Plotino Rhodakanaty:
O Anarquismo e A Luta Operária no México

O anarquista grego Rhodakanaty representa um dos mais extraordinários e pioneiros exemplos de militância ácrata internacionalista. Sua dedicação ao ideal foi completa, no espírito romântico e lucidamente exaltado que o acompanhou por toda a sua difícil existência.

Em abril de 1861, Plotino desembarcou no México. Vinha fugindo das forças imperiais que o haviam condenado por participar das lutas pela independência de seu país e, posteriormente, pela independência da Hungria do domínio austríaco.

Discípulo de Proudhon, influenciado pelas idéias do socialista utópico Charles Fourier, pouco depois de desembarcar tentava organizar os camponeses, segundo o mutualismo proudhoniano e o modelo de organização comunal (falanstério) de Fourier.

Segundo Angel Cappelletti, Rhodakanaty, assim como Kropotkin, "confiava na alma naturalmente comunalista e ácrata dos povos do mundo e, no calpul, via a base sólida que o passado indígena brindava ao futuro socialista."

Seu ensaio de colônias agrárias resultou em fiasco, que não o desanimou. Ao contrário, rapidamente se deu conta de que o fracasso era mais o fruto da imposição de modelos e idéias de fora, do que de uma pretensa incapacidade ou resistência dos camponeses mexicanos a se organizarem solidariamente.

Imediatamente, lançou-se à propaganda, oral e escrita, das idéias de auto-organização e de atividade autogestionária. Ainda em 1861, havia escrito urna cartilha socialista, espécie de catecismo elementar da escola de Charles Fourier, para ser distribuída no México.

Em 1863, organizou o primeiro grupo de estudantes anarquistas, que pouco mais tarde incorporaria à sua filosofia as teses libertárias de Bakunin. Desse pequeno grupo, conhecido como Grupo de Estudantes Socialistas, saíram os principais líderes comunitários, sindicais e socialistas do México, tais como o militante operário Santiago Villanueva e o propagandista libertário Hermenegildo

Villavicencio.

Em 1868, o GES decide criar com seu mestre uma organização declaradamente anarquista, a qual deram o nome de La Social. Esta organização rapidamente se envolveu nas lutas sindicais, a favor da redução da jornada de trabalho, da melhora das condições gerais de trabalho e pelo aumento dos salários. Todos os jovens do grupo acolheram as idéias de Bakunin e organizaram os primeiros núcleos operários, filiados à Associação Internacional dos Trabalhadores (AlT), transformando as sociedades de socorro mútuo em sociedades de resistência.

Rhodakanaty nunca se declarou bakuninista. Sua filosofia se aproximava mais da idéia construtiva dos primeiros anarquistas, da paixão pela harmonia com a natureza, de um certo panteísmo quase religioso, e do rechaço à violência como parteira da história e das mudanças sociais. Neste sentido, Rhodakanaty era contrário a organização de grupos revolucionários armados, embasando suas esperanças de mudança na propaganda, na autogestão e na transformação social de baixo para cima, lenta mais inexoravelmente. Rhodakanaty se adiantou em muitas coisas, idéias e atitudes, a seus discípulos mais ativos, que logo deixaram de lado as teses do mestre, convocados por lutas mais radicais e urgentes.

Apesar dessa aparente fissura, Rhodakanaty sempre sentiu que seus jovens amigos e companheiros de luta eram a continuação do ideal anarquista que ele defendia e, na maior parte dos casos, a conseqüência necessária de sua concepção organizativa autogestionária.

De fato, a passagem das primeiras associações operárias organizadas por Plotino e seus amigos, caracterizadas por sua finalidade de socorro e apoio mútuo, para as sociedades de resistência e luta, pela melhoria das condições de trabalho e de vida, foi muito rápida.

Em 1865, apenas quatro anos depois da chegada de Plotino Rhodakanaty ao México, o grupo de jovens discípulos organizou a primeira greve do México. Participaram dela trabalhadores de duas fábricas têxteis (não esqueçamos que Plotino era alfaiate e que um de seus primeiros objetivos foi refundar a desaparecida Sociedade Mútua do Ramo de Alfaiataria), que paralisaram a produção e se mantiveram ocupando as fábricas em protesto pelas duríssimas condições de trabalho e salários miseráveis.

Esta primeira greve foi duramente reprimida pelo exército do imperador-títere Maximiliano, imposto ao México pelo imperador francês Napoleão III.

Ainda que, em 1865, Rhodakanaty residisse em Chalco, seus discípulos desenvolviam uma extraordinária atividade revo1ucionária na cidade do México. Os jovens Villanueva e Villavicencio criaram as primeiras organizações de artesãos e operários que rapidamente se tornaram sindicatos de tendência anarco-sindicalista.

Mesmo após o fuzilamento de Maximiliano e a subida ao poder de Bonito Juarez, as condições da classe operária e dos camponeses não melhoraram. As novas organizações operárias tinham que lutar agora em numerosas frentes. Tinham pela frente os capitalistas conservadores, que haviam apoiado Maximiliano, aferrados aos seus privilégios quase feudais, e também os reformistas de Juarez, cujo liberalismo acabava na porta das fábricas e lançava à miséria absoluta e à marginalização um número cada vez maior de mexicanos.

Apesar de tudo, as sementes plantadas por Plotino e seus companheiros frutificaram em numerosos lugares. Em 1869, era fundado, na cidade do México, o Círculo Proletário. No ano seguinte, o Grande Círculo dos Operários do México.

Não obstante a dureza dos enfrentamentos, crescem as cisões entre os trabalhadores.

Em 1876, realizou-se um Congresso Geral Operário da República Mexicana, que aceitou muitas das teses anarquistas. Mas ação e o reformismo se fortaleceria a partir dos anos 80, ate o ressurgir libertário do início do século XX, com os irmãos Flores Magón.

M. Genofonte


Extraído da revista La Campana, de Pontevedra, Espanha.

 

Traduzido e adaptado pelo Coletivo de Tradutores do Celip.