CCMA – Centro
de Contrainformação e Material Anarquista
“Aqueles que possuem
autoridade, temem a máscara pelo seu poder em identificar,
rotular e catalogar comprometido: em saber quem você é...
nossas máscaras não servem para esconder ou ocultar
a nossa identidade, mas para revelá-la... hoje nós devemos
dar um rosto a essa resistência; colocando nossas máscaras
mostramos a nossa união; e levantando as nossas vozes nas ruas,
nós botamos pra fora toda a raiva contra os poderosos sem rosto..."
Tirado de uma mensagem
impressa dentro das 9000 máscaras distribuídas no dia
18 de junho de 1999, carnaval anti-capitalista, que destruiu o distrito
financeiro central de Londres.
Nos protestos contra a
OMC em Seattle ano passado, havia entre 100 e 300 anarquistas e outros
vestidos de preto que literalmente demoliram as vitrines das odiosas
corporações multinacionais. Desde então a tática
do Bloc vem despertando o interesse e chamando a atenção
de diferentes pessoas preocupadas com transformação
social. Todos os setores da classe média alta, progressistas
e liberais têm pregado moralmente a grande distância sobre
como não existe vez para tal comportamento no movimento deles.
Ao mesmo tempo, o Bloc em Seattle inspirou e renovou o interesse nas
táticas militantes, as quais não aceitam autoridade
e nem baixam a cabeça perante o seu poder. O Bloc N30, junto
com muitos outros aspectos dos eventos de Seattle, tem inspirado também
anarquistas radicais a parar de se esconder dentro de grupos ativistas
liberais com pautas reformistas, e começar a ter mais voz ativa
nas suas exigências pela revolução e total transformação
social. Além da rápida proliferação de
organizações e publicações anarquistas,
está clara a evidência do ressurgimento do anarquismo
nos EUA, que pode ser vista nos Blocs maiores, os quais estavam presentes
no dia 16 de abril em Washington DC, na Assembléia Nacional
dos Republicanos e Democratas, neste verão. Pra bem ou pra
mal, parece que no último ano, o Bloc virou uma tradição
americana, e tudo começou com aqueles bravos garotos e garotas
em Seattle...
Será?! De fato,
30 de novembro esteve longe de ser a primeira vez que um grande grupo
de radicais vestidos de preto com máscaras pretas estiveram
prontos para se empenhar na militância com solidariedade e anonimato.
O Bloc como uma associação pra estratégia em
protesto pode ter mais de 20 anos. Sua origem, de fato, vem dos Autônomos
Europeus, um movimento social radical que não necessariamente
se proclamou anarquista, mas muitas das suas táticas e idéias
têm se tornado bem apreciadas e adotadas pelos auto-proclamados
anarquistas.
Sobre
autonomia
Autonomia, autônomos,
ou autonomistas têm sido os nomes usados por vários movimentos
populares de transformação social e contra-cultura na
Itália, Alemanha, Dinamarca, Holanda e outras partes da Europa
nas últimas três décadas. Todos esses diferentes
movimentos têm procurado se opor radicalmente à autoridade,
dominação e violência, onde quer que ela exista
na vida cotidiana (quase todo lugar). Autonomia, neste caso, não
significa um tipo de superioridade complexa regional, ou isolamento,
como o nacionalismo, estatismo... e também não significa
autonomia individual ás custas da maioria, como existe na base
do capitalismo. O que os autônomos valorizam e desejam, é
a liberdade para os indivíduos que escolheram outros com os
quais possa dividir afinidades, e unir-se com eles para sobreviver
e preencher todas as necessidades e desejos coletivamente, sem interferência
da ganância, indivíduos violentos ou enormes burocracias
desumanas.
Os primeiros assim chamados
autônomos foram aqueles indivíduos envolvidos no movimento
Autonomia Italiana, que começou no quente verão de 1969,
uma época de intensa inquietação social.
Através da década
de 70, um grande movimento pela transformação social
total era formado na Itália pelos grupos autônomos de
operários, mulheres e estudantes. Capitalistas, sindicatos
e a burocracia estatistas do Partido Comunista não tinham nada
a ver com esse movimento, e de fato, deu duro para reprimí-lo
e pará-lo.
Ainda, a estrutura do
poder estava, frequentemente, prejudicada em como lidar com a recusa
completa, de vários setores da população, a obedecer
às ordens das autoridades. Apesar da rápida proliferação
da ação direta, greves moratórias, ocupações
de massa, batalhas urbanas, ocupações de universidades
e outras ações radicais popularmente apoiadas durante
a década de 70, o movimento dos Italianos “acalmou-se”.
