O que é o Quilombo Cecília

Se eles são uma grande árvore, nós somos o pequeno machado que vai derrubá-la!!
O Quilombo Cecília é uma associação cultural, fundada em 1999, com o intuito de produzir, divulgar, difundir e dividir informação, conhecimento e cultura, incentivando e proporcionando práticas autogestionárias e autônomas tornando reais e palpáveis os anseios das organizações libertárias e populares que dele fazem parte. Buscamos oferecer à população financeiramente desfavorecida, que somos, o acesso a essa cultura e conhecimentos que nos é permanente e deliberadamente negadas.

Acreditando na possibilidade de uma transformação, principalmente através da educação, no quadro de exclusão social em que nos encontramos, o Quilombo Cecília vem trazendo alternativas de auto-organização popular. Através de nossas atividades, propomos uma mudanças nas relações sociais e políticas, corporais, alimentares, artísticas, educacionais, familiares, produtivas e medicinais, possibilitando esse acesso à cultura e mesmo abrindo caminhos tendo em vista uma maior mobilidade na luta do mercado de trabalho.

O Quilombo Cecília é uma associação, quer dizer, existe um grupo de pessoas associadas, que são responsáveis por gerir e direcionar o espaço, seja a nível organizativo, financeiro, físico ou material. A Associação reune-se quinzenalmente para definir suas metas, discutir cronogramas, atividades, orçamentos e perspectivas, além de avaliar os resultados e procedimentos referentes a decisões anteriormente tomadas pela mesma. Todos aqueles que trabalham diretamente no Quilombo Cecília são considerados como sendo associados. A associação é aberta a todos, mediante o registro cadastral e o pagamento mensal de quantia estabelecida.

Atualmente a Associação oferece à população:

Biblioteca social comunitária - Mais de 500 livros, sobre política, teatro, literatura, alimentação natural, capoeira, feminismo, negritude, poesia, história, línguas, entre outros. Conjuntamente com a biblioteca, mantemos um arquivo com milhares de fanzines, panfletos, jornais e revistas, sobre os mais variados assuntos. Os livros estão disponíveis aos associados e à população em geral, mediante cadastro.

Videoteca social comunitária - Documentários, filmes, musicais, didáticos, etc... disponíveis aos associados e população mediante cadastro.

Sala de vídeo comunitária - Aberta ao público de segunda a sexta, no horário da tarde, conta também com programação mensal organizada pela Associação e aberta ao público nas tardes de terça-feira.

Cursos e oficinas - Inglês, espanhol, teatro, reciclagem, alongamento, produção de máscaras, com professores qualificados, abertos ao público, gratuitamente ou mediante pagamento de taxa.

Capoeira Angola - Grupo Semente do Jogo de Angola, do Mestre Jogo de Dentro.

Grupo de Estudos Independente Pacífico Licutan - Formado em janeiro de 2001 com o objetivo de estudar a história do povo negro na África e na Diáspora, nossas lutas, personagens e referências. Reune-se todas as noites de quinta-feira. Aberto ao público.

Jornal O Quilombola - Nosso órgão de divulgação, onde expressamos nossas idéias, anseios e sentimentos, sejam eles políticos ou artísticos, pessoais ou universais. Pretende ser bimestral e está disponível na internet (ver abaixo).

Exposições e Eventos Culturais - A Associação organiza e abre seu espaço para diversas e variadas iniciativas de produção cultural autônoma, valorizando o trabalho dos artistas locais e excluídos pela mídia oficial, abrindo palco para a livre expressão. Peças de teatro, recitais poéticos, dança, exposição de quadros, concerto, grafite, música, performances, entre outras coisas, são abrigados e incentivados pelo Quilombo.

Eventos infantis - Em conjunto com o Coletivo Anarco-feminista KRII POR LIBERO, o Quilombo Cecília organiza quinzenalmente, eventos e vivências, onde buscamos dar espaço para o desenvolvimento coletivo das nossas crianças, criando conjuntamente brincadeiras, teatro, contando histórias, cantando, pintando e dando liberdade à nossa criatividade, tentando balancear um pouco o estresse do nosso cotidiano envolvendo as crianças, pais, mães e amigos em geral. Aberto a todos.

Realizamos debates, palestras, encontros, seminários, mostras, sempre voltados à conscientização social e étnica buscando colaborar com a formação de seres humanos íntegros e dignos, que possam contribuir com a formação de uma sociedade nova mais justa e igualitária.

Se na África os quilombos eram os longínquos acampamentos, onde os adolescentes eram iniciados na idade adulta, entre outras coisas nas táticas militares de sua nação, no Brasil e na diáspora, os quilombos, os cumbes, palenques e cimarrons, significavam, esconderijo de negro fugido da escravidão. Para o povo negro entretanto, os quilombos são os lugares onde, libertos do sistema escravagista que os sequestrara da Mãe África, tentava-se resgatar o sistema de vida e produção comunalista africano, preservar seus valores, conhecimentos e principalmente, preservar a maneira afrocêntrica de ver e pensar e compreender as coisas, entendendo-se que é justamente essa maneira própria de se relacionar com o mundo que define um povo como povo específico e único, que deve ser mantida intacta, acima de tudo. E isso é o Quilombo! Resistência e resgate, aprendizado e divisão, produção e conscientização.


