Com 8.511.965
km² e uma população de cerca de 160 milhões de habitantes, "encontrado
pelos navegadores portugueses em 1500", colonizado à força de chicotadas
e da decepação de pares de orelhas com as mãos dos capitães do mato",
cresceu pela força do trabalho escravo, como os demais países "descobertos"
por espanhóis, italianos, holandeses, franceses, ingleses e outros.
A questão
social começou quando uns poucos figurões alugaram e compraram braços
humanos para desbravar a terra, abrir estradas, construir pontes,
moradias, carruagens e tudo o mais capaz de proporcionar uma vida
confortável aos comandantes da miséria e do progresso do Brasil.
Nos quase
500 anos de história aconteceu de tudo um pouco: compra e venda de
gente como nós nos leilões em praça pública, uso de escravos novos
para reproduzir filhos (mão-de-obra com pouco custo e nenhum risco)
com escravas sadias, trabalho pela comida, trapaças para tomar terras
férteis aos nativos, prisões, espancamentos a gosto dos patrões e
tudo o mais que o cérebro humano é capaz de imaginar para dominar
seus semelhantes. E eram todos boas almas tementes a Deus...
A opressão
seguiu-se às fugas e à formação dos quilombos, o mais importante foi
instalado em Palmares (1602-1695), resistiu quase um século, teve
20 mil habitantes vivendo em comunidade sem leis nem amos. Zumbi e
seus companheiros anteciaparam-se a Tiradentes dois séculos tentando
formar uma nação dentro do Brasil.
Independente
em 1822, no grito do português Pedro I (4º de Portugal), o Brasil
foi palco de muitas fugas e revoltas populares: a Setembrada e a Novembrada
(1831); Levante de Ouro Preto (1833); a Sabinada (1837); a Balaiada
(1838); a Cabanagem (1835-1840); a Guerra dos Farrapos (1835-1845);
a Revolução Liberal (1842); a Revolução Praieira e a Proclamação da
República em 1889. Pouco antes (13 de maio de 1888) havia sido promulgada
a Lei Áurea acabando com a prática de comprar e vender gente.
A rebeldia
iniciada na contramão pretendia mudar a prática patronal, surrada,
vergonhosa, anti-humana!
Do velho
mundo chegavam as idéias revolucionárias de navio, em livros publicados
na Europa. Entravam pelos portos do Rio de Janeiro, de Santos, atravessavam
as fronteiras invadindo o Brasil um pouco na cabeça de cada imigrante
que vinha em busca de liberdade e de terra fértil para semear o anarquismo.
Nas duas
últimas décadas do século 19 alguns jovens brasileiros foram estudar
na França e em Portugal e lá souberam das idéias libertárias. Outros
estudaram no Brasil mesmo e encontraram livros de Kropotkine nas livrarias
e na leitura respostas para suas inquietações.
É dessa
época Manuel de Mendonça, autor da novela social "Regeneração". O
médico e higienista Fábio Luz encontrou na Bahia Palavras de um Revoltado,
de Kropotkine, leu essa revolucionária obra e tornou-se anarquista.
Escreveu e publicou Ideólogos e Os Emancipados, duas obras libertárias
do início do século 20, sendo desde então considerados os primeiros
escritores brasileiros a tratar da questão social no romance.
Aos dois
intelectuais anarquistas juntaram-se Elísio de Carvalho, o estudante
de medicina J. Martins Fontes, Pedro do Couto, Rocha Pombo, Pausilipode
da Fonseca, João Gonçalves da Silva e Maximino Maciel, formando o
grupo que publicou, no Rio de Janeiro, mais adiante, a revista Kurtur,
e fundaram a Universidade Popular, em 1904, duas iniciativas anarquistas.
Avelino
Foscolo, começou em Minas Gerais, Reinaldo Frederico Greyer, no Rio
Grande do Sul, Ricardo Gonçalves (tem uma rua com seu nome em São
Paulo), Benjamin Mota, Edgard Leuenroth e João Penteado, em São Paulo;
Orlando Corrêa Lopes, Francisco Viotti, Domingos Ribeiro Filho, Lima
Barreto e José Oiticica, no Rio de Janeiro. De Portugal chegou Neno
Vasco, um ilustre advogado, fez escola como anarquista em São Paulo
(1901-1911), entre outros responsáveis pela sementeira anarquista
no território brasileiro.
Em 1890
chegaram da Itália Giovani Rossi e seus companheiros para fundar a
Colônia Cecília no Paraná.
A São
Paulo, Guararema, chegou o italiano Artur Campagnoli e aos poucos
Gigi Damiani, Alexandre Cherchiai, Oresti Ristori, Frederico Kniestedt,
valorosos militantes italianos e de outros países que, depois de dar
um salto no escuro para se ajustar ao clima tropical, às formas de
trabalho, aos costumes, à alimentação, ainda tiveram que aprender
o idioma português. A única coisa que pouco diferenciava o Brasil
da Europa era a questão social, a exploração do homem pelo homem.
Lícito
é destacar que o motor de propulsão do movimento anarquista no Brasil
veio da Itália, foram os imigrantes deste país que sacudiram e agitaram
com maior intensidade a questão social, as reivindicações e começaram
uma propaganda sistemática do anarquismo e do anarco-sindicalismo.
Em idioma italiano ou em português, publicaram dezenas de jornais,
fizeram centenas de palestras, realizaram espetáculos teatrais com
peças revolucionárias e por isso muitos foram presos, expulsos e outros
tiveram de mudar de atividades para se esconder, embora uns poucos
também tenham melhorado de vida e abandonado as idéias.
Dessa
sementeira que envolveu em primeiro plano os italianos, seguidos e
apoiados por portugueses, brasileiros, espanhóis e outros, circularam
pelo Brasil mais de uma centena de jornais e revistas (entenda-se
títulos) anarquistas e anarco-sindicalistas, sendo quatro diários;
fundaram e dirigiram escolas de ensino racionalista, formaram grupos
de teatro e representaram mais de uma centena de peças libertárias
e anticlericais, fizeram comícios públicos contra a guerra, o serviço
militar obrigatório, reduziram a jornada de trabalho (quando chegaram
oscilava entre 16 e 10 horas diárias), bateram-se pela higiene e segurança
no trabalho, por uma infinidade de melhorias tornando o trabalho menos
penoso para o proletariado do Brasil. Mais de um milhar foram expulsos
com a roupa do corpo acusados de agitadores estrangeiros, umas dezenas
morreram lutando com a polícia. O primeiro anarquista assassinado
foi o italiano Polenice Mattei, em São Paulo, no dia 20 de setembro
de 1898.
Para
se entender a trajetória do anarquismo no Brasil, confundido com o
movimento sindicalista revolucionário ou anarco-sindicalista, é preciso
definir ainda resumidamente o que os distingue e por que se confundem.
