Artigos e Notas Referentes à União dos Operários em Construcção Civil

do Rio de Janeiro, publicadas na Secção Trabalhista do diário A Pátria


1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Esta União realizou uma grande reunião na sede da UGHRCS, à Rua Buenos Aires 265

Perante numerosa correspondencia da classe e de muitas delegações de outras associações, teve lugar a posse da nova comissão executiva recentemente eleita.

As 20 horas, deu-se por aberta a sessão, sendo aclamado um membro da classe para dirigir os trabalhos.

Em seguida foi feita a chamada dos membros da nova comissão que estavam todos presentes, tomando posse de seus respectivos cargos.

Depois de breve discurso proferido pelo presidente da mesa, alusivo ao acto, fizeram uso da palavra alguns oradores da associação e das organizações representadas, congratulando-se todos com animo e a consciencia de que são possuidores esses luctadores pela emancipação proletaria.

As 23 horas no meio do maior enthusiasmo, deu-se por encerrada a sessão.

O secretário

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 2 de janeiro de 1923. A posse da comissão executiva do UOCC deu-se na sede da UTHRCS, pois a sede da Rua Barão de São Félix 119 estava interditada pela polícia. No dia 7 de janeiro, no entanto, já é anunciada uma reunião dos tanoeiros na sede da Barão de São Félix. A UOCC ficou “desaparecida” das folhas da Secção Trabalhista até o dia 13 de janeiro, quando é convocada uma assembléia para o dia 17 do mesmo mês, na Barão de São Félix, afim de se discutir a circular da comissão da “Federação dos Trabalhadores da Região Central do Brasil”.

União dos Operarios em Construcção Civil

Esta associação operaria vae se reunir hoje a tratar directamente com o senhor chefe de policia sobre o fechamento de sua séde social vem por meio da imprensa convidar a todos os seus associados e especialmente os militantes para uma assemblea geral a se effectuar hoje, à Rua Buenos Aires 265.

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 3 de janeiro de 1923.

Aos Trabalhadores da Construcção Civil

Relembrando das numerosas vitimas que tombaram e pagaram com a vida, e dos abnegados camaradas que foram de barra fóra, pela conquista da jornada de 8 horas e outros beneficios obtidos pela classe, e analisando o que se está passando com os trabalhadores em “CC”, e como trabalhador que sou desta industria, sinto-me na necessidade de chamar a attenção dos meus colegas, e com especialidade os militantes, para tomarmos qualquer providencia para que se evite a repetição de taes factos.

Companheiros!

Os industriaes estão empregando todos os esforços para burlar a jornada de 8 horas!? Para isso empregam todos os meios taes como: augmento de 20 e 30%, e que os operarios inconscientes aceitam pensando que com essa miséria melhoram a situação. Desnecessario é citar innumeras casas, officinas e obras que já foi abolido o regime de 8 horas e citarei um caso que se acaba de verificar.

Nas obras do Lyceu Francez, sito a Rua das Laranjeiras, e cuja construcção está a cargo da Casa Leopoldo Cunha & Cia., e sendo os serviços de estuque a cargo do explorador Roque. Pois bem: nessa obra, porque um operario estucador consciente não quizesse sujeitar ao regime das 10 horas, foi violentamente demitido, pelo tal mestre Roque, tendo ainda o topete de dizer na frente dos outros operarios que em casa delle era trabalhar 10 horas, quem não quizesse que fosse embora.

E os operarios não souberam responder à altura da afronta, excepto três que abandonaram imediatamente o serviço.

Fatos desta ordem veem-se, infelizmente, em toda a cidade do Rio.

No decorrer do “Centenário” a organização foi impotente para evitar os serviços extraordinários devido à enorme quantidade de operarios vindos de toda a parte e que nunca souberam o que é organização...Mas actualmente, não há razões para tal pois que quando elles estão trabalhando dia e noite, existem innumeros trabalhadores parados, por não quererem se sujeitar a essa miseria.

Companheiros, não podemos permanecer nessa apatia, consentindo que estes infelizes inconscientes continuem a praticar atos desta natureza e derrubem uma das mais belas conquistas que tanto sacrificio custou a todos os que por ella luctaram.

É preciso de uma vez para sempre acabar com os malditos serões!

Todos à organização!

M. J. Pereira (estucador)

Matéria publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 31 de janeiro de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Apezar da chuva, o salão dessa pungente agremiação achava-se repleto de trabalhadores. As 20h foram pelo secretario abertos os trabalhos, sendo aclamado o companheiro Pires para presidi-los. É concedida a palavra ao secretario para a leitura da acta da sessão anterior, sendo a mesma aprovada com uma pequena rectificação (...). Carta pedindo que se nomeie dois camaradas para fazerem parte da “Federação da Região Centro do Brasil” e, ao mesmo tempo, é autorizada a referida commissão a ir a Petropolis conferenciar com os operarios daquela cidade (...) Foi lido um oficio da Federação dos Trabalhadores dos Rio de Janeiro convidando a União a tomar parte em uma reunião a realizar-se no próximo domingo 4 (...) Encerrados os trabalhos as 10h.

Resumo da assembléia geral da UOCC do dia 31 de janeiro publicado na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 2 de fevereiro de 1923. O texto está incompleto e não foi transcrito literalmente. O Pires citado é o militante José Pires (Vide Novos Rumos, de Edgar Rodrigues. pg. 183).

União dos Operarios em Construcção Civil

Considerando que os trabalhadores de todo o mundo propagam o esperanto e o fazem officialmente nas suas relações mutuas.

Considerando que estudar esta maravilhosa lingua auxiliar é caminhar para o futuro e a perfeita communhão humana.

Considerando mais que a par destes altos predicados, tambem é de acessivel a qualquer inteligencia por mais rude.

É que a União dos Operarios em Construcção Civil toma parte como componente no 70 Congresso Brasileiro de Esperanto, a realizar-se no proximo mês de março, nesta capital.

Moção apresentada na assembléia geral de 7 de fevereiro e publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 9 de fevereiro de 1923. Neste mesmo dia, a UOCC convocava seus membros para uma reunião na sede da Barão de São Félix 119, quando haveria uma “conferência sociológica” a cargo de Florentino de Carvalho, sob o tema A grandiosidade das idéas anarchistas e dos cavalheiros que as professam.

União dos Operarios em Construcção Civil

Aos camaradas

Esta associação reunida no dia 7 do corrente, considerando o estado actual da classe e da necessidade de reorganizal-a, para que possa fazer respeitar as conquistas com tantos sacrifícios realizados, assim como activar a propaganda de educação de seus componentes e influir na orientação libertadora de todas as demais classes proletarias, apressando o advento da sua emancipação integral, resolveu confiar aos associados mais conscientes a tarefa de interessar os trabalhadores na obra desta associação, no sentido de que se associem e concorram com as suas actividades para o seu engrandecimento.

Estamos certos de que os camaradas saberão considerar o valor desta obra, e certamente atenderão a este apello, afim de que em breves dias possamos ver a classe unida, empolgada pelo enthusiasmo de outros dias.

Para trocarmos idéas a respeito e tomarmos resoluções pelas quaes se possa realizar algo de practico, convidamos os camaradas a assistirem a reunião a realizar-se no dia 22, do corrente, as 7 horas da noite, em nossa sede social, a Rua Barão de São Félix 119, contando com o vosso comparecimento.

Saudemol-o fraternalmente - O Secretario.

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 18 de fevereiro de 1923. Na parte de Communicados Diversos da Secção Trabalhista, neste mesmo dia, a UOCC informava que havia sido votada no dia 14 de fevereiro uma moção de protesto contra a ocupação do Ruhr pelas tropas franco-belgas: “...hypotecando tambem toda a solidariedade ao proletariado de todo o mundo, para uma acção conjunta contra a nova grande guerra que se forja nos bastidores da política aliada.”

A União dos Operarios em Construcção Civil vae comemorar seu sexto aniversario empossando a nova C. Executiva

São convidados todos os trabalhadores da Industria da Construcção Civil a assistir à reunião de quarta-feira proxima, 4 de abril, às 19 horas, durante a qual será empossada a nossa C.E. e se rememorará a vida de nossa associação, que assignala precisamente naquela data, o 60 aniversario da sua reorganização.

As associações co-irmãs, que já foram convidadas para esta solemnidade, pedimos que tomem em consideração a transferencia que fizemos de 1 para 4 de abril - O secretario, Gravina.

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 1 de abril de 1923. O secretario da UOCC era Pascoal Gravina, militante sindical e ator do teatro operário, fundador do Grupo Dramático Social (1914) e do membro do Grupo Renovação Teatro e Música, até 1935 (vide Os Companheiros - Vol. 5, de Edgar Rodrigues, pg. 28 e 29).

União dos Operarios em Construcção Civil

Séde - Rua Barão de S. Felix, 119

Camaradas!

A situação premente que os trabalhadores atravessam é, em parte, causa da vossa desídia, do vosso abandono pela organização. Refiro-me, claro, a massa dos trabalhadores desorganizados, que se entregam de corpo e alma aos exploradores, aos que abandonam os syndicatos em troca do botequim, da taberna, dos “mafuás”, de todos os centros viciosos, de corrupção e maldade.

Na industria da Construcção Civil verifica-se entre os trabalhadores uma lethargia que não vejo nem sei a que attribuir.

