem organização andamos muito bem! Isto serve
também para mascarar e para dissimular aquilo que pode existir
de pouco coerente com o conceito de autonomia integral no funcionamento
interno de uma tal organização. Tais incoerências
são inevitáveis na sociedade atual e eu não me
sirvo delas para combater o método anti-federalista, mas apresso-me
em observar que lá onde faltam as formas exteriores da organização,
falta também um meio importante de controle, para verificar
até que ponto tal organização continua libertária.
Quando, ao contrário, a organização é
visível, sua substância é denunciada pela forma
e ela se presta melhor à crítica: pode-se conseqüentemente
melhor combater e eliminar, na medida do possível,de seu seio
as manifestações anti-libertárias.
A organização
consciente é útil porque ela é o melhor meio
- quando real e substancial e não apenas formal - para impedir
um indivíduo ou um grupo de concentrar em si todo o trabalho
de propaganda e de agitação, tornando-se assim um árbitro
do movimento.
Os não organizados,
ou melhor, aqueles que estão organizados sem o saber e que
por isso se crêem mais autônomos que os outros, têm
maior probabilidade que os organizados, de serem presas do conferencista
que passa,do camarada mais ativo,do grupo mais empreendedor e do jornal
mais bem feito. Eles são inconscientemente organizados pelo
conferencista,pelo agitador e pelo jornal. Enquanto estes últimos
fazem o seu trabalho , tudo corre bem, mas se eles tomam uma direção
falsa...boa noite! E antes que se perceba passará um bom tempo.
Os anarquistas que estão organizados, ao contrário,
sabendo já o que fazem pois as próprias formas exteriores
lhes relembram constantemente que estão associados , que discutem
do seu ponto de vista toda a proposição, venha de onde
venha, estão menos expostos à surpresas. Justamente
porque a união faz a força, eles podem opor uma maior
força de resistência às sugestões dos camaradas
mais inteligentes, mais simpáticos ou mais ativos. Eles sabem
organizar-se e é reconhecidamente mais difícil manipular
uma massa de pessoas conscientes de sua situação, do
que uma numerosa quantidade de inconscientes.
Mas os organizados são
homens também e nem todas as virtudes da organização
podem impedi-los de cair no erro. Na sociedade atual, a perfeita coerência
libertária de uma organização é impossível
( aliás, mesmo em anarquia seria ela possível?) . Eles
também , em menor medida, oferecerão flancos à
crítica dos puros em teoria. Poderá ocorrer que sua
organização assuma , vez por outra, aspectos incoerentes,
ou que produza algumas manifestações de centralismo
ou de autoritarismo.
Mas estes seus erros,
ao contrário dos erros dos anti-organizadores consistem em
que o cisco que têm nos olhos esteja sempre imediatamente visível,
porque existe uma organização pública, enquanto
que a trava que existe nos olhos dos outros não se vê
imediata-mente - o que não impede que isso provoque grandes
danos ao princípio da anarquia.
Nunca será demais
insistir sobre esta verdade: a ausência de organização
visível normal e aceite por cada um de seus membros torna possível
o estabelecimento de organizações arbitrárias
, menos libertárias ainda, que crêem ter vencido todo
o perigo do autoritarismo apenas negando a sua essência. Tais
organizações inconscientes constituem um perigo maior
porque colocam o movimento anarquista à mercê e a serviço
dos mais hábeis e dos mais intrigantes.
Hoje , o conjunto dos
anarquistas está desorganizado; esta desorganização
formal faz com que a massa dos camaradas submeta-se à dominação
intelectual incontrolada de um diretor de jornal ou de um conferencista...
Mesmo assim , isto é uma forma de organização,
só que menos anarquista porque mais centralizada e mais pessoal.
