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Feministas Islâmicas no Século XXI

quinta-feira 24 de Março de 2011 por CEPRID

Por Stephanie Abdallah Latte

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Nos dias atuais, se considera qua a noção de "feminismo islâmico" surgiu há cerca de 20 anos. Isso consiste examinar um fenômeno eminentemente político, especialmente quando se observa o contexto francês, europeu ou dos países do Norte. Considera-se um fenômeno relativamente desconhecido, apesar dos esforços que têm sido feitos, principalmente na questão do feminismo islâmico renovado, num momento em que se move em plena transformação, diversificação e transição.

Por tanto, é importante recordar brevemente como este conceito tem sido lançado simultânemente em vários lugares desde 1990. Foi desenvolvido, pela primeira vez, no Iran, onde opiniões diversas têm destacado as interpretações sexistas dos textos religiosos pelo clero. Diferentes publicações têm contribuído para o conhecimento do trabalho de interpretação do Alcorão (tafsir) e a reflexão da jurisprudência islâmica (fiqh) sobre os direitos da mulher no Islam. Atualmente, se inclui o direito da interpretação (ijtihad) para promover a igualdade de gênero, as novas funções nos ritos e práticas religiosas, as mudanças nas áreas do direito da família, penal e da prática jurídica e política.

O debate sobre o feminismo islâmico no Iran foi o detonador para o movimento intelectual. Os artigos publicados na revista Zanan (Mulheres), fundada em 1992, abriram um novo caminho para um feminismo que tem o Islam como uma fonte de legitimidade. Dez anos depois da Revolução de 1979, graças aos movimentos reformistas naquele país, as religiosas de classe média se juntavam a esta corrente em resposta às leis discriminatórias promulgadas por um regime que havia estabelecido a justiça social como um de seus temas de campanha e que proclamou seu desejo de "dar à mulher sua condição real" no Islam. Em última instância, isto implicava estabelecer a igualdade entre os sexos.

Nos EUA e na Europa, acadêmicos exilados reivindicaram participação neste movimento. Em 1999, a socióloga Ziba Mir-Hosseini publicou um estudo pioneiro no debate religioso, no qual analisou as diferentes correntes de pensamento nos seminários teológicos de Qom e seus vínculos com os debates públicos, sociais e políticos contemporâneos no Iran. Ziba disse que nestes seminários surgiu um feminismo endógeno, produzido localmente, e que pode conciliar o que fora construído até o momento com as diferentes culturas do discurso feminista religioso e nacional sobre os direitos da mulher a partir do ponto de vista ocidental. Outras intelectuais do mundo árabe e muçulmano, como Rifaat Hassan, Asma Barlas e a teóloga afro-americana, revertida ao Islam, Amina Wadud, para nomear apenas algumas, têm se unido a este movimento para reiterpretar os textos da década de 1990. Amina escreveu um livro em 1992, "O Alcorão e a mulher: releitura dos textos sagrados", e em 2006 um outro, mais audacioso, "A reforma da mulher no Islam". A socióloga marroquina Fátima Mernissi também havia posto em dúvida, em 1987, a válidade de um hadice misógino atribuído ao Profeta (SAAS). Apesar do termo feminismo não ser sempre utilizado por suas iniciadoras, se extendeu rapidamente a outras partes do mundo árabe e muçulmano. O feminismo islâmico, por tanto, é inicialmente um discurso e um movimento intelectual e ativista, diferente dos feminismos seculares no mundo árabe e muçulmano, que começaram como movimentos sociais. Imediatamente globalizado, se distribuiu principalmente nos países muçulmanos e árabes.

Apesar de suas raízes de inovadora cultura islâmica, e apesar de surgir em um momento em que as ciências sociais estão fortemente influenciadas pelos estudos pós-coloniais, o conceito de feminismo islâmico tem sido, e segue sendo, maltratado em todos os aspectos. Foi criticado por feministas e intelectuais seculares na Europa, EUA e no mundo árabe e muçulmano. Em certas ocasiões chega a ser visto como o "Cavalo de Tróia" do islmamismo, percebido como um objeto não-científico. Tem sido questionado por uns e outros pelo fato de justapor as palavras "feminismo" e "islâmico" e, no Ocidente, por considerar que seus valores são únicos. Outros, simplesmente, se negam a considerar que tal fenômeno tenha surgido no mundo muçulmano.

Às vezes, se tem ignorado o estado em que se encontra este movimento, a transformação política no Islam e a reformulação da islamização. Tem-se replicado a ideia de impor um fim ao que se vê como "exógeno" ou refratário a uma palavra militante, As discussões sobre o feminismo islâmico, vão desde se é uma forma de compromisso militante ou um objeto de estudo.


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