Isto se deu, em parte, devido aos ataques violentos, prisões
e assassinatos de radicais pela polícia e pelo governo centralizador
do Partido Comunista. Ao mesmo tempo, a reação a esta
escala de violência estatal era, frequentemente, a escolha do
terrorismo pelos grupos de guerrilha urbana radical.
O terrorismo de auto-defesa,
muitas vezes serviu para afastar as pessoas do movimento público
de transformação social. Alguns escolheram se tornar
mais militantes e reservados enquanto outros abandonaram a política,
para viver uma aparente pacífica vida de obediência à
autoridade.
Construindo
o poder de enfrentamento revolucionário - A cultura dos autônomos
Apesar do potencial revolucionário
do Autonomia Italiana de 70 ter sucumbido, sua agitação,
confiança e “atrevimento” serviram de inspiração
para os jovens da Alemanha Ocidental de 1980. Inspirados também
pelo movimento squatter de Amsterdam e as organizações
jovens na Suíça, Alemanha e outras cidades maiores,
começaram a formar a sua própria cultura autônoma
com grupos sociais baseados na resistência radical e formas
de vida alternativas.
A direção
e a composição da organização radical
na Alemanha Ocidental de 1980 era em parte determinado pelo domínio
da recessão econômica e os caminho que ela seguiu. Por
causa das conexões bem-estabelecidas entre os industriais e
o governo alemão, os efeitos da recessão não
foram tão sentidos pelos blue collar workers, mas pelos jovens
que acharam impossível assegurar trabalho e moradia, e, que
antes haviam se mudado da casa dos pais e se tornaram economicamente
e socialmente “independentes”.
Consequentemente, os motivos
para a mobilização da juventude autônoma incluíram
abalar o conformismo da sociedade rural alemã e da família
nuclear, sérias deficiências domésticas, alto
desemprego –bem como o status ilegal de aborto e planos governamentais
para a expansão massiva do poder nuclear.
Como resultado da recessão
econômica e visitas aos subúrbios, no fim de 1970, enormes
regiões prediais residenciais, em diferentes cidades interioranas
alemãs, especialmente na Alemanha Ocidental, foram abandonadas
pelos empreendedores e as agências do governo. Ocupar esses
prédios era uma opção viável para os jovens
empobrecidos que procuravam independência da casa da família
nuclear. Comunidades squatters cresceram na vizinhança de Kreuzberg,
em Berlim; os squats de Haffenstrasse, em Hamburgo; e em outros pontos
de concentração. A pedra angular dessas comunidades
era a vida em comum, e a criação de centros sociais
radicais: infoshops(1), livrarias, cafeterias, lugares de encontro,
bares, galerias de arte, e outros espaços multivalentes, onde
as raízes políticas artísticas e culturais são
desenvolvidas como uma alternativa para a vida da família nuclear,
utopias de TV, e “cultura” pop de massa. Desses espaços
sociais seguros, cresceram maiores iniciativas radicais para lutar
contra o poder nuclear, ou centralizador; destruir a sociedade patriarcal
e os papéis de gênero; mostrar solidariedade com os oprimidos
do mundo atacando corporações multinacionais européias
ou instituições financeiras como o Banco Mundial; e
depois da reunificação alemã, lutar contra o
crescente neo-nazismo.
Iniciativas semelhantes
para uma vida alternativa como resistência estavam acontecendo
nos anos 80 (e em alguns lugares, bem antes) na Holanda, Dinamarca,
e qualquer lugar da Europa Setentrional. Eventualmente, todas essas
vivências norte-européias em grupos sociais descentralizados,
os quais estavam dedicados a criar uma sociedade não-coercitiva
e anti-hierárquica, tornaram-se rotulados como Autônomas.
Com o tempo, as idéias
e táticas autonomistas também migraram através
da reunida Cortina de Ferro européia. Eu, pessoalmente, tenho
visitado centros sociais autônomos radicais na Inglaterra, Espanha,
Itália, Croácia, Eslovênia e República
Tcheca.
Repressão
linha dura, resistência militante e o Bloc
Desde o começo,
a Alemanha Ocidental não encarou bem os jovens autônomos,
quer quando eles estavam ocupando usinas nucleares ou prédios
desabitados. No inverno de 1980, o governo da cidade de Berlim decidiu
reprimir duramente os milhares de jovens squatters pela cidade: eles
decidiram incriminá-los, atacá-los e despejá-los
nas ruas geladas do inverno. Essa foi uma ação muito
mais chocante e diferente na Alemanha, do que seria nos EUA, e teve
como resultado o repúdio e condenação da polícia
e do governo pela opinião pública.