Acreditamos no Quilombismo como prática revolucionária!

Estamos Aquilombados!

Diversos grupos cooperativos e indivíduos autônomos desenvolvem no Quilombo suas atividades profissionais e retiram dele o seu sustento, rompendo os limites de relação patronal, colocando em prática a autogestão em prol de uma sobrevivência digna:

O Restaurante Vegetariano Popular Quilombo Verde - Funciona de segunda a sexta, oferecendo à população de baixa renda uma alimentação saudável e nutritiva, livre de artifícios e produtos químicos que debilitam e degeneram os nossos corpos nos tornando vítimas e consumidores dependentes da indústria hospitalar-farmacêutica. Cozinhamos livres de qualquer produto animal ou derivados, por entender que todos os seres vivos merecem ser respeitados.

A Cooperativa Panificadora Autogestionária A Conquista do Pão - Produz o pão integral nosso de cada dia que alimenta e nutre a comunidade.

O Estúdio e Loja Estopim - Cds, livros, discos, fanzines, fitas, camisas, bolsas. Oferece a preço de custo as produções independentes ligadas à cena alternativa local, nacional e mundial. No estúdio ensaiam bandas dos mais diversos estilos, do cenário independente local.

Sisma Tatoo Studio - Artesão dermatológico. Preservando com toda a qualidade, segurança e higiene, a arte milenar da tatuagem.

A Pange Yammi - Cooperativa responsável pela venda de bebidas nos eventos culturais.

Some-se a isso, aqueles que tem renda indiretamente proporcionada pelo Quilombo, como por exemplo, as pessoas que vendem lance nos shows, artesanato, os professores que dão aulas, os responsáveis pelo aparelhamento sonoro, organizadores de shows, entre outros.


O Quilombo Cecília é um fato!!!

A vida é dura irmão, mas nós seguimos caminhando. O Quilombo dos Palmares, durou cem anos. Foi a mais duradoura experiência libertária da qual temos notícia. Mais que Comuna de Paris, Revolução Russa, Revolução Espanhola, Revolta dos Males, Canudos. E bem no olho do sistema escravocrata, afrontando-o diretamente, tanto pelo ideal quanto pela sua prática. E pelos pretos trazidos nos tumbeiros, vindos de África pra fazer aqui os trabalhos forçados. Pretos que nunca foram escravos, dos quais somos descendentes e dos quais nos orgulhamos. O nosso Quilombo é ainda uma semente germinando. Frágil ainda, um tanto indefesa contra o frio e a chuva. Podemos contudo observar nas primeiras folhinhas saindo, verdes ainda, mas prometendo um mundo de frutos transformadores, a proliferar sementes. E o irmão que aprende as primeiras palavras em inglês, o riso no rosto de nossas crianças, o amigo que aprendeu conosco os seus primeiros passos no jogo da capoeira e que hoje já se garante de entrar e sair de qualquer roda de angola, o que vem toda semana buscar na biblioteca outro livro, pra alimentar a sua fome de saber, os quantos vegetarianos conquistamos e cultivamos diariamente, o irmãozinho que não sabe ler, mas que vem sempre, buscar os vídeos dublados ou em português, a banda que fez aqui seus primeiros ensaios, shows, os pretos falando de quilombo, navio negreiro, Abu-Jamal, Abdias do Nascimento e Steve Biko, orgulho irmão, o viver em grande família, produzir em grupo cantando nossas músicas de resistência e luta. Essa é a revolução que propomos.

O Quilombo é um sonho que conquistamos todos os dias, com muita luta e sacrifício, que às vezes vão muito além das nossas forças. É uma realidade amigável e ao mesmo tempo aquela semente frágil. E Quilombo é ajuntamento, coalizão. Se você quer chegar, chegue mesmo, se quer ajudar, ajude mesmo. Doe livros, vídeos, material de papelaria, revistas, organize concertos beneficentes ao Quilombo, mande dinheiro, faça campanhas, nós precisamos mesmo! E utilizamos mesmo! Tudo o que vier, pois nós temos poder pra isso.

Visite o Quilombo Cecília, traga sua idéia, se junte!

br.geocities.com/salvador_libertaria/fot...


Aprendendo com a experiência dos baianos: Quilombo Cecília, em Salvador

"A formação de quilombos foi a principal forma de resistência negra frente a escravidão. Os quilombos eram aldeamentos de negros que fugiam dos latifúndios, passando a viver comunitariamente. O maior e mais duradouro foi Palmares. Desenvolveu-se através do artesanato e do cultivo do milho, feijão, mandioca, banana e cana-de-açúcar, além do comércio com aldeias vizinhas."

