Murray Bookchin
Os ecologistas têm geralmente
considerado a diversidade como fonte de estabilidade ecológica,
uma abordagem que, acrescentarei, era bastante inovadora há cerca
de vinte e cinco anos atrás. Experiências no domínio
da agricultura mostraram que o tratamento de monoculturas por pesticidas
podia facilmente atingir proporções alarmantes e parecia
sugerir que, quanto mais diversificadas fossem as culturas, mais a interacção
entre espécies vegetais e animais conduziria a resistência
natural às pragas. Hoje, tanto esta noção como
o valor dos métodos de agricultura biológica, tornou-se
lugar comum no pensamento ecológico e ambiental dos nossos dias
— uma opinião de que o autor foi pioneiro com alguns poucos
colegas, como Charles S. Elton.
Mas a noção que
a evolução biótica — e social, como veremos
— tem sido marcada até há pouco pelo desenvolvimento
de espécies e ecocomunidades (ou "ecossistemas", para
usar um termo muito pouco satisfatório) cada vez mais complexas,
levanta uma questão ainda mais difícil. A diversidade
pode ser encarada como fonte de maior estabilidade ecocomunitária,
mas pode também ser encarada em sentido mais profundo como fonte
de liberdade dentro da natureza, embora incipiente sempre em expansão,
meio de fixar objectivamente vários graus de escolha, de autodirecção
e de participação das formas de vida na sua própria
evolução. Gostaria de propor como hipótese que
a evolução dos seres vivos não é um processo
passivo, o produto de conjunções de acaso entre alterações
genéticas ocasionais e "forças" ambientais "selectivas",
que a "origem das espécies" não é o mero
resultado de influências externas que determinam a "aptidão"
para "sobreviver" duma forma de vida como resultado de factores
ocasionais em que a vida é meramente "objecto" dum
processo "selectivo" indeterminável.
Gostaria de ir além da
noção muito popularizada de que a simbiose é tão
importante como a "luta", e sustentar que o aumento de diversidade
na biosfera abre cada vez mais novas vias evolutivas, na realidade sentidos
evolutivos alternativos em que as espécies desempenham um papel
activo na sua própria sobrevivência e mudança. Ainda
que incipiente e rudimentar, a escolha não está totalmente
ausente na evolução biótica. Na verdade aumenta
à medida que os animais se tornam estrutural, fisiológica
e, sobretudo, neurologicamente mais complexos. A mente tem a sua própria
história evolutiva no mundo natural e, à medida que nas
formas de vida aumenta a capacidade neurológica para funcionar
de maneira mais activa e flexível, também a própria
vida ajuda a criar novos sentidos evolutivos que conduzem a maior consciência
de si mesmo e maior actividade própria.
A Batalha - VI Série,
Ano XXIII, Março – Abril, 1997. #162