Queremos de fato uma organização
consciente que dependa de nossa vontade,para não estarmos obrigados
a nos submeter à uma organização inconsciente
e involuntária. Tentando fazer triunfar algo de determinado
e preciso, existe a necessidade de organizar-se de fato e não
apenas nominalmente, porque há necessidade de quantidade e
não somente de consciência. Sermos numerosos em nada
nos atrapalha... Não se pense porém que queiramos colocar
em antítese os termos consciência e quantidade. Poderemos
ser numerosos, mantendo nossa consciência,de resto, mesmo se
os conscientes forem pouco numerosos, ter o auxílio dos menos
conscientes não os tornará decerto inconscientes. Isto
sem contar com o fato de que os menos conscientes,em contacto com
os mais conscientes na organização, adquirem a consciência
que lhes falta, mais ou menos segundo a sua inteligência e boa
vontade.Mesmo quando não se está organizado, não
ocorre igualmente que muitos inconscientes sejam atraídos para
a órbita da ação por al-gum grupo ou indivíduo
mais simpático, inteligente ou ativo? A diferença ,
neste caso é somente a de que muitos daqueles que poderiam
ser atraídos para o terreno da luta, para auxiliá-la
e em seguida tornar-se conscientes da ausência de organização,
são deixados na obscuridade e na inércia...
Mas entendamo-nos bem
sobre esta bendita consciência!
"Se nos dizem: ou
vossa organização reúne conscientes, sendo então
inútil ( existe um erro, mas deixemos de lado) ou ela reúne
inconscientes e então é perigosa porque desvia-se e
torna-se centralizada e autoritária", etc.
Lembremo-nos primeiramente
que se aqueles que se dizem anti-organizadores, na prática
são obrigados a organizar-se, se não querem isolar-se
da vida e da luta; a objeção vale também para
aqueles que usam a organização. Mas o dilema acima é
uma falsa objeção. Não existem conscientes ou
inconscientes de maneira absoluta; a consciência é uma
coisa relativa e multiforme. Existem os mais conscientes e os menos
conscientes; e entre o absoluto (inexistente, ali-ás) da consciência/virtude
e da inconsciência/vício, existe uma escala de gradações
tão longa quanto a escada de Jacó. Alguém pode
ser desta forma um revolucionário consciente e um anarquista
pouco coerente ao mesmo tempo; ao passo que um anarquista coerente
até o escrúpulo carola pode tornar-se diretamente a
própria negação de um revolucionário.
Não obstante, tanto um quanto o outro são úteis
para a anarquia.
De resto, se alguns destes
ditos inconscientes aceitam permanecer em uma organização
anarquista e nos auxiliam na luta, isto será sempre melhor
e sempre nos trará mais ganho do que a hipótese contrária;
de qualquer forma, estes serão mais conscientes do que aqueles
que permanecem no obscurantismo e jazem na inação, o
que, pior ainda, militam contra nós como força bruta
nas mãos do padre ou do delegado de polícia. Se a organização
servisse apenas para criar número (e ela, ao contrário,
serve para fazer muitas outra coisas) - mesmo sem ter em conta a cultura
que difunde, o conhecimento de idéias que o contato contínuo
com os organizados permite aumentar - mesmo que se tratassem só
de números, dizíamos, ela ainda seria útil como
fator de consciência individual e coletiva.
Mas, a propaganda determinada
pelos anarquistas organizadores é também uma forma de
manifestação para preparar a sociedade futura: trata-se
de uma colaboração com a finalidade de constituir um
jeito de influenciar o meio ambiente e de modificar as suas condições.
Outros também trabalham de acordo com a mesma obra. Nós
queremos trabalhar da maneira que acreditamos seja a mais eficaz,
escolhemos assim certas formas de luta que estão mais conforme
à nossa maneira de ver e até mesmo ao nosso temperamento,
se assim se quiser. De qualquer forma este seria apenas um modo, como
outro qualquer, da divisão de trabalho.
Justamente, por contribuir
mais poderosamente para a formação de um meio livre,
por influenciar o proletariado e por lançá-lo na luta
contra o capital da maneira, a mais proveitosa e orgânica, nós,
que temos uma concepção especial da luta e do movimento,
pretendemos doravante colocarmo-nos em acordo sobre o modo que, sem
desperdiçar nossas forças, possamos dar uma tal contribuição
e exercer tal influência.
Se isso atrair o proletariado
para as nossas fileiras, para nosso partido, melhor; isto significa
que soubemos fazer bem a propaganda e que soubemos nos aproximar da
revolução e do triunfo da anarquia.