De 1980 em diante, houve
um ciclo crescente de prisões em massa, batalhas urbanas, e
novas ocupações em Berlim e no resto da Alemanha. Os
autônomos não estavam assustados, e cada despejo era
respondido como novas ocupações. Quando os squatters
de Freiburg foram presos, passeatas e manifestações
os apoiaram, e, condenaram a política de despejo da polícia
estatal, em quase todas as grandes cidades do país. Naquele
dia, em Berlim, posteriormente chamado “sexta-feira negra”,
15000 a 20000 pessoas tomaram as ruas e destruíram uma área
de consumo da classe média alta.
Esse era o caldeirão
fervente de opressão e resistência, do qual o Bloc surgiu...
Em 1981, o governo alemão começou a legalizar certo
squats, numa tentativa de dividir a contra-cultura e marginalizar
os segmentos mais radicais. Mas, essas táticas eram lentas
demais para pacificar o movimento popular radical –especialmente,
desde 1980-81 não só se havia visto tamanha brutalidade
como os squatters, mas além disso, a maior mobilização
policial da Alemanha desde o III Reich, com o objetivo de atacar manifestantes
não-violentos na “livre república de Wendland”,
um acampamento de 5000 ativistas que bloqueavam a construção
da usina Gorlebein de lixo nuclear.
Mesmo anteriormente, ardentes
pacifistas haviam sido radicalizados pela experiência da violenta
repressão policial contra diversos squats e ocupações.
Em resposta à violenta
repressão estatal, os ativistas desenvolveram a tática
do Bloc: eles foram protestar e marchar, usando capacetes pretos de
motoqueiros, máscaras de ski, e vestindo-se de preto (ou, para
os mais preparados, estofamento de espuma e botas com ponta de aço,
carregando seus próprios escudos). No Bloc, os autônomos
e outros radicais poderiam se defender ou desviar, mais eficientemente,
dos ataques policiais; sem serem reconhecidos como indivíduos,
evitando prisões e batidas posteriores. E, como todos rapidamente
perceberam, ter um grupo grande de pessoas, todas vestidas com a mesma
cor de roupa, com os rostos cobertos, não só ajuda a
escapar da polícia, mas também deixa mais fácil
a tarefa dos sabotadores em destruir vitrines, bancos, e muitos outros
símbolos materiais do poder do capitali$mo e do Estado. Nesse
sentido, o Bloc é uma forma de militância que alivia
a problemática entre desobediência civil não-violenta
e, sabotagem e “terrorismo” guerrilheiro.
Realizações
do Bloc e da resistência Autônoma
Blocs, militância
autônoma e resistência popular ào Estado-polícia
e à Nova Ordem Mundial se espalharam entre os europeus nos
anos 80.
Apesar dos radicais holandeses
não se intitularem autônomos desde o começo (até
1986), os ativistas contraculturais holandeses dividiram táticas,
organizaram estruturas e militâncias com os auto-proclamados
Autônomos. O movimento squatter da Holanda realmente começou
em 1968, e por volta de 1981, mais de 1000 casas e apartamentos foram
ocupadas em Amsterdam, e havia por volta de 15000 squats no resto
do país. Restaurantes, bares, cafés e centros de informação
ocupados eram lugar comum, e os organizados squatters (costumeiramente
chamado kraakers) tinham seu próprio conselho para planejar
a direção do movimento e sua própria estação
de rádio.
Contudo, alguns autônomos
holandeses se recusaram a usar máscaras de ski enquanto estavam
no Bloc, isso não quer dizer que o movimento deixou de ser
militante. Um livro sobre o movimento squatter holandês mostra
que “ desde o início havia existido uma ‘brigada
de capacetes pretos’, a qual parecia ter entrado numa batalha”.
Batalhas nos despejos
dos squats de Amsterdam, frequentemente, mostravam a construção
de enormes barricadas e, encurralados squatters arremessando mobília
e outros projéteis, de vários tamanhos e formatos, pelas
janelas, visando abater a polícia. Nos anos iniciais, existiam
certos limites para o uso da violência, a qual os squatters
usariam para retaliar os ataques policiais. De qualquer maneira, em
1985, quando um squatter chamado Hans Kok morreu sob custódia
policial, ao ser preso durante um brutal despejo e evacuação,
os limites foram superados. Seguindo as notícias de sua morte,
uma noite de ávida destruição reinou em Amsterdam,
e mesmo carros da polícia foram queimados em frente de vários
distritos. Um squatter disse: “todos tinham a idéia,
agora nós usaremos dos últimos meios, apenas antes das
armas mesmo: Molotovs...todos caminhavam com Molotovs em seus bolsos,
todos tinham garrafas cheias com gasolina...era o novo método
de ação direta”. Apesar da morte de Hans Kok e
da resposta á altura terem tido um efeito negativo sobre o
movimento, a nova estratégia se mostrou útil em alguns
meios ativistas. Em 1985, o grupo holandês Ação
Anti-racista (RARA), fez uma campanha bem-sucedida forçando
a rede de supermercados holandeses MARKO a sair da África do
Sul: a campanha foi realizada através de numerosos bombardeios,
extremamente caros e danosos para eles, nas lojas e escritórios
da MARKO.