Movimento
Anarquista: ação de grupos anarquistas, em conjunto ou separadamente,
composto por células orgânicas, comunas, grupos, centros de estudos,
uniões e federações.
O movimento
anarquista não é exclusivamente uma organização de operários para
operários, é ação de indivíduos que se opõem e dão combate ao capitalismo,
almejando a derrocada do Estado e a reconstrução de uma Nova Ordem
Social, descentralizada horizontalmente, autogestionária. Não é a
revolta dos estômagos, é a revolução das consciências! O Movimento
Anarquista não se firma na luta de classes ou pretende instalar os
governados no lugar dos governantes, seus fins são de acabar com as
classes, tornar o homem irmão do homem, independente de cor, idade
ou sexo. Não visualiza a igualdade metafísica ou de tamanho, força,
necessidades, quer a igualdade de possibilidades, de direito e deveres
para todos.
Anarco-Sindicalismo:
corrente sindicalista, assim chamada a partir da cisão provocada no
5º Congresso da AIT (Primeira Internacional dos Trabalhadores), em
Haia, no ano de 1872, adotada pela maioria dos operários do Brasil
até a implantação dos sindicatos fascistas pelo Estado Novo de Vargas,
em 1930.
O anarco-sindicalismo
é ao mesmo tempo uma doutrina e um método de luta.
Como
doutrina, parte do trabalhador, célula componente da sociedade que
pretende aperfeiçoar e desenvolver. Como método de luta, pretende
a anulação do sistema capitalista pela ação direta, pela greve geral
revolucionária e a substituição por uma sociedade gerida por trabalhadores
em autogestão. Sua força reside no conjunto de organizações operárias
(sindicatos, uniões e federações) voluntárias, livremente associadas.
A diferença
entre sindicalismo e anarquismo consiste nos métodos e alcance. O
movimento anarquista é de indivíduos, pretende torná-los unidades
ativas, independentes, capazes de produzir e gerenciar em autogestão,
sem as muletas políticas, religiosas, sem chefes: vai até onde a liberdade
e a inteligência o possa levar. O sindicalismo é um movimento de operários
(inclusive de ofícios vários), voltado mais para a gerência da produção
e do consumo. Seu espaço é limitado, materialista, sem a dimensão
e o alcance de filosofia de vida do anarquismo.
Bolchevismo:
Variedade de socialismo. Doutrina política dos democratas russos que
desejavam a aplicação integral do programa máximo de Lenin e Plekhanov.
É empregado também como sinônimo do comunismo e do marxismo. Nasceu
em agosto de 1903, durante o 2º Congresso do Partido Social Democrata
Russo, iniciado em Bruxelas e terminado em Londres. Chegou ao Brasil
depois da Revolução Russa de 1917, ganhando corpo com a formação do
PCB em 1922. Disputou com os anarco-sindicalistas a supremacia dos
sindicatos, transformando-se desde então num sério opositor aos movimentos
anarquista e sindicalista.
Revendo
a caminhada histórica do movimento libertário brasileiro, descobre-se
que andaram pelo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco,
Rio de Janeiro e São Paulo socialistas da escola de Fourier, Garibaldines,
Maria Baderna da escola de Mazini; anarquistas adeptos de Proudhon
e Bakunin e revolucionários da Comuna de Paris chegados clandestinamente
ao Brasil em busca de asilo político.
Para
o autor a história do anarquismo em terras brasileiras começou a ser
escrita efetivamente em 1888 com a chegada de Artur Campagnoli. Foi
este bravo militante italiano, artista joalheiro, falecido em 1944
em São Paulo, quem teve o mérito de fincar o mais visível e incontestável
marco anarquista no Brasil. Chegou a São Paulo em 1888, comprou uma
área de terra considerada improdutiva e fundou a Colônia Anarquista
de Guararema , com ajuda de libertários russos, franceses, espanhóis,
italianos (a maioria) e nas décadas de 20 e 30 teve a colaboração
de brasileiros. Dois anos mais tarde veio o engenheiro agrônomo Giovani
Rossi e cerca de 200 imigrantes da Itália, em duas levas, para fundar
a Colônia Cecília no Paraná. Esta experiência ácrata resistiu de 1890
a 1894 às investidas do governo da República, que acabava de implantar-se
no Brasil. Asfixiada por cobranças de impostos indevidos, pelas invasões
militares, os mais resistentes esperaram a expulsão, radicando-se
nas imediações para olhar de longe a palmeira onde por quatro anos
tremulou a bandeira preta e vermelha do Anarquismo.
São desta
mesma época os periódicos ácratas: Ghi Schiavi Bianchi, São Paulo,
1892, em idioma italiano e tendo como diretor Gallileu Botti; L'Avenire,
São Paulo, 1893, em italiano e português; Il Risveglio, São Paulo,
1893, em italiano.
O Libertário,
em português, saiu em 1898, em São Paulo, sob a direção de Benjamim
Mota; O Despertar, Rio de Janeiro, em 1898, sob a direção de José
Sarmento Marques, e em janeiro do mesmo ano de 1898 realizou-se o
Primeiro Congresso Operário no Rio Grande do Sul com a participação
de dois centros anarquistas. Em 20 de setembro foi assassinado Polenice
Mattei, o primeiro mártir do anarquismo, em São Paulo, Brasil.
Em mais
de cem anos, o movimento anarquista do Brasil sofreu inúmeros revezes.
Chegou a contar com o apoio de quatro diários, dezenas de semanários,
mensários, bimensários e periódicos. Atravessou fases dificílimas
sem nenhum porta-voz nem poder reunir seus militantes.
Nesse
mesmo período foram publicados alguns livros e folhetos, a maioria
por iniciativa de grupos libertários que se cotizavam para angariar
recursos com os quais custeavam edições. As obras clássicas foram
lançadas por editoras comerciais. Somado o esforço dos libertários
às iniciativas dos livreiros, o número de títulos de livros publicados
em terras brasileiras pouco excede as duas dezenas até 1960.
Em 1964
chegou a ditadura militar e com ela um frutífero período de grande
efervescência editorial de obras libertárias. Paralelamente à repressão,
escritores e editoras afrontaram a ditadura na década de maior repressão
(1970-1980), prosseguiu durante a varrida do entulho autoritário,
entrando na "nova-velha república" pesquisando e publicando livros
ácratas.
O anarco-sindicalismo
e o anarquismo caminharam no Brasil muito entrelaçados enquanto movimento.
Sua distinção era notada na imprensa.
