Acompanhando
toda a história da humanidade, nos deparamos com uma série de práticas
anárquicas na cultura dos povos e dos movimentos de libertação contra
reis, imperadores, senhores, patrões e demais arautos da opressão.
O Anarquismo enquanto sistema de pensamento e de ação passou por diferentes
experiências através dos tempos. As diversas correntes históricas
hoje apresentam-se muito mais como tendências dentro do Anarquismo.
O Anarquismo Revolucionário se tornou a corrente majoritária do Movimento
Anarquista Internacional em fins do século XIX, e envolveu principalmente
coletivistas, sindicalistas e comunistas libertários. É essencial
ressaltar que a série que se segue não é nenhuma linha evolutiva,
mas marca apenas o surgimento de formas mais sistematizadas do Anarquismo
no que costuma-se chamar de civilização, ou seja, no berço da resistência
às sociedades mais tirânicas, e que, de alguma forma, todos os valores
presentes nessas diferentes correntes estão entranhados na própria
história das aspirações e relações humanas desde tempos remotos.
O
Anarquismo filosófico - Lança o sistema de valores de uma sociedade
livre e igualitária, sem governantes e governados, opressores e oprimidos,
exploradores e explorados. Surge desde a antigüidade da China até
a Grécia.
O
Anarquismo individualista - Observa a sociedade como a soma de um
conjunto de seres indivíduos, e não como um organismo personificado
e alheio que os absorve ao tomar vida própria. As responsabilidades
sociais de cada sujeito devem se dar, portanto, em relação a outros
indivíduos, e não com uma sociedade abstrata, o Estado. Surge na Inglaterra
e na França, desde fins do século XVIII.
O
Anarquismo mutualista - A primeira organização prática com bases Anarquistas
surge a partir da corrente mutualista, no continente europeu do século
XIX. O mutualismo está baseado no associativismo e no cooperativismo,
ou seja, na associação de indivíduos livres que apoiam-se mutuamente
para garantir as condições de produção sem exploração. Os meios de
produção podem permanecer sendo utilizados de forma individual, mas
o produto final pertence a quem trabalhou nele diretamente, portanto
não permitindo o seu usufruto pelas classes parasitas.
O
Anarquismo federalista - Desdobramento da organização anarquista e
do apoio mútuo em uma geografia mais ampla, prevê a formação de redes
de relações igualitárias e solidárias entre as diferentes associações
de indivíduos. Uma federação de cooperativas, uma federação de profissionais
ou uma federação de associações de bairro ou municípios estão entre
muitas das alternativas de uma organização federativa. É uma forma
de organização política e econômica da sociedade libertária em maior
escala. Surge no mesmo periodo.
O
Anarquismo coletivista - Prega a necessidade de expropriação revolucionária
imediata de toda a propriedade excludente pelos trabalhadores para
reorganizar a sociedade e a produção com bases libertárias. Todos
os instrumentos de trabalho devem ser coletivizados. Está na origem
do Movimento Anarquista Histórico. Surge na segunda metade do século
XIX, dentro da Primeira Internacional. Defende a luta de classes para
promover a revolução social, o fim das classes, e que a mesma deve,
e só pode ser feita sob o controle direto dos próprios trabalhadores,
sem qualquer forma de controle Estatal.
O
Anarquismo comunista - Reivindica a abolição de todo sistema de salários
e preços, e o controle de toda a economia pela comuna popular. Tanto
os meios de produção quanto os próprios bens produzidos, devem ser
propriedade comum. Surge com bastante força em fins do século XIX
e o princípio adotado é "de cada um conforme as suas capacidades,
e a cada um conforme as suas necessidades". O fundamento teórico para
a comunhão total dos bens é a de que todo trabalho é social, e de
que os instrumentos com que se produz e a terra cultivada em que se
colhe a vida são o resultado do trabalho humano em milênios e grande
obra da natureza desde tempos remotos, e portanto, pertencem não a
um homem ou mulher, mas à Terra e a toda a humanidade. Foi carro chefe
das experiências mais revolucionários da história contemporânea, principalmente
na Ucrânia e na Espanha.
O
Anarquismo sindicalista - Encontra no Sindicalismo Revolucionário
uma forma dos trabalhadores assumirem o controle direto da revolução
social e sobre a produção. Surge na França, da cisão dos sindicatos
revolucionários com os sindicatos reformistas, na última década do
século XIX. Impulsiona o Movimento Operário Internacional, com forte
presença em quase todos os países da Europa, da América e da Oceania,
além de organizar fortemente a luta operária em outros continentes.
Representa o auge do movimento operário combativo em todo o mundo.
Coletivo
de Estudos Anarquistas Domingos Passos - Niterói, 2001.