Há trabalhadores que já foram militantes e que hoje vivem afastados completamente da organização. Por que? Terão conquistado todos as regalias que se julgavam com direito? Não! - Terão enriquecido com os proventos que tiraram dos extraordinarios, com os resultados dos malfadados serões da Exposição? - Tambem não!

E todavia não é possivel comprehender a razão do seu afastamento, do seu desprezo pela organização!

Os antigos militantes, especialmente merecem forte censura, pois, continuando a ser as bestas de carga, os explorados de sempre, deixaram a luta, sosinhos, contra o patronato capitalista e autoritario, aquelles que já lutaram com denodo nunca desmentindo pelas poucas melhorias que hoje todos gosamos.

Mas deixemos de parte o que cada um foi e o que actualmente somos e fazemos. Lembremo-nos, sobretudo, que a exploração recrusdesce, augmenta assustadoramente, tornando-se quasi insustentavel a situação que atravessamos.

É necessario, é inadiavel o congraçamento de todas as energias, de todas as vontades.

Unamo-nos, pois! Que os interesses da associação sejam para cada um de nós o que os nossos interesses devem ser para a associação, um estímulo reciproco.

Vejamos que ao nosso inimigo é um só, pois que o capitalismo e o Estado não se apartam. E nós, para os vencer temos que fazer o mesmo que elles: tornarmo-nos fortes, cohesos, invenciveis - dentro das associações de resistencia.

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 4 de abril de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Demostrado está por emquanto os trabalhadores permanecerem alheios ao seu syndicato, jámais poderão conquistar a sua liberdade e o seu bem estar!

Portanto, camaradas, necessario se torna o comparecimento de todos os trabalhadores da Construcção Civil, a assembléa geral a realizar-se na proxima quarta-feira, ás 19 horas.

Antes do inicio dos trabalhos fará uma palestra o camarada Bento.

Os trabalhos constarão dos seguintes pontos:

Leitura da acta;

Balancete do mez de março;

O 10 de maio;

Diversas propostas;

Assuntos geraes.

Avisamos à classe em geral que o expediente desta secretaria, é das 19 as 21 horas, excepto aos domingos, o qual só haverá no caso de força maior.

O 1o. secretário - Cavalcante

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 8 de abril de 1923. O 10 secretario da UOCC no trimestre abril-maio-junho foi João Cavalcante (vide Edgar Rodrigues, Os Companheiros, vol. 3, pág. 81)

A União dos Operarios em Construcção Civil foi fechada

O Sr. Marechal Carneiro da Fontoura terá inteiro conhecimento desta violência?

As classes trabalhadoras do Rio de Janeiro vem atravessando um longo período de calmaria, não se justificando, portanto, o fechamento das associações de classe.

Ainda há pouco, sob o pretexto de que na séde da Construcção Civil se reuniam grupos de anarchistas e que esses grupos tramavam contra as instituições um golpe de força, com objectivo de derrubar o governo, e instaurar nesta capital o regimen dos “soviets” (que irrisão!), foi assaltada essa séde por numerosa força policial sob as ordens do Dr. Dilermando Cruz, 30 delegado auxiliar, e presos cerca de 20 operarios, cuja attitude de respeito à autoridade nada lhe valeu ante a ferocidade dos agentes, que espancaram sem dó nem piedade, José Adão e Antenor Faria.

Este facto se passou, se a memoria não nos mente, na vespera do Natal.

Naquella mesma noite ficou averiguado tratar-se tão só de uma tremenda “pótóca”... mas, não obstante, aquellas infelizes victimas “mofaram” dias e noites nos “xadrezes” da Central, até que o sr. chefe de polícia resolveu attender ao vibrante protesto que o exmo. Senador Irineu Machado levantou da tribuna do Senado.

Não verá, o sr. general Fontoura no acto que os agentes de polícia hontem praticaram contra os operarios da Construcção Civil, um caso digno de immediata reparação?

O sr. chefe de polícia não poderá tolerar que taes violencias continuem a se reproduzir. Isso depõe contra o governo e contra o proprio regimen!

É uma vergonha que lá por fóra se saiba que no paiz “possuidor da Constituição mais livre do mundo” os trabalhadores não tenham, siquer, o direito de se reunir.

Matéria publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 14 de abril de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Tendo a polícia assaltado e fechado a séde na sexta-feira passada (13/4) e a commissão executiva indo por duas vezes a chefia de polícia para rehaver as chaves, e como não nos tenham sido entregues, convido a classe em geral a comparecer a assebléa geral a realizar-se 4a feira (18/4), na rua Buenos Aires 265, para resolvermos qual atitude que devemos tomar para a reabertura da séde. - O secretario

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 17 de abril de 1923.

A União dos Operarios em Construcção Civil está de portas cerradas

Camaradas! A nossa séde foi novamente fechada, à ordem do sr. 30 delegado auxiliar. Não sabemos, não podemos saber quando nos será possivel reunir, sem esta coacção que todo o momento se exerce contra nós.

Ainda ha só 8 dias commemoravamos a passagem do 60 anniversario da nossa reorganização syndical. Nesse dia, como era natural, relembramos todos os nossos sacrificios, os ingentes esforços que temos empregado na luta em que nos achamos empenhados pela reivindicação dos nossos direitos. Lembramos algumas das violencias de que temos sido victimas - só não previmos esta que acaba de nos suprehender!

Companheiros! Não desanimemos, não retrocedamos! Os que violentam os nossos direitos, os que affrontam a nossa liberdade hão de passar, como tantos outros homens têm passado... E a idéa, a quem toda a autoridade e todas as violencias não attingirão nunca, ficará para que os que venham depois de nós lutem por ella e façam o que não podemos realizar.

Hoje, entretanto, prudencia.

Uma commissão especial, constituida por membros da nova commissão executiva e por militantes da vanguarda da União está trabalhando pela reabertura do local.

Opportunamente será feita a convocação para mais uma das muitas reuniões que temos effectuado, assignalando a victoria da razão sobre a força bruta. Esta tem triumphado muitas vezes mas tambem tem sido vencida outras tantas vezes!...

Companheiros! Nem só na Construcção Civil se effectuam reuniões! Hoje, às 13 horas, reunem-se os padeiros. Amanhã, às 20 horas, reunem-se os sapateiros e os alfaiates; depois de amanhã, às 21 ½ horas, reunem-se os empregados de hotéis, restaurantes, etc..., e vós, como conscientes e zelosos de vossas convicções, deveis estar em toda parte onde os trabalhadores se reunem.

Os trabalhadores são uma só familia!

Os assalariados têm todos um inimigo commum; lutam para que todos possam viver egualmente sob o mesmo sol grandioso e fecundo.

Todos podem caber numa só casa - quando essa casa seja de verdadeiros trabalhadores!

Assiste, portanto, a todas as reuniões que se effectuem - A commissão.

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 18 de abril de 1923.

A U.O. Construcção Civil impedida de se reunir - Um operário preso

3 linhas censuradas (borradas)

... deliberação de impedir que hontem se realizasse a assembléa que estava convocada para a séde da União Geral, à Rua Buenos Aires, 265.

Antes da hora marcada já todos os cantos das ruas Buenos Aires, São Jorge, Tobias Barreto, José Maurício e Avenida Passos estavam tomados por policiais civis e militares, com imcum...

3 linhas censuradas (borradas)

O agente Ferreira chegou mesmo a subir as escadas da União Geral, interpelando (borrado) alguns dos presentes...

4 linhas censuradas (borradas)

As autoridades (borrado) entenderam que esses homens, esses idealistas, esses subversores, são todos elementos da U.O.C.C., de modo que, sapateiros, cosinheiros, alfaiates, caixeiros, etc...que por qualquer circumstancias precisem de ir aquelle local, correm o risco de serem tomados por pedreiros ou pintores, elementos indesejaveis, por conseguinte inimigos da lei, da policia, do Estado - (borrado)

Talvez por ser tomado como elemento da Construcção Civil é que foi preso o tanoeiro Antonio Pereira, (borrado)

2 linhas censuradas (borradas)

Matéria publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 19 de abril de 1923. A matéria teve trechos propositadamente extirpados, provavelmente por ordem da censura vigente no Estado de Sítio.

A Construcção Civil foi reaberta

O ministro da Justiça, attendendo à reclamação que lhe fez uma commissão encarregada expressamente de tratar deste caso, mandou entregar a chave ao dono da casa...

Hontem, cerca de 6 horas da tarde, a commissão encarregada de tratar directamente com o sr. Ministro da Justiça do fechamento da séde da U.O. Construcção Civil, levado a affeito, traz-ante-hontem, pela policia, teve a satisfação de poder voltar já senhora da chave do predio e com a notícia de que aquella associação poderá voltar a funccionar livremente.

Antes assim.

S. ex. provou assim não ligar a menor consideração as delações feitas por elementos que entre os proprios trabalhadores praticam, ao que parece, o vil serviço de espionagem. Foi desfeita a denuncia calumniosa, segundo a qual se tratava ali “duma formidavel conspiração anarchista”, confirmando-se de modo claro e evidentíssimo que aquella associação de elementos improductivos, parasitarios, “subversivos profissionaes”, que em realidade merecem um correctivo.

Trata-se, como o sr. João Luiz Alves teve a occasião de saber, duma sociedade de homens trabalhadores, embora revolucionarios, que tem por nobre finalidade a emancipação de todos os homens.