Mais
preocupados com a ideologia, os anarquistas desenvolviam um trabalho
educativo. Viam no elemento humano a "peça" mais importante a preparar,
tanto no terreno profissional quanto no cultural, a fim de que cada
militante fosse capaz de se autogerir sem muletas religiosas, patronais
ou policiais. Colocava sempre os cérebros acima dos estômagos.
Com estes
objetivos os anarquistas fundaram escolas livres, universidades populares,
grupos de teatro social, desenvolveram intensa propaganda educativa,
sociológica, de cultura geral, libertária.
Nas duas
primeiras décadas do século 20 promoveram manifestações estrondosas
na defesa do fundador da Escola Moderna, Francisco Ferrer y Guardia,
e de companheiros presos, torturados e expulsos do Brasil. Apoiaram
e ajudaram os trabalhadores russos quando da revolta de 1905, os mexicanos
em 1910, os russos em 1917, reverenciavam os Mártires de Chicago,
no dia 1º de maio, e não esqueciam as vítimas do capitalismo selvagem
no Brasil e no mundo.
Durante
a guerra de 1914-1918, os libertários brasileiros atuavam em diversas
frentes, em nível de Brasil: contra o desemprego, o aumento do custo
de vida, a escassez de alimentos de primeira necessidade, combatiam
a burguesia açambarcadora, o clero corruptor das mentes, o Estado
"pai de todos", que garantia inclusive a carnificina humana nos campos
de batalha.
Para
minimizar a fome, o governo, pressionado pelo proletariado libertário
que fazia comícios nas portas das fábricas, autorizou a venda de gêneros
diretamente do produtor ao consumidor (processo hoje conhecido como
feiras livres, um pouco mudado) sem taxação de impostos.
Em nível
internacional realizaram o Congresso Pró Paz, no Rio de Janeiro, e
enviaram três delegados ao Congresso realizado no Ateneu Sindicalista
do Ferrol, em 1915, dissolvido aos tiros pelo governo espanhol.
O que
aconteceu com os representantes do movimento anarquista brasileiro
aparece no seguinte texto:
"Realizou-se
na quarta-feira à tarde, no largo de S. Francisco, um comício convocado
pela Comissão Popular de Agitação Contra a Guerra formado de representantes
de várias agremiações operárias daquela cidade.
Abriu
o meeting às 5 horas e pouco João Gonçalves da Silva, que explicou
os fins do mesmo, que era protestar principalmente contra a proibição
feita pelo governo espanhol à reunião do Congresso Internacional Pró
Paz de Ferrol.
Seguiram-se
com a palavra José Elias da Silva e Dr. Orlando Corrêa Lopes, atacando
os governos da Europa e mostrando que o proletariado é o único a sofrer
com a conflagração, devendo ele, portanto, rebelar-se contra e esforçar-se
por lhe pôr um paradeiro.
Falou
depois a operária Juana Buela, companheira de João Castanheira, o
operário vítima da sanha da polícia de Espanha. Profundamente emocionada
Juana Buela, que leu o seu discurso, proclamou bem alto e bem firme
os seus ideais revolucionários, que não esmoreceram com a morte daquele
que foi o seu companheiro de vida, antes mais se arraigam e mais se
acentuam."
Por fim,
Leal Júnior, usou da palavra encerrando o comício com a seguinte moção
de protesto:
"Considerando
que o direito de reunião e livre manifestação do pensamento é um direito
primordial conquistado, adquirido e reconhecido em todo o mundo civilizado
e;
Considerando
que o Congresso Internacional Pró Paz convocado pelos elementos proletários
e revolucionários de Ferrol, Espanha, e tendo por fim combinar uma
ação conjunta dos proletários da Europa e da América no sentido de
uma afirmação positiva e concreta contrária à guerra e favorável ao
estabelecimento de uma paz real baseada na solidariedade efetiva desse
proletariado, colimava um escopo altamente humanitário e de verdadeira
defesa da civilização;
A massa
popular reunida em comício organizado pela Comissão Popular de Agitação
Contra a Guerra e realizado no Largo de S. Francisco de Paula, às
5 horas da tarde de hoje, deixa firmadas nesta moção as expressões
de seu indignado protesto contra o ato do governo espanhol, proibindo
aquele Congresso, perseguindo e deportando os delegados ao mesmo idos
de outros países e assassinando, pelo instrumento da sua política,
um dos delegados enviados por associações proletárias e libertárias
do Brasil, o operário João Castanheira, como consta dos telegramas
publicados pela imprensa desta cidade.
Rio de
Janeiro, 12 de maio de 1915"
O comício
do Rio de Janeiro terminou com grande passeata na frente da Federação
Operária, no antigo Largo do Capim. Sucederam-lhe manifestações dos
libertários do Paraná, Rio Grande do Sul e de diversas cidades do
Estado de São Paulo. Os jornais operários e anarquistas também atacaram
de rijo os beligerantes, inclusive distribuindo postais com alegorias
de repulsa à guerra, produzindo grande impacto ao longo dos quatro
anos em todo o Brasil.
São Paulo
foi palco de greves insurrecionais em 1906 e 1907 pela conquista da
jornada de oito horas diárias; em Santos as greves para conseguir
as oito horas só terminaram em 1921.
O proletariado
de tendência libertária procurava abrir caminho na selva capitalista
deflagrando greves que vieram a desembocar na insurrecional de 1917,
nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, por solidariedade.
Em 1918,
movimento insurrecional explodiu no Rio de Janeiro com um saldo de
três operários assassinados pela polícia carioca e cerca de meia centena
de presos e deportados. Em 1919, Epitácio Pessoa aproveitou para expulsar
do país três dezenas de anarquistas. Contrariando as expectativas
do governo, que acreditava que com as expulsões e deportações reduzia
a pujança do movimento libertário, ainda em 1919, formou-se o Partido
Comunista do Brasil, de que logo se arrependeriam seus organizadores
ao saber que o governo soviético prendia, torturava, matava e expulsava
anarquistas que haviam ajudado a derrubar a dinastia dos Romanov.
A burguesia
vivia apavorada, exigia respostas imediatas aos "desordeiros..."
Uma onda
nacionalista começava a formar-se no Brasil em oposição às "esquerdas".
Em 1920 são expulsos do Rio de Janeiro mais de dois mil portugueses,
pescadores de Matosinhos e da Póvoa de Varzim, vítimas desse patriotismo
brasileiro. Muitos haviam chegado ao Brasil adolescentes, casados
e já tinham filhos nascidos no Rio de Janeiro. O único pecado desses
trabalhadores do mar era não quererem naturalizar-se brasileiros.
Uma lei
vesga proibia-os de exercer suas profissões, acabando por servir ao
integralista capitão Frederico Vilar, para mandar de volta gente honrada,
com o aval do presidente Epitácio Pessoa.
