O Anarquismo, como
corrente política surgida da prática, não tem
qualquer segredo, adota um conjunto de princípios simples,
práticos e diretos. Esta corrente desenvolveu-se da luta popular
contra o luxo e o privilégio contrastante ostentado por alguns
e adquirido por estes através da opressão, roubo e escravidão
exercida sobre outros. Ao longo da história esta luta tanto
obteve vitórias, quanto derrotas, e o vigor e a determinação
populares foram decisivos para o menor ou maior grau de conquistas
pela vontade popular.
O Anarquismo
é portanto fruto das lutas Socialistas, e não pode de
forma alguma ser pensado fora desta corrente mais ampla. Por isso
é bastante conhecido também pelo nome de Socialismo
Libertário. As diferentes tendências dentro do Socialismo
trilham também diferentes caminhos para alcançá-lo.
Para o Anarquismo o caminho a ser trilhado é algo decisivo
para alcançarmos o Socialismo, e o quanto mais desenvolver-se
uma prática igualitária das organizações
populares, mais desenvolvido estará o embrião de uma
sociedade mais justa e mais próxima do Socialismo. Também
é desta maneira que mais força teremos para enfrentar
as colunas que sustentam o Sistema de Desigualdade atual.
O Socialismo
Libertário defende que não há outro caminho para
a Sociedade Justa além do trilhado pelo Povo Organizado por
suas próprias forças. Para os Libertários a organização
é tarefa de Todo o Povo Oprimido, e não pode ser portanto
deixada nas mãos de uma minoria. Por isso o Poder Popular estará
mais próximo de ser alcançado se houver um maior grau
de Participação Direta Popular nas Decisões e
na Execução de tarefas para o interesse da Comunidade.
Para isso não basta portanto que alguns oportunistas digam
que sabem o que o povo quer ou que chamem o seu governo de popular
e participativo, é preciso que Todo o Povo exerça efetivamente
o Poder, e não uma meia dúzia de políticos, grandes
empresas e grupos financeiros que exercem efetivamente o Poder atual
e que distribuem uma vez ou outra migalhas de pão e um pouco
de circo para acalmar ou conquistar a simpatia do povo.
Quem não
se organiza com outros para defender-se acaba tornando-se vítima
fácil dos interesses daqueles que se organizam com interesses
próprios de um predador. Aqueles que dominam e que exercem
o poder sobre os outros são os mesmos que possuem um alto grau
de organização, a tal ponto que conseguem criar leis
ou regras de conduta obedecidas e fiscalizadas fora dos próprios
meios de decisão por aqueles que menos se organizam, e que
acabam sendo comandados pelo grupo mais forte e mais organizado, mesmo
que menor. O alto nível de organização de uma
minoria criaram os Governos, sendo estas mesmas minorias os governantes.
Hoje a organização capitalista chega a tal ponto que
formam-se novos Governos e Leis ainda maiores e mais fortes e que
tomam continentes inteiros. O Governo dos Estados Unidos da América
por exemplo, que não é exercido pelo seu povo, mas por
uma meia dúzia de famílias donas das redes de tráfico
de drogas, armas, medicamentos e responsáveis pelas maiores
atrocidades cometidas contra a humanidade, estende cada vez mais seu
domínio sobre todo o nosso continente e para isso está
elaborando a implantação de um Acordo de Livre Comércio
das Américas, mesmo que não haja acordo algum. Será
implantado portanto um mesmo Governo, ainda mais poderoso e assassino,
para toda a América, de Norte a Sul.
Portanto,
para o Anarquismo, é fundamental a Organização
de Todos os Oprimidos, sem intermediários que possam vender-se
aos interesses da classe dominante, e confiando apenas em nossas próprias
forças para não sermos vítimas de quem organiza
o povo para atingir interesses próprios.
Um último
ponto imprescindível é que para exercer realmente o
Poder de Decisão e Execução é preciso
ter a disponibilidade dos meios materiais para fazê-lo. Assim
os dominadores se apropriaram de tudo o que fosse possível
para que detivessem todo o Poder em suas mãos. Talvez duas
de suas mais criminosa apropriações tenham sido a propriedade
sobre a Terra e sobre seus filhos e frutos, sobre os Homens e Mulheres.
Sobre a Terra que nos gera a todos, e que generosamente nos sustenta
fincaram cercas, abriram enormes feridas e chuparam o sangue para
engordar cada vez mais os seus luxos e caprichos. Sobre os Homens
e as Mulheres se apropriaram de seus corpos, para o trabalho e para
o prazer, e se apropriaram também dos frutos de seu trabalho.
Assim, para que seja construído o Poder Popular, é preciso
que se conquistem diretamente os meios econômicos para exercê-lo
e pô-los em comum ou em coletivo conforme a vontade do povo.
Coletivo de Estudos
Anarquistas Domingos Passos - Niterói, 2002.