Refutando as Afirmações Mentirozas do Grupo Comunista

União dos Operarios em Construcção Civil

Peze a quem pezar, a União dos O. em C. Civil se manifesta contrária

ao comunismo de Estado

Todos os seus esforços hão de convejir para o
advento dum rejimen de liberdade suprêma

REFUTANDO AS AFIRMAÇÕES MENTIROSAS DO GRUPO COMUNISTA

            A proposito da ultima prisão sofrida pelo camarada José A. dos Santos, o Grupo Comunista oficiou á União dos Operarios em Construcção Civil, mostrando a conveniencia de renovar e concentrar os esforços, desta agremiação com o Grupo, para conseguir a libertação do detido. Esse oficio, entregue á assembleia do dia 15 de Fevereiro pelo proprio secretario do G. C., foi objecto de larga discussão. Sobre ele se manifestou quem quiz, como sempre acontece, sobre qualquer assumto, sendo que todos os que se manifestaram o fizeram em sentido contrario ás pretensões do G.C., aconselhando a assembleia a não aceitar, na luta que ia se travar pela liberdade do camarada prezo, a colaboração dos partidarios da Ditadura moscovita. Cada orador expoz, dum modo mais ou menos claro, as razões da sua atitude. Em sinteze, todos afirmaram “que o G.C. era uma instituição politica, aderente a III Internacional de Moscou, e que a Cosntrucção Civil não podia, sem tergiversar, proceder para com os da politica bolxevista diferentemente do modo como tem procedido para com os da politica republicana ou monárquica. Se alguma concessão se podia e devia fazer, acitando o concurso que acazo oferecessem em contingencias tais, era aos anarquistas, a quem se deve a prosperidade acentuadamente revolucionaria das organizações sindicalistas e cuja orientação tem guiado a U.O.C.C. nas lutas tremendas em que se tem empenhado nestes ultimos cinco anos”.

            A assembleia, por sinal numerozissima, (estavam prezentes cerca de 500 pessoas) quando o camarada que prezidia os trabalhos pediu que se manifestasse a respeito, foi unanime em rejeitar o apoio do G.C. ¾ “Porque?”

            O secretario do G.C. sabe perfeitamente porquê - como todos os outros membros do Grupo sabem. E ao publicar o manifesto que dirijiram aos operarios em Construcção Civil, eles, os do Grupo, bem sabiam que “falseavam a verdade insofismavel”, dizendo que tal deliberação obedeceu ao criterio dum “grupêlho” e não ao da coletividade.

Na U.O.C.C. não há grupêlhos

            Dentro da nossa organização não há grupêlhos, como pretende o G.C.! Os individuos da vanguarda desta associação teem um criterio de acção social muito seu, segundo o qual não raras vezes se observa trabalhadores incompatibilizados por questóis pessoais se darem as mãos para defender propostas que vizam os interesses da coltividade.

            Ha cazos destes, muito recentes, que podiam ser citados. Não o fazemos por desnecessidade.

            O que se passou a respeito do G.C. era esperado pelo proprio Grupo. No Rio de Janeiro - melhor, no Brasil inteiro, - são conhecidas as tendencias libertarias da U.O.C.C. A orientação de nossa associação, repetimos, é devida á influencia dos anarquistas. É devida, em parte, a alguns dos “mentores” do G.C. Estes, quando estavam com os anarquistas, diziam, pela imprensa e em conferências, “que os trabalhadores deviam organizar-se para  conquistar a sua independencia politica e económica, e que, para conquistar tal liberdade deviam começar por exercê-la dentro do syndicato, não se sujeitando á vontade doutrem. O próprio syndicato, ao federar-se, devia conservar sua autonomia”. Porque, incoerentemente, defender agora a centralização de poderes? Porque preconizar a sujeição do individuo ao grupo e do grupo á Federação?

            Verificada essa incoerencia, os operarios em Construcção Civil, como os das outrass industrias, só podiam fazer uma couza: recordar os factos ligados á “Coligação defunta...e a exemplo do que fizeram então, repelir, senão os adeptos do novo organismo, a orientação que este adota e deseja infiltrar nas organizações operarias.

            Foi o que a Construcção Civil fez. E fê-lo conscientemente e coletivamente, afirmando mais uma vez a convicção de que “de messias, deuzes, chefes supremos, nada podemos esperar...”

            E os ditadores consideram-se messias...

Sobre as bazes de acordo da U.O.C.C.

            Está esclarecido, portanto, que o G.C. não tem pela sua frente a oposição dum “pequeno grupo” de operarios desta associação: está em oposição aberta contra o G.C. a U.O.C.C. aquela “poderosa associação” que tão doces esperanças revolucionarias proporcionou, em tempos idos...a alguns do G.C..