Neste
mesmo ano foram expulsos também anarquistas e anarco-sindicalistas
italianos, portugueses, espanhóis, precipitando protestos de operários
e intelectuais em todo o país e na Europa.
No sul,
alemães e russos anarquistas marcavam suas presenças em oposição aos
seus patrícios que pretendiam ficar ricos e aos brasileiros xenófobos
exploradores.
Greve
na indústria têxtil de Santa Catarina é o pretexto para expulsar dois
anarquistas nascidos na Alemanha.
Em Porto
Alegre o anarquista alemão Frederico Kniestedt abre espaço com os
jornais Der Freie Arbeiter, Aktion, Alarm e o Sindicalista, os três
primeiros publicados em seu idioma e o último em português.
Ainda
no Sul, mais exatamente em Erebango, (Getúlio Vargas), fixaram residência
e formaram uma comunidade várias famílias de russos da Ucrânia. Sua
atuação anarquista é-nos contada por um dos seus componentes, Elias
Iltchenco que visitamos já muito doente.
"No ano
de 1920 os emigrantes de Getúlio Vargas - ex-Erechim - já tinham condições
emocionais e de locomoção e começaram a formar grupos coesos, a reunir-se
uma vez por mês. Nosso grupo tinha mais de 40 membros espalhados numa
área de 40 a 50 km, englobando grupos de Floresta, Erechim, Erebango
e outros lugares.
São dessa
época:
União
dos Trabalhadores Rurais Russos, de Getúlio Vargas (antigo Erechim).
Seu presidente chamava-se Sérgio Iltchenco, o secretário Paulo Uchacoff
e o tesoureiro Simão Poluboiarinoff;
União
dos Trabalhadores Russos, de Porto Alegre. Esta tinha como presidente
Niquista Jacobchenco;
União
dos Trabalhadores Rurais Russos de Guaraní, Campinas e Santo Ângelo.
Componentes: João Tatarchenco, Gregório Tatarchenco e outros.
União
dos Trabalhadores Russos de Porto Lucena.
Um dos
mais ativos militantes russos no Rio Grande do Sul, distribuidor do
jornal Golos Truda, publicado na América do Norte de 1911 a 1963,
e de toda a propaganda escrita que chegava da Argentina, chamava-se
Demétrio Cirotenco. Durante mais de duas dezenas de anos foi o mais
importante elemento de ligação, o aglutinador das Uniões de Trabalhadores
em Erechim e Erebango principalmente. Depois sofreu um acidente e
morreu, deixando um vazio entre os camponeses russos, que só em 1925
perderam a esperança de ver implantada em seu país uma sociedade de
fundo e forma libertária."
O mais
eminente elemento anarquista russo no Brasil, escritor, jornalista,
teatrólogo, professor e conferencista carregava uma barba semelhante
a de Kropotkine e chamava-se Ossef Stepanovetchi. Era natural da Ucrânia
e marcou a sua presença no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São
Paulo e Curitiba-Paraná, onde faleceu.
Os jornais
mais lidos entre os emigrantes chegavam da Argentina, Canadá e dos
Estados Unidos (Golos Truda) de 1918-1930; Golos Trujnica, de Detroit,
de Nevada, Chicago e Nova Iorque, Dielo Trouda Probuzdenia.
Na segunda
e na terceira décadas do século 20 o movimento anarco-sindicalista
e anarquista chegou ao seu ponto mais alto. Além, dos jornais libertários,
alguns militantes dispunham de espaços diários na imprensa comercial.
Um deles nascido em Portugal, José Marques da Costa, tinha uma coluna
diária no jornal A Pátria, do Rio de Janeiro, e publicou a seguinte
nota: "Camilo Berneri na reunião do grupo Os Emancipados. Sexta-feira
próxima, na sua sede à rua Buenos Aires, 265, às 20 horas em ponto,
os anarquistas, simpatizantes e trabalhadores em geral terão oportunidade
de ouvir uma brilhante Conferência de Camilo Berneri, sobre Giordano
Bruno na Philosofia e na Renascença-Vida e Pensamento do grande filósofo
da liberdade.
Entrada
franca, tribuna livre
Os Emancipados
Da Rússia
e da Itália chegavam também ao Brasil e fizeram grandes estragos no
movimento libertário duas correntes políticas na época batizadas de
Bolchevista e de Integralista.
A primeira
orientada pela Terceira Internacional e a Internacional Sindical Vermelha,
com sede em Moscou, agia em nome da Ditadura do Proletariado, no seio
do Partido Comunista Brasileiro, criado em março de 1922 por 11 egressos
do movimento ácrata e um socialista. Começaram disputando a direção
dos sindicatos e acabaram por ajudar os governos de Artur Bernardes,
Washington Luiz e Getúlio Vargas a reduzir sensivelmente o movimento
libertário e os sindicatos livres. Em 1927 assassinaram os anarquistas
Antonino Dominguez e Damião da Silva e feriram mais de 10 militantes
no Sindicato dos Gráficos, à rua Frei Caneca, 4, sobrado, Rio de Janeiro.
Assaltaram e roubaram o acervo do Sindicato dos Trabalhadores em Calçados,
à rua José Maurício, 41. Ajudaram assim a encher o Campo de Concentração
do Oiapoque e a implantar a ditadura nazi-fascista no Brasil com seus
sindicatos verticais, controlados pelo Ministério do Trabalho.
A segunda
corrente política veio dos porões do Vaticano com o nome de fascismo.
No Brasil, por muitos anos, apelidado de Integralismo O projeto foi
elaborado por D. Annunzio, Bertolotti, Papini e outros e tinha como
"filosofia": "Poder tudo, absolutamente tudo! O único amor é o poder;
o único fim é o poder; extremo sonho o poder!"
No Brasil,
o chefe, Plínio Salgado, e seu alto comando reuniam a fina-flor dos
desordeiros dispostos a tudo fazer para derrubar o governo e chegar
ao poder: era o candidato a ditador Plínio lutando contra o ditador
Getúlio.
Para
Plínio, os decretos nº 19.433 de 26 de novembro de 1930; 19.770 de
19 de março de 1931 e 22.969 de 11 de abril de 1933 obrigando os trabalhadores
a aderirem às fileiras "sindicais do Ministério do Trabalho, tornando-os
eleitores com representantes profissionais na Assembléia Nacional
Constituinte, num total de 40 membros, sendo 18 representantes dos
empregados, 17 dos empregadores, dois funcionários públicos e três
profissionais liberais". Queriam copiar Mussolini totalmente.
Vargas
contava, para convencer os recalcitrantes, com a polícia política
de Batista Luzardo, Felinto Müller, Emílio Romano, Serafim Braga e
outros profissionais do argumento do cassetete.