Na Alemanha, em 1986,
crescentes ataques policiais e tentativas de despejo, contra um complexo
de casas ocupadas em Hamburgo, chamada Haffenstrasse, foram recebidas
pela contra-ofensiva marcha de 10000 pessoas, entre elas, no mínimo,
1500 do Bloc, carregando uma faixa enorme que dizia: “Construa
o poder de enfrentamento revolucionário!”. No fim da
passeata, o Bloc foi capaz de, vitoriosamente, levar á cabo
uma batalha de rua, na qual a polícia bateu em retirada. No
dia seguinte, 13 lojas de departamentos foram queimadas, causando
um prejuízo de $10 milhõe$ de dólare$.
Naquele mesmo ano, o desastre
de Chernobyl trouxe uma nova onda de manifestações contra
a construção de novas usinas nucleares na Alemanha.
Um relato dessas manifestações anti-nuclear mostrou:
“essas cenas lembram uma ‘guerra civil’; capacetes,
Autônomos e anarquistas armados com estilingues, Molotovs e
maçaricos colidiram brutalmente com a polícia, a qual
usou canhões d’água, helicópteros e gás
CS (oficialmente banido para uso em civis)”.
Em junho de 1987, quando
Ronald Reagan foi à Berlim, cerca de 50000 pessoas se manifestaram
contra a Guerra Fria, incluindo 3000 pessoas do Bloc. Um par de meses
depois, os ataques policiais à Haffenstrasse se intensificaram
novamente. Em novembro de 1987, moradores e milhares de outros autônomos
fortificaram o complexo, construíram barricadas nas ruas e
lutaram contra a polícia cerca de 24 horas. No fim, a cidade
decidiu legalizar as residências ocupadas.
Mais de 10 anos antes
de Seattle e o protesto contra a OMC, os Autônomos mobilizaram
um evento semelhante com um grande grupo de resistentes. Em setembro
de 1988, o Banco Mundial e o FMI se encontraram em Berlim. Os Autônomos
se valeram deste encontro como foco para a resistência mundial
contra o capitali$mo corporativo globalizante e, contra a destruição
governamental de bases autônomas e comunitárias. Milhares
de ativistas de toda a Europa e EUA foram mobilizados, e 80000 manifestantes
foram “encontrar” os banqueiros (no mínimo, 30000
a mais que Seattle). A polícia, completamente superada em número,
e a segurança privada do evento tentaram manter a “ordem”
banindo todos os manifestantes e atacando brutalmente qualquer assembléia
pública, mas as revoltas ainda estraçalharam os centros
consumistas de classe média (já era tradição).
Blocs
pré-Seattle
Em novembro de 1999, a
tática do Bloc parecia nova para muitos americanos porque,
em parte, as ações e as idéias do movimento Autônomo
europeu eram obscurecidas ou ignoradas pela mídia americana
e quase nem foram divulgadas. Contudo, a ignorância pelo Bloc
também provém do fato que muitos americanos recebem
notícias de acontecimentos regionais de uma mídia manipuladora,
a qual ignora quaisquer acontecimentos que não servem para
os seus propósitos, apresentando qualquer evento que tom o
lugar como um espétaculo singular, desconectado do passado
e do futuro, a ser esquecido em pouco tempo, mesmo se aconteceu recentemente.
Radicais nos EUA nunca
foram totalmente ignorantes a respeito das idéias e ações
dos Autônomos europeus, e o desenvolvimento da subcultura punk/hardcore,
dos anos 80, nos EUA, se espelhou na cultura Autônoma. Desde
o começo de 1990, anarquistas e outros radicais nos EUA, estavam
usando máscaras nas passeatas e protestos, criando laços
de solidariedade entre os manifestantes e o anonimato perante as autoridades.
Enquanto durava a Guerra
do Golfo, um protesto nas ruas de Washington D.C. incluiu o Bloc,
que quebrou as vidraças do prédio do Banco Mundial.
