"Revolução Bolivariana: um discurso de esquerda e uma prática que favorece à globalização econômica" AGÊNCIA DE NOTÍCIAS ANARQUISTAS-ANA /// junho 2006 Um dos principais projetos faraônicos do governo Luis Inácio Lula da Silva, do Brasil, e de Hugo Chávez, da Venezuela, é o chamado "Gasoduto do Sul". A construção de um mega gasoduto que partiria desde a desembocadura do rio Orinoco (Venezuela), atravessando o coração da Amazônia no Brasil até chegar a Buenos Aires (Argentina). A efetivação deste gasoduto orçado em mais de 20 bilhões de dólares trará conseqüências sociais e ambientais desastrosas, atravessará áreas ecológicas importantes, numa região quase intocada da Amazônia, com biodiversidade desconhecida e habitat natural de muitos povos indígenas e tradicionais. A obra causará ainda problemas no regime dos rios que serão atravessados pelo gasoduto, impactos como barreamento, poluição das águas e erosão. É mais um projeto destruidor da diversidade da vida, em nome de um tal "desenvolvimento dos povos do Sul". Este assunto e outros mais, o anarquista e jornalista venezuelano Rafael Uzcategui, membro da redação do jornal "El Libertario", autor do livro "Corazón de Tinta", que fala sobre movimentos sociais, contracultura e anarquismo, estará discutindo em São Paulo neste final de semana em duas conversas sob o tema "Venezuela: Revolução Bolivariana ou Neototalitarismo Petroleiro?", a primeira atividade acontecerá na sexta-feira, dia 22, na Casa da Lagartixa Preta "Malagueña Salerosa, em Santo André, e a outra no sábado, dia 23, na Cinemateca de Santos, litoral de São Paulo. Antes ele concedeu uma entrevista "ping-pong" à ANA. Confira a seguir. - Chávez "Presidente venezuelano com uma política populista de esquerda e um claro acento estatizador e autoritário." - Revolução Bolivariana "Mudar tudo para que nada mude. A nova burocracia no poder na Venezuela desde 1999, favorecida pelos altos lucros do petróleo, que governa com um discurso de esquerda e uma prática que favorece à globalização econômica." - RCTV "Canal venezuelano com 53 anos de história na Venezuela, propriedade do grupo empresarial tradicional 1BC e competência do canal de televisão Venevisión, propriedade do empresário global Gustavo Cisneros, aliado atual da "revolução bolivariana"." -´Anarco-chavismo "Invenção do governo venezuelano para cooptar a seu favor o discurso anarquista e mostrá-lo ao exterior." - Lutas sociais "O governo venezuelano criou movimentos sociais a seu gosto, neutralizando, fragmentando e recuperando os movimentos sociais venezuelanos que se desenvolveram na década dos anos 90: feministas, ecologistas, estudantis, de bairro, contraculturais." - Ecologia "A inexistência agora mesmo na Venezuela de um movimento ecologista que questione o modelo de desenvolvimento baseado na super exploração dos combustíveis fósseis, para garantir o papel da Venezuela na globalização econômica. O movimento ecologista que existia foi polarizado e fragmentado, e foi incapaz de levantar reivindicações próprias e autônomas." - Indigenismo "Movimento recuperado e estatizado pelo governo venezuelano, por meio de diferentes técnicas, sem que por isso a situação real das comunidades indígenas na Venezuela tenha melhorado." - Mega-projetos "A Venezuela aprofundou seu papel de fornecedor de energia barata aos fluxos econômicos da globalização. Isto provocou que a atual gerência venezuelana promova abertamente a construção de diversos projetos binacionais e multinacionais com o fim de poder transportar mais eficientemente o gás, petróleo e carvão -entre outras áreas- ao mercado internacional. Embora há um discurso contra a Alca, os anarquistas dizem que na Venezuela a Alca se chama IIRSA, a Iniciativa de Infraestrutura Regional Sul Americana. Por exemplo, um projeto claramente IIRSA e promovido pelo governo venezuelano é o oleoduto de gás Transguajiro, construído em conjunto com o governo colombiano, que fornecerá gás a América Central e os litorais dos Estados Unidos, relacionados diretamente com o Plano Puebla Panamá devido às diversas infraestruturas que gerará. Outro oleoduto de gás promovido por nosso governo pretende levar gás até a Argentina, cruzando toda a floresta Amazônica. Isto é executado por um governo "de esquerda" que pôde neutralizar o movimento ecologista e social. Esta discussão está refletida no filme "Nosso petróleo e outras contos”." - Repressão "Desde 2006 foi duplicada a quantidade de manifestações populares reprimidas pelo governo venezuelano. Não estou falando de manifestações da "oposição política", refiro-me às mobilizações das pessoas por moradia, emprego, serviços públicos etc., que são reprimidas e seus dirigentes passados a tribunais, num contexto que os criminaliza como "agentes do imperialismo"." - Prisões "Na Venezuela, depois de 8 anos da chamado "revolução bolivariana", morrem mais de 400 prisioneiros por violência ao ano dentro das cadeias do país. As condições dos presos e presas, a maioria provenientes dos setores populares, é uma das amostras da inexistência de uma "revolução" na Venezuela." - Agentes da CIA "Toda a dissidência atual dentro da Venezuela é criminalizada sob a acusação de ser "agentes da CIA". Dita acusação é realizada mesmo para os seguidores do governo que se atrevem a fazer alguma crítica. Repete-se assim a experiência obscura de outros processos "revolucionários" históricos no mundo." - Direitos Humanos "A nível pessoal, trabalho como jornalista em um dos grupos de direitos humanos mais antigos da Venezuela: Provea (Programa Venezuelano de Educação-Ação em Direitos Humanos - www.derechos.org.ve). Fazemos um relatório anual sobre a situação dos direitos humanos na Venezuela, onde refletimos os avanços, estagnações e retrocessos do Estado quanto a garantir o exercício dos mesmos por parte da população. Em linhas gerais, o relatório opinou que os avanços em questão de direitos sociais não correspondem com o volume gigantesco de rendas do petróleo que recebeu o governo venezuelano nos últimos anos, para que as mesmas promoções são insuficientes. Em matéria de direitos civis há uma estagnação clara, e em várias áreas um nítido retrocesso devido à discriminação política, trabalhista e no direito a se manifestar pacificamente."