No Rio
de Janeiro, o jornal O Primeiro de Maio, de 1933, denunciava: "Em
um só xadrez da polícia acham-se presos 50 proletários, sem nota de
culpa. Muitos deles sofreram castigos corporais por terem protestado
com a greve de fome contra a alimentação que nem para os cães prestava."
Em Porto
Alegre, sob a orientação do anarquista Frederico Kniestedt, Aktion,
de 1º de maio, fala das pretensões nazistas sobre o Brasil em idioma
alemão. E no dia 19 de maio de 1933 um grupo armado invade a Federação
Operária de São Paulo, arromba as portas das secretarias do Sindicato
dos M. de Pão, Liga Operária da Construção Civil, Trabalhadores em
Moinhos e Armazéns, União dos Canteiros e União dos Empregados em
Cafés, destrói seus acervos e leva os detidos para a Central de Polícia,
onde permanecem 24 horas. Quando chegaram o chefe de polícia e o delegado
da "ordem política e social" determinaram que fossem em liberdade,
que a ordem de prisão não partiu daquele departamento policial.
Em 1933,
os jornais A Lanterna, A Plebe e O Trabalhador, a Federação Operária,
o Centro de Cultura Social e as Ligas Anticlericais viviam de prontidão
para não serem surpreendidos pelas marchas integralistas.
Em alguns
bairros de São Paulo, os mensageiros do "Duce" trabalhavam desesperadamente
no recrutamento dos "squadristi", que deviam envergar a camisa verde
oliva e iniciar a matança, o incêndio e a destruição, fazendo reviver,
em pleno século 20, a invasão dos bárbaros inimigos da ciência e da
civilização.
O alerta
vinha do Comitê Antifascista Libertário e tinha a data de agosto de
1933.
Os comandantes
do Integralismo Brasileiro formavam pela seguinte ordem nos anos de
1933-1934: "Plínio Salgado (comandante nacional); Gustavo Barroso
(vice-comandante e presidente da Academia Brasileira de Letras); Ribeiro
Couto; 130 jornalistas do Distrito Federal que "assinaram o manifesto
fascista dirigido aos intelectuais do Brasil". Ei-los: D. João Becker;
Oswaldo Aranha (um dos comandantes da revolução getulista de 1930);
Oliveira Viana (escritor); Madureira de Freitas, Osvaldo Chateaubriand
(diretor do Diário da Noite); Tristão de Atayde (escritor e jornalista);
Cláudio Ganns; Lourival Fontes; Hélio Viana; Américo Lacombe; Câmara
Cascudo (escritor); os sacerdotes inscritos na Ação Integralista Don
Nicolau de Flue Gut, os cônegos Matias Freire, Valfredo Gurgel, Helder
Câmara, etc.; os professores da Faculdade de Direito Miguel Reale,
Alpinolo Lopes Casali, Damião Neto, Domingos Cantola, Ângelo Simões
de Arruda, Loureiro Júnior, Rolando Corbusier, Manuel Ferraz de Campos
Salles Neto, Walter Moreira Sales, Homero de Sousa e Silva, Paulo
Azevedo Barroso, Manuel Tavares da Silva, Guilherme Luis Riberio,
Osvaldo de Sousa Shreiner, Antonio Arruda, Sebastião Martins de Macedo,
Ziegler de Paula Bueno, Alcebíades Blanco, Ruiz de Arruda Camargo,
Alfredo Buzaid, Ernani Silva Bruno, Epaminondas Albuquerque, Vicente
Laporta, Sinval Gonçalves de Oliveira, Antonio Dourado, Alberto Zirondi
Neto, Nicolino Amato, José de Barros Bernardes, Carlos Schmidt de
Barros Júnior, Milton de Sousa Meireles, Agostinho Lúcio Correa, Arual
Antonio dos Santos, Waldemiro Dalboni, Augusto de Oliveira Filho,
Ítalo Záccaro, Vitório Nascimento, Cândido de Oliveira Barbosa, Francisco
Luis de Almeida Sales, Francisco Gottardi, João José Pimenta de Castro,
João Edson de Melo, José de Camargo Rocha, Rio Branco Paranhos, Júnio
de Carvalho, José Cândido Silveira Lienert, Antenor Santini, Alceu
Cordeiro Fernandes, Antonio Barbosa de Lima, José Vila do Conde e
Ranulfo Oliveira Lima.
Com objetivos
bem definidos e sem tutores políticos, formava-se no Rio de Janeiro
a Aliança Estudantil Pró-Liberdade de Pensamento, cujo manifesto de
fundação, A Lanterna, semanário anticlerical e libertário, São Paulo,
9 de novembro de 1933, resume:
"Companheiros.O
clero romano que sempre tem vivido aliado aos governantes, embora
o artigo 72 da Constituição de 1891 e seus parágrafos estabeleçam
em nosso território a liberdade de pensamento, neste instante prepara
novos golpes contra o direito de pensar, agir e de orar."
O A Plebe,
quase ao findar do ano de 1933, alertava os antifascistas: "O Integralismo
pretende, como o fascismo, escravizar e acorrentar o povo. Para não
termos que chorar depois como energúmenos, defendamos agora a nossa
liberdade como homens."
"Já soou
o clarim da redenção humana! Unamo-nos contra todas as guerras, contra
todas as tiranias, contra todos os paliativos que nos apresentam.
A nossa felicidade, a fraternidade, a liberdade, residem em nós mesmos,
na força coesa que há-de triunfar."
Em homenagem
aos arruaceiros integralistas, o escritor Menotti del Picchia, candidato
a "Duce", lança as bases do Fáscio Paulista com os Camisas Brancas.
Em Niterói
(A Plebe, de 2 de dezembro de 1933), o presidente da Academia Brasileira
de Letras, Gustavo Barroso, chefe integralista, atacou às bengaladas
e quebrou um braço à jovem operária Nair Coelho, 16 anos, quando esta
discursava contra os desordeiros fascistas, em cima de um banco de
jardim e em Belo Horizonte; quem precisou fugir do Teatro Municipal
foi o professor de línguas Casale. O povo, que assistia ao discurso
do arruaceiro integralista, resolveu interrompê-lo, expulsar o vendilhão
do palco.
Em São
Paulo, depois da derrota que tiveram no Salão Celso Garcia, o "bando
de Plínio Salgado marcou para o dia 24 de dezembro uma demonstração
de força destinada a depredar os sindicatos e assassinar os sindicalistas
mais ativos" (Nossa Voz, de 1º de dezembro de 1933): "Marchariam no
centro de São Paulo 18 Centúrias (companhias) dispostas a exterminar
canibalescamente os anarquistas e outros esquerdistas que se opusessem
à sua passagem."
O trabalhador
anarco-sindicalista resistia às exigências do Ministério do Trabalho.
