Mikhail
Bakunin
Imitemos
um pouco a sabedoria dos nossos adversários. Vejam, todos os
governos têm na boca a palavra liberdade, enquanto os seus atos
são reacionários. Que as autoridades revolucionárias
não façam mais frases, mas usando uma linguagem mais
moderada, a mais pacífica possível, façam
a revolução.
É
totalmente o inverso do que as autoridades revolucionárias,
em todos os países fizeram até hoje: elas foram a maior
parte das vezes excessivamente enérgicas e revolucionárias
em sua linguagem e muito moderadas, para não dizer muito reacionárias,
nos seus atos. Pode-se mesmo dizer que a energia da linguagem,
a maior parte das vezes, serviu-lhes de máscaras para enganar
o povo, para lhe esconder a fraqueza e a incoerência de seus
atos. Há homens, muitos homens na burguesia supostamente
revolucionária, que ao pronunciarem algumas palavras revolucionárias,
julgam fazer a revolução, e que, depois de as terem
pronunciado, se julgam com o direito de cometer atos de fraqueza.
inconseqüências fatais, atos de pura reação.
Nós somos revolucionários para valer, fazemos absolutamente
o contrário. Falamos pouco de revolução, mas
fazemo-la. Deixemos por agora a outros o cuidado de desenvolver teoricamente
os princípios da revolução social, e contentemo-nos
em aplicá-los, em encarná-los nos fatos.
Entre
os nossos amigos e aliados, os que me conhecem bem, talvez fiquem
espantados por eu sustentar agora esta linguagem, eu, que fiz tanta
teoria, e que me mostrei sempre um guardião zeloso e feroz
dos princípios. Ah! É que os tempos mudaram. - Então,
ainda há um ano, nos preparávamos para a revolução,
que esperávamos, uns mais tarde, outros mais cedo, - e agora,
digam os que disserem os cegos, estamos em plena revolução.
- Então era absolutamente necessário sustentar alto
a bandeira dos princípios teóricos, expor bem alto estes
princípios em toda sua pureza, a fim de formar um partido por
pouco numeroso que fosse, mas composto unicamente por homens que estivessem
sinceramente, plenamente, apaixonadamente ligados a estes princípios,
de modo que cada um, em tempo de crise, pudesse contar com todos os
outros. Agora já não se trata de recrutar. Nós
conseguimos formar, bem ou mal, um pequeno partido - pequeno em relação
ao número de homens que aderem a ele com conhecimento de causa,
imenso relativamente aos seus aderentes instintivos, relativamente
às massas populares das quais ele representa as necessidades
melhor do que qualquer outro partido. - Agora devemos embarcar em
conjunto no oceano revolucionário, e doravante não devemos
propagar mais nossos princípios por palavras, mas com fatos,
- pois é a mais popular, a mais poderosa e a mais irresistível
das propagandas. Calemos de vez em quando a política,
isto é, quando a nossa impotência momentânea em
relação a uma grande força contrária o
exija, mas sejamos sempre implacavelmente conseqüentes nos
fatos. A salvação da revolução está
toda neles.
A
razão principal porque todas as autoridades revolucionárias
de todo o mundo fizeram sempre tão pouca revolução,
é porque elas sempre quiseram faze-la elas próprias,
com a sua autoridade, e com a sua força, o que nunca deixou...
de estreitar excessivamente a ação revolucionária,
pois é impossível mesmo para a autoridade revolucionária
mais inteligente, mais enérgica, mais franca, abraçar
ao mesmo tempo muitas questões e interesses, sendo qualquer
ditadura, tanto individual como coletiva, enquanto composta por vários
personagens oficiais, necessariamente muito limitada, muito cega,
e incapaz tanto de penetrar nas profundezas como de abraçar
toda a amplidão da vida popular...
Então
o que devem fazer as autoridades revolucionárias - e trabalhemos
para que estas existam o menos possível - o que é que
elas devem fazer para desenvolver e organizar a revolução?
Elas nem devem faze-la por decretos, nem impô-la às
massas, mas provocá-la nas massas. Elas não lhes devem
impor uma organização qualquer, mas suscitando a sua
organização autônoma, trabalhar secretamente,
com a ajuda da influência individual sobre os indivíduos
mais inteligentes e mais influentes de cada localidade, para
que esta organização esteja o mais próxima possível
de nossos princípios. - Todo e segredo do nosso triunfo está
aí.