A organização
anarquista deve ser a continuação de nossos esforços
e da nossa propaganda; ela deve ser a conselheira libertária
que nos guia em nossa ação de combate cotidiano. Podemos
nos basear em seu programa para difundir a nossa ação
em outros campos, em todas as organizações especiais
de luta particulares nas quais possamos penetrar e levar nossa atividade
e ação: por exemplo nos sindicatos, nas sociedades anti-militaristas,
nos agrupamentos anti-religiosos e anti-clericais, etc. Nossa organização
especial pode servir igualmente como um terreno para a concentração
anarquista (não de centralização!), como um campo
de acordo, de entendimento e de solidariedade a mais completa possível
entre nós. Quanto mais estivermos unidos menor será
o perigo de que sejamos arrastados nas incoerências ou, que
desviemos nosso ímpeto de luta para batalhas e escaramuças
aonde, outros que não estão de forma alguma de acordo
conosco, poderiam cortar-nos as mãos.
E se nossa organização
chegar a ser assim, não somente de nome mas também de
fato, se ela conseguir estabelecer vínculos sólidos
e seguros de amizade e de camaradagem entre todos os anarquistas e
se obtiver o seu acordo ativo sobre os principais postulados de nosso
programa, então tal organização será um
órgão poderoso e útil para a ação,
depois de ter sido um instrumento de preparação. Uma
organização adaptada a tal finalidade não se
improvisa. Não podemos esperar vê-la surgir dos eventos
ao invés de prevê-los, agindo assim corremos dois riscos:
ou nos vemos na obrigação de subitamente nos colocarmos
de acordo sobre bases pouco seguras e pouco libertárias, ou
nos deixaremos surpreender (o que infelizmente é o caso mais
provável) como tolos pelos próprios eventos.
*
* *
Uma das objeções
mais freqüentes ao conceito de organização não
apenas local mas também regional e nacional, realizada através
do método federalista é a de que ela pode nos fazer
cair na incoerência com o conceito anti-autoritário da
anarquia.
Para mais uma vez falar
desta coerência bendita é necessário que tornemos
preciso o seu conteúdo! Muitos são aqueles que possuem
a "coerência", que se torna tão elástica
ao ponto de ampliar-se ou restringir-se segundo aquele que a adapta.
Podemos aplicar muitas
vezes aos anarquistas das diferentes frações, parafraseando-a,
a conhecida divisa que Ferrero atribui aos selvagens: "aquilo
que faço, eu e meus amigos, é coerente; aquilo que fazem
os que pensam diferentemente de mim é incoerente. E dessa maneira
podemos nos excomungar mutuamente até o infinito, pois cada
um saberá encontrar uma maneira de demonstrar que seu adversário
é incoerente com as idéias e que portanto não
é um bom anarquista". Isso é tanto mais verdade
quanto os princípios de anarquia que são tomados por
base variam de interpretação de indivíduo para
indivíduo e de um grupo para outro.
O que significa esta coerência
que se arbora a todo momento, especialmente por aqueles que nada fazem,
contra aqueles que gostam de mexer-se e de agir?
Isto significa nada fazer
na prática, que esteja em contradição com a teoria.
Uma proibição que, como se vê, os individualistas
são os primeiros a não reconhecer, eles que se dizem
escrupulosamente ou melhor literalmente partidários do "faz
o que queres" de Rabelais, mal digerido.
Para que exista coerência
entre teoria e prática, é preciso antes de mais nada
que seja definido o programa teórico, nos limites do qual a
prática se apóie para não contradizê-lo.
E o nosso programa já foi muitas vezes dito e redito para que
nós aqui não nos estendamos muito para falar dele.
A anarquia significa ausência
de governo, ausência de qualquer organização autoritária
e violenta através da qual, com violência ou ameaça
de violência, obrigue-se o homem a fazer aquilo que não
quer e a não fazer aquilo que quer. Ausência portanto
não apenas de organismo governamental, cujas leis proíbem
e/ou impõem fazer aquilo que os legisladores estabeleceram,
mas também ausência do patrão que impõe
a sua vontade dando ao seu bel prazer mais ou menos pão aos
estômagos dos proletários; ausência também
do padre que impele a todos a inclinar-se diante dele, impelindo especialmente
o povo a obedecer o governo e o patrão, com a violência
moral da religião (ameaça de uma violência terrível:
o inferno após a morte).