A escravidão acabou oficialmente em 1888, com a Lei Áurea e, teoricamente, a necessidade de fundar quilombos deixou de existir. Hoje, somos considerados livres, mas continuamos obrigados a trabalhar para comer e viver muito mal – e isso, aqueles que ainda conseguem trabalho. A verdade é que continuamos escravos, e resistir através dos quilombos ainda é necessário. E foi esta necessidade que levou um grupo de anarquistas de Salvador, na Bahia, a criar o Quilombo Cecília.

A associação existe há cerca de dois anos e meio, e teve início quando Mendigo, um dos quilombolas, recebeu uma herança de sua mãe e decidiu montar um bar cultural. No início a idéia era criar um espaço onde o movimento anarquista baiano pudesse se reunir. O Pelourinho foi o lugar escolhido para abrigar o Quilombo - a proximidade com o centro da cidade influenciou na escolha, assim como a tradição dos anarquistas de se encontrar na região.

Apesar de ter começado como bar cultural, a princípio o espaço era muito mais "bar" do que "cultura". As festas e reuniões de amigos costumavam ir muito bem, mas a parte cultural ficou um pouco esquecida. Veio daí a idéia de reformular o Quilombo, e realizar o inverso: continuariam acontecendo festas e reuniões, mas as atividades culturais deveriam predominar.

O bar deixou de funcionar todos os dias e passou a abrir só nas sextas e sábados, que também é quando acontecem os shows. A semana ficou reservada para as atividades culturais: capoeira; aulas de inglês, espanhol e francês; massagem; loja de discos; Heiki; palestras e mostras de vídeos; biblioteca e videoteca; teatros; estúdio de tatuagem; estúdio musical; pré-vestibular popular; almoços vegetarianos; entre outras. Hoje em dia, o Quilombo consegue se manter sem precisar vender álcool no bar, o que seus membros consideram uma grande conquista.

Participam do Quilombo algumas pessoas da comunidade local, mas a maioria já era anteriormente ligada ao anarquismo. Atividades mais populares, como as aulas de capoeira, funcionam como um atrativo para um público mais diversificado. Gente de vários estados e países costuma sentir-se inspirada pela iniciativa e acaba ficando para realizar uma troca de experiência mais profunda: vários estrangeiros dão aulas de inglês, francês e espanhol, e brasileiros de outras regiões organizam oficinas de reciclagem de papel e montagens teatrais. Muitos movimentos se reúnem no espaço: núcleos da resistência negra, coletivos feministas, punks, anarcopunks e straight edges trabalham juntos, superando – e, acima de tudo, respeitando - as divergências, sem líderes.

Mas o Quilombo também enfrenta algumas dificuldades. A maior delas, atualmente, é tentar se registrar como ONG, para poder receber doações e incentivos, entre eles a isenção de impostos. A manutenção do local é outra questão complicada. O espaço do Quilombo é alugado, e todos que nele mantêm alguma atividade regular ajudam financeiramente. Mesmo assim, o estúdio de música, a loja de discos, o restaurante, a biblioteca, os cursos e os shows conseguem cobrir apenas uma parte do aluguel. O que falta, no final do mês, sai dos bolsos dos próprios quilombolas. Uma situação difícil, pois eles são poucos e para alguns a sua principal atividade é o Quilombo.

Apesar das dificuldades, existem projetos para o futuro. E um deles já começou a ser realizado: a construção de um segundo quilombo em Cajazeiras, bairro da periferia de Salvador. Outro sonho é conseguir montar uma creche pré-escolar, para as crianças. Muita gente ajuda, também. Em SP, vai ser lançado um CD beneficente cuja renda será revertida para o Quilombo Cecília. A ajuda também vem de fora, de países como a Alemanha. Mesmo assim, os quilombolas reclamam da falta de apoio e participação de outros ativistas, tanto do ponto de vista físico, quanto do humano e do material. Segundo eles, não basta ajudar, tem que participar. Geralmente, as pessoas freqüentam apenas um dos eventos ou atividades do espaço, ao invés de ter uma participação mais efetiva e global, o que seria o ideal.

Mas o importante é que o grande passo inicial foi dado. O Quilombo Cecília é o sonho de muitos anarquistas, quase realizado. A comida, a política, a cultura, a educação: tudo isso os quilombolas – e os filhos destes, e esperamos que os filhos de seus filhos – já conseguem retirar dali. O que é uma grande vitória: conseguir viver sem que haja uma separação entre o que eles são, o que sentem e o que fazem.

O caminho já começou a ser traçado em Salvador – agora, é lutar contra as dificuldades e dar continuidade ao trabalho. E é nisso mesmo que consiste a conquista da liberdade: à medida em que ela aumenta, aumentam também nossas responsabilidades sob nossos destinos.

Associação Cultural Quilombo Cecília
Rua do Passo, 40, Salvador - Bahia / Brasil
Caixa Postal 185 - CEP 40001-970 - Salvador/BA
quilombocecilia@ig.com.br
Fone: (71) 326-2090
http://br.geocities.com/salvador_libertaria/quilombocecilia.html

 

Associação Cultural Quilombo Cecília