Que este trabalho vá
encontrar dificuldades, quem pode duvidar disso? Mas quem pensa que
a revolução é um jogo de crianças e que
se pode faze-la sem vencer inumeráveis dificuldades? Os revolucionários
socialistas dos nossos dias não têm nada ou quase nada
a imitar nos processes revolucionários dos jacobinos de 1793.
A rotina revolucionária os poria a perder. Eles devem trabalhar
no vivo, eles devem criar tudo. (Obras, II. 225 a 228, 70).
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Não se pense que
eu quero impor a causa da anarquia absoluta nos movimentos populares.
Uma tal anarquia não seria outra coisa senão uma ausência
completa de pensamento, de objetivo e de conduta comum. Tudo que é
viável ou não se produz numa determinada ordem, que
lhe é inerente se manifesta conforme é. Qualquer revolução
popular, que não morra ao nascer, conformar-se-á a uma
ordem que lhe será particular, e sempre reconhecida pelo instinto
popular, será determinada pela combinação natural
de todas as circunstâncias locais com o objetivo comum que apaixona
as massas. Para que esta ordem possa brotar e para que se estabeleça
no meio da anarquia de uma sublevação popular. é
preciso que abrace os povos numa única e grande paixão
e que o seu objeto esteja bem determinado.
O ideal de tal insurreição,
segundo a minha opinião, realizou-se em uma sublevação
de massa dos insurretos da Vendéia; não, sem dúvida,
no seu programa, que foi excessivamente reacionário. As tropas
aguerridas da República, comandadas pelos melhores generais
foram postas em xeque, durante alguns anos, pela desordem dos camponeses.
A sublevação
popular na Espanha contra Napoleão nos dá outro exemplo.
Poder-se-ia ainda citar a do povo russo contra a invasão de
Napoleão em 1812. (Nettlau. 198, 68).
O que torna os movimentos
verdadeiramente populares tão fortes é que, produtos
de uma grande paixão unânime, seduzem a todos, tanto
os fracos como os fortes, as mulheres, as crianças, os velhos,
assim como os jovens e os homens maduros, pois a própria ausência
de qualquer ordem formal e de qualquer regra artificial, imposta por
uma autoridade superior, torna possível esta participação
ao movimento geral, de todas as idades e de todos os sexos; enquanto
que a repressão definitiva das forças populares; constantemente
a desaparecer e a renascer, torna-se por isso mesmo impossível.
Vimos
uma prova surpreendente disso na última insurreição
polaca. Foi um movimento anárquico, o governo nacional
de Varsóvia era muito fraco para o conter e para o dirigir,
o que foi mais uma vantagem do que um inconveniente, pois este governo,
- que é preciso não confundir com o comitê
central de Varsóvia, que organizou muito bem a conspiração
nacional, mas que se dissolveu de fato nos primeiros dias da insurreição
e foi substituído pelo governo nacional - este governo tinha
um temperamento tão pouco revolucionário, que era muito
mais capaz de matar do que manter viva a insurreição
polaca. Todos os membros do Comitê Central, do sistema de concessões
e de meias medidas e não talvez menos um ou dois, eram sinceramente
revolucionários - senão totalmente pelo seu programa,
ao qual voltarei mais a frente - pelo menos pela energia da sua fé
e da sua vontade. Eram jovens impacientes por começar a luta
e que só contavam com a sublevação popular. Eram
inimigos, naturalmente, sem nenhuma confiança na diplomacia.
Podemos ter certeza, pois, que se eles tivessem se mantido à
cabeça do movimento insurrecional. este último teria
tomado um caminho mais decisivo. Mas deixando-se se arrastar por um
sentimento de impaciência, de vaidade juvenil e de heroísmo
e em parte impelidos pelas próprias necessidades de sua dificílima
posição, deixaram Varsóvia para se porem à
cabeça dos bandos revoltados. Morreram quase todos e o seu
lugar vago foi ocupado por outros. Estes outros eram revolucionários
de futuro, não dá véspera, aliás, patriotas
decididos, mas moderados, hesitantes e ponderados, que nunca teriam
começado uma revolução como a da véspera,
que eles diziam impossível, e que, conseqüentemente, não
tinham nenhuma das qualidades requeridas para a conduzir a bom termo.
