Christiania:
a prova de que anarquia não é utopia
Christiania:
A Lenda da Liberdade No coração gelado do capitalismo
europeu, na fria Copenhagen, Dinamarca, uma comunidade de 10 mil pessoas
vive num outro compasso. Cristiania não tem prefeito, não
tem eleição e funciona sem governo, sem imposição
de leis que controlem a organização social. A lenda
da cidade-livre da Dinamarca é real: inspirada no Anarquismo,
Christiania resiste há mais de 20 anos, inventando um jeito
novo de conviver com os problemas da vida comunitária. Limpeza
das ruas, rede de esgoto, manutenção dos serviços
básicos, tudo é decidido e feito a partir de reuniões
entre os moradores da cidade.
Eles
se definem como uma comunidade ecologicamente orientada, com uma economia
discreta e muita autogestão, sem hierarquia estabelecida e
o máximo de liberdade e poder para o indivíduo. Uma
verdadeira democracia popular direta, onde o bom senso e o diálogo
substituem as leis. No Brasil, poucos conhecem a história da
cidade-livre. O TESÃO vai contar, com exclusividade, a lenda
da liberdade.
Christiania
começou a escrever sua história em 1971. Foi a partir
das idéias de um jornal alternativo, o Head Magazine, que um
grupo de pessoas, de idades e classes sociais variadas, decidiu ocupar
os barracos de uma área militar desativada na periferia de
Copenhagen. Era o início de uma luta incansável contra
o Estado. A polícia tentou várias vezes expulsar os
invasores da área, mas sem sucesso. Christiania virou um problema
político, sendo discutida no parlamento dinamarquês.
A primeira vitória veio com o reconhecimento da cidade-livre
como um "experimento social", em troca do pagamento das
contas de luz e água, até então a cargo dos militares,
proprietários da área. O Parlamento decidiu que o experimento
Christiania continuaria até a conclusão de um concurso
público destinado a encontrar usos para a área ocupada.
Em
73 houve troca de governo na Dinamarca e a situação
de radicalizou: o plano agora era expulsar todos e fechar o local.
O governo decretou que a área seria esvaziada até o
dia 1º de abril de 1976. Na última hora, o Parlamento
decidiu adiar o fechamento de Christiania. A população
da cidade-livre tinha se mobilizado para o confronto com o Estado,
mas a guerra não aconteceu. O dia 1º de abril tornou-se
o dia de uma grande manifestação da Dinamarca Alternativa.
Ao longo dos anos, a cidade-livre aprimorou sua autogestão:
casa comunitária de banhos, creche e jardim de infância,
coleta e reciclagem de lixo; equipes de ferreiros para fazer aquecedores
a lenha de barris velhos, lojas e fábricas comunitárias
de bicicletas.
A
década de 80 foi marcada pelas drogas. Em 82, o governo começou
uma campanha difamatória contra Christiania: a cidade-livre
era considerada o centro das drogas do Norte da Europa e a raiz de
muitos males. A comunidade teve então que organizar programas
de recuperação de drogados e expulsar comerciantes de
drogas pesadas, como a heroína. O mercado de haxixe continua
funcionando normalmente. O governo dinamarquês nunca deixou
Christiania em paz, Vários planos foram elaborados visando
a "normalização e legalização"
da área.
Em
janeiro de 92, finalmente um acordo foi assinado. Christiania já
tinha mais de vinte anos de independência e provara ao mundo
que é possível viver em liberdade. Mesmo com o acordo,
o governo ainda tenta controlar a cidade-livre. A resposta veio no
ano passado, com o lançamento do Plano Verde, onde os moradores
de Christiania expressam sua visão de futuro e que rumos tomar.
A lenda de Christiania continua sendo escrita.
Christiania: uma cidade sem governo
Christiania
II: Uma Cidade sem Governo Christiania tem provado ao mundo que é
possível viver numa sociedade sem autoridade constituída,
sem delegação de poder através de mandatos e
eleições. A cidade-livre da Dinamarca criou um experimento
social definitivo contra a idéia dominante de que a humanidade
se auto-destruirá se não existir um controle sobre a
liberdade individual.
Os
habitantes de Christiania decidiram correr o risco de andar na contra-mão
da história. Para eles, o governo, seja lá qual for,
e seus mecanismos de administração pública são
sinônimos de burocracia, abuso de poder e corrupção.
