1° de Maio de 1927 no Japão – Greve na Nibou Senju Kaisha

 

Artigo por: Traficando Informações

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Naquele ano, a sangrenta repressão que o governo japonês dirigia contra os anarquistas atingia inumeráveis vítimas. Humi Kaneko, a anarquista acusada de atentar juntamente com seu companheiro, Boku Retsuno, contra o imperador decidiu suicidar-se na prisão para escapar da “justiça” estatal, que a havia condenado a morte. Tinha somente 21 anos. Era 23 de julho de 1926.

No primeiro dia deste mesmo mês acontecia o 50 aniversário da morte de Bakunin, de modo que os anarquistas japoneses decidiram desafiar a prisão e a morte, dedicando um comício em Tóquio a sua memória. Espalharam cartazes por toda a cidade, onde figuravam os nomes dos seis libertários que iam fazer o uso da palavra, mas foram detidos e encarcerados.

Por outro lado, pese a duríssima repressão, a influência das idéias anarquistas crescia em todo Japão. Nesse mesmo ano era criada a Federação de Sindicatos Anarcosindicalistas (Jiyu Rengo Dantai Zenkoku Kaigi) e a Federação da Juventude Negra (Kuro Seine Rengo) e iniciavam a publicação de seus respectivos periódicos, “Federação Libertária” (Jiyu Rengo) e “Juventude Negra” (Kuro Seinen).

Um ano mais tarde, durante o inverno de 1927, milhares de trabalhadores organizados nos sindicatos anarquistas se dispuseram a reivindicar melhoras trabalhistas e sociais, e denunciar as duríssimas condições de trabalho que sofriam, semelhantes em tudo à escravidão.

Na fábrica Nibou Senju Kaisha de Tóquio, 180 homens e 60 mulheres decidiram se filiar ao sindicato anarcosindicalista e reivindicar suas exigências trabalhistas. Mas o dono da fábrica respondeu demitindo dois trabalhadores e negando-se a discutir qualquer reivindicação.

Em seguida, os operários organizaram uma tumultuosa assembléia, que exigiu a readmissão dos dois companheiros injustamente despedidos. Com a negativa do patrão, toda a fábrica entrou em greve. Era 21 de abril.

O empresário chamou a polícia, que acudiu com rapidez ao lugar, como sempre acontece ao chamado do dinheiro. Numerosos agentes cercaram a fábrica, impedindo que os familiares e companheiros dessem comida e roupa aos grevistas.

A notícia do cerco policial correu como pólvora. De modo imprevisto pelas autoridades, explodiu a solidariedade operária. Dezenas de empresas e estabelecimentos também entraram em greve, que não cessariam até a readmissão dos despedidos da Nibou Senju Kaisha. Ataques anônimos a casa do patrão, que chegou a se refugiar na delegacia de polícia aconteceram.

Como escreveu Victor Garcia em seu livro (Museihushugi, el anarquismo japonês), “depois de cinco dias alguns trabalhadores, já por si subnutridos, começaram a desmaiar, mas quando foram levados ao hospital os médicos se negaram a atendê-los. Foi preciso a presença ameaçadora dos grupos de ação sindicalista para que o juramento de Hipócrates se cumprisse e os enfermos fossem aceitos”.

Faltavam poucos dias para o 1° de Maio, quando o sindicato celebrou uma reunião, em que foi decidido organizar um comício diante da fábrica.

Chegado o 1° de Maio, pela noite, um homem escalou o alto da chaminé da fábrica e, uma vez ali, a 30 metros de altura, despregou uma grande bandeira negra. Ninguém pode convencê-lo de que descesse. “Permanecerei neste lugar e tremularei esta bandeira negra enquanto os companheiros não forem readmitidos e suas exigências reconhecidas”. Permaneceu 12 dias em tão difíceis condições, sem comida nem água, a não ser a da chuva. Só desceu quando soube que seus companheiros haviam sido readmitidos. Mas, a feliz história de solidariedade e irmanação operária que viveu a cidade japonesa entre a noite do 1° de Maio e o dia 12 desse mesmo mês, será assunto para outro artigo.

Nota: Texto retirado de “La Campana”, semanário de informação e pensamento anarquista, 25 de fevereiro de 2002, Pontevedra-Espanha.

Livremente traduzido por: Moésio Rebouças

Referência no sítio do Centro de Mídia Independente:

http://www.midiaindependente.org:8081//front.php3?article_id=31509

 

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