Artigo
por: Traficando Informações
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m,r.ana@terra.com.br
Naquele
ano, a sangrenta repressão que o governo japonês dirigia
contra os anarquistas atingia inumeráveis vítimas. Humi
Kaneko, a anarquista acusada de atentar juntamente com seu companheiro,
Boku Retsuno, contra o imperador decidiu suicidar-se na prisão
para escapar da “justiça” estatal, que a havia
condenado a morte. Tinha somente 21 anos. Era 23 de julho de 1926.
No
primeiro dia deste mesmo mês acontecia o 50 aniversário
da morte de Bakunin, de modo que os anarquistas japoneses decidiram
desafiar a prisão e a morte, dedicando um comício em
Tóquio a sua memória. Espalharam cartazes por toda a
cidade, onde figuravam os nomes dos seis libertários que iam
fazer o uso da palavra, mas foram detidos e encarcerados.
Por
outro lado, pese a duríssima repressão, a influência
das idéias anarquistas crescia em todo Japão. Nesse
mesmo ano era criada a Federação de Sindicatos Anarcosindicalistas
(Jiyu Rengo Dantai Zenkoku Kaigi) e a Federação da Juventude
Negra (Kuro Seine Rengo) e iniciavam a publicação de
seus respectivos periódicos, “Federação
Libertária” (Jiyu Rengo) e “Juventude Negra”
(Kuro Seinen).
Um
ano mais tarde, durante o inverno de 1927, milhares de trabalhadores
organizados nos sindicatos anarquistas se dispuseram a reivindicar
melhoras trabalhistas e sociais, e denunciar as duríssimas
condições de trabalho que sofriam, semelhantes em tudo
à escravidão.
Na
fábrica Nibou Senju Kaisha de Tóquio, 180 homens e 60
mulheres decidiram se filiar ao sindicato anarcosindicalista e reivindicar
suas exigências trabalhistas. Mas o dono da fábrica respondeu
demitindo dois trabalhadores e negando-se a discutir qualquer reivindicação.
Em
seguida, os operários organizaram uma tumultuosa assembléia,
que exigiu a readmissão dos dois companheiros injustamente
despedidos. Com a negativa do patrão, toda a fábrica
entrou em greve. Era 21 de abril.
O
empresário chamou a polícia, que acudiu com rapidez
ao lugar, como sempre acontece ao chamado do dinheiro. Numerosos agentes
cercaram a fábrica, impedindo que os familiares e companheiros
dessem comida e roupa aos grevistas.
A
notícia do cerco policial correu como pólvora. De modo
imprevisto pelas autoridades, explodiu a solidariedade operária.
Dezenas de empresas e estabelecimentos também entraram em greve,
que não cessariam até a readmissão dos despedidos
da Nibou Senju Kaisha. Ataques anônimos a casa do patrão,
que chegou a se refugiar na delegacia de polícia aconteceram.
Como
escreveu Victor Garcia em seu livro (Museihushugi, el anarquismo japonês),
“depois de cinco dias alguns trabalhadores, já por si
subnutridos, começaram a desmaiar, mas quando foram levados
ao hospital os médicos se negaram a atendê-los. Foi preciso
a presença ameaçadora dos grupos de ação
sindicalista para que o juramento de Hipócrates se cumprisse
e os enfermos fossem aceitos”.
Faltavam
poucos dias para o 1° de Maio, quando o sindicato celebrou uma
reunião, em que foi decidido organizar um comício diante
da fábrica.
Chegado
o 1° de Maio, pela noite, um homem escalou o alto da chaminé
da fábrica e, uma vez ali, a 30 metros de altura, despregou
uma grande bandeira negra. Ninguém pode convencê-lo de
que descesse. “Permanecerei neste lugar e tremularei esta bandeira
negra enquanto os companheiros não forem readmitidos e suas
exigências reconhecidas”. Permaneceu 12 dias em tão
difíceis condições, sem comida nem água,
a não ser a da chuva. Só desceu quando soube que seus
companheiros haviam sido readmitidos. Mas, a feliz história
de solidariedade e irmanação operária que viveu
a cidade japonesa entre a noite do 1° de Maio e o dia 12 desse
mesmo mês, será assunto para outro artigo.
Nota:
Texto retirado de “La Campana”, semanário de informação
e pensamento anarquista, 25 de fevereiro de 2002, Pontevedra-Espanha.
Livremente
traduzido por: Moésio Rebouças
Referência
no sítio do Centro de Mídia Independente:
http://www.midiaindependente.org:8081//front.php3?article_id=31509