Enquanto
houver governo, haverá a luta de classes. O ato de governar é o ato
de dominar exercido por uma classe sobre outra. Nascemos no enfrentamento
direto contra a ordem de miséria e de violência Capitalista, nascemos
do desejo de igualdade e liberdade socialista. O povo já foi enganado
muitas vezes por falsos profetas oportunistas, e não mais adianta
chamar o Estado que o oprime de Democrático, de Popular ou de Operário
e Camponês. O povo continua sendo massacrado, excluído e usurpado
de decidir sobre sua própria vida, de exercer sua própria liberdade,
de produzir livre na terra, nas fábricas e oficinas, que são de todos,
mas que enquanto houver um governo, haverá uma classe para usurpá-las.
A
Anarquia não é somente contra o Estado, e nem somente contra o Patrão,
mas contra todas as formas de Privilégio de Poder. Combatemos todos
os privilégios de cor, gênero ou herança. A hierarquia é o caos, a
fonte máxima da tirania e da violência generalizada que vivemos, seja
por que morremos pelas mãos da sua polícia, seja por que morremos
pela privação de uma saúde e alimentação adequada e digna, ou seja
simplesmente por que vivemos uma vida de sacrifício, de desespero,
onde o prazer é uma exceção. É pela hierarquia que se ramifica todo
o Poder Autoritário, a ordem da injustiça e da desigualdade. A Anarquia
é a Ordem, a Harmonia, a Justiça, a Igualdade e a Solidariedade.
Os
opressores nos enganam, nos fazem acreditar incapazes de tomar nossas
decisões, de organizar a sociedade e construir o mundo à nossa maneira.
Posam de doutores, de gente instruída, e dizem que sem eles para mandar
nós viveríamos numa bagunça generalizada. É muita cara de pau!! Vivemos
na insegurança e na incerteza do pão de amanhã, vivemos no caos, não
podemos deixar as nossas vidas nas mãos de outros, nenhum doutor sabe
mais do que nós sobre a nossa vida, somos nós quem sabemos do que
precisamos nós mesmos. A eles só interessa nos manter sob seu controle,
não querem o nosso bem, mas o bem deles próprios. Dizem que o Socialismo
é Utopia, que sempre haverão aqueles que mandam e aqueles que obedecem,
essa é a ideologia da reação. Mas as suas máscaras sempre voltam a
cair toda vez que colocamos na prática os nossos sonhos, que nos organizamos
e agimos por nossa própria conta na construção desse novo mundo.
Também
alguns outros nos iludem para nos fazer acreditar que a democracia
moderna ou que a ascenção de um partido, por meio de eleições ou de
uma revolução política dirigida por alguns líderes, trará qualquer
solução para os males que afligem a população miserável nesse início
de século. Além do velho comprometimento que sempre se repete da chamada
oposição com a elite governante e dos movimentos ditos revolucionários
com a máquina de poder estatal, nos deparamos ainda com uma maior
escala do poder patronal sobre todas as fronteiras, fortalecida por
acordos de livre comércio, privatizações e terceirização do trabalho.
O comprometimento com o poder desses dirigentes torna-se claro mesmo
na tão mistificada Revolução Russa, quando uma cúpula usurpa o poder
do povo, e hoje vemos governos de "partidos populares", que nasceram
dizendo-se revolucionários, defenderem os estabelecimentos das multinacionais
e as portas dos bancos internacionais contra as ações populares, que
chamam descaradamente de "vandalismo".
Nosso
foco deve estar em destruir a Ordem Capitalista Mundial juntamente
com o Estado. A destruição não é um ato deliberado de uma revolta
expontânea somente, mas algo necessário para a criação. O processo
de construção da nova sociedade gera em si as raízes que vão derrubando
os alicerces da antiga. Sem a destruição da velha sociedade, a nova
não se desenvolve, permanece como aquela planta que cresce com pouco
espaço e poucos raios de sol. A construção tem sido permanente, períodos
de resistência são seguidos na história moderna de temporários abalos
sísmicos. Foram os braços demolidores de construtores e semeadores
que abalaram a França, o México, a Rússia, a Espanha, China, Cuba,
Nicarágua, El Salvador, mas que ainda não foram suficientes para derrubar
o castelo cesário de onde reinam capitalistas e políticos de todas
as cores e bandeiras. Nossa luta não é a luta por um Poder Central,
e sim a luta pelo Poder Popular, onde é o povo que decide sobre a
sua própria vida, sem chefes ou patrões. Onde a terra é livre para
se plantar e colher, onde as fábricas são livres para se trabalhar
e produzir.
A
Propriedade, privada ou estatal, é a fonte de todo o Poder Central,
seja ele nacional ou supranacional, e por isso é nossa meta aboli-la
imediatamente. Não devemos oferecer nossa vida em sacrifício a uma
causa para que depois tudo volte a ser como antes. Não nos sacrifiquemos
perante o altar de uma classe, nova ou velha, que nos venha a oprimir
e dominar. Nossa luta é pelo fim das classes, e se hoje travamos a
luta de classes é por que não acreditamos em paz sem justiça, não
aceitamos colaborar com a Ordem Desigual, Hierárquica e Hedionda do
Capital, nem de qualquer Estado Nacional. Não aceitamos colaborar
com qualquer política Liberal ou Totalitária. Somos todos, a maioria,
o povo oprimido, a fonte do novo poder. Derrubemos o Estado, o Capital,
o Machismo, o Racismo e a Reação!
Todo
Poder ao Povo!
Coletivo
de Estudos Anarquistas Domingos Passos - Niterói, 2001