Manoel Pereira, o operario tanoeiro que ante-hontem foi preso nas imediações da União Geral, ainda não foi posto em liberdade. Por que? Seria fazer justiça se o sr. general Carneiro da Fontoura relaxasse o acto arbitrario do seu subordinado, mandando em paz esse operario que só por condemnavel capricho pode ter sido conduzido à prisão.

No proximo domingo, às 18 horas, haverá uma grande assembléa na séde da Construcção Civil.

Matéria publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 20 de abril de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

A Reunião de hoje

Para a assemblea de hoje e por terem de ser tratados assumptos de maxima importancia, conidamos todos os trabalhadores da Construcção Civil, associados ou não.

Companheiros! O 10 de maio esta ahi! Que a nossa cohesão seja mais uma vez posta à prova.

Que a nossa consciencia se affirme como sempre, com a paralyzação geral do trabalho nas fabricas, nas officinas e nas obras! - O secretario.

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 25 de abril de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Amanhã grande reunião para os trabalhadores em Serrarias

É inacreditavel que uma classe como a vossa, trabalhadores em serrarias, composta de centenas de homens, continue alheia ao syndicato, como actualmente se verifica.

Certo é que continuaes a ser victimas dos industriaes, que continuaes a perceber insignificantes salarios em troca de exaustivo trabalho.

O vosso horario é a vontade dos vossos exploradores. E qual a razão de tudo isto? É tão somente pela vossa falta de vontade, pois, sem que sejam organizados jamaias podereis obter a minima regalia para o vosso bem estar.

Necessario é que tenhaes um pouco mais de energia e volteis os vossos olhos para a organização. É nella que encontrareis os vossos irmãos explorados como vós, para, em conjunto, dar combate à exploração de que todos estamos sendo victimas.

Vede que diariamente açambarcadores aumentam os preços dos generos de primeira necessidade sem que para isso haja a minima repressão por parte dos que se dizem defensores do povo!

Compete a nós, aos trabalhadores, aqueles que já estão completamente desilludidos de qualquer providência por parte dos dirigentes, tomar imediatas medidas para combater os açambarcadores que estão de posse de tudo que nós necessitamos e do que somos únicos productores.

A Construcção Civil que tem por objectivo principal a emancipação moral, economica e social dos trabalhadores, seus associados ou não, convidavos a comparecer numa reunião que se realizará amanhã, sexta-feira, 4, às 19 horas, na sede social à Rua barão de São Félix 119, onde resolver-se-á sobre a vossa organização, quer filiada à Construcção, quer formando vosso syndicato.

Fica, portanto, ao vosso critério. É de esperar que os trabalhadores em serrarias despertem e acorram ao apelo que fazemos - A Comissão

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 3 de maio de 1923.

Apello aos trabalhadores da Construcção Civil

Operarios da Construcção Civil! Os memoraveis dias de lucta tenaz por nós realizada contra o patronato, o nosso espírito de organização e de sacrificio postos à prova durante um longuíssimo periodo de tempo, bastaram para nos demonstrar que todos os direitos conspurcados e todas as prerrogativas denegadas podem ser facilmente reivindicadas e mantidas pelos escravos do salário, quando estes entendem de se unir e luctar como classe contra os detentores de todas as riquezas sociaes.

O momento que passa tambem é de luctas e reivindicações. O proletariado continua junjido ao systema de salariato, escravizado, explorado e escarnecido vergonhosamente, porque não decide organizar-se longe dos elementos politicos, alheio as normas automaticas dos conquistadores de posições e de planos.

Camaradas! A União dos Operarios em Construcção Civil continua fiel aos seus principios e fins revolucionários, não se desviou das suas velhas normas de acção.

Organizada sob os principios do Syndicalismo Revolucionário, quer que a todos os productores sejam entregues os elementos da producção em geral. Que o pão e as vestes, a habitação e a instrucção e tudo mais não constituam privilegio dos ricos, dos astuciosos, dos senhores, dos reis - mas que sejam patrimonio comum dos que travalham na nobre intenção de fazer jus ao direito de consumir.

Vinde todos, camaradas, formar nas fileiras da organização syndical! Somos nós os usurpados. Devemos ser nós os luctadores pela acção e pela reivindicação.

Senhores! Militantes velhos e militantes novos! Avante, camaradas! Tomemos a peito a lucta que nos vemos obrigados a manter acesa ininterruptamente contra o capitalismo, contra os patrões exploradores e ladravazes!

A Comissão

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 16 de maio de 1923.

Quem me responde?

Apareceu um dia quem se lembrasse de reunir num só organismo todos os syndicatos profissionaes da Construcção Civil. E a idéa venceu.

Fundou-se a União dos Operarios em Construcção Civil; elaborou-se um programma de reivindicações imediatas e após a indispensavel propaganda, enfrentamos o patronato, na lucta pela conquista das 8 horas de trabalho. A lucta foi renhida, mas conseguimos estabelecer o referido horario que representava uma das nossas mais caras aspirações.

A seguir, deliberamos em nossa associação luctas pelo aumento dos nossos salarios, estabelecendo tabelas mínimas, que deveriam ser postas em practica naquela ephoca, e vencemos. Mas, 7 mezes depois fomos levados a luctar novamente por novos aumentos, pois que os que ficaramos vencendo quando da primeira lucta já não bastavam para a satizfação das nossas necessidades mais urgentes.

Esccusados será de dizer que todas estas luctas e reivindicações foram realizadas sem grandes sacrificios. Os que fizeram foram relativos; não só porque o que reclamávamos era mais do que justo, mas porque tambem os trabalhadores da Construcção Civil estavam - como ainda estão - bem organizados, em condições de vencer com facilidade todos os obstaculos que lhes impuzessem a marcha para a conquista de seus direitos (continua...).

Manoel Bento

Matéria publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 29 de maio de 1923.

Reunião da União dos Operarios em Construcção Civil

Reunião de militantes

Depois de amanhã, às 18 h, na séde da Rua Barão de São Félix 119, deverão se reunir os militantes da União dos Operarios em Construcção Civil para apreciarem a verdadeira situação deste organismo em face da organização operaria nacional e internacional.

Serão apresentados vários alvitres tendentes a provocar a intensidade da propaganda syndical, uns, e outros para solucionar immediatemente certas difficuldades provenientes da situação anormal que o Brasil atravessa e que tem feito decrescer a organização syndical principalmente no Rio, onde o estado de sitio decretado há um anno impede os mais insignificantes movimentos da parte do proletariado revolucionario.

Marques da Costa

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 4 de junho de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Amanhã se vae realizar uma grande assembleia para todos os trabalhadores desta industria

Para a grande assembleia de quarta-feira, 6 do corrente, são convidados todos os trabalhadores da Construcção Civil, associados ou não.

Pede-se, principalmente, o comparecimento dos militantes, que nestes ultimos 3 mezes tem vivido afastados da organização.

Há homens, entre os trabalhadores organizados, que pela sua actuação se tornam escravos dos deveres. E neste caso, estão aqueles que por sua vontade ou involuntariamente, se fizeram elementos da vanguarda revolucionaria.

Companheiros! Um momento de descanso é permitido: é razoável; é humanamente impossivel deixar de o ter um dia. Mas descansar das fadigas que a propria lucta acarreta não é o mesmo que entregar-se à mais absoluta retração, não é o mesmo que abandonar o posto que nós mesmo conquistamos no terreno da peleja contra o capitalismo. Vamos pois, camaradas! Voltae todos para reencetarmos o combate que há de por abaixo a casta parasitaria e dominadora.

A União dos Operarios em Construcção Civil continua de pé, indômita e invencível!

Sua sede, à Rua Barão de São Félix 119, continua franqueada todas as quartas-feiras, são tambem acessiveis a todos quantos pretendam orientar-se e conhecer o rumo que os trabalhadores devem tomar, para se livrarem da tutela do patrão e do Estado.

Ao syndicato, camaradas! Para as fileiras, amigos! Para a barricada, pela conquista de um mundo novo.

O Secretario

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 5 de junho de 1923.

Dos que estão longe...

Uma calorosa mensagem dirigida à União dos Operarios em Construcção Civil

São dois velhos camaradas que vos saudam. Longe de vós! Nestas plagas do sul, o nosso pensamento está convosco. Lembrarmo-nos da Construcção Civil é recordar as luctas grandiosas do proletariado consciente do Rio de Janeiro. Fostes vós quem forneceu o maior numero de combatentes para os movimentos de 917, 19 e 21, movimentos estes, que se não attingiram ao nosso sonho idealístico, foram no emtanto, bellas affirmações da sublime rebeldia que há de levar os povos ao portico da liberdade.

Ainda quando os corvos, cobertos de brancas plumas, procuraram mistificar o ideal anarchico, quem foi que forneceu os mais aguerridos batalhadores para o combate ao Partido Communista?

Fostes vós, camaradas. Foi da Construcção Civil que sahiu a moção dynamica que obrigou a separação do joio do trigo, foi ainda da Construcção Civil que sahiu este grupo de denodados batalhadores que de viseira erguida e peito descoberto, aparou os mistificadores golpes.

À perseguição fostes ainda vós que fornecestes maior numero. Perseguições, deportações, cadeias e agressões fascio-communistas, nada vos tem atemorizado e continuaes impavidos na luta pelo ideal contra as mesquinhas ambições dos burguezes e dos pretensos dictadores.