Ora, para ser incoerente
com os princípios da anarquia em uma organização
de anarquistas, seria preciso que esta organização se
opusesse a um tal programa, criando em seu seio uma autoridade que
tivesse a autorização e a possibilidade de impor ao
seus associados, com a violência de sua vontade ou com a vontade
da maioria. Qualquer um vê que em nossas organizações
tal coisa é praticamente impossível, para não
dizer absolutamente impossível. Como querer que uma coletividade
de anarquistas autorize uma ou várias pessoas a impor a sua
vontade? Na hipótese absurda de que eles assim o quisessem
(e então ela não seria mais uma associação
de anarquistas pelo próprio fato de que estes últimos
quiseram tal coisa), onde conseguiriam um meio de constituir tal autoridade
que pudesse constranger com violência seus subordinados a fazer
aquilo que não querem?
O movimento revolucionário
anarquista é uma luta contra a manifestação violenta
e coercitiva da autoridade. E os partidos nos quais tal coerção
não se exerça - e para que não se falsifiquem
minhas palavras, entendo por violência a violência material
direta ou a ame-aça de tal, contra quem o constrangimento se
exerce - , tais partidos não são autoritários
na prática. Para sê-lo, mesmo não possuindo organismos
violentos, é preciso que optem pela violência deliberadamente,
por programa e por princípio.
Por exemplo, o partido
republicano, o partido socialista e numerosas organizações
operárias são autoritárias não porque
verdadeiramente exerçam uma autoridade violenta, não
porque estejam organizados, mas simplesmente porque sua finalidade
é autoritária, suas idéias e seus programas admitem
ou até mesmo exigem como necessária a autoridade, seus
métodos de luta política apóiam-se, através
do legalismo e do parlamentarismo, na autoridade, na ação
dos governos e da sociedade burguesa.
Para os anarquistas tal
coisa é impossível, do momento em que uma insuperável
barreira os separa duplamente dos meios governamentais e burgueses:
a idéia anti-autoritária e a prática intransigente,
extra legal, anti-parlamentar e revolucionária.
Ocorre com as organizações
aquilo que acontece com muitas coisas. Já vimos degenerar os
partidos políticos existentes até hoje e alguns atribuem
a razão disto ao fato de eles serem organizados. Mais aí
inverte-se a causa e o efeito. A organização republicana,
socialista e operária degenerou-se, em um sentido autoritário
e legalista pela simples razão de conter em si o gérmen
de tantos males. A própria idéia de que sem autoridade
nada pode subsistir, este gérmen, foi cultivada intensamente
com a prática legalista da participação nas funções
autoritárias dos organismos estatais e burgueses.
A organização
anarquista possui um forte antídoto contra este gérmen
do autoritarismo: a tática anti-parlamentar e anti-legislativa,
intransigente para com todos os organismos governamentais. É
por isso que sou anti-parlamentarista intransigente, é por
isso que tantos anarquistas não cedem uma linha sequer - sem
pretexto algum de oportunismo ou utilidade momentânea - eles
poderão enfraquecer um pouco, por outras razões, seu
espírito revolucionário, mas permanecerão sempre
anarquistas na alma e na palavra; e então o espírito
revolucionário ressurgirá pelo próprio impulso
da idéia. Se a sua organização tem como fundamento
um programa que precise a ação, não é
possível que a idéia se torne autoritária, porque
ela não tem necessidade, nem possibilidade, nem mesmo a oportunidade
de tal transformação, sem ter que renegar completamente
a idéia, de toda a prática, toda a história e
mesmo o próprio termo anarquia.
Para assim fazê-lo,
seria preciso deliberadamente e aprioristicamente mudar totalmente
o caminho, dar as costas a teoria e o movimento e dizer: não
somos mais anarquistas.
A organização
não é um órgão consciente em si, que guie
os seus membros; são estes membros que a fazem segundo seus
próprios critérios teóricos e práticos.
A organização não pode transformar anarquistas
em não anarquistas, mas sim os anarquistas que mudando-se a
si mesmos podem transformar uma organização anarquista
em autoritária. Pois bem, enquanto os anarquistas estando organizados,
permaneçam anarquistas, conservando o ideal e continuando a
fazer a sua propaganda, e a perseguir a tática sustentada até
agora, o medo de desvios e incoerência gerado apenas pelo fato
da organização, permanece irrealista e até mesmo
pueril.
