A Mulher no Contexto Atual
O dia 8 de março nos trás à memória, para
a nossa reflexão (ou pelo menos deveria trazer), a luta das
mulheres operárias de uma indústria têxtil, que
neste dia, em meados do século XIX, morreram queimadas ao ocuparem
a fábrica, numa greve contra a exploração patronal.
O absurdo é aceitarmos o que o capitalismo faz com esta data,
colocando-a como comemorativa, deturpando-a com seus "modelitos"
de batom vermelho e perfume francês, vendendo-nos como um produto
de consumo, com características de sexo frágil. É
revoltante!!! Pois esta data tem que ser relembrada e refletida para,
principalmente, pensarmos em nossa situação atual e
continuarmos a luta dessas companheiras que deixaram para nós
um exemplo, onde nós não podemos ficar passivas/os diante
da exploração, tanto de nosso trabalho braçal,
como de nosso corpo como produto de sexo.
Assim como aquelas companheiras, muitas outras mulheres lutaram contra
o autoritarismo em diferentes países, dentre elas podemos citar
Emma Goldman, Maria Lacerda de Moura, Louise Michel, Federica de Montseni,
Elvira Boni e suas companheiras costureiras e chapeleiras, e muitas
outras que viveram e morreram pelejando.
Boa parte dessas operárias morreram lutando contra a jornada
de 16 horas diárias de trabalho e por melhores condições
de trabalho, que com o suor de suas lutas junto com os companheiros,
conseguiram mais tarde que a jornada fosse reduzida para 8 horas diárias
de trabalho. Mas sabemos muito bem que o que essas companheiras e
companheiros queriam não era só apenas a redução
de seu tempo de trabalho e melhores condições de trabalho,
mas também o fim desse sistema capitalista injusto e criminoso.
Analisando a situação atual, além de nosso salário
ser uma vergonha (e diga-se de passagem, sempre foi), o desemprego
aumentou absurdamente e as condições de trabalho continuam
péssimas, apesar de terem havido algumas conquistas neste campo.
Bom, se formos ver a situação da mulher neste contexto,
a coisa se agrava mais ainda, pois além de ser explorada pelo
patrão e/ou patroa em seu emprego, chega em casa (no fim do
dia) e ainda tem que cuidar da casa, sem dividir o trabalho doméstico
com seu companheiro, sujeitando-se assim, a uma dupla jornada de trabalho.
Outra opressão que a mulher sofre é o assédio
sexual e toda perversão que o capitalismo alimenta com seu
machismo, onde produz o sexismo na mente das pessoas através
de revistas, jornais, TV's enfim, todos os meios de comunicação.
São geradas assim, condições propícias
para os crimes de estupro, de "defesa da honra", escravidão
sexual, prostituição forçada e todas as violências
praticadas contra a mulher.
Em ambientes de trabalho podemos comprovar isso tudo, sendo este
um retrato de toda uma sociedade baseada na competição,
no lucro, o corpo sendo tratado como produto de consumo: Uma sociedade
baseada na exploração.
Como já foi dito, atualmente o desemprego tem aumentado assustadoramente
pois, em meio a essa política neoliberal de globalização,
com sua ideologia de "qualificação de pessoal",
@ trabalhador/a tem que demonstrar um certo nível de qualificação
como, por exemplo, a capacidade para manejar uma máquina computadorizada
de última geração. Juntamente com isso, a maior
parte da população não tem acesso ao ensino fundamental,
imaginem à informática... Com o discurso de que é
necessário se fazer um "enxugamento nas empresas",
os empresários despedem milhares de trabalhadores/as em troca
de máquinas, em nome da "qualidade do produto", ou
melhor, em nome de seus lucros. Esta situação é
difícil para tod@s, homens e mulheres, mas, se formos analisar
em meio a essa conjuntura, os monstros movidos a lucro despedem preferencialmente
as mulheres, por essas possuírem útero, pelo fato de
poderem engravidar e tirar a licença maternidade tão
arduamente conquistada.
É companheiras, dentro dessa conjuntura se nós não
nos organizarmos para combater o capitalismo, o machismo e o sexismo,
vamos acabar sendo engolidas. Devemos dar nosso grito de revolta diante
desse cenário de barbárie. Vamos dar continuidade a
luta dessas verdadeiras heroínas, como as companheiras operárias
daquele 8 de março, que lutaram até o final de suas
vidas por um ideal de transformação social, de transformação
de suas vidas e pela igualdade socioeconômica. Para isso, temos
que nos unir e construir a nossa dignidade com as nossas próprias
mãos, e não delegar a outr@ que faça isso para
nós. Sabemos muito bem que esse método não adianta
e nunca irá adiantar.
Vamos à luta companheiras!!!
Mutirão - OSL (Rio de Janeiro/RJ)
"O direito ao voto ou à igualdade civil podem ser
reivindicações justas, mas a verdadeira emancipação
não começa na cabine de voto, nem nos tribunais. Começa
na cabeça de cada mulher. A história nos ensina que
toda classe oprimida só se liberta de seus senhores por suas
próprias mãos. É preciso que as mulheres aprendam
essa lição, que compreendam que os limites para sua
liberdade estão nas suas forças. Daí porque é
muito mais importante começar em si própria, libertando-se
do peso dos preconceitos e das normas seculares."
Emma Goldman
Libera
edição 82, Março de 1998