Anarquismo no Equador

Recebemos da amiga equatoriana Freya Cadena um artigo que fala da História do Anarquismo no Equador, por sua extensão, sete laudas, só vamos divulgar a parte que aborda o anarquismo na atualidade neste país enforcado pela dolarização do FMI, da ALCA e do Plano Colômbia. Quem quiser o texto na integra (somente em espanhol) basta escrever para moesillo@aol.com .

Em 1970 o anarquismo sobreviveu graças a alguns veteranos que publicavam seus artigos na imprensa anarquista mexicana (1).

Na década de 80 um diminuto grupo, Comitê Para as Famílias Vítimas da Repressão, começou a realizar atividades de denúncias, sobre a brutalidade que recebiam os indivíduos ao serem presos por parte do aparato do estado e seus braços executores, como foi o caso dos Restrepo que foi assumido como crime de estado. É bom mencionar que este grupo continua ativo, apesar de que o estado os ameaçou mais de uma vez.

Também já existem pessoas dispersas, que trabalham desde uma perspectiva libertária, em campos diferentes, como a marginalização à homossexualidade, liberdade artística e juvenil, direitos humanos, ecologia. Também durante este tempo apareceram, e não podia ser diferente, os primeiros grupos "punk" (Paostoles, Putiada General, Enemigo Publico, Mortal Decisión), com uma característica cultural de rechaço frontal e direto à sociedade de consumo. Embora para estes, não havia uma conexão com o verdadeiro significado da anarquia, mas podemos dizer que eles estimularam a curiosidade por essa palavra que tanto mencionavam e desenhavam num círculo com um A dentro.

Desde então começa a aparecer indivíduos com um claro significado libertário, como é o caso do cantor de música popular Jaime Guevara (2) que também é membro da APDH (Associação Permanente de Direitos Humanos). O primeiro trabalho dele é titulado "De Contrabando". É necessário dizer que existe uma forte conexão de amizade e solidariedade entre os grupos punks e Jaime Guevara, devido que os primeiros são vítimas da repressão policial, como foi o caso quando foram presos, torturados e submetidos a descargas elétricas, só por terem o cabelo colorido, tachas e outros tipos de coisas que caracterizam suas vestimentas. Também participaram de diversos festivais musicais como "Niño de la calle por ti cantamos fuerte", que foi em total benefício das crianças de rua, que no Equador são milhares.

Vinicio Jiminez, é um cara que começou seu trabalho "contra-maré", ao ser o sujeito que iniciou o Movimento Anti Militarista no Equador. Remiso de profissão e ativista de vocação, começou seu trabalho fundando o GOCE (Grupo de Objeção de Consciência do Equador). Verdadeiramente, queria propagar a Insubmissão ao Serviço Militar e a insubmissão nos quartéis, como ele disse: "por algo é necessário começar". Agora, lamentavelmente não está mais fisicamente conosco, mas nós acreditamos que é um momento bom para lhe falar que você não partiu e que está aqui próximo a nós, e as linhas seguintes são para você:

Hoy mostramos nuestras lagrimas con orgullo

Ya nos conocemos

Todo terquedad

Todo empeño...

Estamos ya habituados.

A los imposibles,

Pero hoy permítenos un descanso

Permítenos las lagrimas

Ya ves que no nos cubrimos lo ojos

Para llorar

Mañana seguiremos

Con las tareas imposibles

La primera: que no te marches

Que estemos a la altura

De ser tus compañer*s e herman*s

Descuida ya nos conoces

Sabes que eso esta hecho

Estarás mas presente que nunca

Y mira que lo estabas

Ya no tendré que buscate

Entre la gente

En las movidas

Llamarte para preguntarte

Cómo estas?

Ya solo tengo

Que cerrar los ojos

Y apretarme el pecho

Por que te llevamos dentro

Bueno, Amigo!

Ya los sabes

Descansa, que apartir de hoy

Si que no te vas

A perder una

Te queremos

(Nacho Murgui)

Denúncias contra as injustiças do governo, das políticas, da imprensa sensacionalista e, principalmente, como é característica dos anarquistas desmascarar os políticos de esquerda e direita que são o mesmo neste país (como em todos!), marcam o trabalho de Carlos Michelena (3). Esse compa é chamado de "Carlitos" ou o "Miche". Ele usa o teatro de rua ou de parque como meio para comunicar suas idéias e sentimentos ao povo, onde sempre está envolvido, como na última ocasião, em que vimos dando solidariedade aos prisioneiros, no festival a favor deles no qual haviam três cenas teatrais, "sobre a lei de aumento de penas", "Pedro e o Capitão" de Mario Benedetti e "Romeo e Julieta" adaptado a visão, a critica, a esperança, e os sonhos de quem perdeu sua liberdade física.

Francisco Canizarez, ou o índio Cañizarez, como é mais conhecido por seus amigos, é um personagem que derrubou aquela parede tão grande e mitológica, do que verdadeiramente fez a "madre españa" durante a descoberta da América e, especialmente, do Equador. Já publicou dois livros: "Genocídio em nome de Deus" e "A verdadeira História do Equador".

Contrariamente ao que poderia estabelecer a leitura dos seus livros, Francisco Canizarez, 70 anos, não consta em qualquer lista de escritores equatorianos, nem em qualquer espaço "cultural" dos jornais de desinformação do país. É um autor sem propaganda, fora dos círculos "intelectuais", por sua convicção de denúncia e luta.

Alexei Paez, publicou em 1986 o livro "O Anarquismo no Equador", de 178 páginas. Alexei é um sociólogo muito conhecido no meio literário. Agora faz parte da ALDHU (Associação Latino Americana de Direitos Humanos).