Já disse que é
preciso conceber a coerência com as idéias de maneira
relativa, que é preciso conceber todas as coisas e idéias
de maneira relativa, porque não quero excluir, mesmo que isso
me pareça impossível, a possibilidade do erro.
Falando da abolição
da autoridade e da liberdade, existem alguns anarquistas que entendem
por isso também a eliminação da autoridade não
coercitiva, da disciplina moral que surge da necessidade de união
de várias pessoas, no terreno de um pacto recíproco
de convivência e ajuda mútua.
Eles não pensam
que a liberdade absoluta do homem não existe, não conside-ram
que ela seja uma coisa totalmente relativa determinada por causas
exteriores e submetidas a estas.
A liberdade é em
suma a possibilidade de poder satisfazer todas as nossas necessidades
físicas e psíquicas e de não suportar predominância
alguma por parte dos outros. Tal liberdade é impossível
sem organização.
E prestem atenção,
não estou me referindo apenas aos tempos felizes quando viveremos
em anarquia! Quero dizer que, organizando-nos, podemos mesmo hoje
gozar de maior liberdade do que a que teríamos se estivéssemos
isolados. Unidos podemos melhor resistir à dominação
do patrão e do governo, unidos podemos melhor satisfazer nossa
necessidade de ação propagandística e revolucionária,
temos assim diante de nós um campo mais vasto de lutas e maiores
meios à nossa disposição; e isso não impede
a cada um de nós de explicar a mesma coisa e de exercer melhor
as formas de atividade essencialmente individuais.
Quando afirmamos querer
nos organizar, fixamos também o porquê da nossa organização;
esta deve servir para agir lá aonde, isolados ou em pequeno
número, a coisa fosse impossível ou difícil.
Naturalmente, quando a força de um só basta, este, mesmo
estando organizado, atua por si sem recorrer aos outros, porque suas
forças lhe bastam. Da mesma forma o grupo não recorre
aos outros grupos federados para coisas que pode realizar sozinho.
Toda organização
libertária aparece na medida em que há necessidade da
união em grupo para realizar uma dada meta; assim como, para
realizar outras, é necessário federar grupos, e assim
por diante.
Muitos nos objetam que
toda coletividade é suscetível de dividir-se em maioria
e minoria, e que, em muitos casos a organização fará
com que a minoria deva submeter-se a maioria. Nós, ao contrário,
não admitimos dominações deste tipo, e por isso
não damos nem à maioria nem à minoria o direito
e os meios de poder se impor.
Certamente, uma divisão
de pontos de vista e de opiniões podem surgir. Se a discórdia
brota das idéias e da tática fundamental, é preciso
que as duas partes se separem, pois elas constituem, a partir de então,
dois partidos distintos. Foi desta forma que nós, anarquistas,
quando a diferença apareceu como irremediável e muito
grande, separamo-nos dos socialistas autoritários no seio da
Internacional.
Ao contrário, se
existem divisões sobre questões de importância
menor, que não dizem respeito ao movimento e às idéias
gerais, cada um pensa e atua, fora da organização, à
sua maneira, sem erguer obstáculos ao trabalho comum da organização.
Mas, se for no próprio
seio da organização que o desacordo surgir, que a divisão
entre maioria e minoria aparecer por questões secundárias,
sobre modalidades práticas ou sobre casos especiais, então
não se pode acusar de incoerência nenhuma parte nem outra;
então poderá ocorrer com maior ou menor facilidade que
a minoria se incline a fazer conforme a maioria. Mas, como esta condescendência
somente pode ser voluntária, todo o caráter de autoridade
e coerção está ausente. Se o partido quer fazer
um congresso e todos são unânimes na vontade de se reunir
com anarquistas do mundo inteiro, se existe apenas uma diferença
sobre o local da reunião, uns propondo Roma e outros Paris
por exemplo, é preciso que uns ou outros cedam. E naturalmente
cederão, se neles for forte a necessidade e o desejo de reunir-se;
como é natural que sejam os menos numerosos que cedam pois
mesmo estes serão da opinião de que é preferível,
para a economia geral das forças, que seja uma minoria e não
uma maioria quem suporte um dado inconveniente.
