Francisco Ferrer (1859-1909)
nasceu em Barcelona, numa família de camponeses católicos.
A educação religiosa e autoritária que ele sofreu
na escola de sua aldeia gera em seu coração uma revolta
que permanecerá sempre vivaz: "Eu só tinha"
diria posteriormente, "de fazer o contrário do que vivi".
Ë sucessivamente fazendeiro, empregado numa fábrica de
tecidos em Barcelona – onde é tocado pelas idéias
anarquistas disseminadas entre o proletariado da cidade catalã
– e ferroviário; milita no movimento republicano e anticlerical.
Tendo participado de uma manifestação contra a monarquia
em 1886, é obrigado a expatriar-se e junta-se em Paris aos
meios anarquistas. É ali que se afirma sua vocação
pedagógica ao dar aulas particulares de espanhol para sustentar
sua família. Publica inclusive um tratado de espanhol prático.
Milita igualmente no movimento maçônico. Viaja pela Itália,
Suíça e Bélgica interessando-se por todas as
experiências de inovação pedagógica. Munido
dessa bagagem e à frente de uma herança considerável
deixada por uma admiradora, retorna à Espanha em 1901, e decide
fundar a "Escola Moderna" com a qual sonha. Para isso, deve
vencer muitas prevenções e resistências; mas sua
tenacidade supera todos os obstáculos. O sucesso ultrapassa
todas as expectativas: em 1908 há dez "escolas modernas"
em Barcelona, quase cento e cinqüenta na Catalunha, estabelecimentos
em Madri, Sevilha, Granada, Cádis... Sua irradiação
ultrapassa as fronteiras da Espanha e escolas Ferrer são fundadas
em Portugal, no Brasil, suíça, na Holanda.
A escola moderna é
mista e aberta a todos os meios (conquanto paga, o preço da
pensão varia em função da renda dos pais); ela
é laica e bane todo ensino religioso.Enfim, é também
racional e cientifica.
Dotada de uma biblioteca,
de uma tipografia, de um serviço de edição que
publica manuais e obras pedagógicas, ela aparece como um foco
intenso de cultura popular. Ferrer quer que ela seja um instrumento
de emancipação e propagação das idéias
libertárias diante do "adestramento" do ensino oficial
de educação, "poderoso meio de subjugação
nas mãos dos dirigentes", que habitua as crianças
"a obedecer, a crer, a pensar segundo seus dogmas sociais que
nos regem". Para ele, o ensino deve ser uma força a serviço
da mudança: "queremos homens capazes de evoluir incessantemente,
capazes de destruir, renovar constantemente os meios e renovar-se
a si mesmos".
Assim, o principio
fundamental da Escola Moderna é a liberdade da criança;
ela esforça-se para respeitar seu movimento natural, sua espontaneidade,
as características de sua personalidade; quer desenvolver sua
independência, seu juízo, seu espírito critico;
"prefiro", diz Ferrer, "a espontaneidade livre de uma
criança que não sabe nada, à instrução
de palavras e à deformação intelectual de uma
criança que sofreu a educação atual".
Inspirando-se na educação
integral de Robin, dá um amplo espaços às atividades
físicas e manuais. Sua pedagogia não apela nem para
a coação, nem para a competição: "na
escola moderna não há recompensa nem castigo (...) também
não há exames para inflar algumas crianças com
o titulo lisonjeiro de "excelentes", distribuir a outros
o titulo vulgar de "bons" e rejeitar o resto na consciência
desafortunada da incapacidade e do fracasso.
Ao lado da experiência
pedagógica da escola moderna, Ferrer esforça-se para
dar uma vasta difusão às idéias que o animam
e para coordenar os esforços conduzidos em diferentes países.
Foi assim que em 1908 foi criada uma revista internacional L'École
Rénovée, na qual são discutidas "todas as
idéias e todas as tentativas que concernem à renovação
da escola" e onde se encontra, além da assinatura de Ferrer,
a de Kropotkin, Robin, Domela Nieuwenhuis, Ellen Key, Willian Heaford
e a maioria dos pedagogos libertários da época. Ao mesmo
tempo, ele quer dar uma audiência internacional à liga
da educação libertária de Robin e suscita a organização
de uma liga para a educação racional da infância
cujos objetivos são: dar ao ensino uma base cientifica e racional,
defender a idéia de uma educação completa e harmoniosa,
englobando "a formação da inteligência, o
desenvolvimento do caráter, a cultura da vontade, a preparação
de um ser moral e físico bem equilibrado" e assentar a
pedagogia sobre um conhecimento da psicologia da criança.
Como a de Robin, a
obra de de Ferrer chocou-se contra vivas resistências e sofreu
ataques violentos. Ele próprio foi preso pela primeira vez
em 1906, mas absolvido. Em 1909, momento de grande efervescência
na Catalunha, é novamente detido, julgado a portas fechadas
por um conselho de guerra, condenado à morte e executado; seu
ultimo grito é: "viva a escola moderna". Sua morte
provoca uma profunda emoção pelo mundo, em todos os
meios da pedagogia libertária, na medida da influência
que ele tinha exercido.
osubversivo.cjb.nte