O futuro é a liberdade sem peias, devastando os ares, espancando os bulcões. E o passado este é o do negrume infinito do absolutismo da dictadura antigmada e do governo do homem pelo homem

Esta mensagem está subscrita por dois velhos militantes do syndicalismo revolucionario, que têm vindo a dar continuas provas ao seu amor à causa da emancipação humana. Os seus nomes, todavia, convem occultal-os...por enquanto. Trata-se de individuos cuja liberdade está regulada pelas Chefaturas de policia...

A belleza deste regimen!!

Marques da Costa

Nota: Artigo publicado na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 8 de julho de 1923. Os “dois velhos militantes do syndicalismo revolucionario” seriam, provavelmente, Domingos Passos e Henrique Ferreira, ambos integrantes da U.O.C.C. e que estavam desde abril no Sul do país escapando das perseguições da Polícia carioca.

Aos pintores da União dos Operários em Construcção Civil

Néo-Syndicalistas, portadores de formulas velhíssimas, que a pouco e pouco vão sendo universalmente rejeitadas.

Anda mouro na costa!...

Aquelles que se têm esforçado por manter incolumme o syndicalismo revolucionario tantas vezes “aggredido”, quantas tem sido alvo de sordidas mystificações, são concitados pelo presente brado de alerta! , a occupar seu posto de combate e a assestar suas armas contra os que neste momento se preparam para uma nova incursão.

Sim, nova incursão!

Não é a primeira vez que se premedita levar por deante tentativas de deturpação dos principios e finalidades do syndicalismo revolucionario.

A differença só existe nisto: antes essas tentativas de deturpação opportunista provinham do elemento burguez, agora são outros os interessados na “falsificação”,,, do systhema.

Mas vejamos quaes são as poderosas razões do nosso alerta!

No “Movimento Operario” de “O Paiz”, está sendo publicado o seguinte manifesto:

“Organização de syndicatos por officio - Aos Pintores - O estado de estagnação em que se encontram os trabalhadores da Construcção Civil é de tal ordem, no que concerne à organização, que nos obriga a meditar sobre os meios mais practicos a empregar, para obtermos um organismo que corresponda “in totum” à aspiração dos trabalhadores.

A experiencia nos indica que nesta industria o Syndicato de officios, com a organização da respectiva federação a seguir, dará melhores resultados que até hoje tem dado organizados em União.

Por estarmos convictos de que assim é, e não nos conformando com o estado de desorganização em que nos encntramos nesta industria, é que, nós, antigos militantes nos constituímos em comité para organizarmos o Syndicato dos Pintores e Annexos.

Para organizarmos o syndicato, que está nos moldes syndicalistas-revolucionarios, contamos com a boa vontade dos companheiros e rogamo-lhes para que estejam attentos à convocação que faremos publicar nos jornaes diarios desta cidade, em muito breve tempo e em local que indicaremos.

Assim organizados por officio, crearemos alma nova, seremos o que já fomos!

Sem desfallecimento para a organização do Syndicato dos Pintores e Annexos - O Comité.”

Como se vê, os membros desse comité, que demonstram ser velhos conhecedores dos methodos de organização profissional e industrial, não revelam o seu nome, o que neste caso seria de importancia capital, afim de incutir na classe a que se dirigem a necessaria confiança para o desejado exito da arrojada iniciativa.

Entretanto, está-se a ver donde virão os elementos que pretendem fundar “um organismo que corresponda “in totum” à aspiração dos trabalhadores”.

A União dos Operarios em Construcção Civil, que é, indubitavelmente, uma das poucas associações que têm sabido no Brasil, manter-se fieis interpretes do syndicalismo revolucionario, tem em seu seio a grande maioria dos pintores que já foi possivel organizar no Rio de Janeiro; em embora soffra, como realmente soffre, o effeito da grande crise que neste momento assoberba todas as organizações operarias do paiz, nada provou, até agora, que a organização por industria dê resultados tão insatisfatorios que os pintores sintam necessidade de se organizarem profissionalmente, fora do local da União.

Nós estamos daqui a adivinhar os intuitos dos néo-syndicalistas, que devem ser os mesmos intuitos dos federalistas de Estado...Mas não queremos ir longe, por agora, para que não torçam as nossas previsões.

Desejamos, todavia, prevenir os incautos, e vamos fazel-o de modo que fique patenteado a maneira pela qual os membros desse “comité syncicalista revolucionario” podem dar provas das suas boas intenções, dos seus propositos que nós presumimos serem nada mais nada menos que divisionistas, antilibertarios portanto.

Na U.O.C.C. observa-se a mais rigorosa autonomia de acção. Cada qual pode tomar a iniciativa que lhe aprouver - correndo apenas o risco de ter ou não o apoio dos seus companheiros.

Se o referido comité está sendo composto de syndicalistas revolucionarios, tão estudiosos da questão syndical que até já concluiram haverem de promover a organização por profissões, não é crível que tenham estado até agora alheios ao único organismo que, desde 1917, tem sido o coordenador da acção de todos os “pintores revolucionários”. Se fizerem, em qualquer tempo, parte ativa da União dos O. em Construcção Civil, por força tomaram conhecimento dos reaes principios de liberdade que a orientam e, “ipso facto”, sabem que jamais foi vedado ali o direito de reunião parcial.

Ao contrario. Na U.O.C.C. sempre se admitiu a constituição das secções profissionaes (que a nosso ver estão peremptoriamente constituidas, reunindo-se, ou não, conforme as necessidades circumstanciaes o exijam). Logo, tal comité é suspeito, só pode ser formado por elementos que pretendam fazer da organização operaria o que esta já tem sido nas mãos de certos aventureiros políticos.

E não me dirijo propriamente à classe dos pintores, a quem se pretende ludibriar sob o pretexto de que só por syndicatos profissionaes será possivel conseguir o bem estar almejado por todos os productores da terra. Não. Dirijo-me aos pintores que teem sabido occupar o seu logar na vanguarda dos syndicalistas revolucionarios, certo de que elles saberão impedir a consumação dessa obra de divisionismo que se está tramando nos escuros corredores do politicismo obreiro.

Marques da Costa

Artigo publicado na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 13 de julho de 1923.

Construcção Civil

Reunião de Militantes

Hoje, às 19 horas, na sede da Rua Barão de São Félix, 119, reunir-se-ão os militantes mais activos da U.O. Construcção Civil para continuarem os trabalhos iniciados na reunião effectuada à 6 do corrente, trabalhos tendentes a dar a propaganda e organização syndical a efficiencia de que neste momento está carecendo ante a obra revolucionaria que nos demais paizes se desenvolve, embora sob a mais rigorosa reacção do capitalismo.

Na reunião de hoje, dos militantes da U.O.C.C. é de esperar que appareçam velhos militantes, ultimamente afastados do seu posto de luta.

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 13 de julho de 1923.

O Novo Salário

A U.O.C.Civil estuda neste momento o problema, sempre enigmatico, das difficuldades da vida.

Não era intuito desta Associação elevar os salarios de todos os que trabalham nesta industria, porque attendendo aos nossos principios de justiça, não é licito pensar que uma determinada classe pode arcar, melhor que outra, com as difficuldades da vida. E, effectivamente, se alguma organização existe, esta deveria por-se ao serviço do interesse geral do povo.

E o que se poderia fazer neste sentido?

No momento presente era protestar, protestar diariamente, contra a alta sempre em augmento dos generos de indispensavel consumo; mas parece que na occasião, é humanamente impossivel, porque, decerto, viriam os adversarios do povo envenenar a questão, dizendo que os “protestantes” estavam “tratando de politica contraria ao governo”; e as garantias constitucionaes estão suspensas; logo, a carga seria certa.

Pensando tudo isso, a U.O.C. Civil limita-se a adoptar e propagar novo salario para atender às necessidades mais prementes dos trabalhadores menos remunerados. E neste sentido que já foi approvada uma proposta, segundo a qual officiaes e ajudantes muito terão que aproveitar.

Estes ultimos são dignos de toda a solidariedade, e decerto serão auxiliados pelos camaradas officiaes, porque, devemos notar, são muitos delles chefes de familias numerosas como nós, e com seis ou sete mil réis que vencem por cada dia que trabalham, não podem dar o pão necessario a todos os que delles dependem.

Naturalmente, depois de se haver resolvido a referida proposta, a União publicará a resolução tomada, para a orientação de todos os interessados. E, ao meu vêr, a União só attenderá a pequenos prazos de espera pedidos por parte dos empreiteiros, e assim mesmo se estiverem de accordo os trabalhadores dessas casas, que venham a pedir os referidos prazos. É bem possivel que os que exploram a industria da C. Civil venham a oppor alguma resistencia; porem, será inutil porque estamos um tanto descansados das lutas em prol das reivindicações immediatas e inadiaveis, e, embora sem recursos monetarios (porque, se os tivessemos, seria desnecessaria a luta, porque não somos egoistas, não nos faltará disposição e destreza no campo de batalha pela vida.

Se os senhores. Interessados na questão de impedir a arremettida da C. Civil vierem, como das outras vezes, allegar injustiça nos salários com o intuito de dividir os trabalhadores, lembraremos-lhe que a reclamação de hoje obedece ao mesmo critério da reclamação referente aos primitivos salarios minimos.

O caso é que a U.O.C. Civil procurando cumprir com os seus deveres, move-se em defesa dos trabalhadores.