Estes
revolucionários moderados censuraram à juventude
revolucionária, como uma grande loucura, a sua confiança
no povo; esta confiança, nunca a partilharam e por muitas razões...,
eles recearam, até mais do que desejavam, a insurreição
polaca. Mas provando a sua incontestável sabedoria por esta
desconfiança legítima que o povo sempre lhes
inspirou, não conseguiram evitar outra loucura - não
posso qualificar de outro modo a sua confiança infantil no
auxílio da diplomacia. Aliás, eles são suas vítimas
- um amigo muito perigoso e muito equívoco da causa polaca,
chefe de um Estado, que desde que esta causa existe, não deixou
escapar uma ocasião para lhe prestar maus serviços,
- o Imperador Napoleão III, numa palavra, tendo-lhe sugerido
que deviam apoderar-se do movimento nacional, - primeiro para paralisar
tudo o que havia de verdadeiramente revolucionário e que, acrescentava,
seria necessariamente antipática a todos os governos regulares
da Europa; mas ao mesmo tempo para o fazer prolongar em duração
continuando-o como um protesto exclusivamente nacional, a fim de dar
à diplomacia o pretexto de intervir á favor da Polônia
- esses homens sensatos, que se apoderaram efetivamente de governo
nacional, só seguiram muito fielmente os conselhos de Paris.
Eles puseram todas as suas esperanças na intervenção
diplomática da França; para agradar a esta, para agradar
também a Áustria, que durante alguns meses tinha fingido
querer associar-se à política da França, fizeram
todos os esforços para acalmar, para despopularizar e para
abafar a insurreição nacional. - Eles só o conseguiram
imperfeitamente, graças à sua impotência. (Nettlau.
157-l58, 68?).
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Se Paris se subleva e
triunfa, terá o direito e o dever de proclamar a liquidação
completa de Estado político, jurídico: financeiro e
administrativo, a bancarrota pública e privada, a destruição
de todas as funções, de todos os serviços, de
todas as forças do Estado, o incêndio ou o fogo da alegria
de todos os papéis e atos públicos e privados, a fim
de que os trabalhadores reunidos em associações, e que
terão expropriado todos os instrumentos de trabalho, capitais
de qualquer espécie e edifícios, fiquem armados e organizados
por ruas e por quarteirões. Formarão a federação
revolucionária de todos os quarteirões, a comuna diretiva.
E esta comuna terá o dever de declarar que não se arroga
o direito de governar e de organizar a França, mas que chama
o povo de todas as comunas, tanto da França como do que se
chamava até agora o estrangeiro, a seguir o seu exemplo, a
fazer, cada uma na sua região, uma revolução
tão radical, tão destrutiva para o Estado, para o direito
jurídico e para a propriedade privilegiada.
Ela derivará estas
comunas, francesas ou estrangeiras, depois de ter feito esta revolução,
a virem federar-se com ela, quer em Paris quer em qualquer outro ponto
que se quiser, para onde enviarão seus delegados para fazer
uma organização comum dos serviços e das relações
de produção e de troca, organização necessária
para estabelecer a carta de igualdade, base de toda a liberdade, carta
totalmente negativa por seu caráter, separando bem o que deve
ser abolido presentemente do que são as formas positivas da
vida local, que só podem ser criadas pela prática viva
de cada localidade. Ao mesmo tempo organizar-se-á uma defesa
comum contra os inimigos da Revolução, assim como a
propaganda ativa da Revolução e da solidariedade prática
revolucionária, com os amigos de todos os países contra
os inimigos de todos os países.
Numa palavra, a revolução
deve estar e deve surgir por toda parte. independentemente do ponto
central, que deve ser sua expressão, o seu produto, e não
a sua fonte, a sua direção e a sua causa.
É preciso que a
anarquia, o despertar da vida espontânea, de todas as paixões
locais, e sobre todos os pontos, sejam tão grandes quanto possível,
para que a Revolução seja e continue viva, real, forte.
