Anarquismo em Berkeley (EUA)

Relato da cena anarquista em Berkeley na California.

"A grande massa é radical e tem idéias anacrônicas. O papa desses novos anarquistas é um americano de ascendência checa, John Zerzan. Ele é um escritor que vive num trailer estacionado em Eugene, no Estado de Oregon, uma cidade de tradição anarquista. Não tem televisão, computador, automóvel. É completamente contrário a qualquer aparato tecnológico. Finacia a publicação de seus escritos vendendo seu sangue em hospitais e trabalhando como babá".

Isso aí acima saiu na revista Veja (25 de julho, 2001), logo após os protestos antiglobalização em Gênova (Itália). Era mais uma matéria daquelas que achincalham e esvaziam as idéias anarquistas e os protestos antiglobalização.

Achei "curiosa" esta história que contaram de John Zerzan, afinal não é de hoje que a grande mídia vem carimbando esse anarquista disso e daquilo e de ser o mentor de Seattle.

Então, resolvi correr atrás da história, aí entrei em contato com um amigo, Lawrence Jarach, da revista anarco-primitivista "Anarchy A Journal of Desire Armed", onde Jonh Zerzan é um dos colaboradores.

Olha só o que o cara me disse: "Moésio, John Zerzan mora numa casa. Onde é que você tirou essas idéias? A fofoca que circula entre nós é realmente ruim; quase tão ruim quanto o que a mídia burguesa diz sobre nós".

Não falei mais nada, o cara já tinha disse tudo, em poucas palavras. Mas para não peder a oportunidade, resolvi saber mais um pouco sobre a cena libertária em Berkeley, onde as idéias anarquistas seguem vivas. Na verdade as idéias anarquistas seguem vivas em muitas partes dos EUA. A seguir os trechos mais "importantes" desta conversa virtual com Lawrence Jarach.

Estamos em todas as partes

As idéias anarquistas nos EUA estão em todas as partes. É difícil responder esta pergunta, onde tem mais anarquistas nos EUA. Mas na "Bay Area" (Berkeley, Oakland, São Francisco...) há muitos anarquistas, mas nem todos são ativos todo o tempo. Há cenas grandes em Los Angeles, Nova Iorque. A cidade que mais atrai a atenção da mídia é Eugene, no Oregon (norte da Califórnia). Há pequenas e grandes áreas anarquistas em Washington DC, Arizona, Ohio, Nova Jersey...

Projetos A em Berkeley

Há vários projetos anarquistas aqui em Berkeley, além dos projetos que existem em São Francisco. Há um grupo de estudos que já funciona há quatro anos, do qual eu participo. Existe um infoshop chamado Long Haul, onde o grupo de estudos se reúne. É uma livraria, um espaço de encontro, para ler, trocar idéias... Alguns coletivos moram neste edifício. Lá também são ministradas aulas de jiu-jitsu. Também há um café-vegan.

Em São Francisco existe uma livraria anarquista muito antiga, com muitos grupos. A livraria organiza anualmente um evento chamado "Anarchist Bookfair", que inicialmente era uma feira de livros anarquistas, mas a coisa cresceu, hoje é um "grande" evento anarquista, com exposições, conferências, mostras de cinema e tudo mais. Ano que vem vamos organizar novamente.

Ah, alguns anarquistas de Berkeley e Oakland compraram algumas terras nas colinas, e estão criando uma comunidade, mas não está muito bem desenvolvida ainda. Há outros projetos de casas coletivas. Aqui também existe "Food Not Bombs", como "Earth First!".

Comunicação autogestionária

Há uma estação de rádio. Ela se chamava "Free Radio Berkeley", agora é "Berkeley Liberation Radio". Mas há dois anos atrás a polícia invadiu a rádio e desde então não é mais a mesma. A maioria do tempo só toca música, tem um programa sobre Ovnis (OVNI). Em São Francisco temos a "San Francisco Liberation Radio". Parece que estão iniciando um projeto de televisão semanal. Aqui na nossa região existem muitas publicações, como você conhece bem: Anarchy, Green Anarchy, Black Clad Messenger, Disordely Conduct, boletins de apoio aos prisioneiros, vários zines etc. A publicação mais regular, produzida no "Long Haul", é "Slingshot". Também há várias distribuidoras.

Pessoas negras no movimento

Não há muitas pessoas negras envolvidas com o anarquismo, por razões históricas, principalmente por que a luta do negro (chicanos e indígenas) seguia uma estratégia de anti-colonialismo, de liberação, nacionalista. E o nacionalismo é contra o anarquismo, a maioria das pessoas envolvidas nessas lutas não vêem muito bem o anarquismo. Mas isso já começou a mudar. Em Berkeley surgiu um grupo chamado "Race", especificamente de pessoas não-brancas. Eu conheço várias pessoas que estão envolvidas nisto, mas não sei bem o que eles fazem ou farão.

Agência de Notícias Anarquistas ANA