É de se notar que durante quasi tres annos esta Associação deixou de lutar no terreno economico, provando assim, a muitos pessimistas da organização, que sem esta é impossivel viver desafrontadamente.

Ahi estão os trabalhadores, acossados pela fome, dentro de suas associações de classes, a coordenar medidas, para minorar seus soffrimentos.

Fala-se em construir casas para o operariado ou coisas que o valha. Pois pela minha parte estou prompto a trabalhar com o abatimento de 5% na construcção dessas casas se forem realmente destinadas a operarios, e para alugar de 70$000 a 100$000. E trabalharia muito satisfeito com 10% de abatimento nas que o aluguel não viesse a exceder os 50$000.

Façam o mesmo os senhores fornecedores dos materiaes, os dos transportes, das Obras Publicas, da City, da Light, os fornecedores dos comestiveis, o medico, a pharmacia, o alfaiate, o sapateiro - e abata-se ainda 99% nas violencias policiaes, que será provavel que se venha a verificar um pouco de alegria e de felicidade entre os trabalhadores.

Emquanto isto não se fizer, os trabalhadores continuarão exigindo augmentos de salarios, até que se resolvam a exigir coisa maior...

Manoel Bento

Matéria publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 24 de julho de 1923.

Reunião Seccional dos Pintores da U.O.C.C.

A primeira reunião parcial que os pintores da União dos O. da Construção Civil effecturam, disse-nos um camarada dos mais interessados na completa organização dos trabalhadores daquella industria deu optimos resultados.

Foi grande a concorrencia, tendo mesmo apparecido a essa reunião velhos militantes afastados desde há muito da actividade syndical.

Foram tratados varios assumptos, como a crescente carestia da vida em face da insufficiencia indiscutivel dos salarios, a necessidade da organização dos pintores por casa (officina), abolição completa do fornecimento de ferramentas e de tudo que concorre para prejudicar os pintores em particular e os trabalhadores da industria da Construcção Civil em geral.

Ficou resolvido reunir todas as sextas-feiras, e que na reunião proxima - que se dtve ralizada hontem - se constituisse uma commissão para organizar uma estatistica relativamente ao numero e importancia das casas que exploram o ramo da pintura.

Segundo ouvimos, um grupo de pintores existe disposto a fomentar a propaganda para o pagamento semanal a todos os trabalhadores da Construcção Civil.

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 4 de agosto de 1923.

Aos Pintores da Industria da Construcção Civil

Um apello do Comité de Organização

Camaradas!

Não devemos, por mais tempo, permanecer na funesta indifferença em que temos vivido durante longos mezes.. A nossa situação, como a de todas as classes operarias , é bastante critica. As nossas familias estão, dia a dia, clamando por um lenitivo, a tantas afflições. Os nossos salarios continuam estacionados, ao passo que os generos de primeira necessidade estão cada vez mais caros. Não temos casa, somos forçados a morar em cubiculos immundos, em fócos de infecção que provocam toda a sorte de doenças.

E pensar que somos nós os operarios, os unicos que contribuimos para a construcção e embellezamento de sumptuosos edificios!

Companheiros, pintores!

É preciso tomar medidas energicas, é preciso a revanche, para conquistar uma superior situação material em prol das conquistas que visam a conquistar qualquer melhoriasenão por intermedio da organização, da força consciente e intelligententemente orientada? A classe já tem realizado varias reuniões, e nomeado um comité de propaganda. Este comité dirige um apello a todos os pintores, afim de que tomem a serio a organização da classe e iniciem uma luta incessante em prol das conquistas que viram a dignificação da classe trabalhadora.

Na sexta-feira, 17 do corrente, às 19 horas, em nossa séde à rua Barão de S. Felix 119, haverá uma grande reunião.

A todos os antigos militantes, como aos novos, dizemos que chegou a hora de cerrar fileiras. Contra a força do patronato é preciso oppor a justiça e a força dos trabalhadores. O convite para esta grande reunião é extensivo a todos os pintores, socios ou não socios.

Todos à reunião - O Comité

Nota - Amanhã reunirá em assembléa geral, a classe. Nenhum militante deve faltar a reunião de amanhã.

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 7 de agosto de 1923.

Os estucadores vão se reunir parcialmente

Está constituida uma commissão de operarios estucadores, alias velhos militantes da União dos Operarios em Construcção Civil, que pretendem, em reuniões parciaes incrementar a propaganda e a organização da classe.

Damos, a seguir, o primeiro appello dirigido aos estucadores, nesse sentido.

Camarada! A desorganização da nossa classe vem perturbando grandemente a marcha das nossas reivindicações economicas e moraes.

O nosso trabalho está sendo depreciado sem que haja por nossa parte uma reacção salutar. Para isso é materialmente imprescindivel a cohesão dos nossos esforços, a nossa acção solidaria.

Assim como os capitalistas tratam de intensificar a todo transe a exploração, devemos nós iniciar sem dissenção a defesa dos nossos interesses diretos.

Ficam pois todos os estucadores e parendizes convidados a comparecer à assembléa que se deverá realizar no dia 9 do corrente, às 19 horas, á rua Buenos Aires, 265, a fim de tomarmos deliberações à respeito.

Esperamos, pois, que todos saibam attender a este chamado, fazendo disto uma questão de dignidade.

A Commissão

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 8 de agosto de 1923.

Grande Interesse

É de grande interesse nosso, operarios em Construcção Civil, libertarmo-nos da situação difficil em que se nos encontramos e bem assim, os demais trabalhadores.

Na assembléa de 10 de agosto do presente anno, que a Construcção realizou, discutiu-se longamente e com acerto a carestia da vida, cuja discussão foi originada por uma proposta, que cogita elevar os salarios dos que trabalham nesse ramo de industria. As opiniões são varias, porem todas convergem para o ponto de melhorar a situação. Vê-se portanto que a construcção civil trabalha com afinco para romper com a actual situação fantastica e assombrosa de vida cara, que tão mal está causando a todos os que vivem de minguados salários.

A U.O.C. Civil interessa-se tanto por reivindicar o pão que nos é arrebatado, que até nomeou uma commissão de estudos scientificos, para facilitar a solução desse assombroso problema.

Os trabalhadores têm deante de si dois impecilhos para remover que são os de acabar com os salarios ridiculos; e o de não consentir no açambarcamento dos generos, “tantas vezes ditos”, de primeira necessidade, e sem vencer estes dois obstaculos, não é possivel alimentar-se bem, nem vestir-se com decencia.

A commissão da C. Civil que ora procede ao estudo desse intrincado problema, virá demonstrar a todas as victimas da exploração, o furto que nos estão fazendo diariamente, de sorte que todos poderemos vêr claro aonde estão parte das causas, que nos causa o nosso mal estar.

Portanto todos os trabalhadores em geral e especialmente os da C. Civil, devem estar attentos na obra que vae ser publicada, em forma de estatistica e a cargo da referida commissão, para depois os trabalhadores saberem a direcção que devem seguir.

Manoel Bento

Matéria publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), nos dias 10 e 11 de agosto de 1923.

A União dos O. em Construcção Civil e a Carestia da Vida

Um importante manifesto dirigido à população

Ao que sabemos, a commissão nomeada pela U.O.C.C. para elaborar um manifesto a ser dirigido aos trabalhadores desta industria e ao publico em geral, sobre as actuaes condições do proletariado, pretende apresentar os seus trabalhos na proxima assembléa, que se effectuará quarta-feira, 15, na séde da rua barão de S. Felix, 119.

Nesse manifesto vêm convenientemente expostos os recursos que os trabalhadores tinham ao seu alcance antes da guerra, assim como os gastos indispensaveis a que estavam sujeitos, mostrando claramente as difficuldades já então existentes.

Traz, além disso, uma tabella de preços dos actuaes generos de gasto inevitavel, confrontada com os salarios vigentes, concluindo por mostrar ante o extraordinario “deficit” existente, a necessidade premente de uma forte e systhematica agitação pela conquista immediata de melhorias sensiveis para a situação economica das classes trabalhadoras, que na realidade é uma situação angustiosa e cheia de afflições.

Manifesto publicado na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 12 de agosto de 1923.

Aos Pintores da Construcção Civil

O secretario da U.O .C.C. enviou-nos o seguinte communicado:

“Os pintores foram convocados para uma reunião às 19 horas de sexta-feira passada, mas por engano. Essa reunião deverá effectuar-se a 17 do corrente mez, às 19 horas e na séde da Construcção Civil, à rua Barão de S. Felix 119.

Há assumptos muito importantes para serem tratados e por isso encarecemos desde já a comparencia de todos os pintores.

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 12 de agosto de 1923.

Evitemos o Confusionismo

A proposito das reuniões parciaes que os pintores e estucadores da Construcção Civil estão realizando

Há perto de um mez, appareceu nos jornaes uma convocação feita por um comité de “revolucionarios” anonymos, comité que se dizia composto de pintores e todos militantes “antigos, cançados e fortes” dos methodos de organização e de luta e já gastos pela U.O.C.C.

Tratava-se da fundação do Syndicato dos Pintores, sob o pretexto de que esta classe profissional estaria completamente dividida, desorganizada, e que não seria possivel fazer della o que já fora sem que se fizesse, primeiro, a “necessaria” revisão de costumes...

Combati immediatamente essa pretensão absurda, em artigo que publiquei na “A Patria”; e de tal modo o fiz que os anonymos “revolucionarios” do comité dos pintores não mais pensaram no seu syndicato nem na sua Federação de Industria.

