Entrevista Akinori Mitachi Bakuto Morikawa



"Chomsky é mais um domesticado para o governo japonês"

Akinori Mitachi Bakuto Morikawa, é um atuante anarquista japonês da cidade de Tóquio, membro do "Anarchism Publishing Commity".

Agência de Notícias Anarquistas > Como está o movimento anarquista hoje no Japão? Ainda existe a Federação Anarquista Japonesa e a seção da AIT?

Akinori Mitachi Bakuto Morikawa > Não, não existe mais a Federação nem a seção da AIT. Bem, naturalmente, nós como indivíduos libertários participamos das manifestações anti-globalização, anti-guerra... Mas o panorama anarquista japonês, organizado especialmente, desde a II Guerra Mundial não vai bem. Antes da II Guerra, tivemos organizações anarquistas e anarco-sindicalistas fortes. Mas após 1923, quando Sakae Osugi, que era um anarquista influente nessa época foi morto por polícias militares, o movimento anarquista e não marxista se tornaram fracos e oprimidos pelo governo. Após a II Guerra Mundial (1945), a Federação Anarquista do Japão foi criada, mas suas atividades, na maior parte, era editar jornais e panfletos. A Federação rachou em dois grupos em 1951. Entretanto, as atividades daqueles grupos, outra vez, na maior parte, era publicar materiais e organiza r reuniões. Em 1966, o Comitê de Ação Direta Anti-guerra do Vietnam, que teve anarquistas e radicais não sectários, atacaram uma fábrica em Tokyo. Essa era a primeira ação direta promovida por radicais no Japão. Durante 1960 e 1970, havia diversas campanhas radicais e algumas agrupações anarquistas participavam, incluindo anarquistas, como K. Omori.

Durante 1980, alguns anarquistas criaram à seção da AIT Japão (Roudousya Rentai Undou) que foi expulsa da AIT, mas que ainda continua a publicar panfletos sobre o plataformismo. Outros anarquistas participavam da “Teihen Kyoutou” (esforço comum para os povos que vivem na periferia) que não existe mais agora, e ainda há outros anarquistas tentando reconstruir a Federação Anarquista do Japão, mas não vemos muitas possibilidades que isso venha acontecer agora. Assim, nós não temos nenhum tipo de organização anarquista. Acredito que em Tóquio possa haver apenas, aproximadamente, uma ou duas dezenas de indivíduos anarquistas. Mas tem aparecido anarco-punks e artistas com forte simpatia pelo anarquismo.

ANA > Quais são as atividades do seu grupo?

Akinori > Eu participo de diversos grupos, como o "Anarchy in Nippon", que é um projeto de website que aborda o anarquismo no Japão, e eu estou traduzindo uma "FAQ" anarquista para o japonês. Mas 3 dos 5 membros do grupo são individualistas, eu sou um anarquista social. "Anarchism Publishing Commity" é um outro projeto, publicamos a revista chamada "Anarchism" que introduz a várias idéias do anarquismo e do movimento anarquista no mundo, e ainda tenta aprofundar a discussão das idéias anarquistas. O comitê tem 10 membros. "Black Flag

Collective" é um coletivo que organiza o "Black Flag Festa" uma vez por ano para propagar as idéias anarquistas. O "Festa" é um evento que mistura música punk, feira de livros e mostra de cinema. O coletivo está planejando organizar essa "Festa" uma vez por mês. É um projeto. Eu também estou traduzindo artigos de Murray Book chin no website.

ANA > Há editoras libertárias?

Akinori > Não. Há algum tempo atrás existia uma chamada "Kokushoku Sensen Sha", mas hoje não há nenhuma. O editor adoeceu, aí pararam de publicar livros. Agora nós estamos iniciando algumas edições.

ANA > E publicações, páginas na internet...

Akinori > Bem, existe algumas publicações. As mais importantes são "Anarchism", "La Nigreco", "The Libertarian Communism" e "Roudousya No Rentai".

"Anarchism” é publicada pelo “Anarchism Publishing Com”, do qual faço parte. É um projeto relativamente novo, mas alguns de seus membros eram militantes anarquistas na década de 60 e 70.

http://a.sanpal.co.jp/aic/anarchism

“La Nigreco” é publicada por Masakazu Nakajima, Fuu Mizuta e Kou Mukai, que era um anarquista de 60 anos que morreu neste verão. Nakajima publicava a "Anarchist Independent Review".

http://www.ne.jp/asahi/anarchy/saluton/index.htm

“The Libertarian Communism” é publicado por Roudousya Rentai Undou (RRU), que era a seção japonesa de AIT, mas foram expulsos. RRU publicou diversos panfletos sobre democracia direta, revolução espanhola, movimento libertário francês, e assim por diante.

http://www.bekkoame.ne.jp/~rruaitjtko/

"Roudousya No Rentai" é outra publicação de um grupo anarco-sindicalista que rachou com a RRU. Eles não tem página na internet.

Também existe os fanzines anarco-punks.

As publicações “mainstream” publicam textos de anarquistas tradicionais, tais como Sakae Osugi e Syuusui Koutoku. Nós também podemos ler textos de Proudhon, de Bakunin e de Kropotkin em publicações japonesas. Você sabe, históricamente os “ mainstream”, sempre tentaram ganhar dinheiro dos movimentos radicais. A bola da vez e um bom exemplo é o Noam Chomsky. Muitos de seus livros foram traduzidos para o japonês após o 11 de setembro. Ele crítica sempre o governo dos EUA, o que é bom, mas não fala nada sobre ação-direta. Assim, como a maioria dos intelectuais, Chomsky é mais um domesticado para o governo japonês.

ANA > Existem espaços anarquistas no Japão?

Akinori > Lamentávelmente não.

ANA > Há mais ou menos 15 anos atrás havia um anarquista japonês condenado a morte em seu país chamado K. Omori. E outro chamado Shimada Ushinosuke. O que aconteceu com eles?

Akinori > Sinceramente não sei o que aconteceu. Mas vou tentar levantar alguma informação, e depois te informo.

ANA > Hoje há prisioneiros anarquistas por aí?

Akinori > Que eu saiba não há nenhum. Mas, recentemente, um companheiro nosso foi preso durante as manifestações anti-guerra. Depois de 20 dias de cadeia foi liberado.

ANA > Você tem contato com grupos anarquistas em outros países da Ásia?

Akinori > Tenho contato com anarquistas de Hong-Kong, e meus amigos contatos com anarquistas koreanos. Mas faz tempo que não escuto nada sobre os meus amigos de Hong-Kong, lá não existe nenhuma organização anarquista específica. A organização de anarquistas koreanos é chamada "Korean Anarchist Network". Mas eu não tenho nenhum contato direto com eles, meus amigos sim. Eu conheço também uma amiga anarco-feminista americana que tem contatos com grupos da Philipinas, mas não tenho muitas informações sobre esses grupos.

ANA > Conhecem alguma coisa sobre o "movimento" anarquista brasileiro?

Akinori > Já vi alguma coisa sobre a FAG no A-Infos, mas não tenho muitas informações sobre o que se passa por aí. Contudo gostaria de fazer contato com grupos anarquistas da América Latina, principalmente da Argentina e do Brasil.