Os revolucionários políticos, os partidários
da ditadura ostensível, logo que a revolução
tiver obtido o primeiro triunfo, ordenaram o apaziguamento das paixões,
a ordem, a confiança e a submissão aos novos poderes
estabelecidos. Deste modo, eles reconstituem o Estado. Nós,
pelo contrário, devemos fomentar, despertar, desprender todas
as paixões, devemos produzir a anarquia, e, pilotos invisíveis
no meio da tempestade popular, devemos dirigi-la, não com um
poder ostensível, mas pela ditadura coletiva de todos os aliados(membros
da Aliança). Ditadura sem capa, sem título, sem direito
oficial, e tanto mais forte quanto menos aparências do poder
ela tiver. Eis a única ditadura que admito. Mas para que ela
possa agir é preciso que exista, e para isso, é necessário
primeiro prepará-la e organizá-la; poi ela não
se fará sozinha, nem com discussões, nem por exposições
e debates de princípios, nem por assembléias populares.
(Richard, 130-131, 70).
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O
nosso objetivo é criar uma coletividade revolucionária
forte mas sempre invisível, uma coletividade que deve preparar
a revolução e dirigi-la..., deixando ao movimento revolucionário
de massas o seu desenvolvimento total a à sua organização
social... a mais completa liberdade, mas vigiando sempre para que
este movimento e esta organização nunca possam reconstituir
autoridades, governos, Estados, e combatendo todas as ambições,
tanto coletivas (no gênero da de Marx) como individuais pôr
influência natural, nunca oficial, de todos os membros
de nossa Aliança, disseminados em todos países, e cuja
força vem unicamente de sua ação solidária
e da unidade de programa e de objetivos que deve existir sempre entre
eles. (Nettlau, 284, 72).
Assim centralizada pela
idéia e pela identidade de um programa comum a todos os países,
centralizada por uma organização secreta, que reunirá
não só todos os partidos de um país, mas também
muitos senão todos os países num mesmo plano de ação;
centralizada também pela simultaneidade dos movimentos revolucionários
no campo e na cidade, doravante, a revolução deverá
tomar e manter um caráter local no sentido em que não
deverá começar de modo nenhum por uma grande concentração
de todas as forças revolucionárias de um , país
num único ponto, nem nunca tomar o caráter romanesco
e burguês de uma expedição quase revolucionária,
mas inflamando-se ao mesmo tempo em todos os pontos de um país,
deverá tomar o caráter de uma verdadeira revolução
popular. (Nettlau, 218, 64-67).
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Tu
me escreves, caro amigo, que és "inimigo de qualquer espécie
de estatus" e afirmas que "só são
jogos de crianças". Eu não compartilho completamente
da tua opinião neste ponto. É detestável uma
regulamentação excessiva, e julgo, como tu, que "as
pessoas sérias devem traçar uma linha da conduta e não
se desviar dela". Portanto tentemos nos compreender um ao outro.
A fim de estabelecer uma
certa coordenação na ação, coordenação
necessária, creio eu, entre as pessoas que tendem para o mesmo
objetivo, impõe-se determinadas condições: um
certo número de regras ligando cada um a todos, determinados
pactos e acordos renovados freqüentemente - se falta tudo isto,
se cada um trabalha como lhe apetece, as pessoas mais sérias
se encontrarão elas próprias numa situação
em que os esforços de um serão neutralizados pelos de
outros. Disto resultará a desarmonia e não a harmonia
e a confiança serena para a qual nos tendemos.
...Eu quero que no nosso
trabalho haja ordem e uma confiança serena, e que nem uma nem
outra sejam os resultados de ordens de uma única vontade, mas
da vontade coletiva, da vontade bem organizada de numerosos companheiros
disseminados em numerosos países... Mas para que uma tal descentralização
seja possível, é preciso ter uma autêntica organização,
e uma tal organização não é possível
sem um certo grau de regulamentação, que ao fim e ao
cabo são o resultado de um acordo mútuo ou de um contrato.
(Maximoff. 379-380, 68-70).
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Trata-se
da disciplina e da confiança, assim como da união. São
coisas excelentes quando são bem aplicadas. Funestas quando
se dirigem a quem não as merece. Amante apaixonado da liberdade,
confesso que desconfio muito dos que têm sempre na boca a palavra
disciplina. (obras, II, 296, 70-71).
