Quinta-Feira, 24 de Abril, 01:41 PM

Estudante de cinema sofre ameaças de morte no México

 

 

Por Lorraine Orlandi

CIDADE DO MÉXICO (Reuters) - O estudante espanhol Emiliano Altuna, que está fazendo intercâmbio no México, começou a fazer um trabalho para a escola de cinema, produzindo um documentário sobre três irmãos mexicanos que escrevem poesia na prisão. O que ele jamais poderia esperar era que fosse ser ameaçado de morte por isso.

Mas o trabalho de Altuna virou causa da luta pela liberdade de expressão e direitos humanos. Na semana passada, ele recebeu em seu hotel na Cidade do México uma carta anônima em que é aconselhado a abandonar o filme "ou você vai se arrepender".

Altuna, 25 anos, e os alunos e professores do Centro de Capacitação Cinematográfica levaram a ameaça a sério e grupos de defesa dos direitos humanos no México, também.

O tema do documentário de Altuna, o caso dos irmãos Cerezo, está ligado à morte da advogada de direitos humanos Digna Ochoa, que defendia os irmãos, e a ameaças e assédio movidos contra outras pessoas ligadas a eles.

"É muito grave", disse o diretor assistente da escola de cinema, Fabian Hofman, em coletiva de imprensa concedida esta semana. "Não é possível viver com democracia e liberdade sob essas condições".

A ameaça chamou a atenção para um lado sombrio da vida pública mexicana que continua a existir desde a posse do presidente Vicente Fox, em 2000, que prometeu pôr fim a décadas de impunidade pública e abusos dos direitos humanos.

Uma entidade de direitos humanos apelou ao governo para que dê proteção a Altuna. Estudante de intercâmbio de uma escola de Barcelona que está passando um ano no México, ele prometeu que vai completar o filme.

TORTURA E AMEAÇAS

Os irmãos Cerezo estão cumprindo pena de 13 anos de prisão depois de serem condenados por ativar explosivos pequenos em três agências bancárias em 2001, em nome do grupo guerrilheiro FARP.

Seus defensores dizem que eles foram presos por motivos políticos, possivelmente por serem militantes estudantes ou por seus pais serem suspeitos de laços com a guerrilha, e que as provas contra eles foram forjadas.

Grupos de direitos humanos dizem que os irmãos foram torturados depois de presos.

A advogada Ochoa foi morta em outubro de 2001, num caso que continua sem solução e teve várias viradas bizarras. Grupos de direitos humanos dizem que ela foi assassinada, depois de receber várias ameaças de morte, porque defendia pessoas de esquerda e suspeitos simpatizantes com a guerrilha. Mas os investigadores do governo afirmam que ela teria cometido suicídio.

O que chamou a atenção de Altuna ao caso dos irmãos não foi seus aspectos políticos, mas o fato de eles escreverem poesia na prisão, como ele ficou sabendo após ler um artigo de jornal a respeito deles.

Ele não visitou os irmãos na prisão, mas conversou com seus outros irmãos e amigos sobre sua luta pessoal para sobreviver como família e "continuar a sonhar".

http://br.news.yahoo.com/030424/16/bpla.html