A
linha de pensamento é muito simples. Uma passagem pela História do
Brasil e vem a pergunta: alguma vez o povo trabalhador, que construiu
e sustenta esse país, teve prioridade durante algum dos diferentes
tipos de governo, os quais suportamos e nos foram impostos até hoje?
Em algum momento de nossa História o bem-estar da população foi objetivo
de qualquer dos bastardos, mais conhecidos como governantes, em meio
a suas barganhas, negociatas, propinas e interesses?
Agora
vamos percorrer o Estado do Rio de Janeiro, o que vemos? O mundo de
fantasia da zona sul por toda parte? Apenas gente bonita e emergente
gastando dinheiro em shoppings da barra? Vamos olhar um pouco melhor,
saindo da fantasia em direção à realidade, logo iremos reparar nas
casas de tijolos sem reboco, casas que cada vez mais avançam sobre
os morros e se perdem de vista, reparem nos barracos de tapumes embaixo
dos viadutos, não percam de vista os miseráveis que catam e/ou comem
lixo ou os que pedem esmola, nas calçadas do mundo de fantasia, em
meio ao rápido movimento de indiferentes pernas sedentas por satisfação
via consumo. Agora repare também que essa rude realidade supera, em
número de pessoas e área, o mundo feliz e pequeno burguês de fantasia
ariano-consumista da zona sul, inclusive coexiste dentro dele.
Agora
some 1+1, de forma bem racional, e vai concluir que em nosso Estado
existe uma brutal concentração de renda, desigualdade social, exclusão
racial e econômica seja na área urbana ou rural. Afaste-se um pouco
e observe que isso se repete em todo Brasil. Obviamente isso tudo
é bem claro se você respondeu corretamente a primeira pergunta desse
texto.
Acorde,
e enxergue que um país onde a maioria leva uma vida difícil, pobre
ou miserável é reflexo de uma política de abandono e omissão por parte
daqueles que reinam, governam ou nos representam, não importa
a palavra, os quadrúpedes são os mesmos. Somos colônia de exploração
e mercado consumidor das metrópoles, e o governo, composto pela elite,
governa para a elite, seja ela nacional ou estrangeira.
E
também no Rio de Janeiro, a enorme quantidade de comunidades carentes
que não param de crescer; de desempregados, analfabetos, desabrigados,
famintos, miseráveis, escravos de aluguel, etc. mostram o retrato
de um povo abandonado, obrigado a viver sem o básico a uma vida de,
pelo menos, cachorro de emergente. Abandonados! Largados! Muitos têm
muito pouco para que poucos tenham muito.
E
o 30 de setembro? Pouco interessa se foi orquestração de político,
boato ou ordem de bandido, se a vida no estado pára por causa do crime
é porque há algo de sinistramente sintomático. Se já chegamos a essa
situação é porque estamos a um passo do caos. Mas o que se poderia
esperar de 500 anos de abandono, exploração, repressão e exclusão
social, sem falar nos oito anos de reinado de Fernando Hitler Cardoso,
o marionete de Washington e seu plano Irreal made in FMI de abertura
e estupro de mercados (com aplicações em toda América Latina, vide
Argentina)? O tráfico e o crime tomaram conta de tudo porque a prioridade
do governo é o capital, o lucro, seu e daqueles que representa. O
30 de setembro impressiona porque está se concretizando o antigo alerta
de que se o tráfico resolvesse descer do morro iria fazer e acontecer,
mas o mais alarmante é justamente termos chegado à situação que ocorreu
no referido dia.
O
poder não é paralelo, é um ângulo agudo cujo vértice vai direto no
coração do povo, e suas retas são o Estado e criminalidade. É o mesmo
poder, e faz parte e é fruto do mesmo sistema, que explora os trabalhadores
e os reprime nas comunidades carentes. O crime tira do Estado o trabalho
de esmagar o povo e mantê-lo sempre em silêncio, com medo e sem ter
visto nada sempre. Ao mesmo tempo que justifica maiores gastos com
polícias e o recrudescimento dos aparelhos repressores do Estado sobre
o povo e os movimentos sociais. É o mesmo poder que fecha rádios comunitárias
arbitrariamente, porque representam uma auto estima, representação
e organização popular, ou vai mantê-lo trancado em casa pelo toque
de recolher.
O
Estado representa e trabalha para a elite, e logicamente não há interesse
da elite em por um fim no tráfico de drogas que é tão lucrativo e
movimenta tanto dinheiro, logo, o Estado nunca vai combater de forma
definitiva essa situação onde estão envolvidos tanto questões ideológicas
quanto financeiras. Acontece que enquanto eram os pobres que morriam
nas comunidades e ocupavam as páginas do Povo, a classe média e as
elites pouco se importavam. Agora, que o crime está ferindo a liberdade
pequeno burguêsa de ir e vir para consumir da medíocre classe, é que
acontecem manifestações por paz, campanhas de interesse duvidoso e
outras demonstrações de hipocrisia. Um exemplo é o “cristo” jornalista
da mídia corporativa, morto como muitos pobres morreram mas nunca
foram citados. A elite continua pouco se importando, afinal ela vive
protegida e anda de helicóptero, ao contrário da classe merda que
também tem que pegar ônibus.
O
advento de 30 de setembro é mais um sinal, um sintoma da doença chamada
Estado, doença que se agrava a cada dia e que está sendo tratada com
paliativos de impacto. Enquanto muitos se iludem e alguns se aproveitam,
a revolução popular é o único remédio, pois só o povo sabe daquilo
que o aflige.
Coletivo
de Estudos Anarquistas Domingos Passos, 2002