Pelo menos não tornaram a dar signal de si, embora tivessem promettido annunciar, “dentro em breve”, o dia, hora e local da reunião.

A esse tempo, porque já houvessem pensado nisso ou porque entendessem de o fazer para de facto organizarem todos os pintores dentro da União dos Operarios em Construcção Civil, ou ainda para ver se descobriam, em algumas das suas reuniões, se os que tinha vontade de transformar a União em syndicato eram realmente “militantes” do syndicalismo revolucionario, - alguns camaradas, entre elles Cavalcante, Garrido, Pedro do Valle e Aniceto - em cujas intenções ninguem poderá ver o espirito divisionista do referido comité - resolveram effectuar algumas reuniões seccionais, sob a allegação, aliás justíssima, de term necessidade de tratar de seus interesses profissionaes.

Do que na primeira dessas reuniões se passou já “A Patria” deu notícia.

Foram tratados varios assumptos como a crescente acrestia de vida em face da insufficiencia indiscutivel dos salarios, a necessidade da organização dos pintores por casas (officinas), obras, abolição completa do fornecimento das ferramentas (espatulas, etc.) e de tudo que possa concorrer para prejudicar os interesses dos pintores em particular e aos trabalhadores da industria em geral.

Ficou resolvido reunir todos as sextas-feiras: e que, na reunião proxima se constituisse uma commissão para organizar uma estatistica relativamente ao numero e importancia das casas que exploram o ramo da pintura.

Nem uma só voz se ergueu para lembrar ou propor a formação do syndicato que, se dermos crédito ao que disse o “comité dos syndicalistas anonymos” deveria ser a maior preoccupação dos pintores de construcção civil.

Os factos, portanto, comprovaram a razão, da que eu havia dito; e além disso, desmentiram categoricamente as affirmações feitas no manifesto-convocação que o “comité” fez publicar.

Mas desse “comité” fazem parte aquelles que nestes ultimos tempos têm provocado todas as divergencias no seio dos trabalhadores de todas as industrias, elementos perigosissimos para a organização, já pela pyrrhonice dos seus propositos já pelo espirito de sizania que os anima.

E dahi vêm os motivos da reincidencia, da persistencia tendenciosa do “comité”.

Não se trata, em absoluto, da formação de qualquer syndicato profissional. Os trabalhadores da Construcção Civil que formam a União são ainda uma força precisamente porque estão integrados num só organismo; e se se dividirem tornar-se-ão fracos, impotentes, passarão a ser, além dos mais, motivos de discrepancias proficionalistas e corporativistas.

Aos militantes que decidiram convocar os pintores para as reuniões parciaes que se estão realizando, e sobre quem está toda a responsabilidade dos bons e maus resultados que dessas reuniões possam advir, eu lhes mostro, antes do resto, a ultima nota do famigerado “comité”:

“O Comité Pró-Syndicato dos Pintores e Annexos, tendo em vista a acceitação que teve a idéa da organização dos pintores em syndicato, vêm por esta forma, congratular-se com os camaradas que , na União dos Operarios em Construcção Civil “conquistaram” o direito de reunirem-se parcialemente. Não fosse a “nota” deste comité, em data de 11 do p.p. mez, e taes reuniões não se dariam, porque, teriam a combatel-as, os que de outras vezes já o fizeram, e se “enguliram” taes reuniões neste momento, é por sentirem-lhes fugir terreno debaixo das solas dos sapatos, agora é tarde...

A acceitação que teve a idéa da organização do Syndicato é tão patente, que não deixa a manor duvida sobre a organização do Syndicato. Se alguem ainda o duvida que ausculte a cada um dos “pintores militantes activos” e certificar-se-á desta verdade.

Ate’a reunião de 17 do corrente, onde lá estaremos todos irmanados para a organização do Syndicato dos Pintores e Annexos.”

Essa é, alias, a linguagem de todos os partidarios da...“frente única”.

Acho que os camaradas pintores devem procurar quem entre si está agindo com taes propositos, por demais conhecidos com propositos de indigna politiquice, tomando as necessarias precauções contra a deturpação velhaca que se vem fazendo dos objectivos que as secções profissionaes da U.O.C.C. pretendem realizar.

Agora aos estucadores, que, segundo declararam pela imprensa, pretendem preparar a classe para novas conquistas moraes e materiaes.

São ainda, velhos militantes da União dos Operarios em Construcção Civil os que tomaram essa iniciativa.

Não há, pois, razão de qualquer movimento divisionista. Mas não seria melhor e mais coherente que os estucadores se reunissem na séde da sua propria associação?

Positivamente era isso que se deveria fazer.

Depois, os interesses dos estucadores, sob os pontos de vista moral e material são os interesses dos demais trabalhadores da Construcção Civil - os mesmos dos trabalhadores de todas as industrias.

A não ser para tratar de assumptos estrictamente profissionaes, nada há que justifique essas reuniões particulares.

Os estucadores, como os pintores, devem ter sempre em vista que todas as victorias alcançadas nos movimentos realizados são devidas as condições como a União soube organizar-se como se mantem organizada.

Era preciso que se tivesse provado a ineficacia da organização por industria, para que acceitassemos a experiencia doutro modo de organização.

Mas esse methodo, todavia, não seria mais o de organizar por profissões, por demais vetusto, decahido, que os trabalhadores de todos os paizes vão pondo à margem.

Tal methodo só poderia aproveitar neste momento, aos nossos inimigos. E como é a estes, principalmente, que devemos contrariar, segue-se que tudo devemos fazer de modo que se mostre e assegure a unidade da nossa acção e o desproposito e a inacceitabilidade dos seus “convites”, dos seus “apellos”, das suas “notas”, transbordantes de disciplina...e de “frentismo unicista”.

Marques da Costa

Matéria publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 14 de agosto de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Na reunião de amanhã que terá inicio às 19 horas, na séde da rua Barão de São Felix 119, é provável que a commissão encarregada de elaborar o manifesto a ser lançado em publico sobre as precarias condições economicas do proletariado apresente os seus trabalhos.

Por isso, além da presença de todos os militantes, encarecemos a presença de todos os trabalhadores desta industria. - O secretario.

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 14 de agosto de 1923.

Aos Estucadores e Classes Annexas

Convida-se todos os estucadores para a reunião que se realizará quinta-feira, 16 do corrente, às 19 horas, à rua Barão de S. Felix n. 119.

Esperamos que todos acudam ao chamado, deixando de parte as questões pessoaes que tanto nos tem prejudicado e beneficiado aos exploradores, pois o lenma delles é: divide e vencerás.

Nós, companheiros, unidos, podemos fazer alguma coisa, não só para nós, como também para nossos filhos.

Todos à reunião!

A Commissão

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 14 de agosto de 1923.

Aos Pintores

Por engano, foi convocada esta classe para reunir-se sexta-feira proxima passada, porém, a reunião terá logar amanhã, às 19 horas, na séde dos Operarios da Construcção Civil. À rua Barão de São Felix 119.

Devido aos assumptos de alto interesse que temos a tratar e resolver, esperamos a presença de todos.

É dever de todos comparecer.

O secretario

Convocação publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 16 de agosto de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Na reunião de quarta-feira será lido, impreterivelmente, o manifesto sobre a carestia de vida e a necessidade de uma forte campanha a favor do augmento dos salarios inferiores.

A commissão tem os seus trabalhos concluidos.

Motivos imprevistos privaram-na de apresentar o longo e circunstanciado manifesto, quarta-feira passada; mas medidas foram tomadas para que a classe não deixe de tomar conhecimento, na proxima reunião, dos resultados a que chegaram os companheiros acclamados para estudarem o assumpto “Equiparação dos salarios”- e por isso concitamos todos, sem excepção, para a grande assembléa que vae realizar às 19 horas do proximo dia 22 - O secretario.

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 19 de agosto de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

AOS PINTORES

Na reunião realizada em 17 do corrente, ficou deliberado reunir-se todas as sextas-feiras.

No proximo dia 24 do corrente, às 19 horas, realizar-se-á uma reunião para a qual pede-se o comparecimento da classe em geral.

Os pintores que de certo tempo a esta parte têm andado afastados da organização, pede-se o seu comparecimento.

Nesta reunião serão ventilados assumptos de importancia para todos.

Todos à reunião - A commissão.

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 22 de agosto de 1923.

“A PESTE RELIGIOSA”, DE JOÃO MOST

Aos socios quites da União dos Operarios em Construcção Civil, está sendo distribuido gratis, o folheto de João Most, “A Peste Religiosa”, cuja aquisição foi feita com parte dos fundos da extincta “Legião Amigos do “O Trabalho”, publicação suspensa com a decretação do actual estado de sitio.

A distribuição está a cargo do grupo de Propaganda Social, que foi imcumbido dessa tarefa pela ultima assembléa da Legião.

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 25 de agosto de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Para a assembléa que se realizará hoje, ás 19 horas, são convidados todos os trabalhadores em Construcção Civil, associados ou não, para tratarmos de assumptos importantes e de interesse para a classe em geral.

É dever de todos comparecerem ás reuniões que se effectuam semanalmente, ás quartas-feiras, sempre ás 19 horas, para conhecerem de perto todo o movimento da associação, ao envéz de darem ouvidos aos máos elementos que tudo fazem para a desorganização da classe. Todos à reunião - O secretario.

