Depoimento de um anarquista

 

Jose Melgoza, é um jovem anarquista mexicano, que vive atualmente na cidade de Norfolk, Virgínia (U$A), que fica a 6 horas de Washigton e 9 de New York, numa região onde se concentram as maiores bases militares americanas. Por problemas "tecnológicos", não foi possível se "aprofundar" muito neste bate-papo. Mas antes que as informações se percam, segue os melhores trechos desta conversa virtual.


Antimilitarismo

Com dor tenho que dizer que o único movimento "anti-war" aqui foi o que eu e um colega representante do IAC (Internacional Action Center) criamos, que consistia basicamente na distribuição de folhetos antimilitaristas. Desafortunadamente, este compa sumiu, não sei mais nada dele, estou imaginando o pior.


Mais repressão

A repressão segue aumentando. Agora a polícia tem ordens para prender qualquer pessoa "rara" ou suspeita. Eu já fui vítima de agressões verbais por promover a anti - guerra. Graças a mídia, agora todo movimento contra a guerra é considerado "anti-american".


Exército

O exército tem feito os serviços e obrigações da polícia, na maioria das vezes. Por exemplo, revisão detalhadas dos veículos, túneis, pontes e patrulhas por toda a cidade, que tem muita importância militar, já que é a que mais tem bases militares e navais nos U$A. Eu vivo a 30 minutos da base, onde ninguém pode entrar ou sair.


600 pessoas presas

Em quase um mês, foram detidas 600 pessoas, sem nenhum tipo de acusação, são de todo tipo, estrangeiros, latinos, árabes, europeus... De fato estão criando uma lei antiterror para que seja legal deter qualquer estrangeiro "suspeito". O asqueroso Bush disse hoje num discurso que a sociedade deveria notificar ao FBI qualquer situação suspeita ou "rara". Os brancos locais aqui são tão estúpidos e ignorantes como em qualquer outra parte do mundo, e, o que é pior, são racistas e estão "morrendo" de medo de qualquer pessoa "diferente".


Visual

As aparências e ideologias neste país já não se trata, ou são vistos, como protestos sociais, mas de traição a "pátria" e quando a "autoridade" tem o consciente intelectual de um "chichano", e é vítima do medo, primeiro dispara e depois pergunta. Imagino que a situação deva ser igual em muitas outras cidades que têm bases militares ao seu redor.


Desilusão

Quarta-feira passada fui a um concerto "punk" com a esperança de conectar mais colegas, mas tive uma grande decepção ao ver que o punk aqui em Virgínia não passa de uma moda, e que a mídia conseguiu transformar a juventude em "robots", e os únicos que pensam, mais ou menos, são os de mais de 25 anos. Não gosto de generalizar, mas neste caso tenho que ser assim.

 

a-infos, 2001