Anarquismo na Nova Zelândia hoje

agência de notícias anarquistas-ana
mr.ana@terra.com.br

Cada vez mais o anarquismo pipoca em países com pouca ou nenhuma tradição de luta libertária. E na Nova Zelândia não podia ser diferente. O anarquista Toby é integrante do grupo Wildcat e editor da revista Thrall, de Wellington. E fala para a ANA das movimentações anárquicas naquela parte do planeta rica em paisagens naturais e terra dos índios Maoris, um dos primeiros povos a usar seu próprio corpo como arte, através das tatuagens e piercings.

Grupos

O movimento anarquista na Nova Zelândia, ou Aotearoa (o nome Maori para Nova Zelândia) é pequeno, mas mostra alguns sinais encorajantes. No momento, há grupos anarquistas funcionando em Auckland, “Class War Youth Anarchist Organisation”, Wellington, o “Committee for the Establishment of Civilisation”, o “Freedom Shop Collective”, e o “Wildcat”, e em Christchurch “Anarchist Round Table”, ou ART. Também há agrupamentos anarquistas informais em Hamilton e Dunedin, e uma seção da união sindicalista “Industrial Workers of the World” (IWW), em Dunedin.

Encontro

Uma recente conferência nacional anarquista organizada pela ART, feita em Chistchurch, no ano passado, atraiu aproximadamente 50 pessoas, o que não é ruim considerando que somente um quarto da população (900.000) vive em South Island e que na Nova Zelândia falta uma tradição de política radical, em qualquer tipo de política, luta.

Atividades e lutas

As atividades desses grupos são variadas. Algumas são focalizadas em lutas locais da comunidade, como os anarquistas de Wellington, envolvidos na tentativa de parar a construção de uma estrada inútil que passará no meio da cidade, que destruirá diversas moradias, incluindo a “Freedom Shop”, que é a única livraria anarquista na Nova Zelândia. A luta contra essa estrada na cidade envolve ocupações, policiais desordenados, manifestações, assim como parar a tentativa dos guardas de segurança de nos tirar para fora da “Freedom Shop”. A “Freedom Shop” ainda está funcionando, mas seu futuro é incerto. A “Class War Youth”, de Auckland, esteve, recentemente, pesadamente envolvida numa greve no ensino médio para apoiar os professores, que estavam participando em uma arriscada greve maciça. Eles também participaram de ações diretas contra a privatização da água em Auckland. A ART em Christchurch esteve envolvida na construção de um centro ativista (já inexistente), direitos de beneficiários, e ajudou a produzir um jornal da comunidade local. A maioria dos grupos está ativa na oposição à guerra das elites americanas “contra o terrorismo”.

Fraqueza

A maior fraqueza do movimento anarquista, acredito eu, é que nós temos muito pouca influência nos locais de trabalho. Em anos recentes nós tivemos alguma influência em lutas da comunidade operária, e em lutas de beneficiários, mas efetivamente não há influência nos locais de trabalho. A IWW está tentando superar isto, e fez um ótimo trabalho ao apoiar a luta dos estivadores, no ano passado, mas a IWW como uma organização não deslanchou ainda.

Crescendo

Por outro lado, o movimento anarquista está agora atraindo uma escala maior de pessoas, do que apenas os punks e hippies aos quais esteve limitado há 10 anos atrás. Tem havido uma mudança do “estilo de vida anarquista” e do anarquismo liberal para um “anarquismo de luta de classes”. Essa movimentação é estimulada pela revista “Thrall”, a maior revista anarquista na Nova Zelândia, produzida por um coletivo de anarco-comunistas e anarco-sindicalistas em Wellington e Christchurch.

Luta de classes

O anarquismo de luta de classes parece ser bem mais relevante às condições na Nova Zelândia hoje, onde nós temos sido sujeitos a um assalto do neoliberalismo aos níveis de vida, salários e condições de trabalho, que colocaram aproximadamente 30% da população abaixo da linha de pobreza. Nós ainda não chegamos a uma situação tão mal quanto à da Argentina, mas a Nova Zelândia decaiu de um dos países mais ricos do mundo nos anos 60 para um dos países com menor nível de vida do 1º mundo atualmente. Entretanto, o assalto neoliberal e a recessão não resultaram em muita resistência da classe trabalhadora. A resistência foi isolada e subornada, assim como a onda de ocupações de terra dos Maoris na metade dos anos 90. A maioria dos neozelandeses é apática e se sente sem poder para mudar as coisas, no geral há pouco interesse na política radical.

Maoris e anarquismo

O assim chamado “movimento anticapitalista” tem recentemente reavivado um pouco seu interesse pelo anarquismo. Nós organizamos muitos “carnavais contra o capitalismo” bem-sucedidos em Wellington. Atraíram até 800 pessoas, o que não parece muito, mas considerando que os protestos na Nova Zelândia tendem a atrair como 50 pessoas na média de anos recentes, os números são, na verdade, relativamente altos. Com a organização dos carnavais nós estabelecemos boas redes com grupos de autodeterminação Maoris anticapitalistas, que são parte da rede internacional Ação Global dos Povos (AGP ou PGA). A AGP da Nova Zelândia estará organizando uma conferência este ano em Wellington. Isso é emocionante porque é a primeira vez que grupos de autodeterminação Maoris foram atraídos pelo anarquismo e pelas formas anarquistas descentralizadas de organização.

Mais infos:

Thrall - POB 22-076 – Christchurch – Aotearoa – New Zealand
e-mail: thrallnet@yahoo.com
www.thrall.orcon.net.nz
www.freespeech.org/thrall

Colaborou Karina Lima, Belo Horizonte (MG)

Agência de Notícias Anarquistas-ANA

Numa cachoeira
folia das gotas do rio.
São águas no cio.

Marcelo S. Silvério

 

Agência de Notícias Anarquistas-ANA