A atual situação
enfrentada pelo proletariado mundial exige uma tensão máxima
do pensamento e da energia dos anarquistas revolucionários,
para esclarecer as questões mais importantes.
Nossos camaradas, que desempenharam um papel
ativo na revolução russa e continuam fiéis às
suas convicções, sabem de que maneira funesta se fez
sentir, em nosso movimento, a ausência de uma sólida
organização. Esses camaradas estão bem situados
para ser particularmente úteis na tarefa de unificação
atualmente empreendida. Suponho que não lhes passou despercebido
que o anarquismo foi um fator de insurreição nas massas
trabalhadoras revolucionárias, na Rússia e na Ucrânia,
incitando-as à luta por toda parte. Contudo, a ausência
de uma grande organização específica, que contraponha
suas forças vivas aos inimigos da revolução,
tornou os anarquistas incapazes de assumir uma função
organizativa. A tarefa libertária na revolução
sofreu as pesadas conseqüências dessa incapacidade. Conscientes
dessa limitação, os anarquistas russos e ucranianos
não devem permitir que tal fato se repita. A lição
do passado é demasiado penosa e, por não a terem esquecido,
eles devem ser os primeiros a dar o exemplo de coesão de suas
forças. Como? Criando uma organização que possa
cumprir as tarefas do anarquismo, não somente no momento de
preparar a revolução social, mas igualmente depois.
Uma tal organização deve unir todas as forças
revolucionárias do anarquismo, e se ocupar imediatamente da
preparação das massas para a revolução
social e para a luta pela realização da sociedade anarquista.
Se bem que a maioria dos anarquistas reconhece
a necessidade de uma tal organização, é lamentável
constatar que são poucos os que se preocupam com a seriedade
e a constância indispensáveis.
Neste momento, os acontecimentos se precipitam
em toda Europa, inclusive na Rússia, prisioneira dos bolcheviques.
Está próximo o dia em que será necessário
participarmos ativamente dos acontecimentos. Se nos apresentarmos
outra vez sem estarmos organizados, previamente e de maneira adequada,
seremos novamente incapazes de impedir que os acontecimentos evoluam
no turbilhão dos sistemas estatais.
O anarquismo se insere e vive concretamente
por toda a parte onde há vida humana. Em contrapartida, ele
não se torna compreensível para todos, a não
ser onde e quando existem os propagandistas e os militantes que romperam
sincera e inteiramente com a psicologia de submissão desta
época, eis por que são ferozmente perseguidos. Esses
militantes agem de acordo com suas convicções, desinteressadamente,
sem medo de descobrir, em seu processo de desenvolvimento, aspectos
desconhecidos, para assimilar, ao fim e ao cabo, o que se fizer necessário
para a vitória contra o espírito de submissão.
Duas teses decorrem do que acima foi dito:
- a primeira, é que o anarquismo conhece
expressões e manifestações diversas, mas conserva
uma perfeita integridade em sua essência.
- a segunda, é que o anarquismo é
naturalmente revolucionário e, na luta contra seus inimigos,
só pode adotar métodos revolucionários.
No decorrer de seu combate revolucionário,
o anarquismo não somente derruba os governos e suprime suas
leis, mas se ocupa também da sociedade em que nasceu, de seus
valores, seus costumes e sua "moral", o que lhe vale ser
cada vez mais compreendido e assimilado pela maioria oprimida da humanidade.
Tudo
isso nos convence de que o anarquismo não pode continuar aprisionado
nos limites de um pensamento marginal e reivindicado unicamente por
uns poucos grupelhos, em suas ações isoladas. Sua influência
natural sobre a mentalidade dos grupos humanos em luta é mais
do que evidente. Para que esta influência seja assimilada de
modo consciente, ele deve doravante se munir de novos meios e iniciar
desde já o caminho das práticas sociais.
Nestor Makhno - Dielo
Trouda n.º 4, setembro de 1925.