Vivendo
sem a necessidade de leis que controlem a organização
social, cada morador da cidade livre tem que fazer sua parte enquanto
cidadão e confiar que todos farão o mesmo. É
uma nova ética de convivência, baseada na honestidade
e na solidariedade.
Em
23 anos de existência, a cidade-livre sempre esteve associada
a rebelião contra a ordem estabelecida e experimentando novos
meios de democracia e formas de autogestão da administração
pública. Christiania se organiza em vários conselhos,
onde todos os moradores têm direito a opinar e discutir os problemas
comunitários. As decisões não são feitas
por votação, mas sim através do consenso. Isso
significa que não é a maioria que decide e sim que todos
tem que estar de acordo com as decisões tomadas nas reuniões.
Às vezes, contam-se os votos somente para se ter uma idéia
mais clara das opiniões, mas essas votações não
tem nenhum significado deliberativo, não contam como uma solução
para os problemas da comunidade. Christiania é dividida em
12 áreas, cada uma administrada pelos seus moradores, para
facilitar o funcionamento dos serviços básicos. As decisões
tomadas sempre por consenso podem parecer difíceis para nós,
brasileiros acostumados ao poder da maioria sobre a minoria (pelo
menos, é assim que se justificam os defensores das eleições).
Mas
para os habitantes da cidade-livre, o consenso só é
impossível quando existe autoritarismo, quando alguém
tenta impor uma opinião sem dar abertura para que outras idéias
apareçam e até prevaleçam como melhor solução.
A experiência tem ensinado aos moradores de Christiania que
cada reunião deve discutir só um assunto, principalmente
na Reunião Comum, que decide sobre os problemas mais importantes
da comunidade. E, contrariando o pessimismo dos que não conseguem
imaginar uma vida sem governo institucional, a utopia está
dando certo: a vida comunitária de Christiania preserva a liberdade
individual e constrói uma eficiente dinâmica de relacionamento
social, livre do autoritarismo e da submissão. A cidade-livre
vive o anarquismo aqui e agora.
Ação Direta
Os
moradores da Christiania fazem questão de ser uma pedra no
sapato do capitalismo. Eles não se contentam apenas em incomodar
os valores tradicionais da sociedade européia com a vida alternativa
que levam. Christiania também desenvolve várias atividades
com o objetivo de contestar o sistema capitalista e divulgar as idéias
anarquistas.
Durante
os primeiros anos, a cidade-livre se tornou conhecida por suas ações
no teatro e na política. E quem conseguiu maior sucesso nessa
área foi o grupo Solvognen. Uma de suas ações
diretas mais famosas foi em 1973, quando a OTAN (Organização
do Tratado do Atlântico Norte), uma espécie de braço
armado dos Estados Unidos na Europa, realizou um encontro de cúpula
em Copenhagen. Inspirados no programa de rádio "Guerra
dos Mundos" de Orson Welles, que simulou uma invasão de
marcianos colocando em pânico a população norte-americana
na década de 40, centenas de pessoas, lideradas pelo grupo
de teatro de Christiania, fizeram parecer que um exército da
OTAN tinha ocupado a Rádio Dinamarca e outros pontos estratégicos
da cidade. A impressão que se tinha era que a Dinamarca estava
ocupada por forças estrangeiras. Durante várias horas,
o país inteiro ficou em dúvida se a invasão era
teatro ou realidade. A ação foi uma dura crítica
a intervenção dos Estados Unidos na vida dos países
europeus.
O
Solvognen também usou a critividade para contestar o comércio
da maior festa do cristianismo. Em 1974, o grupo organizou o primeiro
Natal dos Pobres da Dinamarca. Milhares de presentes foram distribuídos
por um batalhão de Papai Noéis. Detalhe: os presentes
eram artigos roubados das lojas de Copenhagen. Resultado: foram todos
presos, mas o escândalo ganhou as manchetes dos principais jornais
da europa, com fotos de dezenas de Papais Noéis sendo carregados
pela polícia. Até hoje o Natal dos Pobres continua sendo
organizado como uma tradição e todo ano aproximadamente
2 mil pessoas recebem uma grande ceia em Christiania. Vote Nulo.
retirado
da página http://www.brnpunk.cjb.net/
Zine
Profecia
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