Naquele mesmo ano, no Columbus Day, em São Francisco, um Bloc
apareceu para mostrar à resistência militante, o contínuo
genocídio da dominação norte-americana pelos
europeus. Pessoalmente, o maior Bloc que eu já vi foi no M4M
(millions for Mumia), na Filadélfia, em abril de 1999.
Eu diria que havia, no
mínimo, 1500 vestidos de preto, mascarados e carregando faixas
como: “Vegans por Mumia”. Apesar de não ter acontecido
nenhuma batalha de rua e, particularmente, nenhuma destruição
de propriedade privada, alguns garotos entraram em um estacionamento,
ao longo da passeata, e subiram no teto, agitando a bandeira negra.
O
futuro global da máscara preta
O símbolo do militante
autônomo mascarado se espalhou pelo terceiro mundo. Ao mesmo
tempo em que o NAFTA, política econômica destrutiva neoliberal
foi declarado no dia 1 de janeiro de 1994, a revolta guerrilheira
explodiu em Chiapas, um estado do sul do México.
O levante procurava criar
espaços, para o desenvolvimento de uma organização
social autônoma entre a marginalizada população
indígena. A ala armada dessa luta pela autonomia comunitária
e a democracia direta sem coerção ou hierarquia, tem
sido e continua sendo, os Zapatistas, homens e mulheres que usam máscaras
negras sempre que aparecem em público. Muitos autônomos
e anarquistas têm os visitado e tentado ajudá-los com
conhecimento, dinheiro, materiais, e criando solidariedade e atenção
internacional para a situação em Chiapas.
Voltando a Alemanha, os
Autônomos passam por tempos difíceis. Dizem por aí
que os squatters anteriores tomavam conta de, no mínimo, 165
grandes apartamentos na Alemanha Ocidental, mas até 1997, sobraram
apenas 3 apartamentos. Legalizar alguns squats enquanto brutalmente
despejavam outros, funcionou como política eficiente para o
Estado-polícia. Muitas pessoas que vivem em squats legalizados
estão impedidos de virar o jogo, encorajando e expressando
solidariedade com estratégias praticadas por outros squatters,
e essa marginalização deixa mais fácil a derrota
squatter, nas batalhas urbanas, pelas crescentes forças policiais.
O ressurgimento do neo-nazismo,
no que um dia foi Alemanha Ocidental, e em outras áreas do
país significou maiores problemas para os Autônomos alemães.
Eles enfrentam a violência e o assassinato de ataques neo-nazistas,
onde essas gangues policiam as ruas como uma “tropa contra punks
e imigrantes”.
A maior parte do tempo
e esforço dos Autônomos, vai para a organização
de ações e grupos anti-fascistas, mas isso também
significa negligenciar as tarefas para o desenvolvimento de alternativas
para uma sociedade anti-autoritária, um dos objetivos originais
dos Autônomos. “Antifa” ou grupos anti-fascistas
levam os Autônomos a confrontos ainda mais violentos com a polícia
alemã, que basicamente apóia os grupos neo-nazistas
e sua ideologia nacionalista, racista –isso quando oficiais
da polícia não estão diretamente ligados a grupos
fascistas.
Rumores dizem que muitos
militantes na Europa Sententrional, onde o Bloc têm sido uma
estratégia de manifestação comum, têm desistido
ao mesmo tempo em que paravam de atingir seu objetivo. O poder de
repressão estatal tem desenvolvido e usado forças tecnológicas,
legais e físicas ainda maiores para isolar, observar, perseguir
e localizar os envolvidos com os Blocs. Um processo semelhante está
acontecendo nos EUA, com o ressurgimento das táticas ao estilo
COINTELPRO, tendo como alvo os radicais que se opõe ao império
estatal americano de capitali$mo globalizante.
Mesmo que o Bloc continue
como estratégia, ou seja abandonado, certamente, serviu ao
seu propósito. Em certas épocas e lugares, o Bloc efetivamente,
levou as pessoas a agirem em solidariedade coletiva contra a violência
do capitalismo e do Estado. É importante que nós não
fiquemos presos à nostalgia como um ritual ou uma tradição
ultrapassada, nem rejeitar tudo porque, ás vezes, parece inapropriado.
Em vez disso, devíamos
continuar lutando pragmaticamente (e teoricamente), para preencher
nossas necessidades e desejos individuais através de várias
táticas e objetivos, quando elas forem apropriadas ao momento
específico. “Disfarçar-se” como um Bloc
tem sua hora e seu lugar, assim como as outras estratégias
que se confrontam com ela...
Texto extraído do
Centro
de Contrainformação e Material Anarquista (www.anarquismo.org)