            Tal opozição contradiz com os dispozitivos das bazes de acordo da nossa associação, como alega o G.C.? Pois bem. A U.O.C.C. exulta pelo passo dado á frente, para o terreno da ideologia! Estamos num periodo agudissimo do problema social. Mais do que hontem - oh! muito mais! - hoje se impõi a todos os individuos e agrupaçõis o dever de definir sua atitude, de tomar uma pozição clara. Já lá vão cinco longos anos de lutas contra o capitalismo em particular. Desde que se reorganizou, a U.O.C.C. tem procurado respeitar o mais possivel as suas bazes de acordo no ponto que determinam a atitude em face do lado politico da questão social. Hoje, porém, na convicção de que continuando a luctar por simples melhorias economicas não alcançará nunca a méta que deseja atingir - que é a destruição do capitalismo, a abolição do salariato, numa palavra, o arrazamento do estado, proletário ou burguêz, estamos rezolvidos a só aproveitar das nossas bazes de acordo o que elas contenham de bom.

            Isto, pensamos, é ainda uma afirmação da nossa consciencia revolucionaria. Não é, notem os comunistas, um “pequeno grupo de autocratas” quem marca esta atitude, mas a U.O.C.C., provando, dum modo independente e categórico, o aperfeiçoamento iniludível da sua mentalidade.

Palavras, escritas ou faladas, não bastam

            O G.C., querendo dizer “o que é e o que pretende”, fez publicar que...”Só por ignorancia ou má fé, ou por consciente calunia poderiam afirmar - “afirmar” mas não “provar” - que ha no Grupo Comunista cavadores e vivedores”...

            Nós podiamos deixar de nos referir a este ponto do seu manifesto. Mas, já que o G.C., caluniosamente e premeditadamente, publicou a afirmação de que o apoio que ofereceu á U.O.C.C. não foi repelido por esta associação mas por “pretensos mentores” da classe, por “uma duzia de pequenos autocratas mentais”, queremos provar que se discordamos do G.C. e se lhe movemos campanha o fazemos dignamente, não “mentindo”, não “injuriando”, nem “caluniando”...

            Esta associação não pode ser responsabilizada pelos excessos de linguajem que alguns de seus membros pratiquem. Se isso podesse acontecer, nós teriamos o direito - com que aliás, não nos julgamos - de responsabilizar o G.C. pelos erros e pelas infamias praticadas, izoladamente, por algum dos seus membros, dos mais retintamente comunistas. (?)

            Até oje, a U.O.C.C. não fez a afirmação de que no G.C. ha “cavaddores” e “vivedores”. E não podiamos afirmar tal cousa sem provas inconcussas. Mas o que é de facto é que algumas razõis assistiam aos que acuzaram os comunistas de “cavadores” e “vivedores”. Esse facto, a nosso ver, deve ser o que rezulta desse amalgama de que fazem parte elementos que até hontem eram considerados inimigos do proletariado, pelos proprios “mentores” do G.C., e que hoje fazem parte de os partidos da III Internacional.

            Mas vejamos:

            O G.C. é aderente á III Internacional de Moscou e por conseguinte aos partidos comunistas da Russia, Italia, França, Espanha, etc...Nesses partidos, a par de Lenine, Trotski, Krassine e tantos outros inimigos declarados da Anarquia, estão os que formaram noutro tempo nas fileiras socialistas parlamentares, de mistura com os ex-anarquistas...

            Logo, crêmos que os bolxevistas do G.C. do Rio não virão afirmar que entre tal gente nunca foi facil encontrar “cavadores” e “vivedores”...E, se nos P.C. dos outros paizes estão os antigos socialistas de Estado, quem ouzará afirmar que no futuro P.C. do Brazil não terão ingresso todos os que se conformem com a substituição do Estado burguês pelo Estado proletario?

            E dahi, pode ser que haja quem afirme isso.

            Cumpre-nos, por isso mesmo tomar medidas de precaução, afastando-nos de taes comunistas.

            Nada valem, a nosso vêr, as palavras que teem o desmentido dos factos. E o G.C., ao mesmo tempo que publicava a declaração de que “no terreno sindical bater-se-ia contra todas as divizõis e fragmentaçõis” fez o seguinte: foi ás associações, ou melhor, veio á Construcção Civil oferecer o seu apoio para o caso de J.A. dos Santos; e como não visse satisfeitos os seus desejos, sabendo que a Construcção Civil havia confiado a orientação da referida campanha ao Comité Federal da F.T.R.J., foi fazer igual oferecimento ao Comité.

            Que interpretação querem os communistas que nós dêmos ao seu proceder?

            Isto será “preconizar a mais intima e estreita ligação org6anica e funcional entre todas as unidades sindicais”? Admitindo que o Comité, saindo da órbita de suas atribuiçõis e contra a deliberação tomada anteriormente na Construcção Civil, aceitasse a colaboração do G.C., não se poderia affirmar que houve, da parte do G.C., “propositos de cizania e dezorganização” entre as aderentes á Federação? Poderia.

            O G.C. confessa que não é “uma agrupação específica de assalariados”.