É conhecido o fato
de que os adversários da organização federal,
por oposição a nós, declarem-se autonomistas,
e denominem autônomos seus grupos; é bom lembrar, de
uma vez por todas, que todos somos autonomistas, quer dizer partidários
da autonomia individual nos grupos, da autonomia dos grupos na federação
e no partido. Isto para evitar, mesmo sob forma lingüística,
as derradeiras aparências de formalismo que nos são reprovadas.
Este termo formalismo
é erroneamente empregado a nosso respeito: ou ele quer dizer
dar forma as idéias e a luta, e isto então é
tão natural que todos são obrigados a utilizá-lo,
ou então significa a adoração das formas com
a negligência da substância, e então nós,
anarquistas, não merecemos tal pecha, que não se justifica
por nenhum fato positivo.
São justamente
estas vagas acusação de "formalismo", "autoritarismo",
"artificialismo", que formam o patrimônio polêmico
dos adversários da organização. Estas palavras
abstratas possuem um significado tão amplo e uma interpretação
tão vasta, que podem ser lançadas contra qualquer adversário
contra o qual não se tenha outros argumentos válidos.
Certamente elas causam efeito, e sempre é embaraçoso
defender-se delas; elas são muito úteis àquele
que possui a habilidade de delas servir-se primeiro. Mais são
palavras ocas de sentido, a partir do momento em que ninguém
torna preciso qual formalismo ou qual autoritarismo é verdadeiramente
nocivo e conflitante com as doutrinas anarquistas e possíveis
em uma organização anarquista. Não se trata portanto
do vago espantalho do formalismo, mas sim de certas formas autoritárias
e determinadas de organização, que bem conhecemos, que
é necessário combater dentro de nós, assim como
as criticamos em outros partidos. Tais formas são tão
visíveis, que não devemos temer que seduzam o mais inconsciente
dos anarquistas, muito menos ainda uma coletividade anarquista inteira.
Outra grave acusação
que se faz à organização federal dos anarquistas
é de ser esta "artificial". Mas todas as coisas que
se fazem, que são feitas pelo homem, salvo os movimentos totalmente
involuntários, são artificiais; isto porque as coisas
naturais não bastam, e são muitas vezes perigosas. O
raio é natural, mas contra ele preferimos adotar o artificial
pára-raios, e muito embora sejam o câncer e a tuberculose
igualmente naturais, milhares de médicos esgotam-se a buscar
um meio artificial para curá-los, e fazem muito bem. A propaganda
é também uma coisa artificial; que quanto mais for feita
com arte, mais proveitosa será. Por que não poderia
existir uma organização, com fins de propaganda, a partir
do momento que esta se tornasse importante?
Todo o medo dos anti-organizadores
vem da forma, do artifício, do método; eles observam
que uma forma de organização, um nome, um método
foram adotados por nossos inimigos e daí concluem pela condenação
em bloco destes. Não conseguem realizar o raciocínio
muito simples de que muitas destas formas, destes termos e destes
métodos são inofensivos em si, e que não tem
outro valor senão o do seu conteúdo. Se lhes for dado
um conteúdo anarquista, estarão com perfeita coerência
com a anarquia. Existem também, natural-mente, formas que são
unas com a substância, e estas podem ser ou não anarquistas;
mas este não é o caso da organização,
ela sozinha não basta para fazer surgir uma autoridade ao contrário,
composta por anarquistas, ela se torna um obstáculo à
autoridade.
*
* *
Encontra-se outro motivo
de incoerência na pretensa facilidade com a qual, nas organizações,
os indivíduos mais inteligentes, mais simpáticos, mais
ativos ou mesmo mais falsos possam se tornar verdadeiras autoridades
sobre a massa, apresentando o perigo de fazê-la desviar-se.
Demonstrei acima que este perigo é maior entre os não
organizados, e que, ao contrário, a organização
serve para combater e não para facilitar tal perigo.
De qualquer maneira, o
perigo permanece, mesmo que reduzido e mesmo que o elemento determinante
não seja a organização. Mas haveria uma verdadeira
incoerência disto com a idéia anarquista? Não
o creio, porque se assim o fosse, a anarquia seria impossível.