Contra ele tinha os bolchevistas aderentes desde a primeira hora,
os patrões, a polícia, os integralistas invasores de sindicatos operários,
que segundo substancioso manifesto do Sindicato dos O. em Fábricas
de Vidros de São Paulo, fevereiro de 1934, "naquele momento pleiteavam
na Assembléia Constituinte a pena de morte para o Brasil!"
Em março
de 1934 a Federação Operária de São Paulo, com sede na rua Quintino
Bocaiúva, 80, lançava três manifestos de grande significado. Um contra
a Lei Monstro, outro contra a guerra e o terceiro em formato de encarte,
enfocando as "organizações operárias, a legislação trabalhista, a
lei de sindicalização, a caderneta profissional, a nova lei de férias,
a nova Constituição e comunica as conferências de Edgard Leuenroth,
Germinal Soler e Hermínio Marcos".
Do Rio
de Janeiro, sob o comando do acadêmico Gustavo Barroso, chegavam à
Praça da Sé "500 guardas verdes de segurança", tropas de choque, treinados
para imobilizar opositores. A polícia também montou metralhadoras
em pontos estratégicos para coibir possíveis ataques aos integralistas,
ainda "bem-vistos" pelo governo. Além do grande contigente policial,
o coronel Arlindo de Oliveira tinha 400 homens do 1º, 2º e 6º Batalhões
de Infantaria, do Corpo de Bombeiros e Regimento de Cavalaria no local.
A parade
de integralistas contava com a presença de 10 mil soldados do Sigma
dentro de suas camisas verdes novinhas em folha empunhando grandes
estandartes com o símbolo do integralismo.
Nas imediações
da Sé haviam começado a formar-se grandes agrupamentos de curiosos
de todas as ideologias. E mal a coluna alcançou a escadaria da Catedral
ouviram-se gritos de "morte ao fascismo", "Abaixo os Camisas Verdes"
e em seguida tiros. Diz-se que foi uma metralhadora da Guarda Civil
Montada, em frente à rua Senador, que ao ser movimentada disparou
acidentalmente. Outros garantiam que os tiros foram disparados por
comunistas que estariam no meio da multidão aguardando o desfile.
O certo é que começou o tiroteio antes da hora marcada pelos libertários
para atacar os integralistas, desencadeando-se uma correria infernal.
Gente fugindo e gritando, outros caindo feridos mortalmente e a parada
e o juramento de fidelidade ao comandante integralista, Dr. Plínio
Salgado, Fuhrer brasileiro, não aconteceu.
Correndo
nas "estradas" abertas pelos integralistas com a colaboração dos "comunistas"
do PCB e dos dirigentes do Partido Católico Brasileiro do Cardeal
Sebastião Leme, assessorados por "50 juristas", Getúlio Vargas não
teve maiores dificuldades em implantar o Estado Novo, que durou até
1945.
Em síntese,
os anarco-sindicalistas e anarquistas do Brasil realizaram:
Primeiro
Congresso Operário Brasileiro - Centro Galego, rua da Constituição,
30-32, Rio de Janeiro, de 15 a 20 de abril de 1906. Ao todo 12 sessões.
Discutiram 23 temas previamente acertados e um acessório. Compareceram
delegados de 23 entidades de cinco estados do Brasil. Esteve presente
o engenheiro italiano fundador da Colônia Cecília, Giovani Rossi.
Segundo
Congresso Operário Brasileiro - Centro Cosmopolita, rua do Senado,
215, Rio de Janeiro, de 8 a 13 de setembro de 1913. Ao todo os trabalhadores
anarquistas e anarco-sindicalistas realizaram 12 sessões, debateram
24 temas com a presença de 117 delegados de 8 estados, sendo dois
federações estaduais, cinco federações locais, 52 sindicatos e quatro
jornais libertários.
Terceiro
Congresso Operário Brasileiro - Sede da União dos Trabalhadores em
Fábricas de Tecidos, rua do Acre, 19, Rio de Janeiro, de 23 a 30 de
abril de 1920. Efetuaram 23 sessões com a presença de 39 organismos
de 11 estados do Brasil.
Primeiro
Congresso Estadual de São Paulo - Teve lugar no Salão Excelsior, rua
Florêncio de Abreu, 29. Ao todo foram discutidos três temas principais,
de 6 a 8 de dezembro de 1906. Objetivo: Pôr em prática as resoluções
do 1º Congresso Nacional do Rio de Janeiro.
Primeira
Conferência Estadual de São Paulo - Realizada em 1907 com o propósito
de elaborar e aprovar os temas para o 2º Congresso Estadual. Ao todo
discutiram 22 temas.
Segundo
Congresso Estadual de São Paulo - Realizado nos dias 7 e 8 de abril
de 1908. Dele participaram 22 organizações operárias comprometidas
com o anarco-sindicalismo.
Primeiro
Congresso Estadual do Rio Grande do Sul - Teve lugar nos dias 1º e
2 de janeiro de 1898 com a presença de delegados de 10 associações,
um jornal e um grupo anarquista. Foi o primeiro encontro de trabalhadores
com idéias sociais no Brasil.
Segundo
Congresso Operário Estadual do Rio Grande do Sul - Na rua Comendador
Azevedo, 30, dias 21 a 25 de março de 1920. Estiveram presentes delegados
de 30 associações todas comprometidas com o sindicalismo revolucionário.
Terceiro
Congresso Operário do Rio Grande do Sul - De 27 de setembro a 2 de
outubro de 1925. No total foram 12 sessões com a presença de delegados
de 23 entidades operárias e do Comitê Pró-Presos Sociais e de dois
jornais. Foi aprovada uma Declaração de Princípios da AIT e criado
um Pacto de Solidariedade Internacional Anarquista.
Quarto
Congresso Operário do Rio Grande do Sul - clandestino em data que
não ficou registrada. Realizaram três sessões durante dois dias com
a presença de 16 entidades operárias, dois jornais, sies grupos anarquistas,
vários militantes de São Paulo refugiados naquele estado do sul do
Brasil (Florentino de Carvalho, Domingos Passos e outros) e delegados
do Uruguai, Paraguai e Argentina.
Primeiro
Congresso da Federação de Trabalho do Estado de Minas Gerais - Realizou-se
em Belo Horizonte em junho de 1912. Ao todo foram debatidos e aprovados
sete temas.
Congresso
Operário do Paraná - Realizou-se no ano de 1907. Contou com a presença
da Federação Operária, fundada por italianos remanescentes da Colônia
Cecília, com o Grupo Filo-Dramático, 12 associações operárias e o
delegado do jornal O Despertar, fundado e dirigido pelo anarquista
italiano, expulso do Brasil em 1919, Gigi Damiani.