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 29 de agosto de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Para a assembléa que se realizará amanhã, quarta-feira, ás 19 horas, são convidados todos os trabalhadores em construcção civil, associados ou não.

Vamos tratar de cousas importantes e de interesse para a classe em geral, ainda a respeito do assumpto "equiparação" de salarios e sobre a attitude que devemos tomar deante da situação premente e deploravel em que se debate actualmente o proletariado face da alta constante de tudo quanto nos é necessario á vida.

Chamamos a attenção da classe em geral para comparecer ás assembléas que se realizam semanalmente as quartas-feiras, ás 19 horas, para conhecerem de perto todo o movimento da nossa associação.

Lembramos aos camaradas que querem fazer suas offertas de livros para serem enviados para o norte, para satisfazermos um pedido que foi feito, que poderão entregar na secretaria ou ao zelador, das 8 as 20 horas, todos os dias uteis, para serem enviados com a remessa que segue brevemente.

O secretario

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 11 desetembro de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Hoje, ás 19 horas, effectuar-se-á a assembléa semanal desta União, para a qual estão convidados os trablahdores da industria da construcção civil.

Pede-se o comparecimento de todos o militantes, pois há assumptos de importancia a tratar.

Convidam-se todos os pintores a se reunirem sexta-feira proxima, 21, ás 19 horas, para tratarem de assumptos importantes e de interesse para a classe. Esperamos o comparecimento de todos, sem excessão.

Chamamos a attenção dos camaradas que constituem commissões para que não faltem. - O 1o. secretario.

Chamamos attenção dos socios que se acham em atrazo a virem se quitar o mais breve possivel, concorrendo assim para o bom funcionamento da thesouraria. - A commissão.

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 19 desetembro de 1923.

A GREVE DOS TECELÕES DE PETRÓPOLIS

Um protesto de U.O . em Construcção Civil contra as violencias policiaes

na reunião que se effectuou ante-hontem a União dos Operarios em Construcção Civil apreciou o actual movimento dos operarios tecelões do Districto federal e de Petropolis, approvando a seguinte moção, com referencia ás violencias policiaes praticadas pela policia, nos ultimos dias, naquella cidade fluminense:

"Camaradas!

A policia sempre solidaria em tudo com as attitudes do capitalismo assume ante as reclamações reivindicatorias do proletariado revolucionario, acaba de se collocar ao lado dos industriais de Petropolis, na luta em que estes se encontram contra os operarios que vivem do desenvolvimento da mesma industria, e assaltaram a séde da União dos Operarios em Fabricas de Tecidos, cerrando as suas portas e prendendo, arbitrariamente alguns dos seus mais destacados militantes.

Estamos, pois, em frente de mais uma das tantas violencias que o proletariado brasileiro tem soffrido neste regimen de falsa democracia e por conseguinte no dever de levantar mais uma vez o nosso protesto vehemente contra a inominavel acção dos agentes da autoridade republicana.

Os trabalhadores texteis de Petropolis, como os do Districto Federal, têm direito irrecusavel de se declararem em gréve e de se reunirem onde entendam e como queiram, mesmo que para regular esse direito os detentores das redeas do Estado invoquem os dispositivos de sua Constituição.

E por conseguinte o acto da policia, cerceando áquelles companheiros a liberdade de acção e de reunião, sobre ser inconstitucional é um attentado aos nossos legitimos fóros de dignidade e de independencia, pelo que nos apressamos á pratica da mais decidida e franca solidariedade para com os directamente attingidos pela ultima prepotencia policiesco-patronal.

Rio, 19 de setembro de 1923.

A União dos Operarios em Construcção Civil

Matéria publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 21 desetembro de 1923.

Uma Reunião de Militantes da União dos Operarios em Construcção Civil

Na proxima segunda-feira, ás 19 e 1/2 horas, no local da rua Barão de São Felix, 119, reunir-se-ão para tratarem de assumptos muito serios, e respeitantes a interesses exclusivos da associação de classe, os militantes da vanguarda da União dos Operarios em Construcção Civil.

São convidados para essa reunião, especialmente os seguintes militantes: Francisco Coelho, Manoel Ferreira de Castro, Constantino Ramos, Antonio de Almeida, Antonio Ferreira Dias, Alfredo Mesquita, Victor Birutti, Manoel Mahar, João F. da Silva, Silverio Araujo, Celestino Ferreira Nunes, José Lopes, José Marques de Carvalho, José Ribeiro, Serafim dos Anjos, Manoel Affonso Gonçalves, Alberto da Silva, Cypriano J. Marques, João Norberto dos Santos, Laureano Teixeira, Guilherme H. G. Henriques, Antonio Gonzales Garcia, Henrique Ferreira, Izaltino José da Motta, José Alvares de Almeida, Deolindo Ferreira, Joaquim Guilherme dos Santos, Antonio Pereira da Silva, Manoel Gomes, Licinio de Almeida, Manoel Ribeiro, Luiz Saturnino, Antonio Pereira dos Anjos, Antonio Gonçalves, Manoel Tranquilino, Frederico Garrido, Antonio Caetano de Almeida, José Augusto, Vicente de Mattos, Aureliano Silva, José de Almeida, Eduardo Francisco, Domingos Martins, Wencesláo Moreira, Antonio Ferreira Dias, João da Rocha, Francisco Martins, Durval Vieira, Albino Francisco de Barros, Henrique da Encarnação, Victorino José da Silva, Manoel do Nascimento, João Moura, Augusto Joaquim da Silva e José Samonica, Henrique Ferreira, José Pires, Antonio Baptista, M. Paiva, Ulisses de Carvalho, José Martins, Domingos Passos, Marques da Costa, Manoel Bento, Bernardo Barros, J. A. dos Santos, João Aniceto, Arlindo Vicente, João Cavalcante, Ernesto Gravina, Abilio Lobo, Antonio Maria, Joaquim Gonçalves, José Martins, Severino Lins, Amaro de Sant'Anna, M. Gomes, Joaquim Ronda, João Domingues, Julio e Clementino Galhardo.

Nota muito importante - O companheiro que faz esta convocação tem a convicção de que não é possivel ter na memoria o nome de todos os militantes duma associação como a U.O. Construcção Civil e que outro, portanto, em seu logar, omittiria como elle mesmo, os nomes de alguns cuja presença é tão necessaria, a esta reunião como a de qualquer outro. Por isso, certo de que, tratando-se, como se trata neste caso, de camaradas conscientes todos comprehenderão os motivos por que seus nomes terão sido esquecidos e espera que se considerem convidados, apparecendo a reunião de segunda-feira.

Convidam-se todos os trabalhadores em Construcção Civil, associados ou não, a se reunirem em assembléa geral quarta-feira proxima, 26 do corrente, ás 19 horas para tratarmos novamente da questão "equiparação de salarios e carestia de vida" e outros assumptos importantes.

Lembramos a todos que nesta assembléa será acclamada a commissão executiva que terá que tomar posse no dia 30 do corrente em hora que será antecipadamente annunciada. Desde já convidamos a todas as associações co-irmãs a se fazerem representar - O secretario.

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 22 de setembro de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Convidam-se todos os trabalhadores em construcção civil associados ou não, a se reunirem em assembléa geral amanhã, quarta-feira, ás 19 h para tratarmos novamente da questão "a equiparação dos salarios e a carestia de vida" e outros assumptos importantes.

Lembramos a todos que nesta assembléa será acclamada a commissão executiva que terá de tomar posse no dia 30 do corrente em hora que será antecipadamente annunciada. Desde já convidamos a todas as associações co-irmãs a se fazerem representar - o secretario

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 25 de setembro de 1923.

União dos Operarios em Construcção Civil

Esta União concita os seus associados a se incorporarem aos excursionistas que irão a Petropolis confraternizar com os trabalhadores daquella cidade. A excursão realizar-se-á domingo 30 e os excursionistas partirão da Praia Formosa no trem das 6 horas da manhã.

Os que desejem assistir ao espetaculo que se realizara a 29, no theatro Capitolio, a favor dos grevistas tecelões, poderão embarcar no sabbado mesmo, no trem das 17:50 em companhia do corpo scenico e da orchestra do grupo Renovação.

Levamos ao conhecimento da classe e dos trabalhadores em geral que por iniciativa voluntaria de dois camaradas foi creado um curso pratico de protuguez e arithimetica e outro elementar, ficando as aulas a cargo dos mesmos camaradas que leccionarão ás segundas-feiras, quintas e sextas, das 20 as 21 horas, podendo ser frequentado por adultos e creanças de ambos os sexos.

Lembramos a todos os trabalhadores em Construcção Civil, associados ou não, que segunda-feira, 10 de outubro, ás 19 horas, se realizará uma secção solemne para a posse da nova commissão executiva.

Convidamos e esperamos a presença de todos.

Convidamos a todas as associações co-irmãs (sem excepção) a se fazerem representar em nossa sessão solenne que se realizará segunda-feira 10 de outubro, ás 19 horas, para a posse da nova commissão executiva.

Este convite estende-se a todos os trabalhadores em geral - O 10 secretario.

Artigo publicado na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 28 de setembro de 1923.

O QUE OCORREU NA ULTIMA ASSEMBLÉA DA U. O. EM CONSTRUCÇÃO CIVIL

Da secretaria da União dos Operarios em Construcção Civil, recebemos a seguinte nota-resumo dos trabalhos realizados na sua ultima assembléa geral.