Os homens nunca serão psíquica e fisicamente iguais
e mesmo que as disparidades enormes tendam a desaparecer, sempre haverá
homens de talento e homens medíocres, ativos e inativos, simpáticos
e antipáticos e uns terão sempre sobre os outros uma
indiscutível superioridade moral e talvez isto fique muito
mais claro quando não houver mais tiranias materiais.
A anarquia, como aspiração
positiva de batalha, é a destruição das tiranias
materiais, ela nada mais tem a opor às autoridades morais se
não a ciência. A própria ciência representa
uma fonte de autoridades morais. Quem não reconheceria em anarquia
a autoridade do médico em questões de higiene ou do
arquiteto em construção? Da mesma forma existiria a
autoridade moral do gênio, do homem simpático, do ativo,
etc.; a anarquia não deixaria de existir por isso, a partir
do momento em que nem o médico, nem o arquiteto, nem o homem
genial ou ativo e nem o falso puderem fazer valer a sua autoridade
sem que os outros queiram a ela se submeter. A organização
social anarquista não colocará à disposição
nenhum meio de constranger a vontade do outro. Tal fenômeno
trará com certeza inconvenientes mas jamais pensamos que na
anarquia inconvenientes como esse desaparecessem e que nós,
de alguma forma, nela retornássemos ao paraíso terrestre.
Nem mesmo ousamos afirmar
que, nas organizações anarquistas que existem no seio
da sociedade atual, não possam ocorrer muitos inconvenientes.
Ao contrário, eles não são fruto da organização,
pois existiriam mesmo sem ela, talvez até mais intensos; não
representam em si mesmos uma incoerência com a idéia
anarquista.
"Mas e os cargos?
- poderá alguém objetar - não se assiste nas
organizações anarquistas à nomeação
de comitês executivos, comissões de correspondências,
secretariados, etc.? Não seriam estas já verdadeiras
autoridades e governos em miniatura?". Respondo que não,
antes de mais nada porque estes indivíduos não dispõem
de nenhum meio para impor sua vontade aos associados, sendo dado que
eles devem fazer aquilo que foram autorizados a fazer. Não
são autoridades porque, se o fossem, a própria existência
da sociedade civil e humana não seria possível.
Em toda a convivência
existe divisão de trabalho entre os associados; alguns deles
devem se encarregar de funções sociais necessárias
e úteis a todos. Tais funções possuem hoje em
dia um caráter autoritário porque são exercidas
em grande parte por organismos autoritários, mas não
são em si a autoridade.
Muito recaem no equívoco
seguinte: eles vêem uma função indiscutivelmente
útil exercida de maneira dominadora e má pelo governo
ou pelo capitalista; concluem que a origem desta coisa má e
desta dominação é a função e exigem
a sua supressão. Creio que nenhum anarquista sustentará
que em anarquia se deva abolir o serviço postal ou o ferroviário
somente pelo fato de que hoje os correios e estradas de ferro são
geridos de maneira infame pelo estado capitalista. O que vale para
a sociedade futura vale para as organizações anarquistas,
que delegam a alguns de seus membros responsabilidade para cumprir
uma função deter-minada e não para exercer um
poder. Delegação de função e não
delegação de poder. Não se pode fazer mais do
que a delegação de função no momento em
que em certo círculo não podem todos os camaradas ser
ao mesmo tempo o tesoureiro ou o secretário, da mesma forma
de que não podem todos porem-se a realizar uma função
para qual basta o trabalho de um só.
A necessidade de tais
mandatos amplia-se e torna-se mais forte quando a organização
é maior e o seu campo de atividade mais amplo. Mais basta,
para suprimir todo o perigo de autoritarismo delimitar e definir muito
bem as funções que devem ser cumpridas; que os delegados
não possam agir em nome da associação a não
ser quando seus membros lhes tenham explicitamente autorizado; eles
devem executar somente aquilo que os associados decidiram e não
ditar aos associados o rumo a seguir. Agindo assim, mesmo a mais longínqua
suspeita de incoerência fica afastada.
Se algum gérmen
de autoridade pode se personificar nestes representantes da associação
este seria uma autoridade moral , sem perigo de que possa se transformar
em autoridade coercitiva de fato. E um tal tipo de autoridade assim
surgida nunca seria tão forte como aquela que um companheiro
ativo e inteligente pode desenvolver em um meio desorganizado. Hoje,
até mesmo nas associações burguesas, um tesoureiro,
um secretário ou um comitê executivo, mesmo que tenham
prerrogativas formais, na prática não concentram tanto
poder. Por que isto seria possível em uma associação
anarquista? Não se trata simplesmente de um inútil sofisma
doutrinário?
