Aspectos
Básicos da Organização Política
A
organização política dos anarquistas é
uma tentativa histórica, uma necessidade de nossa ideologia
e também um mecanismo para acumularmos trabalho militante e
aí termos a chance de contribuir para um processo de luta e
transformação social. Assim como os sindicatos livres
eram a casa do trabalhador, a organização anarquista
tem de ser o espaço de nossa militância. Através
dela, como meio de implementar a ideologia na realidade, os anarquistas
têm as condições de interferir na história
e talvez, dependendo da intensidade da luta, ameaçar em sério
este sistema.
Mas, construir esta organização
tantas vezes falada, não é tarefa fácil. Talvez
seu funcionamento, uma vez começado, seja simples. Neste primeiro
momento, são necessárias mudanças na atuação
militante e também na discussão coletiva, o que geralmente,
acarreta algumas dificuldades. A primeira atitude é começar
a definir coletivamente - sem pressa mas sempre trabalhando com prazos
marcados e respeitados - acordos para o trabalho interno. Isto implica,
desenvolver e caracterizar algumas ferramentas da militância
política, tais como:
- Conceitos básicos
para trabalhar ( luta, processo, classes, povo, ideologia, sistema,
dominação ....)
- Critérios de funcionamento
interno ( em todos os níveis para todos os tipos de tarefas)
- Padrões para a militância,
acentuando as características definidas pelo coletivo para
cada militante (ex.: responsabilidade, organicidade , compromisso,
autodisciplina , capacidade de formulação e convencimento,
ética militante , combatividade , solidariedade, fraternidade,
companheirismo ....)
- Níveis para as participações
( desde os militantes até os mais esporádicos simpatizantes
)
- Capacitação
do coletivo para funcionar como organização (melhorando
e aprimorando os mecanismos e instâncias internas, respeitando
os acordos , levando a política conjunta da organização
para todas as frentes de luta, buscando a coesão organizada
a partir da capacidade militante e da criatividade dos libertários...)
- Aprofundando a discussão
ideológica, sabendo que teremos cada vez mais possibilidades
de trabalho quanto mais acordos e discussões acumuladas tivermos.
Outro detalhe importante de
lembrar, é de que todas as tarefas são de igual importância,
e a designação de tarefas executivas não implica
e não pode vir a implicar em nenhum privilégio. Uma
organização anarquista é essencialmente igualitária,
mas lembrando que igualdade significa compromisso e responsabilidade.
O mesmo para as deliberações, mais participação
será mais deliberação, quanto maior for o nível
de compromisso, maior será a capacidade de autogestionar a
luta - tanto a nível interno quanto externo.
A militância, política
anarquista significa aprimorar a inserção social a cada
dia, e juntamente com isso, aprimorar a organização.
É uma dialética simples: mais inserção
social significa mais capacidade interna, melhor capacitação
interna, é a garantia de podermos disputar com outros projetos
políticos da esquerda reformista /autoritária, e assim
aprofundarmos nossa penetração nas necessidades básicas
da população.
Cada pequeno passo é
de imensa importância, pois o anarquismo trabalha com a idéia
de processo e construção popular - paralelo à
destruição da influência do sistema em nossas
vidas; esta é a dialética da militância política
libertária, lembrando que esse processo depende da vontade
do ser humano e não de futuros gloriosos e inalcançáveis.
A construção do processo revolucionário, neste
primeiro momento passando pela construção do processo
de resistência popular, é uma tarefa cotidiana de cada
militante e do conjunto da organização anarquista. Tal
processo, também necessita de um trajeto de construção
interna, justamente onde estamos agora. Construindo a organização
anarquista estaremos caminhando para outra vez estarmos a altura de
nosso compromisso. Sempre tendo em mente, que somos a continuidade
da luta social dos povos brasileiros e latino-americanos , somos a
seqüência dos esforços de inúmeros companheiros
anarquistas – daqueles que caíram de pé, generosamente
oferecendo suas vidas à nossa luta libertária.
Como tantas vezes já
foi dito, por mais difícil que seja o caminho da construção
revolucionária , é o único coerente e honesto
com nossos princípios e com nossa história.
(Boletim Interno da FAG – nº 0 – dezembro de 1995)
http://www.fag.rg3.net/