"Aberta a sessão, o camarada secretario pede aos presentes para acclamarem um companheiro para dirigir os trabalhos. É dada, a seguir, a palavra para o camarada M. Gomes, para realizar a annunciada palestra "A moral operaria".

Deixa de ser lida a acta por motivo que foi explicado pelo 20 secretario.

Passa-se a ordem do dia. Em primeiro logar soffrem discussão os actos do comité federal da F.O.R.J. Fala demoradamente sobre o assumpto um camarada delegado, que explica o andamento que têm tido os trabalhos do comité. Outro camarada, falando sobre o assumpto, propõe que a Construcção Civil proponha a F.O.R.J. a edição de "O Trabalho", que já foi publicado pela U. dos O . em Construcção Civil. Falam varios camaradas sobre o assumpto, sendo approvado.

Foi resolvido que a commissão executiva cedesse o salão do Grupo dos Emancipados para a realização de uma conferencia sobre "A descoberta da America".

Em assumtos geraes fala um camarada explicando que por uma vilania foi despedido da casa onde trabalhava.

Um camarada lembra que os syndicatos devem ser verdadeiros clarins de incitamento aos seus camaradas, para que não se submettam ás tyrannias patronaes.

É lido o balancete do mez de setembro e nomeada uma commissão para o rever.

Tomadas outras medidas de caracter particular, foi encerrada a sessão as 22 horas.

Artigo publicado na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 6 de outubro de 1923.

CONCEPÇÃO ANARCHISTA DO SYNDICALISMO

Uma advertencia áquelles que desejem lêr esta importante obra postuma de Neno Vasco

Communico que attendendo a que muitos camaradas não terão opportunidade de adquirir o livro de Neno Vasco, - "Concepção Anarchista do Syndicalismo" - embora o seu preço, 1$500, seja relativamente baixo, a União dos Operarios em Construcção Civil resolveu facilitar a sua leitura aos trabalhadores em geral, para o que destinou alguns exemplares do excellente livro, que irão sendo emprestados a medida que os pedidos forem feitos na secretaria.

Será conveniente que os companheiros que desejem tomar emprestado o referido livro facám seus pedidos verbalmente na secretaria, ás quartas-feiras, das 19 horas em deante. - O secretario.

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 7 de outubro de 1923.

Aos trabalhadores da Construcção Civil

IGNORANCIA OU MÁ FÉ?

Como trabalhador syndicado e componente da União dos Trabalhadores em Construcção Civil, eu não podia ficar calado, sob pena de ser considerado cumplice daquelles que vieram, pelo matutino "O Brasil", assacar as mais cavilosas mentiras e accusações infames contra seus desaffetos pessoaes, allegando que o fazem pelo amor que tem á organização e á sua classe; e por isso aqui venho, idignado, insurgir-me e lancár em publico o mais vehemente protesto contra essas mentiras e essas infamias, assignadas por um mysterioso e pretendido grupo de operarios.

Naquelle arrazoado, que sahiu com o sub-titulo Vida ou Morte, vislumbrei, aliás intenções mais offensivas que deffensivas da nossa associação.

As affirmações feitas por aquelle grupo não passam duma refinadissima e inescrupulosa mentira!

Esses individuos (ou esse individuo?...) são uns cobardes!

Sobretudo porque não tiveram (ou não teve) a altivez, a dignidade de assignar com os seus (ou o seu?) verdadeiros nomes aquillo que affirmam e que estão (ou está) no dever de provar.

Dizem os encobertos que a U.O. em Construcção Civil não é mais do que um centro de propaganda anarchista; entretanto nos dão elles mesmos, os anonymos, provas do contrario, quando dizem ser componentes da mesma Construcção Civil e como taes convidam os trabalhadores em geral, desta industria, a se reunirem numa assembléa que será prevismente annunciada.

Desorganziação; desorganziação, é o que aquelles individuos estão provocando.

Agora, eu, que não sou idolatra de ninguem e tenho em vista o que deve e convem que seja o engrandecimento moral da organização operaria estou no direito de formular essa pergunta:

Porque aquelle anonymo não desafivela a mascara e vem contar o caso direito, dizendo que age de má fé, como esbirro, como d,e,s,o,r,g,a,n,i,z,a,d,o,r?

Isso sim, deviam fazer e dizer todos aquelles que fazem parte dos incontaveis grupos que por ahi andam com identicos fins.

E agora, assumindo a devida responsabilidade dos actos que pratico, ahi fica firmado meu nome.

Manoel Gomes

Matéria publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 18 de outubro de 1923. Manoel Gomes, importante militante da UOCC, repelia as tentativas dos bolchevistas de enfraquecer a sua organização através das calúnias e mentiras publicadas em outros órgãos de imprensa, além das tentativas divisionistas que estes praticavam em todas as organizações onde os anarquistas fossem hegemônicos. Nas memórias de Octavio Brandão, este admite o uso dessa tática em relação a UOCC. Manoel Gomes foi deportado para a Clevelândia no ano seguinte, de onde conseguiu evadir-se.

A UNIÃO DOS OPERARIOS EM CONSTRUCÇÃO CIVIL REUNIU ANTE-HONTEM

E aprovou a iniciativa do Comité Federal da F.O.R.J., promovendo um festival de solidariedade aos tecelões em greve.

A reunião de ante-hontem da União dos Operarios em Construcção Civil esteve concorridissima e nella se discutiram e resolveram assumptos de summa importancia e vital interesse. Ás 19 horas estava repleto o salão. Sob um alarido esfusiante provindo das leves conversações e das discussões quentes que dezenas de grupos mantinham, formados aqui e ali, entre as centenas de assistentes, o secretario assoma sobre os estrado amplo da mesa, faz soar a campainha electrica, pede silencio e logo que aquella animadora algazarra é dominada, dá a sessão por aberta e convida a assembléa a que indique e acclame os individuos que irão compor a mesa.

Constavam do expediente um officio da Alliança dos Trabalhadores em Marcenaria, uma circular da Federação Operaria do Rio de Janeiro e outra da Confederação Sindicalista Cooperativista Brasileira. Sobre esta, que era um convite para que a Construcção Civil coparticipasse das reuniões dos presidentes que a Confederação promove para effeito dum “accordo tactico”, houve demorada discussão, sendo resolvido, por fim, a não coparticipação nessas reuniões, por varios motivos que o secretario ficou incumbido de communicar opportunamente aos signatarios da circular convite.

Na ordem do dia, o assumpto mais relevante foi, sem duvida, a greve dos tecelões.

A União dos O. em Construcção Civil approvou incondicionalmente a iniciativa que o Comité Federal da F.O.R.J. tomou, de realizar um festival em favor dos grevistas.

Secundando practicamente o gesto do Comité, e mesmo em attenção aos reiterados apellos dos tecelões, foi pela assembléa aberta uma quete que rendeu imediatamente 150$000, registrando-se particularmente algumas contribuições relativamente vultosas.

E foi assim, nesta ordem e sob esta acoroçoadora impressão que ps trabalhadores da U.O.C.C., na assembléa de quarta-feira, se prolongaram até as 22 horas certas.

UM APPELLO AOS TRABALHADORES DA CONSTRUCÇÃO CIVIL

A secretaria da U.O. em Construcção Civil pede-nos a publicação do seguinte appello:

“Companheiros!

É um dever de solidariedade o que temos a cumprir para com os tecelões em gréve.

A U.O. Construcção Civil na sua ultima reunião, não só resolveu apoiar o festival que o Comité federal da F.O.R.J. vae promover, como tambem decidiu angariar entre os seus membros recursos materiaes, - algum dinheiro, enfim – para o que depositou a competente lista na thesouraria, onde cada um subscreverá o obulo com que possa concorrer para a manutenção da vigente gréve dos operarios texteis.

E nós temos o dever de provar que não somos indifferentes á luta que se travou ha mais de dois mezes entre operarios e patrões da industria de lanificios e que está sendo mantida heroicamente, abnegadamente, pelos nossos irmãos.

Provemos todos que albergamos em nossos peitos os mais sãos principios, os sentimentos mais sagrados de solidariedade!”

Matéria publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 2 de novembro de 1923.

UM PROTESTO CONTRA OPERARIOS DA CONSTRUCÇÃO CIVIL

Considerando que a jornada de 8 horas de trabalho, sem duvida a maior e mais custosa de todas as conquistas immediatas até agora realizadas pela classe trabalhadora, deve ser defendida por todos os que têm nitida comprehensão dos seus deveres de assalariado, eu, que me preso de haver adquirido essa comprehensão, venho lançar o meu mais forte protesto contra os companheiros carpinteiros que na casa L. Marques & Irmão estão trahindo aquela conquista, mesmo depois de conhecerem a attitude de nós todos pedreiros e ajudantes, assumimos ante a sua trahição.

Os camaradas carpinteiros têm o dever de reflectir sobre o seu desacertado procedimento; vêr que têm a obrigação de deixar, de vez, o serviço ás 4 horas, não preterindo os interesses da classe a que pertencem, que são na verdade os seus sagrados interesses.

O meu protesto fica aqui.

E espero que na assembléa de quarta-feira, 21, os companheiros cujos nomes me abstenho de citar apareçam para darem á classe as explicações que lhe têm a direito de prestar.

Ernesto Gravina

Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 16 de novembro de 1923.