Outros
Congressos - Os trabalhadores anarco-sindicalistas brasileiros participaram
ou marcaram presença no Congresso dos Operários Chapeleiros Sul-Americano,
realizado na Argentina e Uruguai, em julho de 1920. As pesquisas deixam
perceber que os anarquistas estiveram na linha de frente de todos
os congressos anarco-sindicalistas e ainda realizaram os seus.
Conferência
Libertária de São Paulo - Rua José Bonifácio, 39-2º andar. Ao todo
realizaram sessões nos domingos 14, 21 e 28 de junho, 5, 12 e 26 de
julho de 1914. O objetivo principal era preparar e indicar dois delegados
para representar o Brasil no congresso anarquista de Londres que não
chegou a acontecer por causa da guerra.
Congresso
Anarquista Sul-Americano - Realizou-se no Rio de Janeiro de 18 a 20
de outubro de 1915 na sede da Federação Operária, praça Tiradentes,
71, sobrado. Estiveram presentes delegados do Brasil, da Argentina
e do Uruguai.
Congresso
Internacional da Paz - Realizado de 14 a 16 de outubro de 1915. Seu
ponto de debates foi a sede da Federação Operária, na praça Tiradentes,
71, Rio de Janeiro, com a presença de delegados da Federación Obrera
Regional Argentina, delegados do Chile e do Uruguai.
Congresso
Anarquista do Brasil - Realizado na Nossa Chácara, no bairro de Itaim,
São Paulo, de 17 a 19 de dezembro de 1948. Este marca o ressurgimento
do movimento anarquista no Brasil após a derrubada da ditadura de
Getúlio Vargas. Contou com a presença de anarquistas de vários pontos
do Brasil e diversos militantes italianos, espanhóis e portugueses
residentes no Brasil ou de passagem.
Encontro
Anarquista na Urca - De âmbito nacional. Teve lugar nos dias 9 a 11
de fevereiro de 1953 na rua Osório de Almeida, 67, no Rio de Janeiro,
com a presença de mais de três dezenas de anarquistas. Foi um encontro
muito proveitoso.
Congresso
Anarquista do Brasil - Realizado de 26 a 29 de março de 1959 em Nossa
Chácara, no Itaim, São Paulo, com grande presença de militantes de
todo o país, exilados espanhóis e alguns italianos. Foi aprovada a
reativação dos Centros de Cultura Social e fundada a Editora Mundo
Livre, do Rio de Janeiro. Ao todo foram debatidos e aprovados 10 temas.
Encontro
dos Libertários Espanhóis Exilados - Foi na sede do Centro de Cultura
Social, na rua Rubino de Oliveira, 85, São Paulo, nos dias 7 e 8 de
outubro de 1961. Estiveram presentes anarquistas brasileiros e exilados
da CNT e da FFLL.
Encontro
Anarquista - São Paulo de 20 a 22 de abril de 1962. Reuniram-se em
Nossa Chácara 100 militantes anarquistas de todo o Brasil, incluindo
alguns companheiros estrangeiros. Foram realizadas cinco sessões muito
proveitosas.
Décimo
Encontro Anarquista - Realizou-se nos dias 15 a 17 de novembro de
1963. Reuniram-se para tratar do rumo do movimento anarquista no Brasil
mais de 100 militantes, Os assuntos foram divididos em seis temas
principais.
Maio
de 1964 - Em Nosso Sítio. Encontro clandestino de avaliação dos anarquistas
do Rio de Janeiro e de São Paulo para acertar os rumos diante da ditadura
militar implantada em 1º de abril do mesmo ano. Saíram desse encontro
algumas resoluções para resguardar o acervo dos anarquistas.
Encontro
em Nosso Sítio - Realizado em 1968, em Mogi das Cruzes, São Paulo.
Clandestino.
Encontro
dos Grupos Pró COB - Realizado em maio de 1986 na rua Rubino de Oliveira,
85.
O movimento
libertário do Brasil participou também do Congresso de Ferrol, Espanha
em 1915, com três delegados. Em 1928 com um delegado indireto e depois
de 1945 enviou como delegado à França Joseph Tibogue, e mensagens
de apoio aos demais congressos.
A trajetória
do anarquismo no Brasil teve a participação de uma confederação, várias
federações, mais de 100 grupos especificamente libertários, seis editoras,
três livrarias, mais de uma dezena de escolas racionalistas, duas
universidades populares, uma intensa propaganda através do teatro
ácrata, possui uma propriedade comprada pelos anarquistas, desde 1939,
com moradias modestas e arquivo em prédio próprio. Foi uma sementeira
que germinou, e hoje alimenta pesquisas, teses de doutoramento e sensibiliza
várias editoras comerciais para publicá-las.
No Rio
de Janeiro, com o falecimento de José Oiticica em 1957, três militantes
libertários tiveram a idéia de formar o Centro de Estudos Professor
José Oiticica, na sala onde o mestre dava aulas, à Av. Almirante Barroso,
6-sala 1.101. Nos dias seguintes os três realizaram uma reunião na
Avenida 13 de Maio, 23, sala 922, e resolveram procurar companheiros
afastados do movimento por razões diversas e convidá-los para fazer
parte do centro e subscrever sua ata de legalização em 22 de julho
de 1960. (O centro começou suas atividades em 1958)
Em 1969,
um "punhado" de militares da aeronáutica rebentaram a porta aos coices,
carregaram parte do acervo cultural, máquina de escrever, mimiógrafo
e outros objetos "subversivos", depois foram nas moradias dos diretores
do centro, "confiscaram livros, etc.", prenderam-nos e formaram um
processo contra 16, impernunciando um. Torturaram alguns detidos e
finalmente levaram-nos a um julgamento que durou até 1972.
O Centro
de Estudos do Professor José Oiticica, durante sua existência (12
anos), fundou a Editora Mundo Livre por cotas, editou cinco livros,
promoveu curso sobre Anarquismo no Teatro Carioca, recebeu anarquistas
da América e da Europa, conduziu várias campanhas de protesto e apoio,
realizou mais de uma centena de cursos e conferências, e parte de
suas atividades foram anunciadas pela imprensa. Acabou por força da
ditadura militar.
Não se
pode ignorar também os diários: A Plebe, São Paulo, 1919; A Hora Social,
Recife, 1919; Voz do Povo, Rio de Janeiro, 1920; Vanguarda, São Paulo,
1921-1923; A Lanterna, São Paulo, 1901-1934. Os semanários: O Amigo
do Povo, São Paulo, 1903; A Terra Livre, São Paulo-Rio de Janeiro,
1907-1910; La Bataglia, São Paulo, 1904-1913; Remodelações, Rio de
Janeiro, 1945-1947; Ação Direta, Rio de Janeiro, 1946-1959. As revistas:
Remodelações, Rio de Janeiro, 1921-1922; Renascença, São Paulo, 1923;
A Vida, Rio de Janeiro, 1914-1915; Revista Liberal, Porto Alegre,
1921-1924; e umas centenas de periódicos.
