E
As Anarco-Feministas O Que São?
Conhecemos
a aparência de uma bota
vista de baixo,
conhecemos a filosofia das botas...
Logo
invadiremos como ervas daninha
em todo lugar, mas devagar...
as plantas cativas farão revolta
conosco, os muros cairão.
Não
existirão mais as botas
No entanto, comemos terra
e dormimos; estamos esperando
embaixo dos seus pés;
Quando
dissermos: ataque!
você não ouvirá nada
no começo...
Peggy
Kornegger
Quando se ouve a palavra anarco-feminismo,
logo vem a impressão de mulheres que excluem os homens de suas
vidas, que querem separar as pessoas pelo sexo, etc. Mas o que nem
sempre se para prá pensar, é porque se tem essa impressão.
Continuam, até mesmo os anarquistas,
a se espelharem nas imagens distorcidas que veiculadas pelos meios
de comunicação da sociedade burguesa. Se assim fosse,
acreditaríamos também que anarquia é bagunça,
que Deus existe, que os anjos existem e tem asas...
É necessário, para se compreender
realmente alguma coisa, que nos desvinculemos das respostas prontas
já fornecidas pela imprensa burguesa, que a mente se abra para
receber novas idéias e questioná-las.
Anarco-feminismo
não é separatismo! Se você é homossexual
e resolve se juntar a outros homossexuais para lutar por sua emancipação,
você está sendo separatista? Você acredita que
cada classe oprimida conquista sua liberdade através de seu
próprio esforço e luta? Sim? Então, pára
de reclamar! As mulheres estão se dando conta do quanto são
oprimidas e exploradas dentro da sociedade patriarcal, de que nunca
puderam ouvir sua própria voz e discutir sua opressão.
O que acontece, hoje, no movimento libertário, é que
nós, mulheres que estamos tomando consciência de nossa
condição de proletária do proletário
ou escrava do homem escravo, temos condições de
levantar a cabeça e discutir com outras mulheres (que também
são vítimas da mesma opressão) o que queremos
fazer para lutar contra isso. E isso não são apenas
os homens machistas, mas sim uma sociedade cristalizada no patriarcado,
onde os valores estão montados em cima da exploração,
da escravidão e do preconceito.
Precisamos de espaço para mostrar nossa
cultura e desenvolver nossas potencialidades, que foram sufocadas
no patriarcado. Tudo isso, só conseguiremos com muito trabalho
conjunto e abertura, para que possamos mostrar o que queremos fazer
e como fazer. Temos que desenvolver o nosso lado feminino real, e
não o feminino imposto pela sociedade machista. Os nossos valores
foram sufocados e, em lugar desses, vieram valores integrados, como
a estética, a beleza, o comportamento, a maternidade obrigatória,
etc., que não são naturais como parecem. Tais coisas,
somente nós mesmas podemos avaliar, questionar e mudar, mais
ninguém. Não se pode chegar para um negro e dizer-lhe
o que fazer para lutar contra sua discriminação, se
você nunca sofreu isso. Você pode ajudá-lo e apoiá-lo,
mas se você nunca sofreu discriminação racial,
nunca poderá saber o que ele sente, quanto mais decidir o que
ele deve fazer. O mesmo ocorre com as mulheres.
Mudando nosso comportamento e nossa visão
de mundo, estaremos muito mais abertas para relacionamentos realmente
recíprocos, e não paternalistas. Teremos muito mais
autonomia para batalhar em outros coletivos e tomar conta de nossas
próprias vidas. Isso é fato!
Os grupos de mulheres têm essa função
que, dentro do movimento anarquista, se torna imprescindível
para quem almeja uma sociedade livre, humana e igualitária.
Aqueles que torcem o nariz ou fazem de tudo
para atrapalhar a luta de um grupo específico, não compreendem
que a base do anarquismo está no indivíduo, e que somente
a partir do indivíduo é que se inicia uma revolução.
Se cada classe oprimida se unisse e trabalhasse a sua questão,
em vez de tentar ficar fazendo tudo ao mesmo tempo, nossa evolução/revolução
seria muito mais concreta, com bases sólidas, pois cada grupo
estaria desenvolvendo um trabalho contínuo, o que renderia
frutos. Pense sobre isso.
Nós precisamos de espaço e vamos
lutar por ele. Que alguns torçam o nariz, que outros falem
mal por não entenderem, que façam abaixo assinados e
panfletagens, o que quiserem, mas estamos aqui e pronto! Acreditamos
no anarquismo, mas só acreditamos nele funcionando no dia-a-dia.
Se nós mulheres criamos grupos específicos, é
porque estes nasceram dá necessidade, e não por brincadeira.
Nossa luta não se restringe apenas ao
feminismo, mas sim a tudo que engloba o anarquismo e, por isso, nossas
atividades sempre são em conjunto com outros grupos anarquistas
e anarco punks, os quais apoiamos e nos apoiam, sendo a luta e a caminhada
lado a lado. Se a possibilidade das mulheres tomarem conta de sua
própria luta o assusta, então apavore-se, pois nossa
arte, nossa escrita, nossa poesia e nossa forma de lutar vão
estar correndo livres velas ruas!
Valéria Bolevari
CAF/SP
C.Postal 117;
CEP: 07111-970;
Guarulhos
Libera
#46, março de 1995