Por muito inimigo que
seja daquilo que na França chama de disciplina, no entanto
reconheço que uma certa disciplina, não automática,
mas voluntária e refletida, e estando perfeitamente de acordo
com a liberdade dos indivíduos, continua a ser e sempre será
necessária, todas as vezes que vários indivíduos,
livremente unidos, empreenderem um trabalho ou uma ação
coletiva qualquer. Esta disciplina não é senão
a concordância voluntária e refletida de todos os esforços
individuais para um objetivo comum. No momento da ação,
no meio da luta, os papéis dividem-se naturalmente, segundo
as aptidões de cada um, apreciados e julgados por toda coletividade:
uns dirigem e ordenam, outros executam as ordens. Mas nenhuma função
se petrifica, se fixa e fica irrevogavelmente ligada a nenhuma entidade
ou pessoa. A ordem e a promoção hierárquica não
existem, de modo que o comandante de ontem pode tornar-se o subalterno
de hoje. Ninguém se eleva acima dos outros, ou se se eleva,
não é senão para cair logo a seguir, como as
ondas do mar, voltando sempre ao nível salutar da igualdade.
Neste
sistema já não há propriamente poder. O poder
baseia-se na coletividade, e torna-se a expressão sincera da
liberdade de cada um, a realização fiel e séria
da vontade de todos; só obedecendo cada um de per si,
ao chefe do dia, este só ordenara o que ele próprio
quer.
Eis a disciplina verdadeiramente
humana, a disciplina necessária à organização
da liberdade. (Obras, II, 297-298. 70-71).
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Doravante,
que cada grupo, cada seção de grupo, não receba
no seu seio um novo membro senão por unanimidade,
nunca unicamente pela maioria das vozes, isto é, de todos os
membros que fazem parte desta seção de grupo. - Se só
são dois, não devem admitir um terceiro senão
quando estiverem os dois perfeitamente de acordo e igualmente convencidos
da utilidade, da inteligência, da dedicação, da
energia e da descrição que ele vos trará. E nesta
escolha nunca devem se deixar conduzir por nenhuma outra consideração
senão o programa da Aliança, a concorrência perfeita
dos seus sentimentos e das suas idéias com esse programa, e
a sua capacidade real de os seguir com energia, com discrição
e com perseverança e prudência, e sobretudo a sua capacidade
de renunciar para sempre qualquer iniciativa pessoal isolada, e de
subordinar sempre a sua ação à vontade coletiva
- capacidade que os vaidosos e ambiciosos nunca têm, pois o
que eles procuram, muitas vezes - sem eles próprios repararem
nisso, - o que procuram em todas as coletividades, tanto públicas
como secretas. que encontram, é um pedestal para si, um trampolim
para sua glória ou elevação pessoal - por causa
disso, impusemos a nós próprios a lei de nunca receber
nosso sanctum sanctorum, na nossa intimidade e fraternidade coletiva,
nenhum ambicioso e nenhum vaidoso, por muito parecidas que sejam as
suas idéias e as suas tendências apaixonadas com as nossas,
por muito inteligentes e sábios que sejam e por muito grande
que pudesse ser a utilidade que as suas relações e a
sua influência no mundo nos trouxesse. Preferimos nos resignar
do que recebê-los entre nós, pela certeza que temos de
que a sua ambição e a sua vaidade não deixariam
de trazer para o nosso meio, mais tarde ou mais cedo, os germes da
divisão e da desorganização. - Eles vão
querer ser chefes, dirigentes, mestres, e não os reconhecemos
de modo nenhum entre nós e como socialistas revolucionários
não os devemos reconhecer. Não pode e não deve
ser dos nossos senão o que é capaz de, individualmente,
imergir completamente na solidariedade fraternal e na ação
coletiva dos aliados - não para se tornar um escravo, mas pelo
contrário, para se retemperar nela e para se reencontrar forte,
livre, inteligente, pela força, pela liberdade, pela inteligência
e pela assistência, sempre ativa e sempre presente, de todos.(Nettlau,
283-284, 72)
[O
candidato] - à Aliança - deve compreender que uma associação
com um objetivo revolucionário tem de se transformar necessariamente
em sociedade secreta, e qualquer sociedade secreta, no interesse
da causa a que serve e da eficácia de sua ação,
assim como no da segurança de cada um dos seus membros, tem
de ser submetida a uma forte disciplina, que aliás não
é senão o resumo e o resultado puro do compromisso recíproco
que todos os membros uns em relação aos outros. (Nettlau,
213, 64-67).
Socialismo e Liberdade
Mikhail Bakunin
Coletivo Luta Libertária
"Socialismo e Liberdade"