Resposta conseqüente a perguntas repetidas [EL LIBERTARIO, # 34, 2003] Desde Alemanha nos chegou há pouco um e-mail do compa Wayne , militante da FAU, organização anarcosindicalista germânica. Nos dizia: "Como já sabes há muita gente da esquerda na Europa que apóia a Chávez e seu governo. Eu sei que os anarquistas venezuelanos têm sido atacados até pouco pela oposição da direita, mas quero saber se os Chavistas têm atacado ou têm ameaçado também aos anarquistas. Necessito uns exemplos concretos do que Chávez têm feito, mal ou bem. Conheço a teoria pela qual os anarquistas estãocontra ele, mas a teoria não é suficiente. Saúde e anarkía". Em nome da Comisión de Relaciones Anarquistas (CRA) de Venezuela e do periódico El Libertario, lhe remitimos esta resposta que fazemos pública para divulgar-la entre tanta gente que - em muitas ocasiões e desde dentro ou fora de Venezuela - nos têm feito recentementeinterrogações similares: "Como ponto prévio, te informamos que nós anarquistas venezuelanos temos produzido muitos documentos analisando a Chávez e o que representa na política venezuelana. Se bem que publicamos folhetos e folhas propagandísticas à respeito, nossas opiniões sobre o chavismo e a conjuntura política nacional se têm expressado de modo mas detalhado e com todas suas matizesem nosso periódico El Libertario, cujas 33 edições têm aparecido regularmente á partir de 1995. Ademais, desde o # 10 ao # 28 se colocaram em Internet os principais textos incluídos em cada edição; e com o # 29 começou a funcionar o website do El Libertario , que em várias de suas seções contêm abundante informação sobre o tema, inclusive com uma ampla seleção de documentos traduzidos ao idioma inglês. Nossa posição de enfrentar sem concessões ao chavismo não é simples resultado de aplicar mecanicamente a teoria anarquista, senão que é principalmente conseqüência de nossas experiências na realidade social venezuelana dos últimos anos, que nos têm permitido verificar com plena claridade que o chavismo têm uma prática autoritária, militarista, corrupta, demagógica e de submissão aos poderes transnacionais que invalida por completo o discurso de aparência esquerdista e anti-globalização com o qual ás vezes se apresenta, particularmente de cara a ganhar apoios políticos internacionais. As evidências concretas dessa prática farsante da chamada 'revolução bolivariana' se têm exposto pontualmente em muitos trabalhos publicados no El Libertario, que poderás localizar também nos 2 websites antes mencionados. Como temos desmontado a trama pseudo-progressista do chavismo, os partidários do governo remetem com todas as clássicas acusações que o autoritarismo de esquerda dedica ao anarquismo nestes casos, por exemplo dizendo que estamos favorecendo e fazendo o jogo de uma oposição que é apresentada em bloco como 'de direita e fascista'. À respeito, também basta revisar nossos pronunciamentos públicos, recolhidos pontualmente nos números do El Libertario, para verificar que nos temos diferenciado com absoluta nitidez tanto da direita golpista como dos social democratas, as duas alas da oposição autoritária contra Chávez. Ainda assim, a experiência aqui na Venezuela indica que os enfrentamentos entre os autoritários que governam e osautoritários na oposição, têm muito pouco de luta entre projetos político-sociais e muito de apropriar-se de cotas de poder que se exploram em benefício pessoal e grupal, pelo que as únicas vias que consideramos e promovemos como positivas são as que se diferenciem desses dois bandos em repugnante pleito burocrático, nos esforçando em impulsionar as iniciativas coletivas autônomas por construir liberdade e igualdade em solidariedade. Sobre as ameaças verbais que temos sofrido, têm vindo por igual de ambos bandos. Assim, por apresentar apenas recentes exemplos ocorridos com poucos dias de diferença, um conselheiro de um partido de direita (Primeiro Justicia) berra estupidez contra o anarquismo em um diário caraquenho, ainda que anônimos cibernautas chavistas sistematicamente fazem circular descaradas mentiras e calúnias contra nós em Indymedia e outros âmbitos alternativos da red. Nos meios de difusão entre os porta-vozes que expressam a uns e a outros, se seguem apresentando ao anarquismo como irracionalidade destrutiva e aos anarquistas como potenciais terroristas, criando o ambiente para justificar futuros embates repressivos. Temos ainda que esclarecer que esse clima não traduziu em agressões diretas (violência física, prisões, censura ou proibição de publicações e coisas parecidas), mas não seria estranho que a crescente espiral de beligerância verbal derive para tais feitos. Estimamos haver ajudado a clarear tuas inquietudes, que não duvidamos expressam preocupações similares por parte de outros companheiros anarquistas ou afins em Europa, onde muitos ignoram o que nós anarquistas venezuelanos temos vindo fazendo e expondo. Contra esse desconhecimento e contra o engano que cria a propaganda do chavismo e seus seguidores (que incluem desde oportunistas que satisfazem um gosto refinado tipo Attac ou monsieur Ramonet até sobreviventes chabacanos do marxismo-leninismo), confiamos que a gente libertária daquele continente denuncie a essência das brigas oportunistas pelo poder estatal que se oculta atrás da pantomima revolucionária que se encena hoje em Venezuela. ¡Saúde,alegria e (A)!"