Fora da Escuridão
As
mulheres do Afeganistão educam e se organizam em defesa dos
direitos humanos.
Elas vem de uma terra onde as mulheres
estão sendo confinadas a escuridão, então Sajeda
Hayat e Sehar Saba, para sua própria segurança, precisam
permanecer nesta escuridão.
É o alerta do governo fundamentalista
Taliban no Afeganistão. Elas viajam usando pseudônimos
e tiram fotos discretamente. Mesmo assim essas duas jovens se recusam
a ficar em silêncio.
Juntando líderes da "Não
Violência", o grupo de resistência anti-Taliban,
chamada de RAWA, sigla em inglês que significa "Associação
Revolucionária das mulheres do Afeganistão", Hayat
e Saba tem vivido quase todas as suas vidas como num exílio.
As meninas foram forçadas a
fugir para o vizinho Paquistão no começo dos anos 80
durante a invasão soviética no Afeganistão. Foram
nos campos de refugiados paquistaneses que elas atingiram a maioridade
e aprenderam sobre o trabalho da RAWA, isso para valorizar a mulher
afegã.
No final da recente viagem aos Estados
Unidos, Hayat e Saba falaram a Amnesty Now sobre o seu trabalho. A
especialista Margaret Ladner que é coordenadora e que representa
o Afeganistão na Anistia Internacional dos Estados Unidos no
Sul da Ásia conduziu a entrevista.
Amnesty
Now: O que é a RAWA e quais os objetivos da organização?
Hayat: A RAWA foi fundada em 1977
para lutar pelos direitos das mulheres no Afeganistão, porque
mesmo antes da invasão soviética e antes dos fundamentalistas,
as mulheres eram vendidas como gado. Mas enquanto o país era
ocupado pela Rússia, a RAWA mudou sua organização
política, porque nós acreditávamos que todas
as pessoas tem algum direito a liberdade, isso foi um grande significado
para falar sobre os direitos das mulheres. E isso é verdade
hoje, porque nós devemos falar sobre os direitos humanos, qualquer
pessoa no Afeganistão é privada de muitos direitos básicos.
Nós acreditamos que o governo deve ser baseado no secularismo
e na democracia.
AN:
Vocês estão fixadas hoje no Paquistão?
Hayat: No começo dos anos 80
a RAWA transferiu parte das suas atividades para o Paquistão
por causa da difícil situação no Afeganistão
devido ao regime soviético.
Naquele tempo nós estabelecemos
programas seculares, nós tínhamos também uma
clínica para mulheres e crianças refugiadas, estabelecemos
cursos de enfermagem, literatura e outros cursos para ensinar as mulheres
a terem os seus direitos.
AN:
A RAWA ainda é capaz de operar dentro do Afeganistão?
Hayat: É claro, os membros
da RAWA especialmente dentro do Afeganistão tem muitos riscos.
Até mesmo no Paquistão, durante uma demonstração
em 1998, A RAWA foi atacada pelo Taliban. Isso é o porque que
nós temos que ter muito cuidado, não somente no Afeganistão
mas também no Paquistão.
No Afeganistão, nós
temos salas de aula instaladas em casas, cursos de literatura, especialmente
para viúvas que não tem parentes homens. Nós
a capacitamos para ganhar algum dinheiro.
AN:
O quão são ruins as condições para as
mulheres no Afeganistão?
Saba: A situação já
não era boa antes mesmo dos fundamentalistas quando eles tomaram
o poder. Mas desde 1992 o Afeganistão é como uma grande
prisão, especialmente para as mulheres. As mulheres são
banidas de todas as atividades públicas, elas não podem
ir a escola e nem trabalhar, não podem ir ao médico
sem serem acompanhadas por um parente do sexo masculino e elas precisam
usar o " Burka " para cobri-las totalmente.
AN:
Vocês tem falado sobre serviços para ajudar as mulheres,
mas a RAWA também leva em conta ações políticas?
Saba: Nós queremos isso o quanto
nós fazemos para as mulheres, então nós temos
muitas atividades, como por exemplo, demonstramos a nossa causa no
dia 28 de Abril, o dia em que os fundamentalistas tomaram o poder,
o dia mais negro da história do Afeganistão.
AN:
O que vocês levaram em conta durante a viagem que fizeram aos
Estados Unidos?
Saba: Foi realmente uma grande oportunidade
para a nossa organização, porque foi a primeira vez
que a RAWA veio para os Estados Unidos e nós estamos muito
agradecidas.
Estivemos em mais de 15 universidades
e falamos com pessoas muito prestativas, havia uma menina de 16 anos
de New Hampshire e ela organizou uma demonstração na
sua escola no dia 28 de Abril condenando todas as atrocidades humanas
no Afeganistão.Ela nos convidou para sua escola, foi a maior
reunião que tivemos em 2 meses.
AN:
Como nós dos Estados Unidos, podemos ajudar?
Hayat: Não somente grupos de
direitos humanos, mas pessoas do mundo inteiro podem fazer muito.
Claro que organizações de direitos humanos como a Anistia
Internacional, podem fazer mais, desde que eles estejam ativos nestes
campos. Mas indivíduos americanos podem por exemplo ajudar
a RAWA com diferentes projetos; um dólar faz diferença,
pode prover um caderno, uma caneta ou um lápis.
AN:
Como cada uma de vocês se envolveu nesta vida perigosa?
Hayat: Eu me tornei membro com 17
anos, mas antes disso eu já ia para a escola da RAWA e minha
mãe era um membro.
Saba: Eu também era muito jovem
quando entrei para a escola da RAWA, isso foi em 1994, os professores
eram membros da RAWA e além de ensinar, eles falavam sobre
o direito das mulheres, eu me envolvi nessas atividades e me juntei
como membro quando eu estava com 17 anos, agora eu estou no Comitee
Estrangeiro e ensino em uma de nossas escolas num campo de refugiados.
AN:
Os amigos e a família incentivam vocês?
Saba: Sim, a minha família.
Minha mãe é membro da RAWA, meus pais e meus irmãos
são muito prestativos. Mas não são todos os meus
parentes, alguns deles são contra o meu trabalho.
Hayat: Para mim também, meus
pais são muito prestativos com o meu trabalho. Todas as minhas
irmãs e meus irmãos estão involvidos na RAWA.
Alguns de meus parentes não sabem, mas muitos deles são
prestativos, mesmo meu avô e minha avó, eles são
muito tradicionais.
AN:
Vocês já sentiram medo nas suas vidas?
Hayat: Nós não sentimos
medo, mas temos que ser muito cautelosas, se nós tivéssemos
medo não escolheríamos este caminho, nós sabemos
que a luta necessita de sacrifício.
AN:
Como vocês tentam amenizar o perigo?
Saba: Dentro do Afeganistão,
todos os lugares que os membros da RAWA vivem são subterrâneos
e o mesmo ocorre no Paquistão. Nós temos que por exemplo
mudar a toda hora de casa e não deixar que o governo do Paquistão
e nem os fundamentalistas saibam onde estamos.
AN:
Tem alguma mensagem que vocês gostariam de transmitir para os
membros da AIUSA?
Hayat: Eu acho que deveria dizer ao
mundo o que está acontecendo no Afeganistão.
Saba: E diga para as pessoas do Afeganistão
que eles não estão sozinhos e que não serão
esquecidos.
Para mais informações
sobre os direitos da mulheres afegãs, contate a AIUSA, programa
de direitos humanos das mulheres em Nova York ou visite o site da
RAWA (http://www.rawa.org)
Amnesty Now,
Uma publicação da Anistia Internacional, EUA, (outono
2000).