Um grupo
de professores estudiosos do anarquismo promoveu curso na ABI (Associação
Brasileira de Imprensa). O Grupo Anarquista José Oiticica, formado
por novos militantes libertários, realizaram, no Instituto de Filosofia
e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, nos
dias 9, 16, 23 e 30 de julho de 1987, um curso de anarquismo envolvendo
Problemas Atuais do Socialismo; Anarquismo Hoje e Movimentos Alternativos;
Movimento Sindical e Anarco-Sindicalismo; e O Estado Hoje. Teve o
apoio do Centro de Cultura Social de São Paulo, a Sub-Reitoria 5,
a Comissão de Organização Estudantil, Comissão Cultural do IFCS, e
mesmo sendo pago, a freqüência foi boa, o salão ficou literalmente
cheio.
No Rio
Grande do Sul, grupos de libertários e simpatizantes comemoram o Centenário
dos Mártires de Chicago e meio século da Revolução Espanhola, os 67
anos do fuzilamento de Francisco Ferrer e outros eventos.
Na capital
do Brasil os anarquistas realizaram um Simpósio Libertário e fundaram
a Editora Novos Tempos, que já produziu várias obras de real valor
literário e cultura anarquista. Em São Paulo as Universidades de Campinas,
São Carlos e da Capital formaram valiosas bibliotecas de História
Social, predominando publicações anarquistas e anarco-sindicalistas,
e periodicamente promovem cursos sobre anarquismo, sempre com a participação
de membros do Centro de Cultura Social que têm uma longa experiência
militante e mantêm permanentemente em sua sede, na rua Rubino de Oliveira,
85-2º, no Brás, círculos de conferências libertárias. E apoiado pelos
núcleos Pró COB (Confederação Operária Brasileira) e pela AIT (Associação
Internacional dos Trabalhadores), com sede na Espanha, o Centro de
Cultura Social de São Paulo continua promovendo sessões comemorativas
em defesa da natureza, contra a Bomba Atômica (no aniversário da explosão
de Hiroshima), pela passagem dos 70 anos da Greve Insurrecional Libertária
de 1917, na cidade de São Paulo, e debatendo a autogestão na luta
social e as estratégias da luta sindical.
Em seus
ciclos de palestras, temas como "Feminismo e a Reapropriação do Corpo",
"Feminismo, Reinventando o Feminino e o Masculino"; "Feminismo, Questões
que se Levantam"; "Recuperando a Memória" e "Cavernas do Estado de
São Paulo". E nos cursos de Extensão Universitária tratam "O que é
o Anarquismo"; "As Origens: Da Revolução Francesa a Proudhon"; "A
Primeira Internacional: Marx, Bakunin e a Comuna de Paris"; "Anarco-Sindicalismo,
Kropotkine e Malatesta"; "Anarquismo no Brasil"; e "Anarquismo Hoje,
Liberdade e Autogestão". Estas iniciativas contaram com o apoio da
Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Em sua produtiva trajetória,
o Centro de Cultura Social de São Paulo realizou recentemente um Ciclo
de Educação Libertária enfeixando os seguintes temas: "O Movimento
Anarquista e o Ensino Racionalista em São Paulo, 1912-1919"; "Escola
e Trabalho no Brasil Hoje"; "Educação Popular: da Educação Libertária
à Educação Libertadora"; "Organização e Poder: Estado, Escola, Empresa";
"A Educação pelo Trabalho, pela Pedagogia Freinet"; "Lutas Autônomas
e Autogestão Pedagógica"; e "Uma Terapia Anarquista".
Este
movimento ideológico vem sendo divulgado pela revista Autogestão,
pelo próprio Boletim do Centro de Estudos Sociais, prospectos avulsos,
cartazes e pela imprensa comercial que noticia alguns cursos.
Hoje,
o anarquismo não assusta mais ninguém no Brasil. Palavra temida, ridicularizada,
esta filosofia de vida resiste ao tempo e virou tema de teses de doutoramento,
peças de teatro, novelas exibidas na televisão e filmes de curta e
longa metragem.
Os anarquistas
do Brasil – salvo os que se dizem e não se encontraram ideologicamente
– continuam com Kropotkine: "Quem acha que uma instituição de formação
histórica pode servir para devolver privilégios que ela mesmo desenvolveu
mostra com isso a incapacidade de compreender o que significa a vida
de uma sociedade, uma formação histórica.
Deixa
de aprender a lei básica de todo o desenvolvimento orgânico, isto
é, que novas funções requerem novos órgãos e que estes se devem criar
por si mesmos."
Colaboraram
para tornar possível a trajetória anarquista no Brasil: Fábio Luz,
João Gonçalves da Silva, Avelino Foscolo, Ricardo Gonçalves, Benjamim
Mota, José Martins Fontes, Ricardo Cipola, Rozendo dos Santos, Reinaldo
Frederico Greyer, Pedro Augusto Mota, Moacir Caminha, José Ramón,
Domingos Passos, João Perdigão Gutierrez, Florentino de Carvalho,
Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto, Orlando Corrêa Lopes, Manuel
Marques Bastos, José Puicegur, Diamantino Augusto, José Oiticica,
José Romero, Edgard Leuenroth, Felipe Gil Sousa Passos, Pedro Catalo,
João Penteado, Neno Vasco, Adelino Pinho, Giovani Rossi, Gigi Damiani,
Artur Campagnoli, José Marques da Costa, Rodolfo Felipe, Isabel Cerrutti,
João Perez, Antonino Dominguez, Manuel Perez, Romualdo de Figueiredo,
Juan Puig Elias, Maria Lacerda de Moura, Rafael Fernandes, Angelina
Soares, Paula Soares, Elias Iltchenco, Frederico Kniestedt, Jesus
Ribas, Cecílio Vilar, Oresti Ristori, Maria Lopes, Manuel Moscoso,
Polidoro Santos, Amilcar dos Santos, Pedro Carneiro, Atílio Peçagna,
Rudosindo Colmenero, Maria Silva, Maria Rodrigues, Pietro Ferrua,
Pedro Ferreira da Silva, Câmara Pires, Ramiro de Nóbrega, Maria Valverde,
José Simões, Manuel Lopes, Vitorino Trigo, Mariano Ferrer, Luisi Magrassi,
Sofia Garrido, Joaquim Leal Junior, Lírio de Resende, Jaime Cubero
e tantos outros intelectuais e operários a quem se homenageia, mesmo
ausentes...
In: Universo
Ácrata. Florianópolis: Editora Insular, 1999
Edgar
Rodrigues