Os ataques do dia 11
de setembro têm uma importância e significado que estão muito mais
além do que a simples e rotulada luta entre "bem e mal" ou da democracia
e liberdade contra regimes autoritários e ideologias fanáticas. A
imprensa e a mídia, cumprindo seu papel servil nesse jogo de interesses,
propaga a mentira, omite os fatos e deturpa a realidade para que desconheçamos
o verdadeiro caráter dessa guerra pelo lucro e pela hegemonia mundial,
que não começou em setembro de 2001 e não vai terminar quando Bin
Ladem morrer.
Acima do bem e do mal
estão os Estados e seus senhores, os conglomerados, mega investidores,
empresários e o interesse privado em geral. Sofrendo, morrendo e sendo
manipulados estão os povos do mundo; nesse caso, de um lado os povos
e etnias da região do Oriente Médio sob a influência de certas deformações
religiosas/políticas extremistas, tendo suas diferenças e conflitos
muitas vezes criados e estimulados convenientemente de acordo com
a necessidade para que seja mantida a "democracia" ou em nome de Deus.
E do outro a chamada civilização ocidental e, principalmente, a população
da América do Norte, louvando fanaticamente valores capitalistas e
comprando do governo a idéia do extremo e ridículo ufanismo piegas.
O objetivo não é apenas
o controle sobre o petróleo e sua rota na região mas também a mais
nova oportunidade de se acelerar políticas repressivas, autoritárias
e terroristas em todo o mundo por parte das grandes potências, com
a finalidade de desobstruir cada vez mais o caminho para a realização
de um projeto de mundo submisso e escravo do capital. O modo pelo
qual a questão palestina vem sendo tratada pelos governos dos EUA
e Israel ilustra isso: mísseis em resposta a pedras, intransigência
e intolerância por parte do governo de Israel nas "negociações de
paz". Políticas repressivas como o escudo de defesa norte americano,
vendido como defesa mas que na verdade será utilizado como forma de
intimidação e ataque sobre o resto do mundo, agora têm uma desculpa
perfeita para serem postos em prática o mais rápido possível. Além
disso, é aberto o caminho para uma nova corrida armamentista, muito
mais por parte dos EUA, com o desenvolvimento de armas cada vez mais
destrutivas. Tudo isso financiado com o dinheiro dos impostos e sob
o pretexto de defesa nacional.
Para a América Latina
e principalmente para os movimento anti-capitalistas, a destruição
das torres significa a edificação do terrorismo de Estado e a repressão
contra tais movimentos. Agora a espionagem americana vem aplicar suas
táticas de gestapo juntamente com as polícias repressivas latino americanas
no combate ao que chamam "terrorismo", impondo a liberdade americana
a todos nós. Liberdade para que sejamos ainda mais explorados através
da ALCA, o plano para transformar a América Latina em consumidor exclusivo
das multinacionais e conglomerados americanos, além de fornecer novos
contingentes de escravos de aluguel para os mesmos. Liberdade para
que os movimentos sociais, revolucionários e anti-capitalistas sejam
caçados por comandos assassinos especializados na guerra de baixa
intensidade, num processo de deturpação dos fatos, repressão e com
a conivência dos governantes. Liberdade para aceitarmos passivamente
invasões e intromissões como a base de lançamento de Alcântara, onde
nos é negada qualquer tipo de informação sobre o que entra e sobre
o que é feito lá, como se fosse território americano.
Além do inédito fato
de os EUA terem sido atacados em seu próprio território, os modelos
de controle e repressão do sistema a partir de agora vão assumir um
novo caráter justificado e sob o pretexto do "combate ao terrorismo",
considerando como terroristas todos aqueles que contestam o crescente
processo de exploração e degradação social, a exploração inconseqüente
da natureza e o direcionamento de toda sociedade para valores capitalistas.
Através do controle sobre a comunicação e dos hábitos de cada um,
a espionagem do Estado é legitimada e muitas vezes equivocadamente
defendida pela população. É urgente um posicionamento das sociedades
em relação aos fatos ocorridos e suas conseqüências, não para escolher
entre aquele que acha que é o bom ou o mal nessa guerra imperialista,
mas para lutar contra uma guerra que não vai terminar no Oriente Médio
ou com a morte de Bin Ladem, uma guerra declarada contra os povos
do mundo, contra os movimentos sociais e contra o direito de livre
escolha de cada um.
Coletivo
de Estudos Anarquistas Domingos Passos. Niterói, 2001