"The
Dole Army" ("O Exército dos Desempregados")
é uma pequena organização da cidade de Melbourne
(Austrália). É um grupo que se dedica a dar informações
para que as pessoas vivam do seguro desemprego do Estado, fundamentalmente.
Na Austrália, não há um limite de tempo para
estar recebendo o seguro desemprego, a pessoa pode viver toda vida
dele.
O
"The Dole Army" é uma organização formada
por anarquistas e no seu site é possível ter informações
e mensagens que incitam a sermos o dono de nossas vidas, dos nossos
destinos, para não servir nenhum chefe ou patrão e viver
de uma forma menos explorada.
Durante
o primeiro fim de semana de fevereiro, um dos integrantes desta organização
articulou duas entrevistas com duas diferentes TVs da Austrália:
o canal 7 e o canal 9, que fariam uma reportagem para um dos programas
rivais destas emissoras, para televisionarem na tarde de terça-feira.
A
intenção do grupo era vender uma história sensacionalista
para obter algum dinheiro para subsidiar movimentos sociais, concretamente
dois projetos anarquistas:"Food Not Bombs" e a livraria
"Barricade Books".
A
entrevista com o canal 9 foi feita na entrada de um túnel de
esgoto. O objetivo era simular que os integrantes de " The Dole
Army" viviam ali dentro (o que não é verdade),
mas a idéia era fazer algo suficientemente sensacionalista,
de forma que eles televisionassem tudo. Nesta entrevista, três
pessoas, sem revelar a identidade, nem mesmo as faces, fingiram comer
e levar uma vida normal debaixo do chão.
Como
era de se esperar, esta reportagem interpretou a história como
coisa de vagabundos que não querem trabalhar e vivem à
custa da sociedade, não obstante, eles conseguiram passar algumas
mensagens como que os imóveis não estão ao alcance
de todos e que as pessoas não são livres para decidirem
donde querem aplicar seus impostos.
Para
a entrevista no canal 7 foram 9 pessoas do mesmo modo: sem se identificarem.
Desta vez simularam uma assembléia onde iam decidir a divisão
de comida para pessoas carentes. A reportagem foi feita numa fábrica
abandonada, supostamente, lugar habitual para as reuniões.
Depois da assembléia, foi realizada uma simulação
que parecia o trabalho normal da organização: pegar
comida de um recipiente de lixo de um centro comercial e distribuir
em áreas marginais.
Igual
ao outro canal, a história que contaram era algo extravagante,
sensacionalista e desvirtuadora; mas eles também conseguiram
mostrar que o primeiro vagabundo que vive às custas dos outros
é o presidente do Governo (John Howard).
Na
terça-feira 5 de fevereiro, tanto o canal 7 como o 9 apresentaram
as respectivas reportagens, decoradas como se fossem um filme de terror,
com a trilha músical do filme Tubarão.
Na
quarta-feira, dia 6, uma cadeia de rádio combinou uma entrevista
com um integrante do "The Dole Army", esta foi a grande
oportunidade. Nesta entrevista foi revelado tudo: que a maioria desses
"atores" não pertenciam ao "The Dole Army",
nem tal organização fazia tais peripécias, nem
viviam nos esgotos, não tinham assembléias, nem dava
comida aos pobres, que o único objetivo era levantar algum
dinheiro.
Automaticamente,
a notícia passou de ser mais uma história do Estado
de Victoria, que pertence a Melbourne, a ser uma notícia de
repercussão nacional, transmitida por todas as cadeias de rádio,
televisão e meios de imprensa escrita de todos os Estados australianos.
Alguns,
tentaram tachar "The Dole Army" de anarquistas sem moral;
outros, deram muitas gargalhadas da competência do grupo. O
resultado: um grupo de quatro pessoas, com pouco mais que uma página
na internet passou a ser uma das organizações mais conhecidas
em toda a Austrália, da noite para o dia. O número de
visitas no site transbordou, entrevistas foram combinadas com rádios,
imprensa escrita e televisão.
Na
realidade, muitos destes meios tiraram as palavras da boca de uma
menina que disse, que tanto o canal 7 como o canal 9 morderam o anzol
como uns idiotas. E tudo isto, somente jogando com os próprios
meios deles: sensacionalismo, competição, picaretagem...
tudo, tudinho foi feito por eles e eles comeram da própria
comida: os meios de comunicação de massas.