Durante o ano de 1996 sai às ruas "A.Q.P.M" (depois mudou o nome para Autonomia - Boletim), esta publicação rompeu com todos os esquemas das demais publicações do tipo dele, completamente escrita à mão, com artigos altamente políticos e antagônistas, entrevistas e, principalmente, o que mais chamou a atenção: o preço de piada (gratuito!). Você imagina que controvérsia se armou quando no zine se publicou os desenhos dos navios que transportavam os escravos, de que modo eram embarcados os negros, como eles eram vendidos, incluído crianças, entrevista a R.D.T. (Restos de Tragédia de Medellín). Entrevista ao prisioneiro libertário Andrés Torrijos, artigos contra os 501 anos de Resistência Indígena e o AutoDescobrimento de nossa América, e um artigo escrito pelos pres@s políticos do Equador em 1985, mas que só pode viri a luz em 1996. Daí você pode imaginar os "simpatizantes" que os compas atrairam.

A partir daí várias publicações são editadas, que são os porta-vozes de alguns grupos, como é "O Humanista", porta-voz do movimento humanista, "Alerta Verde" do Coletivo Ação Ecológica, e claro, alguns zines, "Voz Rebelde" (4), e "Reaxxiona". E se há zines, também há bandas de protestos (todavia não podemos falar de bandas anarco-punks) como: Soluka Punk, Puntas, Asko, Com las Justas, Anónimos, Retaque, Regimiento Quito (5), Maldita Infancia (6), Contraventores, Rebelión Disidente, Ruido de Odio. Eu acredito que estas são as principais.

Durante quase 4 anos os companheiros, as bandas, e as publicações foram os que mantiveram o ideal vivo. Agora nós passaremos a nomear alguns grupos e organizações, as principais, que estão trabalhando cotidianamente:

FEMAE (Federación de Mujeres Autónomas do Equador); R X L (Colectivo Reincidiendo Liberdad); Colectivo Acción X Cambio (8); CIJDP (Campamento Internacional por la Justicia y la Dignidad de los Pueblos); Boletín Autonomía (boletín de contra información); GOCE (Grupo de Objeción de Consciencia del Equador); Zine Voz Rebelde (publicação guayaquileña); APDH (Asociación Permanente por los Derechos Humanos); El Parche ( local de venda e troca de todo o tipo de material antagônico); Alerta Verde (porta-voz do Colectivo Acción Ecológica).

E é neste ano que vamos demonstrar nossa força, durante o "VII Foro del ALCA", que acontecerá em Quito. Já existe uma coordenadoria, com o nome de "Campamento Internacional por la Justicia y la Dignidad de los Pueblos", de forma que vou dar uma breve idéia do que seja:

1) O acampamento em si é um espaço de encontro e articulação de diferentes iniciativas de resistências, que lutam contra a agressão econômica, política, social, cultural, ambiental, militar, exercidas pelos promotores do capitalismo global.

2) O acampamento é constituído com a participação de organizações, coletivos, redes e indivíduos. As organizações, coletivos e redes assumem a função de "convocantes", ou "aderentes" que por sua vez tem a responsabilidade de participar ativamente do processo.

3) Os convocantes, aderentes e indivíduos envolvidos fazem parte da assembléia do acampamento.

4) A assembléia é o principal órgão de debate e de tomada de decisões do processo do acampamento. Sendo este um espaço democrático onde as decisões são tomadas de forma participativa.

5) Cada organização, coletivo e rede representa a si mesmo.

Bem, para terminar, eu acredito que é importante mencionar que a partir de 1997 (7), Equador teve a visita de companheiros anarquistas, de diferentes partes do mundo, que eu acredito que puseram um grão de areia para que o movimento libertário nesta parte do globo se intensifique, e é justo nomeá-los aqui, aos que recordamos:

Rafael (membro do CRA de Venezuela), Ricardo e a banda anarco-punk Generación Perdida (Perú), Apatia NO, banda anarco-punk (Venezuela), os compas de Tuti Bianche, que não lembramos os nomes (Itália), Martín Blak Blook (França), o compa alemão do movimento Antifascista (Berlim) (8).

Nós acreditamos que é tudo o que podemos dizer, se alguém tem alguma dúvida ou sugestão, por favor, fazê-la. Isto está inconcluso, por que seguimos na luta e amanhã acontecerá outras coisas.

Saudações fraternais para nossos companheiros anarquistas nas diferentes partes do mundo, notadamente para nossos companheiros que tiveram que partir desta terra, por culpa da ditadura do capital, para os países do primeiro mundo, especialmente (França, Itália, Suíça, USA, Espanha, Inglaterra, Canadá) para trabalhar de sol a sol, e tratar de sacar da miséria suas famílias. Obrigado por continuarem na luta.

Salud, Acracia y Revolucion Social!

Freya Cadena

(1) Alejo Capelo e Alejandro Atiencia foram os únicos que escaparam da epidemia marxista.

(2) O companheiro segue em pé de luta, e nos disse que em breve gravará um novo trabalho musical.

(3) Os vídeos de teatro de Carlos Michelena podem ser adquiridos com o Colectivo Reincidiendo Liberdad.

(4) Este boletim segue vivo, todavia não supera a crise econômica, assim não pode ser uma publicação regular, seu conteúdo é o mesmo.

(5) Esse zine é de Guayaquil e também é uma publicação irregular, mas segue dando guerra.

(6) A excessão destas duas, todas seguem ainda fazendo música.

(7) Ainda que Durruti tenha passado por estas terras em sua viagem pela América, todavia não podemos encontrar ainda nenhuma prova.

(8) Esse companheiro chegou ontem, 6 de março, para dar palestras no acampamento, por isso não recordamos seu nome.

 

Agência de Notícias Anarquistas-ANA