30 de Setembro: Sintoma da Doença do Estado

A linha de pensamento é muito simples. Uma passagem pela História do Brasil e vem a pergunta: alguma vez o povo trabalhador, que construiu e sustenta esse país, teve prioridade durante algum dos diferentes tipos de governo, os quais suportamos e nos foram impostos até hoje? Em algum momento de nossa História o bem-estar da população foi objetivo de qualquer dos bastardos, mais conhecidos como governantes, em meio a suas barganhas, negociatas, propinas e interesses?

Agora vamos percorrer o Estado do Rio de Janeiro, o que vemos? O mundo de fantasia da zona sul por toda parte? Apenas gente bonita e emergente gastando dinheiro em shoppings da barra? Vamos olhar um pouco melhor, saindo da fantasia em direção à realidade, logo iremos reparar nas casas de tijolos sem reboco, casas que cada vez mais avançam sobre os morros e se perdem de vista, reparem nos barracos de tapumes embaixo dos viadutos, não percam de vista os miseráveis que catam e/ou comem lixo ou os que pedem esmola, nas calçadas do mundo de fantasia, em meio ao rápido movimento de indiferentes pernas sedentas por satisfação via consumo. Agora repare também que essa rude realidade supera, em número de pessoas e área, o mundo feliz e pequeno burguês de fantasia ariano-consumista da zona sul, inclusive coexiste dentro dele.

Agora some 1+1, de forma bem racional, e vai concluir que em nosso Estado existe uma brutal concentração de renda, desigualdade social, exclusão racial e econômica seja na área urbana ou rural. Afaste-se um pouco e observe que isso se repete em todo Brasil. Obviamente isso tudo é bem claro se você respondeu corretamente a primeira pergunta desse texto.

Acorde, e enxergue que um país onde a maioria leva uma vida difícil, pobre ou miserável é reflexo de uma política de abandono e omissão por parte daqueles que  reinam, governam ou nos representam, não importa a palavra, os quadrúpedes são os mesmos. Somos colônia de exploração e mercado consumidor das metrópoles, e o governo, composto pela elite, governa para a elite, seja ela nacional ou estrangeira.

E também no Rio de Janeiro, a enorme quantidade de comunidades carentes que não param de crescer; de desempregados, analfabetos, desabrigados, famintos, miseráveis, escravos de aluguel, etc. mostram o retrato de um povo abandonado, obrigado a viver sem o básico a uma vida de, pelo menos, cachorro de emergente. Abandonados! Largados! Muitos têm muito pouco para que poucos tenham muito.

E o 30 de setembro? Pouco interessa se foi orquestração de político, boato ou ordem de bandido, se a vida no estado pára por causa do crime é porque há algo de sinistramente sintomático. Se já chegamos a essa situação é porque estamos a um passo do caos. Mas o que se poderia esperar de 500 anos de abandono, exploração, repressão e exclusão social, sem falar nos oito anos de reinado de Fernando Hitler Cardoso, o marionete de Washington e seu plano Irreal made in FMI de abertura e estupro de mercados (com aplicações em toda América Latina, vide Argentina)? O tráfico e o crime tomaram conta de tudo porque a prioridade do governo é o capital, o lucro, seu e daqueles que representa. O 30 de setembro impressiona porque está se concretizando o antigo alerta de que se o tráfico resolvesse descer do morro iria fazer e acontecer, mas o mais alarmante é justamente termos chegado à situação que ocorreu no referido dia.

O poder não é paralelo, é um ângulo agudo cujo vértice vai direto no coração do povo, e suas retas são o Estado e criminalidade. É o mesmo poder, e faz parte e é fruto do mesmo sistema, que explora os trabalhadores e os reprime nas comunidades carentes. O crime tira do Estado o trabalho de esmagar o povo e mantê-lo sempre em silêncio, com medo e sem ter visto nada sempre. Ao mesmo tempo que justifica maiores gastos com polícias e o recrudescimento dos aparelhos repressores do Estado sobre o povo e os movimentos sociais. É o mesmo poder que fecha rádios comunitárias arbitrariamente, porque representam uma auto estima, representação e organização popular, ou vai mantê-lo trancado em casa pelo toque de recolher.

O Estado representa e trabalha para a elite, e logicamente não há interesse da elite em por um fim no tráfico de drogas que é tão lucrativo e movimenta tanto dinheiro, logo, o Estado nunca vai combater de forma definitiva essa situação onde estão envolvidos tanto questões ideológicas quanto financeiras. Acontece que enquanto eram os pobres que morriam nas comunidades e ocupavam as páginas do Povo, a classe média e as elites pouco se importavam. Agora, que o crime está ferindo a liberdade pequeno burguêsa de ir e vir para consumir da medíocre classe, é que acontecem manifestações por paz, campanhas de interesse duvidoso e outras demonstrações de hipocrisia. Um exemplo é o “cristo” jornalista da mídia corporativa, morto como muitos pobres morreram mas nunca foram citados. A elite continua pouco se importando, afinal ela vive protegida e anda de helicóptero, ao contrário da classe merda que também tem que pegar ônibus.

O advento de 30 de setembro é mais um sinal, um sintoma da doença chamada Estado, doença que se agrava a cada dia e que está sendo tratada com paliativos de impacto. Enquanto muitos se iludem e alguns se aproveitam, a revolução popular é o único remédio, pois só o povo sabe daquilo que o aflige.

Coletivo de Estudos Anarquistas Domingos Passos, 2002