            Nós todos sabemos disso, e mais: sabemos que o G.C. é uma instituição política que aspira governar! É porque o conhecemos bem que o combatemos. Mas se o G.C. se conhece a si mesmo e se propoz-se combater a orientação ditatorial do Partido Comunista Russo.

            Não lhe negamos esse direito. Mas se para essa “frente unica” é necessario que concorram, misturando-se, sindicatos obreiros e partidos politicos, nós, que somos contrários á política, declaramo-nos tambem contrarios a essa “frente”. A frente da qual pontifica o Partido Communista que sustenta a ditadura na Russia.

O que a U.O.C.C. deseja

            Tomando as redeas do governo, negando á massa trabalhadora a necessaria capacidade para a pratica do Comunismo libertario, o Partido Comunista Russo veio provar á sociedade a já então proclamada nulidade do estado. Estado é opressão. Logo, se o Estado havia sido apenas substituido, a opressão não podia desaparecer.

            E não desapareceu. Na Russia, onde alguns memebros do P. Comunsita, entronizados no poder, exercem a “ditadura em nome do proletariado”, estão sendo perseguidos, encarcerados e mortos todos os revolucionarios da esquerda, mormente os combatentes anarquistas. Se é a obra de tal partido que os do G.C. propagam e pretendem  realizar, outra não poderia ser a atitude da Construcção Civil, senão a de oprozição á Ditadura, e aos seus ditadores. Ademais, essa foi sempre a atitude da U.O.C.C., depois de sua reorganização.

            Tem havido “excessos” nas palavras e açõis, dalguns membros desta associação?

            É possivel. Mas isso, repetimos, não reflete de modo algum , o critério coletivo.

            Nós dezejamos a Revolução expropriadora e leibertadora, mas de expropriação e libertação absolutas!

            Eis tudo.

            Dezejamos ardentemente o advento do communismo anárquico, e é para esta especie de communsimo triumfar sobre os escombros da sociedade capitalista que havemos de coverjir todos os nossos esforços.

O bolxevismo no Brasil não vingará

           O G.C. ilude-se a si próprio, embalando-se na esperança de coseguir que as organizações operarias adotem outros métodos que não sejam de descentralização. Para isso, os partidarios do comunismo autoritario precizam conseguir a adesão de uma boa duzia de militantes em cada associação e isso nos afigura, com franqueza, inteiramente impossivel.

            “A corrente brazileira permanece acentuadamente anarquista” e todas as tentativas que os bolchevistas levem a efeito no sentido de captar as “boas graças’ da massa trabalhadora, serão frustradas, redundarão improficuas, ante a superioridade convincente da doutrina anarquista.

            Mas os factos falam claro; uma amostra simples vale por quanto podessemos dizer. Se da Construcção Civil o G.C. só conta com dous ou quatro aderentes, crêmos que se pode proclamar com convicção”o bolxevismo, no Brasil, não vingará! Não é que a U.O.C.C. represente a vontade da massa trabalhadora de todo este vastissimo Brazil! Mas ninguem contestará que a Construcção Civil é, de facto, o reflexo dessa corrente anarquista que caracteriza as organizaçõis sindicalistas e, ¾ tem-se verificado ¾ a nossa attitude tem como que uma especie de contajio, que se péga e alastra...

Ultimas palavras

            Estamos inteiramente de posse da nossa vontade. Temos uma concepção relativamente clara da liberdade que nos assiste e é por isso que assim nos manifestamos. Nem o pacto federal, que mantêmos com as demais associaçõis sindicalmente organizadas, nos podia inhibir de efetivarmos esta rezolução. O G.C., embora não julgue isso, feriu-nos em cheio.

            Tratou-nos como a “carneiros” que vão para onde o “pastor” os conduz. Mas enganou-se em absoluto.

            Alvaro Palmeira, que, pela extremada simpatia de que gozava entre nós, atuou durante longo tempo na Construcção Civil, foi repelido peremptoriamente quando pretendeu utilizar-se, para fins de vulgar politica, da força de nossa organização. Hoje, peze a quem pezar, declaramo-nos positivamente incompatibilizados com os comunistas de Estado, com os bolxevistas do mesmo modo que hontem nos declaramos incompatibilizados com os que passaram a formar a Coligação Social - e amanhã, havendo quem forje por ahi “novas formulas” comunistas, tornaremos publico este mesmo protesto de incompatibilidade, reiterando a afirmação de que dezejamos uma sociedade livre, sem senhores nem escravos - e que esta só poderá estabelecer-se com o triunfo final da Anarquia.

            NOTA - Este manifesto foi lido e aprovado na grande assembleia extraordinaria do dia 9 do corrente, com a condição de ser novamente apreciado pela assembleia ordinaria do dia 15, que se manifestaria definitivamente sobre sobre o assumpto. Nesta ultima assembleia, a conselho do camardada que presidia a sessão, foi apreciado antes mesmo da leitura do (ilegível), isto para que a assembleia em pezo (ilegível) a sua opinião. A assembleia aprovou-o. Só depois disto é que se publicou.

            Rio, 16-3-922

A Commissão