É uma besteira
dizer que os anarquistas querem se organizar para macaquear os partidos
autoritários, porque crêem que estes devem os seus progressos
ao fato de estarem organizados.
A verdade é que
os partidos autoritários fizeram progressos não somente
na maneira de estarem organizados, mas também na própria
organização; uma não exclui a outra e a união
resultante tem uma força apreciável.
A organização
não possui, é verdade, uma vida mágica, mas ela
pode acrescentar força e capacidade de ação aos
aderentes desde que eles sejam "homens e não carneiros".
Uma organização feita por anarquistas com uma meta anarquista,
seja qual for o termo pelo qual ela se define, velho ou novo, não
pressupõe em si nenhum espírito autoritário inerente.
Ela deverá o seu caminho apenas parcialmente à organização,
pois segue uma idéia libertária; do mesmo modo que os
partidos autoritários depois de terem tanto caminhado através
da organização, começam agora a recuar não
por causa da organização, mas simplesmente porque a
sua meta residia nos meios e fins deliberadamente autoritários
e anti-revolucionários.
Assim, por exemplo, a
insurreição será útil para a revolução,
mais podem existir igualmente insurreições reacionárias.
Houveram insurreições sanfedistas ou favoráveis
aos Bourbons, mas seria este o motivo para os patriotas italianos
negarem a utilidade da insurreição para a libertação
do jugo estrangeiro? A organização em suas formas serve
aos autoritários, mas nelas não existe nada de contraditório
que nos proíba de delas nos servirmos também.
Todas as dificuldades
residem no fundo nas denominações; a uns não
agrada o termo "partido", a outros o de "organização".
Desta forma alguns criticaram o fato dos anarquistas terem constituírem
uma federação do Lacio e quererem construir uma italiana
bem como existam federações e partidos alemães,
holandeses, boêmios, etc. Como se quiséssemos desta forma
reconstruir o princípio das nacionalidades! Aí reside
verdadeiramente o formalismo, e do pior!...
*
* *
De maneira alguma, o conceito
de organização federal de indivíduos em grupos
e de grupos em federações regionais, nacionais e internacionais,
é contraditório com os princípios de liberdade
do anarquismo.
Esta coerência com
o método libertário no seio da sociedade burguesa não
está reservado às organizações anarquistas.
Existem e podem existir associações compostas também
por não anarquistas que em seu funcionamento interno sejam
libertárias, isso em nada atrapalha, mas ao contrário
facilita as suas metas particulares. Elie Reclus encontrou exemplos
de agrupamentos libertários em povos primitivos que não
são regidos pela anarquia; Pedro Kropotkin nos fala de associações
libertárias entre animais, entre selvagens, entre os artesãos
e nas comunas da idade média. Para demonstrar a existência,
na sociedade moderna, de uma forte tendência para o comunismo
e a anarquia, Kropotkin e Eliseé Reclus nos trazem numerosos
exemplos de associações comerciais, industriais, de
beneficência, científicas e artísticas que, muito
embora não tendo uma finalidade anarquista, são em sua
organização interna bastante libertárias. Se
uma tal possibilidade não se exclui para indivíduos
não anarquistas, associados para metas absolutamente burguesas,
por quê deveríamos excluí-la para nós?
Por quê deveríamos negar a possibilidade de associar-nos
em bases libertárias nós, que somos anarquistas e que
nos propomos uma meta essencialmente anti burguesa e anti autoritária?
Autonomia e organização
estão longe de ser termos contraditórios: ao contrário,
exprimem com precisão o conceito que os anarquistas tem do
indivíduo e da sociedade. "Autonomia e federação
são as duas grandes fórmulas do futuro - diz nosso amigo
Charles Malato - a partir de hoje, é nesta direção
que se orientarão os movimentos sociais." Esta é
também nossa idéia, pois pensamos que a organização
encontra na forma federativa a melhor forma de se desenvolver em um
sentido verdadeiramente anarquista.
Roma, 15 de Junho de 1907
CELIP